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popularizaram entre as elites, escreve sobre eles por volta de<br />
1869:<br />
A maioria desses minas, senão todos, são cristãos externamente e<br />
muçulma<strong>no</strong>s de fato: porém, como esta religião não seria tolerada <strong>no</strong><br />
Brasil, eles a ocultaram e a sua maioria é batizada e trazem <strong>no</strong>mes<br />
tirados do calendário. Entretanto, malgrado esta aparência pude<br />
constatar que devem guardar bem fielmente e transmitir com grande<br />
zelo as opiniões trazidas da África, pois que estudam o árabe de modo<br />
bastante completo para compreender o Alcorão ao me<strong>no</strong>s<br />
grosseiramente. Esse livro se vende <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> <strong>no</strong>s livreiros ao preço de 15<br />
a 25 cruzeiros, 36 a 40 francos. Os escravos, evidentemente muito<br />
pobres, mostram-se dispostos aos maiores sacrifícios para possuir<br />
esse volume. Contraem dívidas para esse fim e levam algumas vezes,<br />
um a<strong>no</strong> para pagar o comerciante. O número de Alcorões vendidos<br />
anualmente eleva-se a mais ou me<strong>no</strong>s uma centena de exemplares (...)<br />
A existência de uma colônia muçulmana na América, creio, nunca foi<br />
observada até aqui, e (...) explica a atitude particularmente enérgica<br />
dos negros minas*.<br />
* Esse trecho do livro Le Comte Gobineau au Brésil, de G. Readers, citado em As<br />
religiões africanas <strong>no</strong> Brasil, de Roger Bastide, comete um enga<strong>no</strong>, já que <strong>no</strong> Império,<br />
época em que Gobineau aqui esteve como embaixador da França, a moeda corrente<br />
era o mil réis. (N. do A.).<br />
No <strong>Rio</strong> de Janeiro, os muçulma<strong>no</strong>s negros, pela exigüidade<br />
de seu número não perdurariam por muito tempo como um grupo<br />
separado, e alguns, apesar de sua rivalidade com os nagôs, iriam<br />
progressivamente freqüentando suas festas, enquanto outros se<br />
isolariam ou voltariam para a África, considerados como feiticeiros<br />
de grande poder, capazes de realizar trabalhos mágicos e<br />
eventualmente maléficos. Muitos a<strong>no</strong>s depois daqueles<br />
primórdios, d. Carmem ainda se benzia quando falava em<br />
Assuma<strong>no</strong> Mina do Brasil, “da costa da África”, que morava num<br />
sobrado na praça Onze, 191. Homem que trabalhava com os