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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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Eu bem sei quão graves são eles, tratando-se de uma revolta, não<br />

capitaneada por nenhum chefe de responsabilidade, não dirigida por<br />

elementos que tenham um certo grau de cultura, suficiente para<br />

avaliarem os da<strong>no</strong>s que podem causar, os males que podem resultar<br />

do bombardeio desta capital, que eles possam praticar todos os<br />

excessos, ceifando vidas preciosas, direi mais, ocasionando o êxodo de<br />

uma população em defesa da vida de mulheres e crianças inermes,<br />

que não têm como nós temos, o dever de repelir a agressão, se ela vier.<br />

Por trás do chavão da “defesa da vida de mulheres e crianças<br />

inermes”, se mostra a concepção das elites quanto ao negro:<br />

eter<strong>no</strong> subordinado, inferior, contra o qual uma parada tão alta<br />

chega a ser infamante, adversário sem altura, cuja humilhação<br />

parece fazer parte da própria afirmação da identidade do branco.<br />

Valendo-se de um telegrama forjado por um grupo de senadores<br />

anunciando a rendição dos marinheiros, garantindo a “honra” do<br />

Congresso, os revoltosos são formalmente atendidos e, vitoriosos,<br />

<strong>no</strong> mesmo dia começam a desembarcar dos couraçados se<br />

reintegrando formalmente ao serviço.<br />

No curso dos meses seguintes, com as greves nas capitais<br />

comandadas por organizações operárias, [pg. 143] sobe a<br />

temperatura política da cidade e as pressões para uma solução de<br />

força. Quando o gover<strong>no</strong> decreta o estado de sítio e intensifica as<br />

medidas repressivas, os marinheiros envolvidos com a revolta<br />

começam a ser presos e conduzidos ao Batalhão Naval, onde<br />

muitos são mortos de forma bárbara. Os sobreviventes são<br />

conduzidos ao navio Satélite, onde é reunida sob a guarda militar<br />

uma estranha população de quatrocentos prisioneiros enviada<br />

sem julgamento para trabalhos forçados na Amazônia: os<br />

marinheiros eram a maioria, juntados a mendigos e prostitutas<br />

recolhidos pela Divisão de Costumes, e a motorneiros de bondes e<br />

alguns líderes de outras categorias presos durante as últimas

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