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trabalhava na fábrica de calçados<br />
quando fui servir o Exército, meu<br />
irmão disse assim, “olha aí, quando<br />
você der baixa você não vai voltar<br />
mais pra fábrica de calçado não, tu<br />
vai se apresentar na Central”. Seu<br />
Armando pensou que eu ia acabar de<br />
servir o Exército e voltava de <strong>no</strong>vo,<br />
que é pra apanhar moleza, que não<br />
tinha carteira assinada, não tinha<br />
nada. Quando eu voltei por lá eu<br />
disse: “ó seu Armando, eu não venho<br />
mais pra aqui não.” “Ué, por que? Eu<br />
te dou mais coisa e tal.” “Eu vou<br />
trabalhar na Central do Brasil.” “Vai<br />
trabalhar na Central é? ó, vê lá<br />
hein...” “Vou sim.” Ó, me mandei.<br />
Escuta essa! Daí fui, entrei <strong>no</strong><br />
graxeiro, depois fui foguista, depois<br />
de foguista fiz concurso pra<br />
maquinista, passei <strong>no</strong> exame e fui<br />
trabalhar de maquinista. Nesse meio<br />
tempo já não tem mais vapor, agora é<br />
tudo elétrico. Uma vez, eu estava<br />
fazendo um trem quando vinha de<br />
Bangu para cá, quando estou como<br />
trem parado em Bangu coisa e tal, o<br />
Bucy Moreira. Foto de Walter Firmo, que eu vejo, quem entra assim? O<br />
1975.<br />
meu ex-patrão, esse que eu trabalhei<br />
na fábrica de calçados pra ele. Eu tô lá, eu vi quando ele embarcou, eu<br />
digo: “aquele é seu Armando, ele pensa que eu estou na pior, mas não<br />
tô não!” Sabe que calhou dele sentar mesmo assim do lado da cabine?<br />
Foi sete horas da <strong>no</strong>ite, sentou ali coisa e tal, eu só querendo que ele<br />
me olhasse. Dali a pouco, quando ele me olhou, “Ué, aquele é o<br />
Di<strong>no</strong>...” Sabe que ele veio, “Ué, você por aqui?” Eu disse assim: “Sou<br />
eu mesmo seu Armando, eu mesmo que estou aqui, eu não estou na<br />
pior não, viste, o senhor querendo que eu estivesse na fábrica de<br />
calçado, eu tô aí, tu num gosta...” Quando chegou na Central ele<br />
disse: “Di<strong>no</strong>, muito bem, seja feliz.” Eu disse: “Eu sou feliz sim, graças<br />
a Deus!” Tá vendo o que é a vida? O que é a coisa? Que ele pensou que<br />
eu ia... (Depoimento de Di<strong>no</strong>, Dinamoge<strong>no</strong>l Jumbeba. Arquivo Corisco<br />
Filmes). [pg. 150]<br />
Santana, também filho de Isabel e de Abul, nascido a 26 de<br />
julho de 1915, ainda foi de um tempo quando as crianças<br />
pequenas participavam das frentes de trabalho, na produção e nas<br />
vendas, se integrando à família de forma completa, desde cedo<br />
sendo reconhecida sua participação. Peque<strong>no</strong> já ajudava na venda<br />
de doces, inicialmente nas festas, como na Penha e <strong>no</strong>s arredores