TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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23.02.2013 Views

155] “Chico Criolo”, “Madame Satã”, Alberto “Português”, “Leãozinho”, Reis — irmão caçula querido de D. Carmem do Xibuca, envenenado pela namorada ciumenta — Adamastor, “China”, “Manduca”, Americano e tantos outros, que aparecem como estrelas perigosamente transitórias naquele mundo escorregadio, quando o samba passa a ser cultivado, não mais só entre os baianos, mas nas rodas de biscateiros, malandros, e prostitutas. assim: com: Em 1929 Chico Alves gravou Palhaço, de sua autoria. Era Tudo acabado Eu desprezado Vivo tristonho e abandonado Por que choras palhaço Eis a razão que eu não me caso. Depois, Bucy põe seu nome entre os sambistas clássicos Não ponha a mão No meu violão Você pode sambar se quiser com a minha mulher Mas por favor Não ponha a mão No meu violão Participante de várias escolas de samba, principalmente no morro de São Carlos, Bucy com o tempo se vê em meio de alguns casos intrincados de direitos autorais, que até seus últimos dias (morreu em 1982 durante a finalização deste trabalho) o manteriam ocupado na Ordem dos Músicos. Um negro baixo e

volumoso com a idade, de impecável terno escuro, atencioso mas escorregadio — só com muita persistência conseguimos um dia gravar com ele uma boa conversa — que viveu os últimos vinte anos junto com d. Nanci com quem teve duas filhas: Grace Mary e Maria Olivia. Como diz o samba moderno: Eu fui a Lapa E perdi a viagem Aquela tal malandragem Não existe mais (samba de Chico Buarque) Da última vez que o vimos ficam suas palavras pausadas: O negro tinha o espírito artístico isso sim, assim pra festas, eles são festeiros, que o negro é um elemento [pg. 156] triste, ele sente uma necessidade, compreende, é tristeza sim, porque o negro no fundo é muito triste todo ele. Tá brincando mas é pra despistar a tristeza do cara. Eu tiro por mim, eu às vezes cismo de ficar aqui no apartamento, em todo lugar, sumir. Se ninguém me visse... “Será que está morto? Ele bebeu muito, ô Bucy”. Aí batiam, “ô rapaz você não aparece, ninguém te vê, nem o porteiro nem nada”. Essa tristeza já é do preto mesmo (Depoimento de Bucy Moreira, ibidem). Na rua Leopoldina Rego, em plena Penha, morava outra das figuras importantes do antigo grupo baiano no Rio, Cincinha, filha de Abaluaê, neta de Tia Ciata e criada por ela nos últimos anos de sua vida. Em 13 de janeiro de 1979, ela encabeça juntamente com Amauri Monteiro, José Ramos Tinhorão, Juvenal Portela e Sérgio Cabral, “uma missa de saudade” pela passagem do aniversário natalício de sua finada avó na igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, onde esteve presente toda a velha guarda do samba homenageando a velha baiana, entre eles Nelson Cavaquinho, Cartola e sua mulher Zica, Mano Décio,

155] “Chico Criolo”, “Madame Satã”, Alberto “Português”,<br />

“Leãozinho”, Reis — irmão caçula querido de D. Carmem do<br />

Xibuca, envenenado pela namorada ciumenta — Adamastor,<br />

“China”, “Manduca”, America<strong>no</strong> e tantos outros, que aparecem<br />

como estrelas perigosamente transitórias naquele mundo<br />

escorregadio, quando o samba passa a ser cultivado, não mais só<br />

entre os baia<strong>no</strong>s, mas nas rodas de biscateiros, malandros, e<br />

prostitutas.<br />

assim:<br />

com:<br />

Em 1929 Chico Alves gravou Palhaço, de sua autoria. Era<br />

Tudo acabado<br />

Eu desprezado<br />

Vivo tristonho e abandonado<br />

Por que choras palhaço<br />

Eis a razão que eu não me caso.<br />

Depois, Bucy põe seu <strong>no</strong>me entre os sambistas clássicos<br />

Não ponha a mão<br />

No meu violão<br />

Você pode sambar se quiser com a minha mulher<br />

Mas por favor<br />

Não ponha a mão<br />

No meu violão<br />

Participante de várias escolas de samba, principalmente <strong>no</strong><br />

morro de São Carlos, Bucy com o tempo se vê em meio de alguns<br />

casos intrincados de direitos autorais, que até seus últimos dias<br />

(morreu em 1982 durante a finalização deste trabalho) o<br />

manteriam ocupado na Ordem dos Músicos. Um negro baixo e

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