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andre.vilaron
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23.02.2013 Views

frontalmente condenada por toda a filosofia da reforma da capital, mas que na prática é aceita por políticos e cientistas. Novas comunidades se formam, no morro de São Carlos e no da Mangueira, favelas se espalham por todos os morros do Centro e em sua volta, e na Zona Sul da cidade, ocupadas por gente que vinha de todas as partes, e que pouco a pouco ganharia unidade através de novas formas de organização saídas da atividade religiosa e dos grupos festeiros. As favelas cariocas, mitos e manchas da cidade. A proposta de “se civilizar” de um setor dominante da população, associada à sua necessidade de mão-de- obra barata para os objetivos e a manutenção “do progresso”, definia na prática uma nova ecologia social na cidade, um novo Rio de Janeiro subalterno, não mais o dos escravos, mas o das favelas e dos subúrbios que se expande em proporções inéditas, que se forma longe do relato dos livros e dos jornais, afastado e temido, visto como primitivo e vexatório. A cidade se reforma. A cidade se transforma. A cidade se transtorna. O Rio de Janeiro moderno. [pg. 61]

VIDA DE SAMBISTA E TRABALHADOR Vendedor ambulante (detalhe). Foto Augusto Malta, 1905. Seleção executada pela Fundação Casa de Rui Barbosa em pesquisa coordenada por Solange Zúñiga no acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. O cais do porto, arquivo de saber Lugar onde se aprende o que quer, Uns pugnam pela virtude Outros se iludem Dada a facilidade Enveredam por maus caminhos Depois desse desalinho Adeus sociedade Eu pelo menos Tudo aquilo que colhi Riquezas de calos nas mãos Da moral impoluta Jamais esqueci Aí as religiões Todas fazem presença Fazem refeição e sobremesa Má querência O cais do porto, arquivo de saber Trabalhei trinta e um anos Existência bem vivida Há um detalhe porém, Que enobrece a minha vida Vinte e seis do dois de quarenta e seis Surgia nova convenção do trabalho Motivado pela paralisação Do onze ao dezoito da nossa, profissão O cais do porto, arquivo de saber. Eu com quatro anos de associado [pg. 62] Juntei-me a um veterano Reivindicando um direito No ministério do ensino Como soberano. Partido de Aniceto da Serrinha

VIDA DE SAMBISTA E TRABALHADOR<br />

Vendedor ambulante (detalhe). Foto<br />

Augusto Malta, 1905. Seleção<br />

executada pela Fundação Casa de<br />

Rui Barbosa em pesquisa<br />

coordenada por Solange Zúñiga <strong>no</strong><br />

acervo do Arquivo Geral da Cidade<br />

do <strong>Rio</strong> de Janeiro.<br />

O cais do porto, arquivo de saber<br />

Lugar onde se aprende o que quer,<br />

Uns pugnam pela virtude<br />

Outros se iludem<br />

Dada a facilidade<br />

Enveredam por maus caminhos<br />

Depois desse desalinho<br />

Adeus sociedade<br />

Eu pelo me<strong>no</strong>s<br />

Tudo aquilo que colhi<br />

Riquezas de calos nas mãos<br />

Da moral impoluta<br />

Jamais esqueci<br />

Aí as religiões<br />

Todas fazem presença<br />

Fazem refeição e sobremesa<br />

Má querência<br />

O cais do porto, arquivo de saber<br />

Trabalhei trinta e um a<strong>no</strong>s<br />

Existência bem vivida<br />

Há um detalhe porém,<br />

Que e<strong>no</strong>brece a minha vida<br />

Vinte e seis do dois de quarenta e seis<br />

Surgia <strong>no</strong>va convenção do trabalho<br />

Motivado pela paralisação<br />

Do onze ao dezoito da <strong>no</strong>ssa, profissão<br />

O cais do porto, arquivo de saber.<br />

Eu com quatro a<strong>no</strong>s de associado [pg. 62]<br />

Juntei-me a um vetera<strong>no</strong><br />

Reivindicando um direito<br />

No ministério do ensi<strong>no</strong><br />

Como sobera<strong>no</strong>.<br />

Partido de Aniceto da Serrinha

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