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23.02.2013 Views

Antes de seguir em suas considerações a comissão não pode, referindo-se a este ponto, deixar de solicitar ao governo imperial que favoreça a construção de domicílios salubres a baixo preço para as classes pobres, tendo em vista burlar a ganância de certos homens que, a título de favorecerem essas classes, construindo edifícios adequados às condições de seus poucos recursos, lhes inoculam o gérmen das moléstias, com lucros fabulosos dos capitais empregados nessas edificações anti-higiênicas e mortíferas (Luís Rafael Vieira Souto, In Memorial/Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro). Cortiço da rua do Senado. Foto Augusto Malta, 1906. Seleção executada pela Fundação Casa de Rui Barbosa em pesquisa coordenada por Solange Zúñiga no acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro Eram cortiços de construção ligeira instalados no fundo de antigas construções, ou velhas casas senhoriais divididas em pequenos apartamentos, sem áreas de ventilação ou cozinha, casas de cômodos [pg. 50] improvisadas em antigos prédios em decadência onde eram apertados novos moradores pressionados pela carência de moradia barata por que passava a cidade,

aproveitada pelos proprietários e investidores imobiliários. E exemplar a situação da grande estalagem situada atrás da Casa da Moeda na rua Caldwell: 114 cômodos de pequenas proporções divididos por biombos de madeira, alguns com pequenas cozinhas instaladas do lado de fora, para que os cômodos do fundo pudessem também ser alugados como quartos. A cozinha de frente para a única janela de ventilação. As latrinas, 12, situadas na mesma ala dos quartos, com bancos de cimento, corridos e sem nenhuma divisória, em sua proposta promíscua de atender a todos os moradores. Uma nova comissão, desta vez denominada de Conselho de Saúde do Distrito Federal, denuncia as condições dos coletivos e sugere que seus moradores sejam removidos “para os arredores da cidade em pontos por onde passem trens e bondes”, pressionando o governo a desapropriar aquelas construções para destruí-las, substituindo-as por casas unitárias para as famílias pobres. Em 1892, o chefe da Inspetoria Geral da Higiene Pública, dr. Bento Osvaldo Cruz, pai do célebre sanitarista, um dos principais auxiliares da futura administração Pereira Passos, escreve num relatório: Se, com efeito quisermos aproximadamente avaliar (...) a avalancha de desgraças que de dois anos para cá ameaça temerosamente a nossa economia geral e a normalidade do nosso regime sanitário, basta apreciar com razoável previdência os restritos recursos urbanos de lotação, viação, locomoção, transportes, alimentação, abastecimento e conservação em geral, em confronto com a invasão rápida de sucessivos e extraordinários contingentes de população imigrante e flutuante e o movimento assombroso de empresas novas, comerciais, industriais e fabris, remoções de terra, demolições e construções em larga escala, tudo isso constituindo, como é sabido, fatores de profunda perturbação no meio de uma sociedade bem consolidada, com mais forte razão no de um aglomerado efervescente e instável,

aproveitada pelos proprietários e investidores imobiliários. E<br />

exemplar a situação da grande estalagem situada atrás da Casa<br />

da Moeda na rua Caldwell: 114 cômodos de pequenas proporções<br />

divididos por biombos de madeira, alguns com pequenas cozinhas<br />

instaladas do lado de fora, para que os cômodos do fundo<br />

pudessem também ser alugados como quartos. A cozinha de<br />

frente para a única janela de ventilação. As latrinas, 12, situadas<br />

na mesma ala dos quartos, com bancos de cimento, corridos e<br />

sem nenhuma divisória, em sua proposta promíscua de atender a<br />

todos os moradores. Uma <strong>no</strong>va comissão, desta vez de<strong>no</strong>minada<br />

de Conselho de Saúde do Distrito Federal, denuncia as condições<br />

dos coletivos e sugere que seus moradores sejam removidos “para<br />

os arredores da cidade em pontos por onde passem trens e<br />

bondes”, pressionando o gover<strong>no</strong> a desapropriar aquelas<br />

construções para destruí-las, substituindo-as por casas unitárias<br />

para as famílias pobres.<br />

Em 1892, o chefe da Inspetoria Geral da Higiene Pública, dr.<br />

Bento Osvaldo Cruz, pai do célebre sanitarista, um dos principais<br />

auxiliares da futura administração Pereira Passos, escreve num<br />

relatório:<br />

Se, com efeito quisermos aproximadamente avaliar (...) a avalancha de<br />

desgraças que de dois a<strong>no</strong>s para cá ameaça temerosamente a <strong>no</strong>ssa<br />

eco<strong>no</strong>mia geral e a <strong>no</strong>rmalidade do <strong>no</strong>sso regime sanitário, basta<br />

apreciar com razoável previdência os restritos recursos urba<strong>no</strong>s de<br />

lotação, viação, locomoção, transportes, alimentação, abastecimento e<br />

conservação em geral, em confronto com a invasão rápida de<br />

sucessivos e extraordinários contingentes de população imigrante e<br />

flutuante e o movimento assombroso de empresas <strong>no</strong>vas, comerciais,<br />

industriais e fabris, remoções de terra, demolições e construções em<br />

larga escala, tudo isso constituindo, como é sabido, fatores de<br />

profunda perturbação <strong>no</strong> meio de uma sociedade bem consolidada,<br />

com mais forte razão <strong>no</strong> de um aglomerado efervescente e instável,

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