23.02.2013 Views

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

como uma decorrência direta da tradição do país, todos somos<br />

cristãos, mesmo que de segunda classe, o protestantismo oferecia<br />

uma opção religiosa que teria grande ressonância entre as<br />

camadas populares do Brasil moder<strong>no</strong> e consonância com o<br />

sentido disciplinar exigido ao trabalhador <strong>no</strong> Terceiro Mundo. No<br />

futuro se veria o embate das diversas seitas protestantes contra as<br />

religiões negras <strong>no</strong> <strong>Rio</strong>.<br />

No meio popular carioca, onde a colônia baiana era uma elite<br />

a partir de suas organizações religiosas e festeiras, é de grande<br />

importância a presença também de negros malês ou muçulmins e<br />

haussas, africa<strong>no</strong>s que migram para o <strong>Rio</strong> de Janeiro, fugindo das<br />

perseguições que passam a sofrer depois de liderar, junto com os<br />

nagôs, as insurreições baianas na primeira metade do século XIX.<br />

Ao lado dos nagôs, embora em me<strong>no</strong>r número, o negro islâmico se<br />

organiza em grupos de culto <strong>no</strong> <strong>Rio</strong>, que saíam nas ruas dos<br />

subúrbios distantes com suas roupas brancas e gorros vermelhos,<br />

celebrando as iniciações. Suas casas pelas ruas de São Diogo,<br />

Barão de São Félix, Hospício, Núncio e da América, <strong>no</strong> coração da<br />

<strong>Pequena</strong> África, revelam a dedicação às coisas de culto, uma<br />

nação que vai desaparecendo, levando seus fiéis a<br />

progressivamente atenderem à gente de fora, e mesmo a brancos<br />

das elites que, em busca de filtros amorosos ou outras soluções<br />

fulminantes para seus problemas, vencem seus temores e se<br />

aproximam da parte “mal-afamada” da cidade.<br />

João do <strong>Rio</strong>, em As religiões do <strong>Rio</strong>, se refere aos malês do<br />

princípio do século:<br />

Logo depois do suma ou batismo e da circuncisão ou kola, os alufás<br />

habilitam-se à leitura do Alcorão. A sua obrigação é do kissium, a<br />

prece. Rezam ao tomar banho, lavando a ponta dos dedos, os pés e o<br />

nariz, rezam de manhã, rezam ao pôr-do-sol. Eu os vi, retintos, com a<br />

cara reluzente entre as barbas brancas, fazendo o aluma gariba,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!