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Henrique Dias, que lutara junto aos portugueses contra o domínio<br />
holandês em Pernambuco. Aos que lutam na Guerra do Paraguai é<br />
dada a alforria. O negro que serve <strong>no</strong> Exército nacional, lutando<br />
ombro a ombro com os brancos, amadurece como cidadão, ganha<br />
asas, fica mais intolerante com as limitações de seu trânsito<br />
social, enfim, para ele é quase impossível voltar para onde partira.<br />
Incompreendido, impaciente, orgulhoso, ele aposta na mudança.<br />
Se as famílias e as etnias de origem representavam a<br />
ossatura da vida social, religiosa e de trabalho dos negros, <strong>no</strong><br />
Brasil, os membros de um candomblé se consideram pertencentes<br />
a uma mesma família, a família de santo, substituta da linhagem<br />
africana desaparecida com a escravatura. Assim, é <strong>no</strong> candomblé<br />
e nas habitações coletivas que se espalham em Salvador, nas<br />
juntas de alforria já <strong>no</strong> século XIX, que o negro exerce sua<br />
personalidade profunda, seus ritmos e valores ligados ao<br />
inconsciente coletivo africa<strong>no</strong>. Com a virada da metade do século<br />
se agravam as condições de vida na capital da Bahia, ocasionando<br />
já uma migração sistemática de negros sudaneses para o <strong>Rio</strong> de<br />
Janeiro. Para o negro forro a luta <strong>no</strong> mercado de trabalho se torna<br />
cada vez mais difícil, as casas coletivas superpovoadas. Os<br />
vínculos de nação seriam neste momento fundamentais para a<br />
manutenção de uma identidade própria, vínculos esses que só<br />
começariam a se desgastar depois da Abolição com a<br />
reestruturação radical por que passam as <strong>no</strong>vas [pg. 42] “classes<br />
populares” brasileiras. Restava viver em dois mundos, ganhar<br />
espaços na vida subalterna dos peque<strong>no</strong>s serviços e nas vendas de<br />
rua e de feira, ou na exuberância das festas e na força do santo.<br />
Com o olho da polícia sempre voltado para os sudaneses e<br />
principalmente para os forros, alguns sentiriam a situação como<br />
insustentável. E os búzios mostravam para muitos a viagem.