TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
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ÁLBUM DE FAMÍLIA Minha carta de alforria Não me deu fazendas Nem dinheiro no banco Nem bigodes retorcidos Negro forro, poema de Adão Ventura Morando hoje na Penha, Lili, neta mais velha de Tia Ciata, relembrava com clareza a sua juventude. Nem tudo foi confete na vida da antiga porta-estandarte do Recreio das Flores. Admirada pelo samba no pé e pela voz afinada, hoje Lili sofre de reumatismo, cansada de uma vida dura mas que também foi de Carnaval. Nascida em 19 de agosto de 1885, quando a conhecemos no início dos anos 80, aproximava-se do centenário com enorme vivacidade, só um pouco limitada nos movimentos. Lili deve seu reumatismo às enchentes da Gamboa, como conta sua prima e vizinha Cincinha: “ela tinha que ir trabalhar no meio da chuva”. Filha de Isabel, filha mais velha de Hilária, do amor interrompido com Norberto, se casa com Leopoldino da Costa Jumbeba, o Abul. Lili teve muitos irmãos, Claudionor, o mais velho, que morreu muito moço, Santa, Dino, o Dinamogenol Jumbeba, Miguel, Zinho, que era da estiva, Marinho, homem de grande prestígio, mestre-sala do rancho Recreio das Flores e ogã do terreiro de João Alabá, e Santana, um dos mais moços, ainda jovem, muito agradável e articulado, que vivia, quando os conhecemos, junto com a irmã.
Lili foi criada dentro da casa de sua avó, desde cedo participando das festas e das rodas de trabalho onde aprende o ofício de exímia doceira. Filha de Iansã, foi feita ainda moça no terreiro de Alabá onde Ciata era grande, se tornando uma pessoa muito integrada à baianada, importante tanto por ser a neta mais velha que era, como por sua presença na festa e no santo. Do alto dos seus quase cem anos, Lili foi uma das últimas cariocas que podia dizer que saiu no Rosa Branca, no seu sujo O Macaco é Outro, e no Recreio das Flores, o famoso rancho da gente da Resistência, onde a família desfilava desde o início até o tricampeonato de 1933/34/35. Com a morte de Ciata em 1924, viriam dias difíceis. No entanto, a família se mantém bastante unida até o final dos anos 30, quando é pressionada pelas dificuldades, o trabalho coletivo das mulheres se torna [pg. 146] finalmente insustentável e muitas são obrigadas a procurar alternativas na indústria e até no serviço doméstico. Lili, só quando ficam esgotadas as possibilidades, em 1944, é que entra para o trabalho assalariado no Moinho Inglês já com 49 anos, onde fica por 18 anos, obtendo depois a aposentadoria: “O médico deu um atestado que eu não podia trabalhar mais, que o coração não dava, foi um custo mas consegui. Ele era do sindicato e me disse: ‘toda vez que eles suspenderem sua pensão, a senhora vem aqui’. Foi um tal de junta médica mas consegui” (Depoimento de d. Lili, Licínia da Costa Jumbeba. Arquivo Corisco Filmes). Lili lembra bem dos tempos quando, mesmo perdida a centralidade que o trabalho comum dava à família, todos ainda se encontravam na casa de irmãos e primos e os costumes eram mantidos. [pg. 147]
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ÁLBUM DE FAMÍLIA<br />
Minha carta de alforria<br />
Não me deu fazendas<br />
Nem dinheiro <strong>no</strong> banco<br />
Nem bigodes retorcidos<br />
Negro forro, poema de Adão Ventura<br />
Morando hoje na Penha, Lili, neta mais velha de Tia Ciata,<br />
relembrava com clareza a sua juventude. Nem tudo foi confete na<br />
vida da antiga porta-estandarte do Recreio das Flores. Admirada<br />
pelo samba <strong>no</strong> pé e pela voz afinada, hoje Lili sofre de reumatismo,<br />
cansada de uma vida dura mas que também foi de Carnaval.<br />
Nascida em 19 de agosto de 1885, quando a conhecemos <strong>no</strong> início<br />
dos a<strong>no</strong>s 80, aproximava-se do centenário com e<strong>no</strong>rme vivacidade,<br />
só um pouco limitada <strong>no</strong>s movimentos. Lili deve seu reumatismo<br />
às enchentes da Gamboa, como conta sua prima e vizinha<br />
Cincinha: “ela tinha que ir trabalhar <strong>no</strong> meio da chuva”. Filha de<br />
Isabel, filha mais velha de Hilária, do amor interrompido com<br />
Norberto, se casa com Leopoldi<strong>no</strong> da Costa Jumbeba, o Abul. Lili<br />
teve muitos irmãos, Claudio<strong>no</strong>r, o mais velho, que morreu muito<br />
moço, Santa, Di<strong>no</strong>, o Dinamoge<strong>no</strong>l Jumbeba, Miguel, Zinho, que<br />
era da estiva, Marinho, homem de grande prestígio, mestre-sala do<br />
rancho Recreio das Flores e ogã do terreiro de João Alabá, e<br />
Santana, um dos mais moços, ainda jovem, muito agradável e<br />
articulado, que vivia, quando os conhecemos, junto com a irmã.