23.02.2013 Views

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Henrique Dias, que lutara junto aos portugueses contra o domínio<br />

holandês em Pernambuco. Aos que lutam na Guerra do Paraguai é<br />

dada a alforria. O negro que serve <strong>no</strong> Exército nacional, lutando<br />

ombro a ombro com os brancos, amadurece como cidadão, ganha<br />

asas, fica mais intolerante com as limitações de seu trânsito<br />

social, enfim, para ele é quase impossível voltar para onde partira.<br />

Incompreendido, impaciente, orgulhoso, ele aposta na mudança.<br />

Se as famílias e as etnias de origem representavam a<br />

ossatura da vida social, religiosa e de trabalho dos negros, <strong>no</strong><br />

Brasil, os membros de um candomblé se consideram pertencentes<br />

a uma mesma família, a família de santo, substituta da linhagem<br />

africana desaparecida com a escravatura. Assim, é <strong>no</strong> candomblé<br />

e nas habitações coletivas que se espalham em Salvador, nas<br />

juntas de alforria já <strong>no</strong> século XIX, que o negro exerce sua<br />

personalidade profunda, seus ritmos e valores ligados ao<br />

inconsciente coletivo africa<strong>no</strong>. Com a virada da metade do século<br />

se agravam as condições de vida na capital da Bahia, ocasionando<br />

já uma migração sistemática de negros sudaneses para o <strong>Rio</strong> de<br />

Janeiro. Para o negro forro a luta <strong>no</strong> mercado de trabalho se torna<br />

cada vez mais difícil, as casas coletivas superpovoadas. Os<br />

vínculos de nação seriam neste momento fundamentais para a<br />

manutenção de uma identidade própria, vínculos esses que só<br />

começariam a se desgastar depois da Abolição com a<br />

reestruturação radical por que passam as <strong>no</strong>vas [pg. 42] “classes<br />

populares” brasileiras. Restava viver em dois mundos, ganhar<br />

espaços na vida subalterna dos peque<strong>no</strong>s serviços e nas vendas de<br />

rua e de feira, ou na exuberância das festas e na força do santo.<br />

Com o olho da polícia sempre voltado para os sudaneses e<br />

principalmente para os forros, alguns sentiriam a situação como<br />

insustentável. E os búzios mostravam para muitos a viagem.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!