Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lutas políticas. Fuzilamentos e tortura fazem parte do relato da<br />
viagem tenebrosa. Só alguns chegariam aos tribunais para ser<br />
condenados a largas penas. A história da Revolta da Chibata,<br />
como fica conhecida, esquecida entre as <strong>no</strong>vas manchetes dos<br />
jornais, omitida pela Marinha brasileira.<br />
Rui Barbosa, como que incorporado, fala <strong>no</strong> Congresso:<br />
Dentro de mim, neste momento, sinto eu inteira a alma de minha<br />
terra; a voz que me vai dos lábios agora, é a voz do povo brasileiro. Não<br />
sou eu, é ele que declara hoje ao marechal-presidente que, se ele<br />
arrebatou ao banco dos réus esses crimi<strong>no</strong>sos, assentou nesse banco<br />
o seu gover<strong>no</strong>. No Brasil não se organiza exército contra o estrangeiro;<br />
desenvolvem-se as instituições militares contra a ordem civil. (...) Que<br />
vale hoje neste país, diante de qualquer impulso de um tenente, a vida<br />
de um de nós? A presidência atual quis e fez anistia, rufando tambores<br />
aqui dentro, pela boca dos seus amigos, em como a executaria<br />
lealmente. E que resta da anistia? Os cadáveres da ilha das Cobras, os<br />
cadáveres do Satélite e os cadáveres de Santo Antônio do Madeira (id.,<br />
ib.).<br />
João Cândido, preso e torturado, não seria abandonado por<br />
sua gente. Sua irmã morava na Saúde e, como muitos<br />
marinheiros era muito ligado à zona portuária, sendo comum<br />
quando desengajavam tornarem-se estivadores. O líder dos<br />
marinheiros seria mantido preso sem julgamento por dezoito<br />
meses, quando a Irmandade da Igreja Nossa Senhora do Rosário,<br />
uma das mais antigas confrarias negras da cidade, faz contato<br />
com três advogados para sua defesa, Evaristo de Morais, Jerônimo<br />
de Carvalho e Caio Monteiro de Barros, que aceitam a causa,<br />
abrindo mão de quaisquer ho<strong>no</strong>rários. Seu <strong>no</strong>me passa a ser uma<br />
legenda não só na zona portuária como em toda a <strong>Pequena</strong> África,<br />
já que há muito as coisas do cais estavam ligadas à vida da<br />
baianada. Depois de liberto, a Irmandade ainda o auxiliaria,