TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
maior da população carioca, priorizando os trabalhadores assalariados, como nas iniciativas municipais construindo vilas operárias, a expansão do serviço de trens suburbanos, até a própria campanha sanitária beneficiando a todos, o projeto executado secundariza esse grande contingente de homens diversos reunidos na base da sociedade. Muitos seriam completamente desprivilegiados em seus interesses, afastados e mantidos à margem dos benefícios trazidos pela modernidade. A falta de perspectiva da República, do que fazer com as grandes massas populares que o país herdava da Colônia, associada ao racismo de suas elites que se renovam mantendo os mesmos cacoetes, aliado à necessidade crescente de mão-de-obra barata para as fábricas e plantações bem como para os serviços domésticos das famílias burguesas, faz com que a “sociedade” pragmaticamente aceite a popularização da miséria em termos ainda inéditos no país, que a prefeitura assista impassível à formação [pg. 48] das então nascentes favelas do Rio de Janeiro e dos guetos na Zona Norte, partindo a cidade irregularmente entre partes, os bairros propriamente ditos e, zonas subalternas e marginais. A Companhia Jardim Botânico que estende seus bondes elétricos para a Zona Sul, como promoção para a venda de lotes em Copacabana, já associada a “uma forma moderna de viver”, oferecia a primeira viagem grátis. Uma liderança de empresas loteadoras e empreiteiras obtém grandes vantagens com a extensão dos serviços públicos para os Pereira Passos chegando da Europa, 1908. Fotógrafo não identificado, op. cit.
airros na orla do mar, a luz sendo estendida até a então inabitada Ipanema, e com a abertura da avenida Beira-Mar, o mar pródigo em ressacas é disciplinado por sucessivas e caríssimas obras. Lima Barreto em Feiras e mafuás, sumariza a situação em 1920 com seu ressentimento de homem da periferia: Aos famosos melhoramento que têm sido levados a cabo nesses últimos anos, com raras excessões, tem presidido o maior contra- senso. Os areais de Copacabana, Leme, Vidigal, etc. É que têm merecido os carinhos dos reformadores apressados. Não se compreende que uma cidade se vá estender sobre terras combustas e estéreis e ainda por cima açoitadas pelos ventos e perseguidas as suas vias públicas pelas fúrias do mar alto. O Centro — ancestralmente formado em torno da praça Quinze com limites na praça Mauá e na atual praça da República — é, a partir da reforma de Passos, entregue às grandes companhias, aos bancos, jornais, hotéis, cafés de luxo e repartições públicas — e a Zona Sul — que avança do tradicional bairro de Botafogo para Copacabana e Ipanema, onde se constróem as novas casas de elite com sua infra-estrutura de serviços e abastecimento — , definitivamente se modernizam de acordo com os padrões de grande cidade ocidental moderna, mas são as contradições sociais geradas pelo seu encontro com a outra cidade que dariam ao Rio de Janeiro um caráter próprio, pelo qual ficaria conhecido e mesmo dubiamente cultuado. A preocupação com locais epidêmicos situados na área central da cidade já vinha do período imperial. Uma comissão de médicos, constituída em 1876 com a finalidade de examinar medidas sanitárias cabíveis na situação, depois de constatar as condições higiênicas das habitações dos pobres, argumentava: [pg. 49]
- Page 17 and 18: uma indústria do entretenimento, q
- Page 19 and 20: momento de transição, vivendo o n
- Page 21 and 22: DE SALVADOR PARA O RIO DE JANEIRO A
- Page 23 and 24: monopólio do fornecimento, acordo
- Page 25 and 26: Relata Nina Rodrigues o que provave
- Page 27 and 28: frente às novas situações enfren
- Page 29 and 30: Barraquinha, na Baixa do Sapateiro,
- Page 31 and 32: também no Matatu, e outros já com
- Page 33 and 34: manufaturas, algum alimento, e, pri
- Page 35 and 36: principalmente no vale do Paraíba,
- Page 37 and 38: alguns velhinhos cansados e modorre
- Page 39 and 40: escravo não como um direito mas co
- Page 41 and 42: entretidas senão pelos libertos, q
- Page 43 and 44: importante. A doçaria de rua desen
- Page 45 and 46: edefinido entre os sexos, a poligam
- Page 47 and 48: narrativas, como a de Froger, descr
- Page 49 and 50: jovens e alegres negrinhas ocupavam
- Page 51 and 52: com todas as suas economias, o negr
- Page 53 and 54: novos donos, também negros, pela r
- Page 55 and 56: outras ilhas, a orgulhosa aristocra
- Page 57 and 58: por solos isolados ou de casais, a
- Page 59 and 60: Henrique Dias, que lutara junto aos
- Page 61 and 62: irmãs inteiravam pra ajudar a pass
- Page 63 and 64: O RIO DE JANEIRO DOS BAIRROS POPULA
- Page 65 and 66: centro, destinado às atividades da
- Page 67: higiene e do saneamento urbano defi
- Page 71 and 72: aproveitada pelos proprietários e
- Page 73 and 74: que determinava: Cortiço existente
- Page 75 and 76: Quitanda na esquina da rua do Resen
- Page 77 and 78: sua ocupação era difícil nos pri
- Page 79 and 80: nessa área onde, já então na vir
- Page 81 and 82: italianos e espanhóis. Em 1886, fo
- Page 83 and 84: se tornam parceiras do Estado na re
- Page 85 and 86: O morro da Providência na Gamboa f
- Page 87 and 88: VIDA DE SAMBISTA E TRABALHADOR Vend
- Page 89 and 90: subemprego que margeiam as ocupaç
- Page 91 and 92: mão-de-obra. Muitos não procurari
- Page 93 and 94: valendo-se de sua força de trabalh
- Page 95 and 96: da Imagem e do Som: “Sou do tempo
- Page 97 and 98: Janeiro. Um dos pontos fundamentais
- Page 99 and 100: trazer. O Recreio das Flores era do
- Page 101 and 102: sombra das casas patriarcais se ini
- Page 103 and 104: as concepções estigmatizantes tiv
- Page 105 and 106: de divertimentos, os dias do entrud
- Page 107 and 108: que não continuar a cadeia das hip
- Page 109 and 110: dramatizações processionais, se e
- Page 111 and 112: dançar que, vinda de setores popul
- Page 113 and 114: A capital nacional crescia e se sof
- Page 115 and 116: João da Baiana, um dos talentos qu
- Page 117 and 118: Palais era um tal de Mesquita (viol
maior da população carioca, priorizando os trabalhadores<br />
assalariados, como nas iniciativas municipais construindo vilas<br />
operárias, a expansão do serviço de trens suburba<strong>no</strong>s, até a<br />
própria campanha sanitária beneficiando a todos, o projeto<br />
executado secundariza esse grande contingente de homens<br />
diversos reunidos na base da sociedade. Muitos seriam<br />
completamente desprivilegiados em seus interesses, afastados e<br />
mantidos à margem dos benefícios trazidos pela modernidade. A<br />
falta de perspectiva da República, do que fazer com as grandes<br />
massas populares que o país herdava da Colônia, associada ao<br />
racismo de suas elites que se re<strong>no</strong>vam mantendo os mesmos<br />
cacoetes, aliado à necessidade crescente de mão-de-obra barata<br />
para as fábricas e plantações bem como para os serviços<br />
domésticos das famílias burguesas, faz com que a “sociedade”<br />
pragmaticamente aceite a popularização da miséria em termos<br />
ainda inéditos <strong>no</strong> país, que a prefeitura assista impassível à<br />
formação [pg. 48] das então nascentes favelas do <strong>Rio</strong> de Janeiro e<br />
dos guetos na Zona Norte, partindo a cidade irregularmente entre<br />
partes, os bairros propriamente ditos e, zonas subalternas e<br />
marginais.<br />
A Companhia Jardim Botânico que estende seus bondes<br />
elétricos para a Zona Sul, como promoção para a venda de lotes<br />
em Copacabana, já associada a<br />
“uma forma moderna de viver”,<br />
oferecia a primeira viagem<br />
grátis. Uma liderança de<br />
empresas loteadoras e<br />
empreiteiras obtém grandes<br />
vantagens com a extensão dos<br />
serviços públicos para os<br />
Pereira Passos chegando da Europa,<br />
1908. Fotógrafo não identificado, op. cit.