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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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Damião, na Ibejada de d. Carmem Teixeira da Conceição,<br />

conhecida como d. Carmem do Xibuca, que do alto dos seus 106<br />

a<strong>no</strong>s mantinha a tradição da festa comemorada na casa de Tia<br />

Ciata. [pg. 157] Muitos ainda iam, <strong>no</strong> início da década de 1980, à<br />

missa com a velha senhora na Igreja de São Jorge na praça da<br />

República, onde ela, apesar da proibição do padre à roupa e ao<br />

torso de baiana, recebia os cumprimentos de todos na saída.<br />

Depois, já na vila Clementi<strong>no</strong> Fraga perto de onde era a praça<br />

Onze, o caruru era oferecido <strong>no</strong> altar dos Ibejes, antes da festa se<br />

profanizar, quando não faltava nem comida nem samba, e<br />

tradicionalmente seguia até o dia seguinte. Nadir, filha de<br />

Cincinha, comentava as questões com a Igreja:<br />

Está dando um problema lá com a Irmandade que eles não querem<br />

que vá de lenço na cabeça na missa, não quer que vá de baiana. Não<br />

sei por que, na época da minha avó os africa<strong>no</strong>s iam pra lá com<br />

aquelas gamelas pra assistir a alvorada do dia de São Jorge, faziam<br />

obrigações dentro do Campo de Santana (praça da República). O dia<br />

que estiver meio fula vou me vestir de baiana e entro lá. “Não pode<br />

entrar”. Eu digo: “Eu vou”. Todo a<strong>no</strong> a Carmem ia vestida de baiana,<br />

sabe o que é isso? Na hora a irmã não deixou ela entrar e o vigário<br />

pediu pra ela ir em casa trocar de roupa, encostava até radiopatrulha.<br />

Por isso não vou, pode ter missa, pode ter..., eu não vou lá, porque sou<br />

brigona mesmo (Idem).<br />

Mesmo reprimida pela Igreja — a Cúria sempre muito<br />

sensível com a Igreja de São Jorge, sede de uma das principais<br />

festas religiosas da cidade <strong>no</strong> dia de Ogum — , proibida de vir em<br />

procissão até a praça da República, e empobrecida sua festa pelas<br />

<strong>no</strong>vas disposições, ao ponto dela chegar a dizer com exagero que<br />

tinha virado “festa de branco” que só mantinha pra reunir a<br />

família, d. Carmem faz parte da história viva dessa cidade. Sua<br />

longevidade e tradição lhe deram o carisma de um altar vivo,

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