TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
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ORELHAS DO LIVRO Roberto Moura focaliza um Rio de Janeiro subalterno, eventualmente marginal, indefinido, a partir da virada do último século, que teria particular expressividade no engendramento da identidade moderna da cidade. Ao lado da história de Tia Ciata e da diáspora baiana no Rio, um trabalho de contexto que inter- relaciona e desvenda esta cidade, em contrapartida àquela que “se civiliza” no Centro e na Zona Sul, redefinida pela reforma do prefeito Pereira Passos. Abrindo a obra com um painel da situação política nacional, quando da Abolição e do advento da República, o autor traça o roteiro da vinda dos negros de Salvador para o Rio de Janeiro, “uma história possível, uma história banal, sublime, vergonhosa”. E mostra como a colônia baiana se impõe no mundo carioca, em torno de seus líderes vindos dos postos do candomblé e dos grupos festeiros, cuja influência se estenderia a toda a comunidade heterogênea que se formou nos bairros, em torno do cais do porto e depois na Cidade Nova, tocada pelas transformações urbanas. São revisitadas figuras lendárias como Hilário, o mais fecundo fundador de ranchos e sujos do Carnaval carioca; a casa de candomblé de João Alabá, com as tias Amélia, mãe de Donga, Perciliana, mãe de João Baiana, e a mais famosa de todas, Tia Ciata, cuja casa se tornará a capital na Pequena África, em torno da Praça Onze. Mais do que em qualquer cidade brasileira, a diversificação da vida e o ritmo cosmopolita do Rio de Janeiro permitiriam que certos hábitos musicais dos negros se encontrassem com a música ocidental de feição popular. O maxixe e o seu sucessor, o samba, acharam terreno propício na Cidade Nova: festeiros baianos, músicos e compositores negros, em processo de profissionalização,
e empresários da caótica vida noturna da cidade criariam as formas da canção popular carioca, antecedendo uma geração de compositores que, junto com burgueses de Vila Isabel, depois de 1930, fariam a “época de ouro” da música popular brasileira. Assim definida por uma densa experiência sócio-cultural, quase sempre omitida pelos meios de informação da época, sedimenta-se, já no fim da República Velha, uma verdadeira cultura popular carioca, que se mostraria, ao lado dos novos hábitos civilizatórios das elites, fundamental na redefinição do Rio de Janeiro e na formação de sua personalidade moderna. Fruto do encontro de uma fluminense com um paraense no Rio de Janeiro, Roberto Moura, pai de Pedro e Alice, é tricolor. Cineasta, dirigiu e produziu na Corisco Filmes, desde os anos 70, firmemente sediada na praça Tiradentes, uma linha de documentários que lançam olhar poético-antropológico sobre a cidade, abordando as repercussões da modernidade no povo negro e sua expressão através da indústria cultural. Filmes e livros, como os escritos e filmados sobre Tia Ciata e Cartola. Nos anos 80, começou a experimentar a ficção numa série de trabalhos que desembocaram num filme protagonizado por Grande Othelo, uma biografia precoce de uma geração pós- Cinema Novo. Esse longa foi sua tese em Cinema no doutorado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de S. Paulo, depois de ter se graduado e feito o mestrado na Escola de
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e empresários da caótica vida <strong>no</strong>turna da cidade criariam as<br />
formas da canção popular carioca, antecedendo uma geração de<br />
compositores que, junto com burgueses de Vila Isabel, depois de<br />
1930, fariam a “época de ouro” da música popular brasileira.<br />
Assim definida por uma densa experiência sócio-cultural,<br />
quase sempre omitida pelos meios de informação da época,<br />
sedimenta-se, já <strong>no</strong> fim da República Velha, uma verdadeira cultura<br />
popular carioca, que se mostraria, ao lado dos <strong>no</strong>vos hábitos<br />
civilizatórios das elites, fundamental na redefinição do <strong>Rio</strong> de<br />
Janeiro e na formação de sua personalidade moderna.<br />
Fruto do encontro de uma<br />
fluminense com um paraense <strong>no</strong> <strong>Rio</strong><br />
de Janeiro, Roberto Moura, pai de<br />
Pedro e Alice, é tricolor.<br />
Cineasta, dirigiu e produziu na<br />
Corisco Filmes, desde os a<strong>no</strong>s 70,<br />
firmemente sediada na praça<br />
Tiradentes, uma linha de<br />
documentários que lançam olhar<br />
poético-antropológico sobre a cidade,<br />
abordando as repercussões da modernidade <strong>no</strong> povo negro e sua<br />
expressão através da indústria cultural. Filmes e livros, como os<br />
escritos e filmados sobre Tia Ciata e Cartola.<br />
Nos a<strong>no</strong>s 80, começou a experimentar a ficção numa série de<br />
trabalhos que desembocaram num filme protagonizado por<br />
Grande Othelo, uma biografia precoce de uma geração pós-<br />
Cinema Novo. Esse longa foi sua tese em Cinema <strong>no</strong> doutorado da<br />
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de S. Paulo,<br />
depois de ter se graduado e feito o mestrado na Escola de