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AVALIAÇÃO OTONEUROLÓGICA - CEFAC

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<strong>CEFAC</strong><br />

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOADIOLOGIA CLÍNICA<br />

AUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

<strong>AVALIAÇÃO</strong> <strong>OTONEUROLÓGICA</strong><br />

KÁTIA SILVA PESSÔA<br />

RIO DE JANEIRO<br />

1999


<strong>CEFAC</strong><br />

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

AUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

<strong>AVALIAÇÃO</strong> <strong>OTONEUROLÓGICA</strong><br />

Monografia de conclusão de<br />

Especialização em Audiologia Clínica<br />

Orientadora: Mirian Goldenberg<br />

KÁTIA SILVA PESSÔA<br />

RIO DE JANEIRO<br />

1999


RESUMO<br />

Tontura é um sintoma que atinge aproximadamente 10% da população<br />

mundial, abrangendo todas as faixas etárias.<br />

Considerando a incidência da tontura e os seus sintomas associados, este<br />

trabalho tem como objetivo destacar a importância da avaliação otoneurológica.<br />

Muitos pacientes com tontura raramente são diagnosticados de forma<br />

apropriada e a causa real do problema não é identificada. O reconhecimento do<br />

agente etiológico freqüentemente é feito através da realização de exames<br />

subsidiários, tais como testes laboratoriais bioquímicos, metabólicos ou<br />

hormonais, ressonância magnética, tomografia computadorizada, entre outros.<br />

Mas a orientação dos exames a serem solicitados, deveria sempre depender da<br />

hipótese diagnóstica síndrômica e topográfica sugeridas pela anamnese e a<br />

avaliação otoneurológica, para uma orientação terapêutica verdadeiramente<br />

eficaz o que nem sempre acontece.<br />

A fonoaudiologia participa ativamente no processo da avaliação<br />

otoneurológica, tanto nos exames audiológicos, que são imprescindíveis, como na<br />

realização do exame vestibular e futuramente na reabilitação desse paciente.<br />

Conscientizar os fonoaudiólogos da importância de sua participação em<br />

todo esse processo, foi nossa motivação. Esperamos ter alcançado nossos<br />

objetivos.


Dedicatória:<br />

Aos meus pais, irmãs e ao meu namorado<br />

pela dedicação, amor e incentivo.<br />

A todos os pacientes aos quais desejo<br />

plena evolução.


Agradecimentos:<br />

A Deus, por me guiar e iluminar em todos<br />

os meus passos.<br />

A Vera Candido por sua dedicação na<br />

revisão do meu trabalho.<br />

A Andréa Pires de Mello por Ter me<br />

oferecido espaço, onde tudo começou.<br />

A Bruno por sua dedicação e paciência na<br />

confecção do meu trabalho.


SUMÁRIO<br />

Introdução Pág. 1<br />

Discussão teórica Pág. 3<br />

1-Anatomofisiologia do sist. Auditivo e Vestibular Pág. 3<br />

-Anatomofisiologia do sist. Auditivo Pág. 3<br />

-Anatomofisiologia do sist.vestibular Pág. 10<br />

2-Avaliação Otoneurológica Pág. 15<br />

-Roteiro da Aval. Otoneurológica Pág. 19<br />

1º- Anamnese Pág. 19<br />

2º- Aval. Otorrinolaringológica Pág. 20<br />

3º- Exames auditivos Pág. 22<br />

4º- Estudo do equilíbrio estático e dinâmico Pág. 26<br />

5º- Provas cerebelares Pág. 27<br />

6º- Exames do Ap. vestibular Pág. 28<br />

vectoelectronistagmografia Pág. 31<br />

ConfiguraçãoSemiológica Pág. 44<br />

Considerações finais Pág. 48<br />

Referências Bibliográficas Pág. 50<br />

Anexos Pág. 52<br />

52


INTRODUÇÃO<br />

Otoneurologia é o campo da otorrinolaringologia e da otologia, que estuda<br />

o equilíbrio corporal, audição e suas relações com o Sistema Nervoso Central e<br />

integra o circuito multidisciplinar de investigação.<br />

Vertigem e outras tonturas, desequilíbrio, náuseas, quedas, hipoacusias e<br />

zumbido são alguns dos principais sintomas decorrente de comprometimento<br />

agudo ou crônico dos sistemas auditivos e vestibular.<br />

Sabemos que na prática de audiologia clínica, esses sintomas, isolados ou<br />

em associação, são extremamente comuns em nosso meio e em todo o mundo,<br />

em todas as faixas etárias, podendo ter numerosas causas. Representam<br />

indicações obrigatórias para realização da Avaliação clinica Otoneurológica.<br />

Entre as possibilidades de atuação que hoje são oferecidas ao<br />

Fonoaudiólogo, estão os exames otoneurológicos, com os quais estes<br />

profissionais podem colaborar nos diagnósticos médicos das disfunções da orelha<br />

interna e promover aplicações de técnicas de reabilitação em pacientes que<br />

sofrem afecções do órgão vestíbulo-coclear.<br />

Médicos, Fonoaudiólogos e outros especialistas em distúrbio da<br />

comunicação humana são os profissionais diretamente envolvidos na<br />

identificação e resolução desses problemas.<br />

Realizamos uma pesquisa com a finalidade de elucidar os princípios<br />

básicos da otoneurologia e a rotina de uma avaliação otoneurológica, com o<br />

objetivo de proporcionar uma visão global, clara, objetiva porém sumária, no<br />

sentido de tornar a leitura bastante compreensível, orientando e despertando o<br />

1


interesse dos profissionais, principalmente ao se depararem com uma perda<br />

auditiva, um relato de zumbido ou tonteira.<br />

Nossa motivação principal veio da constatação da pouca divulgação do<br />

exame otoneurológico, principalmente na área de fonoaudiologia, onde<br />

encontramos recém–formados não sabendo de sua existência e principalmente<br />

ignorando que é uma área que faz parte da sua profissão. Esta descoberta se deu<br />

durante a realização de um estágio de aperfeiçoamento no setor de audiologia<br />

clínica, especificamente em otoneurologia. Acabamos por nos apaixonar pelo<br />

assunto.<br />

Essa pesquisa destina-se, portanto, aos fonoaudiólogos, mesmo aqueles<br />

que não trabalhem diretamente com a otoneurologia. Certamente esses<br />

conhecimentos serão úteis não só para quem trabalha, como também no dia–a–<br />

dia do exercício da profissão, independente da especialidade escolhida.<br />

Ao realizar a revisão bibliográfica referente ao tema proposto, analisaremos<br />

artigos publicados, livros e trabalhos expostos em congressos.<br />

Pretendemos, após o estudo, alertar os profissionais para a importância da<br />

Avaliação otoneurológica e o encaminhamento precoce do mesmo.<br />

2


DISCUSSÃO TEÓRICA<br />

Segundo Katz (1989), os sistemas auditivo e vestibular têm algumas<br />

características comuns, mas diferem quanto a outras. Os dois sistemas têm<br />

origens comuns na escala filogenética, sendo que o sistema vestibular precede o<br />

sistema auditivo. Os sistemas vestibulares diferem entre si com relação a<br />

natureza dos estímulos extrínsecos que se originam de fontes distantes. O<br />

sistema vestibular é um sistema proprioceptivo que responde a estímulos que<br />

envolvem o corpo e/ou se encontram dentro dele. É sensível ao movimento no<br />

espaço e às mudanças posturais, contribuindo deste modo para a orientação<br />

espacial e a coordenação motora.<br />

Sabemos então que os sistemas vestibulares e auditivos estão interligados.<br />

Por isso há necessidade de se conhecer as bases anatomofisiológicas dessas<br />

estruturas.<br />

1 - ANATOMOFISIOLOGIA DO SISTEMA AUDITIVO E VESTIBULAR<br />

- anatomofisiologia do sistema auditivo: (anexo I)<br />

A orelha interna, também chamada de labirinto, é dividida em anterior<br />

(correspondendo à cóclea) e posterior ou órgão vestibular (abrangendo os canais<br />

semicirculares e o vestíbulo). Constitui-se de um labirinto membranoso<br />

preenchido por endolinfa e que contém células sensoriais e vasos, e um labirinto<br />

ósseo, separado do anterior por perilinfa e servindo de arcabouço para o mesmo.<br />

A cóclea óssea é constituída por três partes ligadas entre si: a columela, o<br />

canal espiral e a lâmina espiral. A columela é a parte central em forma de cone;<br />

ao redor está o canal espiral. A lâmina espiral acompanha o canal espiral<br />

3


aderindo em sua face interna, apresentando uma borda livre onde se situa o ducto<br />

coclear.<br />

A parte membranosa da cóclea divide diversos compartimentos no seu<br />

interior, onde estão situadas diversas estruturas responsáveis pela transformação<br />

de energia mecânica em estímulos elétricos. O ducto coclear tem morfologia<br />

triangular, situando-se na borda livre da lâmina espiral e divide o canal em três<br />

compartimentos: a escala vestibular (anteriormente), a escala timpânica<br />

(posteriormente) e a escala média, entre ambas. As escalas timpânica e<br />

vestibular contêm perilinfa (ionicamente similar ao fluido cerebroespinhal, rico em<br />

sódio), enquanto a escala média contém endolinfa (similar ionicamente ao fluido<br />

intracelular, rico em potássio). As escalas timpânica e vestibular se unem no ápice<br />

da cóclea na região denominada helicotrema.<br />

O ducto coclear contêm em suas paredes:<br />

Na parede lateral:<br />

* Ligamento lateral (ou espiral) constituído de tecido conectivo e inserido na<br />

parede óssea, serve de inserção à membrana de Reissner e membrana basilar.<br />

* Proeminência do ligamento espiral.<br />

* Estria vascular, composta de células epiteliais e rica rede capilar sendo<br />

responsável pela geração do potencial elétrico do ducto coclear e da natureza<br />

iônica da endolinfa.<br />

Na parede vestibular:<br />

* Membrana de Reissner: tem origem no ligamento espiral e inserção na<br />

faixa sulcada da lâmina espiral. É composta por uma camada de células epiteliais<br />

(na face voltada para a escala vestibular). Estas camadas previnem a mistura da<br />

endolinfa com a perilinfa, que é tóxica para o órgão de corti.<br />

4


: Na parede timpânica:<br />

*Membrana basilar: é basicamente fibrosa, tendo origem no ligamento<br />

espiral e inserção na faixa sulcada. Tem papel importante na condução da onda<br />

sonora. Torna-se mais larga e sua elasticidade diminui em direção ao ápice da<br />

cóclea, característica impotente no estudo da fisiologia da audição.<br />

O órgão de corti está situado na superfície da membrana basilar embebido<br />

na endolinfa da escala média. É composto por células sensoriais e de suporte,<br />

recobertas por uma membrana gelatinosa (membrana tectória). As células<br />

sensoriais são divididas em células ciliadas internas e externas, sendo assim<br />

chamadas por apresentarem estereocílios ( na verdade, microvilos).<br />

As células ciliadas externas são cilíndricas e estão dispostas em 3 a 5<br />

fileiras ao longo da membrana basilar, em número que varia de 10.000 a 14.000<br />

células. Em sua porção apical são recobertas por cutícula por onde saem<br />

dezenas de estereocílios. Estes são agrupados em 3 fileiras em forma de V ou W,<br />

com ângulo aberto olhando para o modíolo. Os cílios mais externos são mais<br />

longos e estão implantados na membrana tectória. Caracteristicamente, abaixo<br />

da membrana plasmática, na parede lateral da célula, existe um sistema de<br />

cisternas laminadas formado por vários planos de membranas.<br />

As células ciliadas internas alinham-se em uma única fileira de células,<br />

localizadas no lado modiolar do órgão de corti, perfazendo um número de 3.400<br />

células aproximadamente. Também são recobertas por fina e rígida cutícula por<br />

onde saem vários estereocílios, agrupados em três a quatro fileiras paralelas.<br />

Ainda aqui os cílios mais externos são os mais longos. Contudo, não apresentam,<br />

como as células ciliadas externas, um rico sistema de cisternas laminadas.<br />

5


As células ciliadas são sustentadas pelas células dos pilares do túnel de<br />

corti (células ciliadas internas) e pelas células de Deiters ( células externas).<br />

A irrigação do ouvido interno se dá pela artéria labiríntica (ou auditiva<br />

interna), ramo da AICA (artéria cerebelar ântero-inferior). Seus ramos coclear e<br />

modiolar espiral são responsáveis pela irrigação da cóclea.<br />

Mais recentemente alguns autores defendem a teoria do mecanismo da<br />

cóclea ativa através do sistema de células ciliadas externas e internas.<br />

As células ciliadas externas não teriam capacidade de atuar como receptor<br />

da mensagem sonora. Apresenta dois tipos de contração: rápida e lenta. Nas<br />

contrações rápidas liberariam uma energia mecânica, que seria transmitida para a<br />

cadeia ossicular e membrana timpânica, caracterizando as otoemissões<br />

acústicas, com função de amplificação sonora, capaz de acurada seletividade<br />

freqüencial. As contrações lentas seriam do tipo muscular (actina e miosina)<br />

controlando as rápidas.<br />

As células ciliadas externas tornam a cóclea um verdadeiro amplificador<br />

mecânico com amplificação de até 50dB da intensidade do estímulo, provocando<br />

um aumento na amplitude da vibração da membrana basilar, permitindo um<br />

aumento da estimulação das células ciliadas internas cujos estereocílios<br />

encontram-se em contato com a membrana tectorial.<br />

As contrações lentas das células ciliadas externas modulam as contrações<br />

rápidas com implicações audiológicas importantes: capacidade do indivíduo<br />

detectar um sinal no ruído; proteção a superestimulação acústica; focalização da<br />

atenção para fenômeno acústico; regulação da amplificação ciclear, funcionando<br />

como amortecedor durante a amplificação, para melhor captação do estímulo<br />

sonoro pelas células ciliadas internas.<br />

6


Existem quatro potenciais cocleares:<br />

1º- PE (Potencial Endococlear ou Endolinfático)<br />

2º- MC (Microfonia coclear)<br />

3º- PS (Potencial de Somação)<br />

4º- PAC (Potencial de Ação Neural)<br />

1º- Potencial Endococlear<br />

Este potencial independe do estímulo sonoro.<br />

A estria vascular é considerada a fonte de energia ou bateria da cóclea.<br />

Localiza-se na parede lateral da cóclea dando o potencial de 80 a 100mV da<br />

escala média. A rica vascularização da estria e a presença da bomba de sódio e<br />

potássio ATPase das várias células marginais da estria vascular, das células do<br />

sulco externo e dos fibrócitos próximos à membrana de Reissner e ligamento<br />

espiral, podem estar envolvidos neste potencial. A má produção da endolinfa e do<br />

PE podem provocar perda de audição que é chamada de Presbiacusia<br />

metabólica.<br />

2º- Microfonia Coclear<br />

É uma voltagem de corrente alternada gravada na cóclea ou próxima a<br />

janela redonda, que representa a corrente de potássio pelas células externas<br />

alternadas pelo movimento da membrana basilar.<br />

3º- Potencial de Somação<br />

É uma voltagem de corrente contínua gravada na cóclea em resposta ao<br />

som. Ela é captada após um estímulo sonoro de envelope. Pode ser medido, na<br />

7


escala timpânica, média ou vestibular e em algumas circunstâncias, com um<br />

eletrodo no conduto auditivo externo.<br />

4º- Potencial de Ação Neural<br />

É captado com eletrodo próximo à janela redonda ou no nervo auditivo<br />

após sinais de alta freqüência com rápidas emissões.<br />

A cóclea é inervada por 3 tipos de fibras nervosas: autonômicas, eferentes<br />

e aferentes. As fibras autonômicas não atuam sobre o órgão de corti. Contudo,<br />

parecem estar associadas com vasos e nervos do modíolo e lâmina espiral. As<br />

fibras eferentes são encontradas terminando diretamente na base das células<br />

ciliadas externas e nas fibras aferentes das células ciliadas internas.<br />

A inervação aferente das células ciliadas do órgão de corti é feita pelo VIII<br />

par. As células ciliadas são inervadas por dois tipos de neurônios: tipo I,<br />

correspondendo a 90-95% das células e tipo II (5-10%). Os neurônios tipo I são<br />

bipolares, com seus processos periféricos mielinizados. Os neurônios tipo II são<br />

pseudomonopolares, não apresentando mielina em seus processos periféricos.<br />

Cada célula cilíada interna é inervada por 20 neurônios tipo I, enquanto cada<br />

célula tipo II inerva cerca de 10 células ciliadas externas. Como podemos notar,<br />

as células cilíadas externas (3/4 das células sensoriais) são inervadas por<br />

somente 5% das fibras do nervo coclear, o que nos permite concluir que as<br />

células ciliadas internas transmitem informações com muito mais precisão<br />

espacial e temporal. Os corpos celulares dos neurônios estão localizados no<br />

canal Rosenthal, formando o gânglio espiral, com cerca de 30.000 células.<br />

Do gânglio espiral de Corti partem fibras do nervo auditivo (ou coclear) que,<br />

no tronco cerebral, fazem sinapse com neurônios de 2º ordem nos núcleos<br />

8


cocleares dorsal e ventral. Daí, a maioria das fibras cruza para o lado oposto<br />

através do corpo trapezóide para alcançar o complexo olivar superior (COS)<br />

contralateral (localização sonora). Algumas fibras atingem o COS ipisilateral.<br />

Através do leminisco lateral (sistema reticular, atenção, seleção), as fibras de<br />

ambos os lados ganham o colículo inferior (sistema visual) que recebe a maioria,<br />

senão todas as fibras ascendentes dos centros auditivos baixos. Daí, as fibras<br />

partem para o corpo geniculado medial (percepção auditiva e propriocepção de<br />

fala) no tálamo e, através das radiações auditivas (tálamo-corticais), atingem o<br />

córtex auditivo, localizado no lobo temporal (memória sensorial e percepção, faz<br />

integração da palavra). Como pudemos notar, os impulsos de um ouvido são<br />

transmitidos através das vias auditivas de ambos os lados, com discreta<br />

preponderância na via contralateral. Existem três locais no tronco onde ocorrem<br />

cruzamentos entre os 2 lados: corpo trapezóide, comissura de Probst (entre os<br />

dois núcleos do leminisco lateral) e a comissura colicular inferior (entre os dois<br />

colículos inferiores).<br />

O córtex cerebral responsável pela audição possui duas áreas distintas: o<br />

córtex auditivo primário e o córtex secundário (ou de associação auditiva), que é<br />

excitado por impulsos do córtex e por projeções de áreas associativas talâmicas,<br />

adjacentes ao corpo geniculado medial. Lesões que afetam as áreas auditivas<br />

associativas, mas que preservam o córtex auditivo, primário não diminuem a<br />

capacidade da pessoa em ouvir ou diferenciar tons sonoros e interpretar padrões<br />

simples de som. Contudo, o indivíduo torna-se incapaz de interpretar o significado<br />

do som ouvido.<br />

9


A função auditiva requer mecanismos neurofisiológicos tais como a<br />

atenção, habituação, condicionamento e memorização. A integração auditiva<br />

pode ser esquematizada em três estados:<br />

1- Identificação, correspondendo ao reconhecimento das características<br />

acústicas do estímulo sonoro (ruídos puros).<br />

2- Identificação de elementos sonoros mais complexos, necessitando de<br />

condicionamento prévio e memorização (ruídos e fonemas).<br />

3- Compreensão de um conjunto de elementos sonoros simbólicos e que<br />

possuem um valor informativo (vocábulos e linguagem).<br />

- anatomofisiologia do sistema vestibular: (anexo II)<br />

O labirinto posterior do ouvido interno, é o sistema de equilíbrio do corpo. É<br />

formado pelos canais semicirculares e pelo sáculo e utrículo.<br />

Embriologicamente tem origem mista, sendo o labirinto membranoso de<br />

origem ectodérmica e o labirinto ósseo e os vasos de origem mesodérmica.<br />

O aparelho vestibular não é o único a participar da função do equilíbrio. O<br />

sentindo da visão (fornece as relações espaciais dos objetos) e o sistema<br />

proprioceptivo, representado pelas sensações cutâneas e sensibilidade profunda<br />

dos músculos, tendões e articulações (devido à ação da força da gravidade sobre<br />

o corpo), também desempenham papel relevante na direção e regularização da<br />

dinâmica e estática do corpo, tanto assim que os distúrbios do equilíbrio, devidos<br />

à destruição labiríntica de um lado, ao fim de algum tempo desaparecem em<br />

conseqüência de mecanismo de compensação desenvolvido pelos referidos<br />

órgãos. A destruição dos dois labirintos resulta na perda acentuada do tônus dos<br />

10


músculos posturais, não há nistagmo ou vertigem verdadeira, mas há um grau<br />

acentuado de desequilíbrio e ataxia.<br />

Os canais semicirculares são em três , sendo dois verticais (superior ou<br />

anterior e posterior) e um horizontal (lateral). Abrem-se de cada lado no vestíbulo<br />

por meio de cinco orifícios sendo um comum aos canais superior e posterior. No<br />

extremo de cada canal existe uma porção dilatada, denominada ampola. Os<br />

canais lateral e superior têm a sua ampola situada anteriormente, enquanto o<br />

posterior, posteriormente.<br />

O vestíbulo, que constitui a porção central do labirinto ósseo, abriga, no<br />

seu interior, o utrículo e o sáculo.<br />

O utrículo tem a forma ovóide e se situa na região póstero-superior do<br />

vestíbulo. Nessa região ele adere firmemente por tecido conjuntivo e pelas<br />

terminações nervosas do ramo utricular do VIII par. Tem uma face externa voltada<br />

para o estribo, separando-se desta por uma distância de 2mm. Sua porção<br />

sensorial, a mácula, situa-se anterior e lateralmente. Na parede posterior abrem-<br />

se os canais semicirculares, e na anterior o ducto utrículo-sacular que o comunica<br />

com o sáculo.<br />

O sáculo é uma pequena vesícula em forma de pêra, alojada na porção<br />

mais anterior do vestíbulo. Da sua parede posterior origina-se um pequeno ducto,<br />

o ducto endolinfático, que se estende através do aqueduto vestibular até o interior<br />

da cavidade crânica, onde termina entre duas camadas da dura-máter que<br />

reveste o osso temporal, em uma dilatação denominada saco endolinfático. O<br />

ducto reuniens extremamente delgado, comunica-se com o sáculo e a parte basal<br />

do ducto coclear, que constitui a porção auditiva do labirinto membranáceo. Uma<br />

delgada membrana de sustentação se insere de ambos os lados do vestíbulo,<br />

11


interposta entre o utrículo e o sáculo, criando dois compartimentos vestibulares,<br />

ambos contendo perilinfa.<br />

Todas as estruturas membranáceas são cheias de endolinfa, cuja a<br />

composição é semelhante a dos líquidos intracelulares, ou seja, rica em potássio<br />

e pobre em sódio.<br />

Os elementos nobres, sensoriais, do aparelho vestibular acham-se<br />

localizados nas ampolas dos canais semicirculares e em estruturas chamadas<br />

máculas, localizadas no sáculo e no utrículo.<br />

Qualquer movimento de cabeça no qual haja alguma aceleração angular,<br />

causa um fluxo de endolinfa em dois ou mais dos canais semicirculares. A<br />

densidade da cúpula e endolinfa é provavelmente a mesma, e os índices de<br />

refração são os mesmos. Desta forma, a gravidade não afeta as cúpulas. O<br />

utrículo e o sáculo apresentam otolitos nas suas áreas sensoriais, sendo portanto<br />

capazes de detectar acelerações lineares, como a gravidade.<br />

As estruturas vestibulares constantemente geram potenciais de repouso<br />

para o sistema nervoso central; cada lado do sistema vestibular funciona<br />

independentemente do outro e fica constantemente enviando sinais. A diferença<br />

entre os sinais da direita e da esquerda é produzida por uma aceleração, que é<br />

relevante ao sistema nervoso central.<br />

Mecanismo de estimulação-transdução do sistema otolítico<br />

Na posição vertical da cabeça, a mácula do utrículo fica em posição<br />

horizontal e em repouso, portanto sem estimulação, havendo uma descarga de<br />

impulsos espontâneos de repouso. A mácula sacular fica verticalizada, sendo<br />

12


então estimulada pela gravidade. Com o deslocamento da cabeça, formando<br />

ângulo com a vertical, há estimulação de diferentes órgãos otolíticos, associado a<br />

proprioceptores dos músculos, articulações, receptores cutâneos e visuais,<br />

permitindo a regulação do equilíbrio estático do corpo.<br />

Os órgãos otolíticos não detectam modificações na posição da cabeça,<br />

assinalando a posição atual da cabeça. Estes órgãos não apresentam o<br />

fenômeno da adaptação, sendo que se ocorrer, pode ser devido a modificações<br />

neurais.<br />

O saco endolinfático tem duas funções fundamentais: equilíbrio entre as<br />

pressões do sistema vestibular e sistema nervoso central e absorção de<br />

endolinfa.<br />

Mecanismo de estimulação-transdução dos canais semicirculares<br />

A posição anatômica dos canais semicirculares permite que eles<br />

representem todos os planos espaciais e, portanto, sua função se reporta aos<br />

movimentos nas três dimensões. Os pares funcionais são: ducto lateral direito e<br />

lateral esquerdo, ducto superior direito e posterior esquerdo e ducto posterior<br />

direito e superior esquerdo.<br />

A perilinfa tem a composição química semelhante a do sangue, rico em<br />

sódio e pobre em potássio. A endolinfa tem viscosidade e densidade semelhante<br />

a do intracelular (rico em potássio e pobre em sódio). Não há consenso sobre o<br />

local de produção e reabsorção da endolinfa. Alguns autores sugerem que é<br />

absorvida no saco endolinfático e outros que é secretada pelo epitélio na região<br />

da crista, mácula e estria vascular (esta última já comprovada). Se a produção ou<br />

13


drenagem normais dos fluídos é alterada, a função labiríntica também é alterada,<br />

como ocorre nas fístulas ou na Síndrome de Meniére.<br />

As informações dos canais semicirculares permitem ao sistema nervoso<br />

central uma função preditiva do equilíbrio. Quando se começa a virar a cabeça,<br />

haverá logo um desequilíbrio permitindo que o sistema nervoso faça os ajustes<br />

adequados das diferentes partes do corpo para manter o equilíbrio.<br />

14


2- <strong>AVALIAÇÃO</strong> <strong>OTONEUROLÓGICA</strong><br />

Quando um neurologista, cardiologista, clínico ou mesmo um<br />

otorrinolaringologista não familiarizado com a otoneurologia, envia um paciente<br />

para uma avaliação otoneurológica, ele normalmente está esperando um<br />

diagnóstico firmado ou pelo menos uma possibilidade de hipótese diagnóstica,<br />

visto que a avaliação otoneurológica não fornece diagnóstico etiológico.<br />

A avaliação otoneurológica consiste em um conjunto de procedimentos que<br />

permite a exploração semiológica dos sistemas auditivo e vestibular e de suas<br />

relações com o sistema nervoso central. A anamnese, a avaliação<br />

otorrinolaringológica, a investigação audiológica e a equilibriometria (ou<br />

vestibulometria) são os seus componentes.<br />

A equilibriometria estuda a função vestibular e suas correlações com os<br />

sistemas ocular e proprioceptivo, cerebelo, medula espinhal e a formação reticular<br />

do tronco cerebral.<br />

Para realizarmos uma perfeita avaliação otoneurológica, além dos<br />

conhecimentos de anatomofisiologia, se faz necessário a compreensão do que é<br />

vertigem e o seus sintomas.<br />

O equilíbrio é uma função sensório – motora que tem como objetivo<br />

estabilizar o campo visual e manter a postura ereta.<br />

A posição do corpo, o movimento dos olhos e a percepção espacial são<br />

controlados pelo sistema vestibular, com o objetivo de manter o equilíbrio<br />

15


corporal. O sistema proprioceptivo vestibular constitui o ponto inicial de contato do<br />

ser humano com o ambiente.<br />

A orientação espacial depende de informações procedentes de três<br />

estruturas sensoriais. Os olhos informam sobre a posição e a orientação do<br />

corpo. Informações similares provêm dos receptores proprioceptivos da pele,<br />

músculos esqueléticos, tendões e articulações. O labirinto, principal fonte de<br />

informação, encarrega-se da percepção da posição e dos movimentos cefálicos.<br />

Os dados fornecidos por estas três fontes são integrados a nível de Sistema<br />

Nervoso Central, possibilitando uma avaliação final da posição do corpo em<br />

qualquer instante. O cerebelo participa ativamente da manutenção do equilíbrio<br />

corporal, modulando os movimentos do corpo.<br />

As informações oriundas desses órgãos devem ser concordantes, para que<br />

a integração cerebral possa ser efetuada. Caso contrário, a interpretação<br />

uniforme do relacionamento corporal com o meio ambiente não poderá ser<br />

realizada adequadamente. Deficiências em qualquer parte desse sistema podem<br />

desencadear perda do controle sobre a orientação espacial, ocasionando<br />

perturbação do equilíbrio corporal.<br />

Flourens, em 1823, realizando experiências nos canais semicirculares do<br />

pombo, verificou que a destruição de um ou mais canais de um mesmo lado<br />

causava total desequilíbrio e rotação cefálica no animal. Meniére, em 1861, ao<br />

descrever a doença que tem o seu nome, baseou-se extensamente nos trabalhos<br />

de Flourens para demonstrar que as vertigens provinham do equilíbrio e não<br />

eram, como acreditavam os neurologistas, uma doença central.<br />

As vertigens são manifestações de desorientação espacial proveniente do<br />

aparelho vestibular, e podem ter origem tanto no sistema periférico (labirinto e<br />

16


nervo), como no sistema central (núcleos, via e inter-relações no sistema nervoso<br />

central).<br />

As tonturas por sua vez são geralmente decorrentes de desordens<br />

funcionais primárias ou secundárias do sistema vestibular. As tonturas de origem<br />

não–vestibular são mais raras e podem ser causadas por perturbações<br />

exclusivamente oculares (miopia, diplopia, astigmatismo, estrabismo, lentes<br />

focais, escurecimento de visão, visão tremulante etc), psicogênicas (claustrofobia,<br />

histeria, agrofobia - vertigem das alturas, vertigem dos pescadores em alto mar, e<br />

outras fobias), neurológicas (disritmias cerebrais, lesão do cordão posterior da<br />

medula), doenças cardíacas (crises de Stoke-Adam) ou cervicais. Obnubilações<br />

ou perdas de consciência por diferentes estimulações (vertigem laríngica,<br />

vertigem olfativa, vertigem táctil) também não têm relação com o sistema<br />

vestibular.<br />

As tonturas vestibulares podem ser Rotatórias (vertigens – quando a ilusão<br />

do movimento tem caráter giratório) ou não Rotatórias (quando a ilusão de<br />

movimento não é giratória). A vertigem típica é mais comum nas síndromes<br />

periféricas do que nas centrais. A vertigem periférica geralmente se agrava com o<br />

fechamento dos olhos, ao contrário do que ocorre com a vertigem central. Tanto a<br />

vertigem periférica como a central podem ser desencadeadas ou pioradas com a<br />

modificação da cabeça (sendo esta a forma mais comum de tontura rotatória). Já<br />

as não Rotatórias, podem ser oscilantes, vacilantes, titubiantes, flutuantes, etc.<br />

Para a determinação da origem vestibular é necessário o encontro de alterações<br />

no exame vestibular.<br />

17


Tontura não é uma doença, é um sintoma, um sinal que o sistema corporal<br />

não está funcionando com deveria, geralmente relacionada com o<br />

comprometimento vestibular.<br />

Os sintomas vestibulares são freqüentemente acompanhados de<br />

problemas auditivos, tais como hipoacusias, zumbidos, cefaléia, concentração<br />

rebaixada, causando ansiedade e insegurança nas pessoas.<br />

Existem diversas citações sobre a prevalência da vertigem: o sintoma mais<br />

comum do mundo; a terceira queixa mais freqüente da medicina; presente em 5%<br />

a 10% da população mundial; a queixa mais comum após os 75 anos; o segundo<br />

sintoma mais comum depois da cefaléia; relatadas em 1% das crianças atendidas<br />

em neuropediatria, etc.<br />

A história clínica do paciente é fundamental para o adequado diagnóstico<br />

otoneurológico. A anamnese cuidadosa e abrangente sugere o diagnóstico<br />

sindrômico, topográfico e até mesmo etiológico da afecção, na maioria dos<br />

pacientes vertiginosos. Os objetivos básicos da avaliação otoneurológica são:<br />

1) Verificar se há ou não comprometimento vestibular;<br />

2) Identificar o(s) lado(s) da lesão;<br />

3) localizar a lesão em nível periférico ou central;<br />

4) Caracterizar o tipo de lesão: irritativa ou deficitária;<br />

5) Auxiliar no reconhecimento da causa;<br />

6) Determinar o prognóstico da afecção,<br />

7) Monitorar a evolução do paciente com a terapêutica instituída.<br />

Diversos exames subsidiários laboratoriais complementam, e muito, a<br />

elucidação da etiologia.<br />

18


- Roteiro da avaliação otoneurológica<br />

Como em toda avaliação, começa-se sempre pela anamnese, que deverá<br />

ser a mais completa possível. Segundo Oscar Maudonnet (1999) em clínica<br />

médica a anamnese responde por 60% do diagnóstico; em otoneurologia ela pode<br />

chegar a 80%. Convém lembrar que os exames não fazem o diagnóstico, mas<br />

confirmam uma hipótese diagnóstica firmada pela anamnese.<br />

1º- Anamnese:<br />

Durante a anamenese deve-se tentar definir o tipo de tontura (rotatória,<br />

desequilíbrio, flutuação, instabilidade, etc.), o início desse sintoma, sua<br />

intensidade, se é em crise ou contínua, fatores que aliviam e que agravam a<br />

tontura, se tem horários específicos, se melhora com o fechamento dos olhos,<br />

relação com a alimentação, etc.<br />

Os sintomas neurovegetativos (náuseas, vômitos, sudorese, palidez,<br />

taquicardia, diarréia, etc.) são também muito importantes e deve-se esclarecer<br />

sua intensidade e duração.<br />

A presença de surdez é fundamental. Deve-se saber se ela é uni ou<br />

bilateral, se é progressiva, flutuante ou súbita, sua intensidade, fatores que<br />

melhoram ou agravam, etc.<br />

Os zumbidos constituem outro sintoma bastante freqüente e deve ser muito<br />

bem definida sua intensidade, tonalidade, se compromete uma ou ambas as<br />

orelhas, se parece estar na “cabeça”, sua duração, seu relacionamento com as<br />

tonturas e a surdez.<br />

19


Além desses sintomas existem outros que devem ser obrigatoriamente<br />

investigados: sensação de plenitude auricular, algiacusia, desconforto aos sons<br />

intensos, distúrbios da fala, da deglutição, da respiração, alterações na expressão<br />

facial, dores faciais, etc.<br />

Detectar a presença de cefaléias periódicas, localização, intensidade,<br />

periodicidade, caráter das mesmas, (púlsátil, em peso, em aperto), fatores que<br />

determinam o seu aparecimento (alimentar, menstruação, tensões) e se são<br />

acompanhadas de neurovegetativos e fotofobia.<br />

A presença de alterações cervicais, peso na nuca, estalos à movimentação<br />

do pescoço, hipersensibilidade do couro cabeludo, dores nos braços,<br />

formigamentos nas extremidades dos membros, postura inadequada, entre<br />

outros, constituem sintomas muito importantes.<br />

Deve-se sempre ter em mente que o sistema vestibular pertence a um<br />

corpo humano e que, portanto, alterações em outras partes podem ter<br />

repercussão de maneira direta ou indireta no equilíbrio. Por isso deve-se<br />

investigar possíveis doenças cardiovasculares (hipertensão, cardiopatias),<br />

endócrinas (diabete, hiper ou hipotiroidismo, alterações ginecológicas, uso de<br />

corticosteróides, diuréticos, hipercolesterolemia), doenças auto-imunes<br />

(reumatismo, lúpus ertitematoso), doenças neurológicas (Parkinson, coréia),<br />

disfunção da artéria têmporo- mandibular, entre outras.<br />

2º- Avaliação otorrinolaringológica:<br />

É fundamental que todo indivíduo, ao realizar o exame otoneurológico, faça<br />

um exame otorrinolaringológico (ORL), pois algumas patologias simples podem<br />

produzir tonturas, surdez e/ou zumbidos ou ainda modificar as respostas de uma<br />

20


avaliação otoneurológica: rolha de cerúmen, obstrução tubária, otite serosa, otite<br />

média crônica colesteatomatosa. Outras patologias, como otite média crônica,<br />

podem impedir ou modificar os resultados de alguns testes.<br />

O exame dos nervos cranianos deverá ser realizado rotineiramente,<br />

destacando a semiologia daqueles de interesse otoneurológico.<br />

Nervos cranianos:<br />

I- olfativo;<br />

II- óptico;<br />

III- óculo-motor;<br />

IV- óculo-motor;<br />

V- trigêmeo – sensibilidade térmica, táctil e dolorosa da hemiface e motora<br />

dos músculos da mastigação;<br />

VI- óculo-motor;<br />

VII- facial – motricidade da hemiface, reflexo estapediano, sensibilidade<br />

gustativa dos dois terços posteriores da língua, sensibilidade táctil e dolorosa do<br />

meato auditivo externo, secretora das glândulas salivares e lacrimais;<br />

VIII- estato-acústico ou vestíbulo-coclear – equilíbrio e audição; testes<br />

audiológicos, como audiometria tonal e vocal; imitanciometria com estudo dos<br />

reflexos estapedianos fazem parte obrigatória da avaliação otoneurológica;<br />

IX- glossofaríngeo – motricidade da parede posterior da faringe, gustação<br />

do terço anterior da língua;<br />

X- vago – motricidade das cordas vocais, associado também aos<br />

problemas neurovegetativos;<br />

trapézio;<br />

XI- acessório – motricidade dos músculos esternocleidomastoídeo e<br />

21


XII- hipoglosso - motricidade da língua.<br />

3º- Exames Audiológicos na Avaliação Otoneurológica<br />

Como já foi relatado os sistemas auditivo e vestibular possuem uma<br />

anatomia bastante interessante e interligadas. A possibilidade de avaliar<br />

funcionalmente essas vias e sistemas resultou na criação de uma especialidade<br />

médica, a Otoneurologia. A investigação sistemática de toda essa intricada rede<br />

pela otoneurologia é atualmente muito útil e indispensável para diversas outras<br />

especialidades, pois trata-se de uma maneira sensível, pouco invasiva, rápida e<br />

muito abrangente de avaliação e monitorização de muitas doenças do SNC.<br />

Os exames audiológicos realizados exclusivamente por fonoaudiólogos e<br />

médicos, podem ser divididos em subjetivos e objetivos. É chamado de subjetivo<br />

o teste no qual o paciente tenha que colaborar de alguma forma, indicando se<br />

escutou ou não o estímulo fornecido. Objetivo é o teste onde não existe esta<br />

necessidade de colaboração.<br />

Inicia-se a avaliação audiológica pelos testes subjetivos, e os objetivos são<br />

realizados, quando necessários, para complementar e enriquecer a informação<br />

obtida pelos primeiros, ou quando existe a impossibilidade de aplicá-los. Todos os<br />

testes objetivos são baseados em conceitos eletrofisiológicos e portanto se<br />

revestem de alta sensibilidade, se prestando para determinar o quanto o indivíduo<br />

escuta, e ainda para: aferir topograficamente o nível de lesão; avaliar o grau de<br />

intensidade de acometimento; monitorar a evolução da patologia; acompanhar o<br />

tratamento desenvolvido.<br />

22


Dentre os exames subjetivos de audição, são realizados: a audiometria<br />

tonal liminar, os testes de reconhecimento de fala - que compreendem o índice<br />

percentual de reconhecimento de fala (IPRF) - o limiar de detecção de voz (LDV)<br />

e o limiar de reconhecimento de fala (LRF) e a imitanciometria.<br />

- Audiometria tonal liminar<br />

Tem como objetivo determinar os limiares auditivos nas freqüências<br />

sonoras compreendidas entre 250 e 8.000 Hertz (Hz). É um teste realizado em<br />

um ambiente acusticamente protegido (cabine audiométrica).<br />

Realiza a pesquisa dos limiares tonais por via aérea e via óssea.<br />

- Testes de Reconhecimento de Fala<br />

Realiza-se inicialmente o LRF, apresentando-se ao indivíduo uma lista de<br />

dissílabos ou trissílabos com intensidade progressivamente menores até que se<br />

determine qual o mínimo de intensidade necessária para que seja reconhecidas<br />

50% das palavras apresentadas.<br />

A seguir é apresentado uma lista monossilábica de fonemas foneticamente<br />

balanceados. Afere-se o índice percentual de acerto na repetição destes pelo<br />

indivíduo testado: este teste é o IPRF.<br />

Nas perdas auditivas muito intensas, que impossibilitam a aplicação do<br />

IPRF, é realizado o LDV. O teste consiste na apresentação de sons variados, com<br />

diminuição decrescente da intensidade de apresentação e o paciente testado<br />

responde quando detecta estes sons.<br />

23


- Imitanciometria<br />

Também conhecida como impedanciometria, avalia a complacência da<br />

orelha média.<br />

O exame é preciso ser completado com a pesquisa da contração do<br />

músculo estapédico: se contrai de forma reflexa quando o ouvido é estimulado<br />

com um som abrupto e alto.<br />

Dentre os testes objetivos falaremos da otoemissão acústica e audiometria<br />

de tronco encefálico.<br />

- Otoemissão acústica:<br />

Para a correta seleção de freqüências, as células ciliadas externas<br />

executam, para sons até aproximadamente 40 dBNA, uma tarefa de amplificação<br />

dos músculos ondulatórios da membrana basilar, por um processo de contrações<br />

e relaxamentos progressivos. Esta atividade biomecânica da célula ciliada<br />

externa, chamada de otoemissões acústicas, pode ser captada no conduto<br />

auditivo externo (CAE), através de uma pequena sonda ali colocada.<br />

- Audiometria de Tronco encefálico<br />

O estímulo acústico, após ser processado na cóclea, está apto para<br />

trafegar pelas vias auditivas ascendentes. A interligação entre a cóclea e o tronco<br />

encefálico é feita pelo nervo auditivo, que vai do gânglio espiral aos músculos<br />

cocleares, atravessando a região do ângulo pontocerebelar. Dos núcleos<br />

cocleares grande parte de via auditiva cruza o tronco encefálico pelo corpo<br />

trapezóide e estabelece outra zona de conexão nos núcleos do complexo olivar.<br />

Deste ponto, as fibras homo e contralaterais iniciam um trajeto ascendente até os<br />

24


núcleos do leminisco lateral, novamente retornam o trajeto ascendente até os<br />

núcleos de colículo inferior, na região mesencefálica, onde, pela derradeira vez,<br />

acontecem conexões contralaterais e com os outros núcleos da via. O teste é<br />

realizado para monitorar o tempo decorrido na passagem do estímulo acústico,<br />

transformado em elétrico, por estes centros de conexões: é denominado<br />

audiometria de tronco encefálico (ABR).<br />

Os exames relatados são métodos de Avaliação funcional do sistema<br />

nervoso central. Dessa forma, não substituem e não podem ser substituídos pelos<br />

exames de imagem. O diagnóstico por imagem e o diagnóstico de função devem<br />

ser encarados como informações que se complementam. A avaliação funcional<br />

bem conduzida é extremamente sensível, não-invasiva, rápida e de fácil<br />

aplicação, devendo ser utilizada não só para o diagnóstico topográfico como para<br />

monitorar a evolução e o tratamento das diversas doenças que afetam as<br />

estruturas encefálicas.<br />

A equilibriometria, também conhecida com vestibulometria ou exame<br />

vestibular, é baseada em testes vestibuloespinhais que avaliam o equilíbrio<br />

estático e dinâmico e em testes vestibuloculares que estudam o reflexo<br />

vestibulococlear (RVO).<br />

Hungria (1991), relata que a exploração clínica do aparelho vestibular inclui<br />

o estudo de funções ligadas, direta ou indiretamente, ao equilíbrio. É importante<br />

estudar o equilíbrio estático, através das provas de Romberg, Romberg-Barré e<br />

Unterbenger e o equilíbrio dinâmico através da marcha. Incluem-se testes da<br />

função cerebelar, em virtude da íntima relação entre o cerebelo e o sistema<br />

vestíbulo-oculomotor. O restante das provas labirínticas diz respeito aos<br />

movimentos oculares.<br />

25


4º - Estudo do equilíbrio estático e dinâmico:<br />

Consiste na verificação do equilíbrio corporal do paciente.<br />

- Quanto ao equilíbrio estático são realizadas:<br />

*Prova de Romberg: É solicitado que o paciente permaneça em pé, com<br />

os pés juntos, os braços estendidos ao longo do corpo e com olhos abertos e<br />

depois fechados, durante 1min.<br />

* Prova de Romberg-Barré: É solicitado que o paciente permaneça em<br />

pé, com um pé adiante do outro, em linha reta, diminuindo a base de sustentação.<br />

Deve-se observar nesta prova sensibilizada, que muitos indivíduos normais, sem<br />

patologia vestibular, apresentam dificuldades para manter o equilíbrio durante<br />

esta prova.<br />

- Quanto ao equilíbrio dinâmico é realizada a:<br />

*Prova da marcha: Pedir ao paciente que caminhe 5 passos para diante e<br />

5 passos para trás, alternadamente primeiramente com olhos abertos e a seguir<br />

com olhos fechados.<br />

*Prova de Unteberg: Pede-se para o paciente executar movimentos da<br />

marcha com os braços estendidos a sua frente, sem sair do lugar, com olhos<br />

abertos e fechados. (prova muito usada para compensar o tamanho reduzido das<br />

salas de exame; sua interpretação é a mesma da prova da marcha).<br />

A queda ou desvio para um dos lados pode ocorrer nas crises vestibulares<br />

periféricas agudas ou não compensadas. A queda para frente ou para trás é<br />

quase sempre de origem central. Portanto, pode se encontrar latero, retro e pró-<br />

pulsão. Naqueles pacientes ansiosos, podem-se observar oscilações ou mesmo<br />

26


pulsões, mas não obedecendo às características acimas descritas. Nesse casos,<br />

uma atividade mental, como contar de 100 até 0, faz com que essa movimentação<br />

desapareça; entretanto, deve-se lembrar que, todos aqueles que sofrem de um<br />

distúrbio de equilíbrio, apresentam um grau maior ou menor de envolvimento<br />

tensional.<br />

Estes testes deverão ser considerados complementares, por oferecerem<br />

informações topodiagnósticas adicionais aos outros dados do exame da função<br />

vestibular, e nunca isoladamente.<br />

5º - Provas cerebelares:<br />

Consiste na avaliação dos sinais cerebelares, as principais provas<br />

cerebelares são realizadas com o paciente sentado:<br />

*Prova de braços estendidos ou de Barré: O paciente deve apontar com<br />

os seus dedos indicadores os do examinador, sem tocá-los e, com os olhos<br />

fechados, manter a posição dos braços. Nas labirintopatias crônicas não há<br />

alterações; nas crises vertiginosas, ambos os braços se desviam na direção da<br />

componente lenta do nistagmo. Nas vestibulopatias centrais, os desvios podem<br />

ser desarmônicos (na direção oposta à da componente lenta do nistagmo) de<br />

ambos os braços, ou pode haver desvios convergentes ou divergentes sagitais<br />

de apenas um dos braços.<br />

*Prova de diadococinesia: 0 paciente deve realizar movimentos rápidos e<br />

alternados batendo com o dorso e a palma da mão sobre as coxas. A dificuldade<br />

uni ou bilateral na execução destes movimentos constitui a disdiadococinesia,<br />

indicando lesão hemisférica cerebelar ipsilateral ou dos dois lados.<br />

27


Estas provas devem ser sistematicamente efetuadas durante a avaliação<br />

otoneurológica, porque o estudo da relação da função cerebelar é extremamente<br />

importante para a adequada interpretação dos resultados dos testes labirínticos.<br />

6º - Exames do aparelho vestibular:<br />

Dentro do exame vestibular, falaremos da eletronistagmografia (ENG),<br />

vectoeletronistagmografia (VENG), e a vestibulometria computadorizada, dando<br />

maior ênfase ao exame vectoeletronistagmográfico, já que este é realizado no<br />

nosso setor.<br />

A maneira mais adequada de avaliar os achados oculares e/ou<br />

vestibulares à exploração semiológica das desordens do equilíbrio corporal<br />

consiste no registro da movimentação ocular, que pode ser realizado por meio da<br />

electronistagmografia (ENG). Além de constituir um registro permanente do<br />

exame vestibular, facultando futuras comparações, permite também o confronto<br />

do que ocorre com olhos abertos e fechados e possibilita a medida de diversos<br />

parâmetros do nistagmo, principalmente a velocidade angular da sua componente<br />

lenta, o mais importante deles.<br />

A ENG convencional pode propiciar o estudo do nistagmo e outros<br />

movimentos oculares horizontais por meio de um único canal de registro, com<br />

dois eletrodos ativos colocados nos cantos extremos periorbitário direito e<br />

esquerdo e um terceiro eletrodo neutro (terra) colocado na região frontal a 2cm<br />

acima da glabela.<br />

Há mais de uma década a informática vem invadindo as diversas áreas da<br />

atividade humana e a medicina, em particular a otoneurologia, não podia ficar<br />

28


alheia a essa evolução. Há vários anos alguns pesquisadores, nos Estados<br />

Unidos e na Europa, desenvolveram programas para a avaliação vestibular.<br />

se destacar:<br />

Entre as inúmeras vantagens da vestibulometria computadorizada pode-<br />

1- possibilidade de realizar exames impossíveis pelo sistema antigo, como<br />

o estudo do movimento sacádico;<br />

2- utilização de novos parâmetros quantitativos, com ganho, índice de<br />

dispersão, etc.<br />

3- facilidade de interpretação – todo o exame desfila no monitor do PC,<br />

fornecendo valores e montando gráficos para cada teste;<br />

4- eliminação de um possível erro humano nas medidas ou nos cálculos<br />

matemáticos;<br />

5- facilidade de arquivamento – um simples disquete pode armazenar em<br />

torno de 50 exames completos e uma fita cassete mais de 800.<br />

Como todos os exames são realizados através da pesquisa do nistagmo,<br />

também é justificada uma teoria existente onde se diz que a vertigem é uma<br />

ilusão de óptica causada pelo nistagmo.<br />

A palavra nistagmo vem do grego e significa cochilo; em realidade, refere-<br />

se ao movimento da queda da cabeça para frente quando se cochila e ao retorno<br />

rápido à posição original. Logo, pode-se concluir que o nistagmo apresenta duas<br />

componentes, uma lenta (queda da cabeça) e outra rápida, compensatória<br />

(retorno à posição inicial). Apesar de ser classicamente adotada essa<br />

nomenclatura por vários autores, devemos ressaltar que existem nistagmos<br />

29


diferentes, como, por exemplo, o pendular, de origem oftalmológica, em que as<br />

duas componentes são iguais.<br />

O nistagmo é, pois, um movimento ocular bifásico, rítmico, regular,<br />

involuntário. Apesar de ser a resposta - padrão de sistema vestibular, não quer<br />

dizer que o nistagmo seja uma resposta exclusiva desse sistema. Ele pode<br />

aparecer em patologias oculares, por exemplo. O sentido do nistagmo é, por<br />

definição, dado por sua componente rápida.<br />

O nistagmo consiste na resposta – padrão da vestibulometria, pois toda vez<br />

que se estimula o vestíbulo, ele aparece como resposta. Isso se deve a um<br />

desequilíbrio entre as forças antagônicas vestibulares que contribui para manter a<br />

orientação dos globos oculares. Da mesma maneira uma patologia no sistema<br />

periférico ou em suas conexões centrais pode determinar o aparecimento do<br />

nistagmo.<br />

O estudo dos movimentos oculares (nistagmo), sem causar fixação ocular,<br />

é possível com a utilização das lentes de Frenzel, que deverá ser utilizado como<br />

parte da investigação otoneurológica. Estes, são compostas de duas lentes de 20<br />

dioptrias e duas pequenas luzes. Existem inúmeras classificações do nistagmo<br />

que precisam ser relatadas, quando aparecerem no decorrer do exame.<br />

Diversos autores relatam uma dinâmica diferente do exame. Mostraremos<br />

a seqüência realizada na nossa experiência clínica.<br />

30


- VECTOELECTRONISTAGMOGRAFIA<br />

A vectoelectronistagmografia (VENG) é um exame importante na<br />

Avaliação Otoneurológica Mostraremos a dinâmica de realização do exame<br />

otoneurológico e sua interpretação gráfica.<br />

A vectoelectronistagmografia, utiliza três eletrodos ativos temporal direito,<br />

temporal esquerdo e frontal, além do eletrodo neutro também de localização<br />

frontal. Esta disposição de eletrodos registra os movimentos oculares horizontais,<br />

oblíquos e verticais, facilmente identificados a simples observação do traçado.<br />

Antes da realização do exame o paciente receberá as seguintes instruções:<br />

suspender, 3 dias antes do exame, as medicações para o labirinto, bem como os<br />

barbitúricos, tranqüilizantes e outros. Na véspera e no dia do exame não tomar:<br />

chá, mate e bebida alcóolica; jejum de duas horas antes do exame.<br />

Segundo Mangabeira Albernaz (1985), se o paciente estiver em crise<br />

vertiginosa, não convém realizar o exame completo. É preferível, para não<br />

agravar o estado do doente, lançar mão apenas das manobras menos<br />

estimulantes (pesquisa do equilíbrio estático e dinâmico, pesquisa do nistagmo<br />

espontâneo, semi-espontâneo e de posição) deixando para mais tarde as provas<br />

calóricas e rotatórias, quando o paciente tiver superado a crise. O emprego de<br />

medicação adequada fará com que o mesmo possa ter, brevemente, condições<br />

para realizar os testes restantes para definição diagnóstica.<br />

Como já relatamos, a VENG compreende:<br />

I- Anamnese: já descrito e em anexo (anexo III)<br />

31


II- Nistagmo de posição:<br />

Aparece quando a cabeça do paciente assume determinadas posições no<br />

espaço. Entretanto em sua pesquisa, deve-se ter em mente que três causas<br />

diferentes podem produzir um nistagmo nas condições de pesquisa: fator cinético<br />

(movimentação brusca da cabeça); fator cervical (nistagmo de origem cervical) e<br />

o verdadeiro nistagmo de posição (vestibular). Por isso existem muitas técnicas<br />

de exame e também uma grande controvérsia a seu respeito.<br />

Segundo alguns autores a pesquisa deve ser realizada com olhos nus, e<br />

pesquisada com lunetas, segundo outros, com o paciente sentado, deitado em<br />

decúbito dorsal com a cabeça em posição normal, com a mesma pendente<br />

(posição de Rose), em decúbito lateral esquerdo e direito. Alguns autores<br />

acreditam que essas manobras devam ser bruscas, enquanto outros crêem que<br />

as mesmas devam ser executadas lentamente, a fim de se eliminar o fator<br />

cinético. Outros, admitem que, durante os testes, o pescoço não deve ser<br />

flexionado, para evitar um possível nistagmo de origem cervical.<br />

Uma outra técnica bastante utilizada é fazer com que o paciente, que está<br />

sentado, deite-se rapidamente, assumindo a posição de cabeça pendente, mas<br />

com uma torção aproximadamente de 45º para a direita e repetir o mesmo para a<br />

esquerda, sempre com os olhos abertos. Entretanto, existem autores que criticam<br />

essa técnica, por causa dos fatores cinéticos e cervicais.<br />

Considerando as controvérsias sobre a pesquisa do nistagmo de posição,<br />

muitos autores optaram por pesquisá-los a olho nu nas posições clássicas<br />

(sentado, decúbito dorsal lateral direito e esquerdo e decúbito dorsal com a<br />

cabeça em posição normal) e na posição sentada.(realizado desta maneira na<br />

32


nossa experiência clínica). Deve-se ter prudência ao avaliar sua presença,<br />

considerando a incidência dos fatores cinéticos e cervicais.<br />

Indivíduos normais não apresentam vertigem e/ou nistagmo de posição<br />

com olhos abertos. A presença de vertigem e/ou nistagmo é muito freqüente em<br />

pacientes com vestibulopatias, confirmando a natureza vestibular, sem localizar a<br />

lesão em nível periférico ou central.<br />

III- Colocação dos eletrodos: (anexo IV)<br />

A pele deverá ser limpa e desengordurada com álcool ou éter antes da<br />

colocação dos eletrodos. Os eletrodos devem ser untados com pasta eletrolítica e<br />

adequadamente fixados a pele (em anexo).<br />

IV- Calibração do movimentos oculares: (anexo V)<br />

A apropriada calibração dos movimentos oculares é essencial para a<br />

obtenção da necessária igualdade de condições na feitura dos exames<br />

vestibulares, para a adequada interpretação dos seu parâmetros. O paciente<br />

deverá olhar alternadamente os dois extremos de uma cruz a sua frente, sem<br />

mover a cabeça.<br />

O registro da calibração resulta em uma onda “quadrada”. A altura de cada<br />

quadrado deve ter 10mm. As deflexões da pena inscritora são ajustadas de forma<br />

que 10º de desvio ocular correspondam a 10mm de altura no traçado (o paciente<br />

fará movimentos verticais).<br />

Durante a calibração, a amplitude do registro nos canais 2 e 3 deve ser a<br />

metade da amplitude do registro do canal 1 para o registro dos movimentos<br />

horizontais.<br />

33


Pode-se detectar alterações importantes da movimentação ocular como<br />

dismetrias e disritmias, sugestivas de comprometimento da fossa posterior e, mais<br />

particularmente, do cerebelo.<br />

V- Nistagmo espontâneo: (anexo VI)<br />

Considerando que o nistagmo é o espelho da função vestibular, a pesquisa<br />

do nistagmo espontâneo é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes da<br />

semiologia do equilíbrio.<br />

Pode surgir, sem qualquer estímulo vestibular, no olhar para frente com o<br />

paciente sentado, sem mudança de posição da cabeça ou tronco e sem qualquer<br />

estimulação vestibular.<br />

É pesquisado com olhos abertos e fechados. Sua direção, ritmo, amplitude,<br />

forma e velocidade da componente lenta devem ser avaliados. Sua origem poderá<br />

ser vestibular ou ocular. É importante observar o nistagmo, tanto no registro do<br />

exame, como também na visualização do olho do paciente.<br />

O nistagmo espontâneo raramente ocorre em indivíduos normais. É visível<br />

com olhos abertos nas crises vertiginosas de origem periférica, aumenta de<br />

intensidade com olhos fechados, apresentando, geralmente, direção horizontal,<br />

horizonto - rotatória ou rotatória.<br />

Se o paciente não estiver em crise vertiginosa e apresentar nistagmo<br />

espontâneo com olhos abertos, este é um sinal indicativo de lesão central,<br />

excluída a possibilidade de ser nistagmo congênito, presente desde a infância.<br />

Nas síndromes centrais, a direção do nistagmo espontâneo, com olhos abertos,<br />

pode sugerir a localização da lesão:<br />

1- rotatório – bulbar;<br />

2- vertical – lesão alta de tronco;<br />

34


3- vertical superior – pedúnculo, mas pode aparecer com certas drogas<br />

com o álcool.<br />

5- horizontal – sugere lesão na protuberância;<br />

6- múltiplo – lesão difusa de tronco.<br />

VI- Nistagmo Semi – espontâneo:<br />

Pode surgir em uma ou mais das quatros posições cardinais do olhar, com<br />

um desvio não superior a 30º (no desvio excessivo a sua presença é fisiológica)<br />

em qualquer das direções. Também denominado direcional, pode ter origem<br />

vestibular ou ocular.<br />

Indivíduos normais não apresentam nistagmo semi-espontâneo. Nas<br />

vestibulopatias periféricas pode ocorrer numa única direção cardinal, somente na<br />

crise vertiginosa ou logo após a mesma. Quando ocorre em mais de uma das<br />

posições cardinais é sempre de origem central. Quando o nistagmo é horizontal e<br />

bidirecional, sugere lesão pontina. Quando múltiplo (mais de duas direções) indica<br />

lesão mesencefálica, lesão dos núcleos vestibulares no soalho do IV ventrículo ou<br />

lesão do tronco cerebral.<br />

VII– Rastreio Pendular: (anexo VII)<br />

É um teste extremamente simples, com duração de 20 segundos, mas que<br />

nos dá somente uma avaliação qualitativa. Pede-se ao paciente que olhe um<br />

pêndulo, de modo que o movimento ocular total não ultrapasse 30º. Obtem-se<br />

assim uma curva sinusoidal (anexo II), que é classificada em quatro tipos:<br />

Tipo I : onda sinusoidal<br />

Tipo II: onda sinusoidal com poucos movimentos sacádicos<br />

Tipo III: onda sinusoidal com muitos e consistente movimentos sacádicos e<br />

superpostos<br />

35


Tipo IV: sem onda sinusoidal e anárquico.<br />

Os tipos I e II são encontrados nos indivíduos normais ou com patologia<br />

vestibular periférica, os tipos III e IV nos pacientes com distúrbios centrais. A<br />

presença de nistagmo espontâneo ou uma patologia ocular pode prejudicar<br />

totalmente a prova.<br />

VIII- Nistagmo Optocinético: (anexo VII)<br />

É um nistagmo fisiológico, involuntário, conhecido como nistagmo<br />

ferroviário, pois foi observado que pessoas, ao viajarem de trem, apresentavam<br />

um movimento ocular que acompanhava a passagem dos postes de eletricidade.<br />

Essas pessoas seguiam com os olhos o desfilar de um poste (fase lenta) e<br />

automaticamente dirigiam o olhar para o lado oposto (fase rápida), aguardando a<br />

passagem de um novo poste.<br />

Na clínica é utilizado o tambor de Barany (anexo III), que é um cilíndro<br />

dotado de faixas pretas e brancas e largura predeterminada. Esse tambor gira em<br />

três velocidades, 40, 60 e 80º/seg. no sentido horário e anti-horário e é colocado a<br />

aproximadamente 80 centímetros do paciente.<br />

O tambor gira no plano horizontal (nistagmo horizontal) e vertical (nistagmo<br />

vertical). A direção da fase lenta será sempre a da rotação. Assim, num<br />

movimento horário o nistagmo será sempre para a direita e no anti-horário para a<br />

esquerda.<br />

É importante considerar a simetria ou assimetria das respostas em termos<br />

de velocidade angular da fase lenta.<br />

Para alguns autores falta credibilidade na realização do tambor no plano<br />

vertical (nistagmo optocinético vertical), devido ao movimento palpebral que<br />

sempre acompanha o nistagmo vertical. Também não fazemos na nossa clínica.<br />

36


IX- Provas rotatórias pendular decrescente: (anexo VII)<br />

Foi o primeiro teste utilizado para se avaliar a função vestibular.<br />

Descoberto no fim do século passado, passou vários anos no esquecimento, até o<br />

final da década de 60, quando diversos centros de pesquisa franceses<br />

começaram a divulgá-lo. Mas somente em meados de 1970 foi que esta prova<br />

entrou para rotina da avaliação otoneurológica, sendo atualmente considerada um<br />

prova imprescindível.<br />

A prova rotatória pendular decrescente (PRPD) consiste num movimento<br />

rotatório pendular decrescente fornecido por uma cadeira na qual o paciente<br />

permanece sentado. Toda a prova é registrada.<br />

O olhos devem estar fechados, ou abertos na obscuridade, cálculos<br />

aritméticos ou perguntas simples deverão ser realizados durante a prova, já que<br />

poderá sofrer inibição cortical, alterando o resultado do exame. A obscuridade é<br />

obrigatória para evitar a influência de estimulações optocinéticas durante a<br />

rotação.<br />

Na PRPD avaliamos todos os canais semicirculares (CSC):<br />

- Os CSC laterais são avaliados com a cabeça do paciente fixada a 30º para<br />

frente, produzindo nistagmo predominantemente horizontal;<br />

- Os CSC verticais (posterior e superior) são avaliados com a cabeça do<br />

paciente fixada 60º para trás e 45º para esquerda ou direita (RIGAUDI, 1935).<br />

Estimulamos o CSC superior de um lado e o posterior do lado oposto (superior<br />

esquerdo e posterior direito o superior direito e posterior esquerdo), produzindo<br />

nistagmo de direção oblíqua.<br />

37


Cabeça fletida 30º para frente<br />

Anti-horário – nistagmo horizontal para direita (maior estimulação do CSC<br />

lateral direito).<br />

Horário – nistagmo horizontal para esquerda (maior estimulação do CSC<br />

lateral esquerdo).<br />

esquerdo).<br />

esquerdo).<br />

Cabeça 60º para trás e 45º para direita<br />

Anti-horário – nistagmo oblíquo para esquerda e para cima (CSC posterior<br />

Horário – nistagmo oblíquo para direita e para baixo (CSC superior direito).<br />

Cabeça 60º para trás e 45º para esquerda<br />

Anti-horário – nistagmo oblíquo para esquerda e para baixo (CSC superior<br />

Horário – nistagmo oblíquo para direita e para cima (CSC posterior direito).<br />

A presença de nistagmo espontâneo e/ou nistagmo semi-espontâneo<br />

poderá ou não influenciar o resultado da prova, ocorrendo então simetria,<br />

assimetria, preponderância direcional nistágmica (PDN) na direção oposta a estes<br />

nistagmos e até arreflexia. O dado de maior importância na PRPD é a simetria ou<br />

assimetria da resposta nistágmica no sentido horário e anti-horário da cadeira em<br />

termos quantitativos. Esta análise deverá ser feita quanto a freqüência nistágmica<br />

em três a quatro períodos no sentido horário e anti-horário da cadeira. A simetria<br />

ou assimetria deverá ser analisada em todo o conjunto da prova.<br />

Poderá também ser realizado o cálculo da velocidade angular da<br />

componente lenta (VACL) em sentido horário e anti-horário.<br />

38


A PRPD estimula simultaneamente os dois labirintos, devendo sempre ser<br />

analisada em conjunto com a prova calórica, que permite analisar separadamente<br />

cada labirinto.<br />

X- Prova calórica: (anexo VIII, IX)<br />

É a prova mais importante da avaliação da função labiríntica, de utilização<br />

obrigatória, pois permite estimular separadamente cada canal semicircular lateral.<br />

Assim poderemos analisar a função de cada labirinto. O estímulo deverá ser feito<br />

com água a 30º e a 44º (FITZGERALD & HALLPIKE), dando-se um intervalo de<br />

cinco minutos entre cada irrigação. Caso não haja uma resposta adequada,<br />

podemos realizar a prova a 18ºc ou mesmo a 0ºc. A prova poderá ser realizada<br />

com uso de ar, nas temperaturas indicadas pelo fabricante do aparelho. O uso de<br />

ar tem a vantagem de provocar menos desconforto e pode ser usado em<br />

pacientes com perfuração da membrana timpânica.<br />

O mecanismo de ação do labirinto a estimulação é complexo, mas admite-<br />

se que a teoria hidrodinâmica desenvolvida por Barany, seu autor, ainda é<br />

correta. Segundo ele, a irrigação quente ou fria do conduto auditivo externo irá<br />

produzir um aquecimento ou resfriamento da parede do canal semicircular lateral<br />

que, na posição vertical (paciente deitado em decúbito dorsal com a cabeça<br />

fletida para frente de 25 a 30º), determinará um movimento dos líquidos<br />

labirínticos e com isso um desvio da cúpula e portanto nistagmos, desvios<br />

segmentares e tonturas. Considerando que cada canal semicircular constitui um<br />

sistema de dutos fechados, o aquecimento dos líquidos endolabirínticos vai<br />

produzir uma dilatação dos mesmos e consequentemente torná-los mais leves, e<br />

assim eles tendem a subir, tornando então uma corrente ampulífuga no caso do<br />

canal horizontal. A mesma hipótese é válida para o resfriamento, só que aqui se<br />

39


forma uma corrente descendente e portanto ampulípeda, sendo esta razão pela<br />

qual o estímulo frio produz uma resposta mais intensa. Como se pode notar, esta<br />

hipótese é baseada no mecanismo de peso e portanto ligado à gravidade.<br />

Entretanto, pesquisas recentes mostraram que o fenômeno se reproduz no<br />

espaço, donde se pode imaginar que talvez outro mecanismo, ainda<br />

desconhecido, talvez vasodilatação e vasoconstrição, seria responsável pelas<br />

correntes labirínticas.<br />

Existem várias técnicas para realização da prova calórica, mas todas<br />

seguem alguns princípios básicos: ambiente silencioso e tranqüilo, com o<br />

paciente calmo e relaxado; é necessário pedir para que o mesmo realize cálculos<br />

mentais, devido a inibição cortical. O paciente deve permanecer deitado em<br />

decúbito dorsal, com a cabeça fletida de 25º a 30º para a frente, ou sentado<br />

confortavelmente, com a cabeça fletida para trás de 60º, no sentido de manter o<br />

canal horizontal na posição vertical. Durante todo o teste a cabeça do paciente<br />

deve permanecer imóvel na linha média, pois podem aparecer alterações se o<br />

mesmo rodar um pouco para esquerda ou para a direita.<br />

FITZGERALD & HALLPIKE<br />

É a técnica mais conhecida e utilizada também em nosso serviço. Consiste<br />

em irrigar os ouvidos direito e esquerdo com água a 30ºC e 44ºC e com tempo de<br />

irrigação de 40 segundo, na seguinte ordem:<br />

1- OD 44ºC > nistagmo para direita;<br />

2- OE 44ºC > nistagmo para esquerda;<br />

3- OE 30ºC > nistagmo para direita;<br />

4- OD 30ºC > nistagmo para esquerda.<br />

40


Como as provas frias produzem estímulos ampulípedos o nistagmo baterá<br />

para o lado oposto, enquanto que nas quentes, ampulífugos para o mesmo lado<br />

(anexo). Alguns pacientes podem apresentar tonturas, acompanhados de<br />

náuseas e vômitos.<br />

HALLPIKE MODIFICADO<br />

Foi desenvolvida esta técnica alternativa na Europa no intuito de amenizar<br />

a tonteira e os sintomas neurovegetativos. Consiste numa pequena variação da<br />

técnica de Hallpike: usam-se 50ml de água, com um tempo de irrigação de 10<br />

segundos, às mesmas temperaturas clássicas. As respostas nistágmicas são<br />

suficientemente elaboradas para análise, as tonturas se reduzem de 60% e os<br />

neurovegetativos são extremamente raros. A proporção de vômitos é de 1<br />

paciente em cada 1.000, aproximadamente (relato dos adeptos desta técnica ).<br />

PROVA COM AR<br />

Usada há alguns anos e também utilizada no nosso setor, tem a vantagem<br />

da simplicidade do exame, mas exige equipamentos especiais desnecessários<br />

para aquela feita com água. Foi desenvolvida especialmente para aqueles<br />

indivíduos que apresentem patologia de orelha externa e média. Para casos de<br />

perfuração timpânica unilateral ou bilaterais de tamanho diferentes, deve-se ter<br />

em mente que os estímulos não serão exatamente iguais e portanto as respostas<br />

estarão alteradas, sem refletir com exatidão a função vestibular.<br />

Outra vantagem na utilização desta técnica: as tonturas e se reduzem e os<br />

neurovegetativos (náuseas, sudorese e vômitos) são extremamente raros.<br />

A avaliação quantitativa das respostas vestibulares pode ser feita pelo<br />

tempo de duração da resposta nistágmica, freqüência, amplitude e velocidade<br />

angular da componente lenta. Estudos demonstraram que o parâmetro mais fiel<br />

41


para esta prova é o estudo da componente lenta e os valores assim obtidos são<br />

então avaliados pela fórmula de Jongkees:<br />

1- OD 44º<br />

2- OE 44º<br />

3- OE 30º<br />

4- OD 30º<br />

hiporreflexia ou predominância labiríntica (PL) = (1+4) – (2+3) x 100<br />

1+2+3+4<br />

predominância direcional do nistagmo (PD) = (1+3) – (2+4) x100<br />

1+2+3+4<br />

Os valores de normalidade variam segundo os diverso autores: 16% até<br />

25% para a predominância labiríntica e de 18% a 30% para a preponderância<br />

direcional do nistagmo. Como as medidas são comparativas de um lado com o<br />

outro, nos casos de hiporreflexia bilateral, a fórmula de Jongkees será normal;<br />

nesses casos os autores consideram a medida da componente lenta de até<br />

6º/Seg em todas as provas como um dado significativo, o mesmo ocorrendo numa<br />

hiperreflexia bilateral, quando então as respostas acima de 50º/Seg são<br />

consideradas limites.<br />

Nos casos em que não se obtiverem respostas frias ou quentes, deve-se<br />

repetir o estímulo a 18ºC e em casos extremos a 4ºC, a fim de se poder avaliar<br />

corretamente a refletividade vestibular.<br />

Além das alterações quantitativas (hiperreflexia, hiporreflexia, arreflexia e<br />

preponderância direcional, em anexo), que surgem freqüentemente tanto em<br />

vestibulopatias periféricas como centrais, podem ocorrer diversos sinais<br />

patognomônicos de lesão central, como por exemplo: ausência do efeito inibidor<br />

42


da fixação ocular (respostas com olhos abertos mais intensas do que com olhos<br />

fechados: lesão cerebelar), inversão (respostas nas direções opostas às<br />

esperadas: lesão destrutiva parcial dos núcleos vestibulares e soalho do IV<br />

ventrículo). É preciso ter certeza de que se trata realmente de um nistagmo<br />

invertido ou de um nistagmo latente (pode ocorrer na direção oposta à esperada<br />

em apenas uma das estimulações, sem valor patológico). O nistagmo invertido<br />

ocorre na direção oposta à esperada, sendo induzido pela estimulação calórica e<br />

ocorrendo em todas elas. Para podermos avaliar estes nistagmos que ocorrem na<br />

direção oposta à esperada, realizamos a manobra IV de Brünings: durante a<br />

resposta nistágmica, fletimos a cabeça do paciente 120º para frente colocando a<br />

ampola do canal semicircular lateral voltada para baixo. Não havendo mudança<br />

de direção da ampola do canal semicircular lateral, fica indicado ser um fenômeno<br />

indiferente à estimulação térmica. A mudança de direção do nistagmo com a<br />

inversão da posição da ampola do canal semicircular lateral ocorre se o nistagmo<br />

for realmente invertido, isto é, depende da estimulação térmica. Perversão<br />

(respostas verticais ao invés de horizontais, horinzonto-rotatória, rotatória ou<br />

oblíqua), hiperreflexia + disritmia: indica lesão cerebelar, desde que haja mais um<br />

dado de localização central na avaliação otoneurológica, abolição total ou parcial<br />

da componente rápida (lesão da formação reticular do tronco cerebral alto) e<br />

dissociação (comportamento diferente dos dois lados, lesão do fascículo<br />

longitudinal medial).<br />

O decrutamento é um sinal sugestivo mas não patognomônico de lesão<br />

vestibular central e aparece à comparação de intensidade das respostas, às<br />

provas rotatória pendular decrescente e calórica. Em indivíduos normais e nas<br />

vestibulopatias periféricas, as respostas giratórias são costumeiramente mais<br />

43


intensas do que as das estimulações térmicas. Nas síndromes centrais, podemos<br />

encontrar o inverso. Quando há ausência de nistagmo per-rotatório e presença de<br />

nistagmo pós-calórico, fica caracterizado o decrutamento.<br />

Ao realizar o estímulo, grava-se o aparecimento do nistagmo e depois<br />

pede-se para o paciente olhar fixo para um ponto e o nistagmo irá diminuir até a<br />

sua completa ausência: esse fenômeno é chamado de EIFO (efeito inibidor da<br />

fixação ocular). A ausência de EIFO, ocorre quando a velocidade da componente<br />

lenta com olhos abertos é igual ou maior do que com os olhos fechados. Ocorre<br />

nas lesões de tronco cerebral e/ou cerebelo. Devemos observar que a cegueira<br />

parcial, estrabismo, nistagmo congênito, lesão da musculatura ocular e o uso de<br />

drogas, como dimenidrato e pentabarbitrol, podem alterar o EIFO.<br />

- Configuração semiológica<br />

Constitui, o resultado do final dos testes acima realizados. É preciso que se<br />

tenha em mente as seguintes indagações:<br />

1- O paciente apresenta alguma patologia?<br />

2- Se positivo, é um problema periférico, central ou misto?<br />

Para afirmar se um paciente apresenta realmente um distúrbio orgânico,<br />

deve-se avaliar cuidadosamente a história clínica e relacioná-la com possíveis<br />

alterações encontradas no exame. Como os critérios de normalidade, nas<br />

diversas provas, são determinadas por estudos estatísticos, pode-se<br />

perfeitamente encontrar alterações isoladas sem que se confirme uma doença<br />

real. Assim, alterações isoladas no optocinético, ou uma hiporreflexia à prova<br />

44


otatória ou ainda uma preponderância direcional na prova calórica podem estar<br />

presentes na avaliação otoneurológica de um indivíduo normal.<br />

A anamnese, a presença de lesões em nervos cranianos, a análise do<br />

equilíbrio estático, dos sinais cerebelares, do nistagmo espontâneo e de posição,<br />

das alterações às provas rotatórias e calórica fornecem dados que permitem<br />

confirmar se existe uma patologia periférica ou central. Não há achados<br />

patognomônicos de lesão funcional vestibular periférica. O diagnóstico de<br />

vestibulopatia periférica é feito por exclusão: os achados não se enquadram no<br />

padrão normal e não ocorrem sinais de envolvimento central. 0 primeiro passo a<br />

ser dado é definir se o paciente apresenta uma síndrome deficitária ou irritativa.<br />

Síndrome deficitária unilateral – caracteriza-se por um nistagmo<br />

espontâneo batendo para o lado oposto ao da lesão, e/ou uma hiporreflexia<br />

unilateral do lado da lesão à prova pendular, e/ou uma predominância labiríntica<br />

ou ainda um preponderância direcional oposta ao lado lesado à prova calórica.<br />

Esse quadro aparece mais freqüentemente nas patologias periféricas, mas<br />

também pode se apresentar em algumas centrais.<br />

Síndrome deficitária bilateral – os dados são fornecidos somente pelas<br />

provas rotatórias e calóricas ( respostas bilaterais e, em ambas, as temperaturas<br />

inferiores a 4º/eg ou 6º/seg, segundo os autores). Esse tipo de alteração está<br />

presente nas periféricas, mas pode se apresentar também nas centrais, como nas<br />

ototoxicoses.<br />

Síndrome irritativa unilateral – apresenta-se sempre com respostas para<br />

o lado lesado: nistagmo espontâneo e/ou preponderância direcional à prova<br />

pendular, hiperreflexia (resposta acima de 50º/seg) e/ou preponderância<br />

direcional à prova calórica. Esse tipo de alteração aparece mais freqüentemente<br />

45


nas lesões centrais, mas pode aparecer em alguma periférica como a doença de<br />

Ménière.<br />

Sindrome irritativa bilateral – deve-se encontrar hiperreflexia bilateral à<br />

prova rotatória e/ou à calórica. Neste caso pensa-se sempre em patologias<br />

centrais, como por exemplo, a esclerose múltipla.<br />

Parâmetros para diagnóstico de síndrome vestibular periférica<br />

irritativa e deficitária:<br />

IRRITATIVA DEFICITÁRIA<br />

-hiperreflexia (valores absolutos) - Arreflexia ou hiperreflexia<br />

- Normorreflexia - PL<br />

- PDN - Recrutamento<br />

- Nistagmo de posição e/ou tonteiras - Resposta nistágmica a 18º<br />

- Nistagmo espontâneo OF>7º/seg menor que 10º/Seg<br />

- História do paciente<br />

Parâmetros de tempo para realização do exame<br />

Nistagmo de posição 10”em cada posição pesquisada. Sem registro<br />

Calibração – horizontal – 10” vertical 10”<br />

Nistagmo espontâneo AO – 10” OF 10”<br />

Nistagmo semi-espontâneo esq. 10” direita 10” sup. 10”e inf. 10”<br />

Rastreio pendular 20”<br />

Nova calibração<br />

Nistagmo optocinético AH – 10” H – 10”<br />

Nova calibração<br />

46


PRPD – calcular a PDN<br />

Nova calibração<br />

Registro pré-calórico (sem estimulação)<br />

Prova Calórica – Estimulação com água durante 40”para cada prova, não<br />

esquecer do intervalo de 5”após cada prova calcular PDN e PL.<br />

47


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Vertigem e outras tonturas são sintomas dos mais relatados por pacientes<br />

em consultas médicas, em todos os continentes.<br />

No nosso setor, os otorrinolaringologistas, que lá trabalham, relatam que<br />

cerca de 10% dos pacientes apresentam tontura, como motivo principal de sua<br />

consulta. Essa porcentagem aumenta se esse sintoma for considerado também<br />

quando secundário.<br />

Como queixa principal, a tontura tem sido mais freqüentemente no sexo<br />

feminino (observado tanto nas consultas, como na realização dos exames).<br />

O conjunto de sintomas e sinais observados pode não ser muito<br />

significativo, ou pode ser comum a várias afecções, aumentando o desfio para um<br />

diagnóstico médico correto. Para este ser alcançado é fundamental iniciar-se por<br />

uma avaliação otoneurológica cuidadosa. Ela poderá comprovar o envolvimento<br />

do sistema vestibular diferenciando, se está ocorrendo periférica ou centralmente<br />

e se é de caráter irritativo ou deficitário, geralmente um prognóstico aproximado<br />

de cada caso ou quando seu quadro clínico são típicos ou altamente sugestivos<br />

de determinadas afecções e síndromes otoneurológicas, permitindo que elas<br />

sejam diferenciadas. Também é importante que se oriente o especialista na<br />

escolha de outros exames subsidiários para definição do diagnóstico.<br />

A avaliação otoneurológica é de fundamental importância para a hipótese<br />

diagnóstica (caminhos para se descobrir a causa das tonuras) e tratamento<br />

adequado.<br />

48


O momento atual da otoneurologia e o seu rumo promissor ao século XXI<br />

assegura que a vertigem e outras tonturas podem ser curadas e que as chance<br />

de cura aumentam consideravelmente se o paciente for submetido a uma<br />

avaliação otoneurológica correta, for diagnosticado e tratado de forma precisa.<br />

Com o diagnóstico e tratamento apropriados, em torno de 90% dos doentes<br />

usufruem de resultados favoráveis, alcançando expressiva melhora ou a<br />

erradicação dos sintomas da disfunção labiríntica.<br />

Desta forma podemos dizer que o conhecimento do dito popular “labirintite<br />

não tem cura (sic)” não espelha a realidade se o paciente for corretamente<br />

avaliado e tratado.<br />

A fonoaudiologia, cada vez mais tem participado desta avaliação, e assim<br />

juntamente com o otrrinolaringologista poderemos obter o melhor tratamento,<br />

muitas das vezes com reabilitação labiríntica, também realizado por<br />

fonoaudiólogos , contribuindo para o sucesso do indivíduo vertiginoso.<br />

Esperamos ter colaborado, com nosso trabalho, para a conscientização<br />

dos profissionais da área da importância da Avaliação Otoneurológica.<br />

49


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A.P.L; -Avaliação quantitativa do nistagmo optocinético horizontal e vertical<br />

normal. ACTA AWHO,(2); 16-28, 1983.<br />

SILVA, R.C.B. ; ITO, T.I.; CATRO, H.D.; CAOVILLA, H.H.; GANANÇA, M.M.;<br />

MAGABEIRA ALBERNAZ, P.L.; - Do nistagmo pós-calórico à<br />

vectoeletronistagmografia. ACTA AWHO, V (1): 21-27, 1986.<br />

51


ANEXOS<br />

52


CALIBRAÇÃO DOS MOVIMENTOS OCULARES (ANEXO V)<br />

I<br />

DIREÇÃO DOS NISTAGMOS


ORELHA<br />

EXTERNA<br />

ORELHA<br />

MÉDIA<br />

ORELHA ( ANEXO I )<br />

TÍMPANO<br />

ORELHA<br />

INTERNA


LABIRINTO ÓSSEO ( ANEXO II)<br />

LABIRINTO MEMBRANOSO


COLOCAÇÃO DE ELETRODOS (ANEXO IV)<br />

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO NISTAGMO, COM SUAS<br />

COMPONENTES LENTA (A) E RÁPIDA (B)


NISTAGMO ESPONTÂNEO ( ANEXO V I)


RASTREIO PENDULAR (ANEXO VII)<br />

NISTAGMO OPTOCINÉTICO<br />

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA PROVA ROTATÓRIA


REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA PROVA CALÓRICA (ANEXO VIII)


CÁLCULO DO NISTAGMO (ANEXO IX)

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