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pobre gente de cor, na maioria dada a malandragem. Mas era um<br />
exagero, porque nela outras categorias humanas já estavam então<br />
predominando, entre elas a imigração italiana de [pg. 57] recursos<br />
mais modestos. Nos pontos de bonde da Senador Eusébio ou da<br />
Visconde de Itaúna já se viam, por isso mesmo, napolitanas robustas<br />
às dezenas, de grossos anelões de ouro nas orelhas, levando fardos de<br />
costura à cabeça, e peque<strong>no</strong>s empregados públicos, e tipógrafos, e<br />
caixeiros do atacado e do varejo... Ao cair da tarde vinham as moças<br />
para a janela, e então as festinhas caseiras, bem típicas da época, não<br />
tardavam a começar, animadas pelos pianistas amadores, que sabiam<br />
de cor o shotish, a valsa e a polca da moda e aos domingos brilhavam<br />
também <strong>no</strong>s salões do Clube dos Aristocratas da Cidade Nova,<br />
fundado em 1880 na Senador Eusébio, perto da praça (Lima Barreto,<br />
op. cit.).<br />
A praça Onze, cercada por casuarinas, e imortalizada como<br />
sede do Carnaval popular e do samba <strong>no</strong> início do século, se<br />
constituía <strong>no</strong> único respiradouro livre de toda a área do bairro. Já<br />
<strong>no</strong> século XVIII, chamada de Rossio Peque<strong>no</strong>, era local aberto de<br />
uso comum junto aos mangues onde a população jogava seu lixo,<br />
como o Rossio Grande, atual praça Tiradentes, na época também<br />
área de serventia e gueto dos ciga<strong>no</strong>s na cidade. Com o<br />
desenvolvimento do bairro, a praça é urbanizada em 1846,<br />
quando são plantadas as árvores e colocado em seu centro um<br />
chafariz projetado por Grandjean de Montigny, arquiteto vindo<br />
com a Missão Francesa trazida pelo conde da Barca em 1816. A<br />
partir da ocupação da Cidade Nova pela gente pobre deslocada<br />
pelas obras, que a superpovoada na virada do século, a praça se<br />
tornaria ponto de convergência desses <strong>no</strong>vos moradores, local<br />
onde se desenrolariam os encontros de capoeiras, malandros,<br />
operários do meio popular carioca, músicos, compositores e<br />
dançari<strong>no</strong>s, dos blocos e ranchos carnavalescos, da gente do<br />
candomblé ou dos cultos islâmicos dos baia<strong>no</strong>s, de portugueses,