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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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jovens e alegres negrinhas ocupavam a extensão de um dos muros.<br />

Seus encantos bronzeados estavam mais velados que ocultos, sob<br />

gazes transparentes. Assumiam as atitudes mais cômodas, as mais à<br />

vontade, e as mais voluptuosas vendiam toda sorte de objetos de<br />

religião, amuletos, velas e comestíveis que levavam em cestas. Tudo<br />

ocorria muito alegremente na sala. Indo avante com a multidão ou em<br />

sentido oposto, chegamos a uma vasta peça decorada de ricos<br />

ornamentos. Alguns utensílios indicavam que era a Sacristia. Um<br />

eclesiástico, amarelo como um marmelo, apoiado num cofre, ao lado<br />

dos ornamentos do altar, entretinha-se, da maneira mais íntima, com<br />

algumas senhoras. A corrente <strong>no</strong>s levou como <strong>no</strong>s havia trazido,<br />

empurrou-<strong>no</strong>s e <strong>no</strong>s arrastou através da sala do mercado e <strong>no</strong>s jogou,<br />

enfim, apertando-<strong>no</strong>s até quase sufocar, numa grande sala de aspecto<br />

resplandecente. Lustres inumeráveis e carregados de velas acesas<br />

desciam do teto; as paredes brancas eram ornadas com quadros. Um<br />

ar de festa e de alegre diversão reinava em todos os rostos. Parecia que<br />

faltavam apenas os violi<strong>no</strong>s para começar a dança. A sala estava<br />

cheia; via-se apenas caras negras, amarelas e morenas, e entre elas as<br />

mais belas mulheres; todas pareciam encantadas e exaltadas pela<br />

influência da cachaça. Como troféu de festa, elas levavam uma<br />

elegante vassoura. Todos se misturavam e se empurravam. Sentia-se<br />

que era uma festa longamente esperada onde os negros sentiam-se em<br />

casa. A sociedade toda parecia concordar em manter uma conversa<br />

incessante e barulhenta. E nós, também, conversávamos alegremente<br />

e em voz alta [pg. 36] atravessando a sala. De repente, na outra<br />

extremidade, <strong>no</strong>tei, em um ponto elevado, um personagem que ia e<br />

vinha com ar inquieto, passava os olhos sobre um livro, olhava ao<br />

redor de si e parecia, de vez em quando, mergulhar e tornar a subir.<br />

Era o eclesiástico de cor amarela que cumpria as cerimônias da missa<br />

(pois certamente não se poderia chamar aquilo de missa) (Maximilien<br />

d’Austriche, Souvenirs de ma vie).<br />

Além de se envolver com a organização das festas religiosas<br />

que se profanizavam nas ruas uma vez cumpridos os rituais, as<br />

irmandades prestavam assistência social a um meio<br />

completamente ig<strong>no</strong>rado pelas instituições públicas, com exceção

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