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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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sendo a baiana objeto de respeito e mesmo devoção dos que se<br />

reuniam à sua volta, situação vivida por ela com a naturalidade de<br />

quem sempre esteve imersa num mundo simbólico, e com uma<br />

ponta de humana impaciência.<br />

Filha de Mônica Maria da Conceição, e, como sua mãe, irmã-<br />

de-santo de Ciata <strong>no</strong> terreiro de João Alabá, d. Carmem conta sua<br />

infância na Bahia de onde veio mocinha, sua vida na capital com<br />

baia<strong>no</strong>s e africa<strong>no</strong>s, e o casamento com o Xibuca, na Igreja de<br />

Santana repleta, com quem teve 21 filhos, sendo duas barrigas de<br />

gêmeos, e criou mais “oito ou dez” adotados. A parte central de<br />

sua vida, termina, segundo ela, com a morte do marido em 1917.<br />

Paixão não, sempre gostei, sempre respeitei até a morte. Mas paixão<br />

não, nem ciúme. Meu marido cantava, tocava violão muito bem, ele ia<br />

pra suas farras, os colegas vinham pegar ele. Tinha uma cervejaria ali<br />

na praça Onze, que ele sentava ali bebia duas cervejas e daqui a pouco<br />

a mesa estava cheia de mulheres e homens e tudo. As vezes eu<br />

passava assim por fora, olhava, pensa que eu ia brigar? Não, olhava, ia<br />

embora para casa (Depoimento de Carmem do Ximbuca, Carmem<br />

Teixeira da Conceição).<br />

Sua memória era prodigiosa apesar de já ter, há a<strong>no</strong>s,<br />

ultrapassado o centenário:<br />

Eu ia muito na casa de Tia Ciata, eu não perdia uma festa. Ih, Cosme<br />

e Damião, Nossa Senhora da Conceição. Dia dos a<strong>no</strong>s dela então tinha<br />

aquela... O pessoal já sabia aquele dia. Ela às vezes mandava dizer<br />

missa em ação de graça, às vezes não mandava, mas o pessoal já sabia<br />

que tinha festa lá. Baile na frente, samba <strong>no</strong>s fundos. Eu ia lá de<br />

baiana mas não trabalhava <strong>no</strong> santo, ia de baiana <strong>no</strong>s dias de festa,<br />

era só samba, baile [pg. 158] e mocidade, tinha outro dia que era de<br />

candomblé. Os homens trabalhavam, se eram ogãs iam à festa pra<br />

tocar tambor, se era dia de samba ia sambar pra divertir (Idem).<br />

Ela tinha vivido toda aquela época, e estava ainda ali junto a

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