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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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astros, era comum passar dias em jejum. Era conhecido dos<br />

baia<strong>no</strong>s ligados ao terreiro de candomblé de João Alabá, e se<br />

freqüentavam. Sua mulher, Gracinda, dona do bar Gruta Baiana,<br />

na rua Visconde do <strong>Rio</strong> Branco, vivia numa casa separada da sua,<br />

na antiga rua Júlio do Carmo, já que os preceitos impediam que<br />

Assuma<strong>no</strong> tivesse mulher durante a maior parte dos dias. Conta-<br />

se que, certa vez, Gracinda, irritada, forçou sua companhia:<br />

Assuma<strong>no</strong> quase morreu. Muitos desses africa<strong>no</strong>s ainda são<br />

lembrados como [pg. 134] feiticeiros pelos antigos, e seus <strong>no</strong>mes<br />

aparecem esparsamente por livros e artigos. É, entretanto,<br />

praticamente impossível distingui-los quanto a suas nações, como<br />

Adioê, também muito respeitado, que Bucy Moreira afirmava “ser<br />

de outra lei”, não conseguindo precisar melhor a informação.<br />

Tia Dadá, Tia Inês, Tia Oni, Torquato Tererê e tantos outros<br />

eram consultados para os assuntos do amor e da morte,<br />

trabalhando, enfim, como empresários independentes, atendendo<br />

a quem chegasse, substituindo a situação ritual pela consulta, ao<br />

contrário dos centros mais exclusivistas com processos rigorosos<br />

de iniciação e de seleção dos assistentes. Com o fim do islamismo<br />

negro <strong>no</strong> <strong>Rio</strong>, como tinha acontecido com os bantos cujos cultos<br />

originais se haviam confundido com o cristianismo e com as<br />

religiões indígenas, esses remanescentes, por vocação ou<br />

esperteza, isolados em suas aventuras místicas, compreendidos<br />

como feiticeiros, atendem e oferecem seus serviços mágicos aos<br />

impacientes e aos necessitados. Enquanto os terreiros mais<br />

apegados à tradição africana se manteriam inicialmente fechados<br />

aos de fora, são os feiticeiros que recebem aqueles em busca de<br />

remédio, dinheiro ou vingança, gente que chega de todas as partes<br />

da cidade, revelando uma e<strong>no</strong>rme crise mística que toma aqueles<br />

templos de transformações, esperanças e miséria.

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