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23.02.2013 Views

Obras de alargamento da rua da Carioca. Foto Augusto Malta, 1906. In: Paulo Carvalho e Pedro Paulo Soares, Evolução urbana da cidade do Rio de Janeiro na era de Pereira Passos — um estudo fotográfico. Fundação Ford/Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Pesquisa realizada em 1982. A abolição revoluciona inteiramente a vida do negro. Se sua posição como escravo estava longe de ser desejável, em nenhum momento o novo Estado republicano se preocupa, em nível de uma política governamental global, com as transformações que evidentemente a libertação oficial provoca na vida do [pg. 63] grande número de negros trazidos ou nascidos aqui, que passariam a se defrontar com as peculiaridades do mercado de trabalho livre que se reformula, privilegiando uma concepção moderna do operário ocidental. O desconhecimento da nova linguagem trabalhista, os preconceitos raciais e as conseqüentes dificuldades de competir pelas vagas que se abrem na indústria, no comércio, no funcionalismo e nas obras púbicas, fazem com que muitos nesse período de transição se incorporem à massa de desocupados que lutam pela sobrevivência nas grandes cidades brasileiras, vivendo de expedientes e das inúmeras formas de

subemprego que margeiam as ocupações regulares, registradas e reconhecidas pela legislação e a marginalidade. Largo de Santa Rita, ponto de carregadores. Fotógrafo não identificado, 1904. Fundação Ford/ A.G.C.R.J. As negras acham alternativas no trabalho doméstico ou seriam pequenas empresárias com suas habilidades de forno e fogão, procurando o sustento através de pequenos ofícios ligados ao artesanato e à venda ambulante. Já o negro teria melhor sorte no Rio de Janeiro do que em São Paulo, onde a competição [pg. 64] com o imigrante, lá em grande número, se tornaria nos primeiros tempos praticamente insustentável. No Rio de Janeiro abrem-se oportunidades na multiplicidade de ofícios em torno do cais do porto, para alguns na indústria, para os mais fortes e aguerridos na polícia, para os mais claros no funcionalismo, para todos no Exército e na Marinha. Mas muitos ficam à margem: prostitutas, cafetões, malandros. Outros sobrevivem como artistas, em cabarés, teatros de revista, circos e palcos, valendo-se

Obras de alargamento da rua da Carioca. Foto Augusto Malta, 1906. In: Paulo<br />

Carvalho e Pedro Paulo Soares, Evolução urbana da cidade do <strong>Rio</strong> de Janeiro na era de<br />

Pereira Passos — um estudo fotográfico. Fundação Ford/Arquivo Geral da Cidade do<br />

<strong>Rio</strong> de Janeiro. Pesquisa realizada em 1982.<br />

A abolição revoluciona inteiramente a vida do negro. Se sua<br />

posição como escravo estava longe de ser desejável, em nenhum<br />

momento o <strong>no</strong>vo Estado republica<strong>no</strong> se preocupa, em nível de<br />

uma política governamental global, com as transformações que<br />

evidentemente a libertação oficial provoca na vida do [pg. 63]<br />

grande número de negros trazidos ou nascidos aqui, que<br />

passariam a se defrontar com as peculiaridades do mercado de<br />

trabalho livre que se reformula, privilegiando uma concepção<br />

moderna do operário ocidental. O desconhecimento da <strong>no</strong>va<br />

linguagem trabalhista, os preconceitos raciais e as conseqüentes<br />

dificuldades de competir pelas vagas que se abrem na indústria,<br />

<strong>no</strong> comércio, <strong>no</strong> funcionalismo e nas obras púbicas, fazem com<br />

que muitos nesse período de transição se incorporem à massa de<br />

desocupados que lutam pela sobrevivência nas grandes cidades<br />

brasileiras, vivendo de expedientes e das inúmeras formas de

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