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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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trazer. O Recreio das Flores era do cais do porto, podia outro vir<br />

bom, mas o Recreio tinha que ganhar. Não era fácil...”<br />

(Depoimento de Licínia da Costa Jumbeba). A Resistência<br />

sobrevive com o <strong>no</strong>me de Sindicato dos Arrumadores do Município<br />

do <strong>Rio</strong> de Janeiro e mantém a tradição negra da organização, cujo<br />

arquivo ainda inexplorado precisa ser estudado como importante<br />

fonte desse passado recente <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro.<br />

Muitos não encontravam trabalho e passam a viver de<br />

expedientes irregulares, da mendicância e eventualmente do<br />

crime. Indivíduos ou famílias vivendo nas ruas se tornam uma<br />

tradição na vida da cidade que se moderniza, mas dissemina seus<br />

pontos escuros, onde gente sem proteção ou alternativas luta<br />

apenas para sobreviver. Malícia e maleabilidade eram necessárias<br />

para resolver os problemas imediatos de cada dia, muitos caindo<br />

<strong>no</strong> desespero das soluções extremas, na bebida e <strong>no</strong><br />

embrutecimento. Outros se suicidam <strong>no</strong> período imediatamente<br />

após a Abolição, desiludidos com as reduzidas chances que se<br />

oferecem para o negro <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo regime. A malandragem, a<br />

cafetinagem e o roubo se tornam expedientes que garantem uma<br />

maior dignidade que a mendicância, reservada tanto aos mais<br />

velhos, alquebrados pela vida de escravo, como às mulheres aqui<br />

arribadas com filhos peque<strong>no</strong>s. Dignidade pessoal que, por vezes,<br />

não era possível ser mantida em trabalhos em que, além de sua<br />

dureza, os códigos de comportamento patrão-empregado<br />

confundidos com os preconceitos sobre os negros impunham<br />

condições de tratamento humilhante — o que levou muitos, por<br />

vezes alguns dos mais dotados, a optarem pela marginalidade.<br />

Para o homem <strong>no</strong> vigor de sua força, respeitado <strong>no</strong>s<br />

batuques e na capoeira, surgia a alternativa da polícia, do<br />

engajamento militar, ou mais informalmente em se tornar capanga

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