23.02.2013 Views

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

setembro, ainda <strong>no</strong> final do século XVIII, para depois ser<br />

transferida para o primeiro domingo de outubro, em virtude das<br />

chuvas que invariavelmente caíam na antiga data. Já depois da<br />

metade do século XIX, quando a festa passa a se estender por<br />

todos os domingos de outubro, ao lado dos portugueses que<br />

comiam e cantavam seus fados na grama, estimulados pelo vinho<br />

generoso <strong>no</strong>s tradicionais chifres de boi ou pela cerveja preta<br />

“barbante”, começam a se ouvir os sambas de roda dos negros<br />

animados pela “branquinha” nacional, a se armar batucadas “em<br />

liso” ou “pra valer” jogadas pelos capoeiristas, principalmente<br />

quando a <strong>no</strong>ite caía e subia a temperatura etílica da festa.<br />

A festa portuguesa era organizada pela comissão de festejos<br />

da Irmandade da Penha, a missa solene, as cerimônias de bênção<br />

e as barraquinhas de prendas, jogos e comidas, a que se juntaria<br />

o ritual e o espetáculo do cumprimento de promessas que faziam<br />

penitentes infatigáveis subir os 365 degraus que levam ao<br />

santuário. Venda de quadros e medalhas alusivas, de comidas<br />

típicas portuguesas <strong>no</strong> arraial embandeirado, jogos e<br />

apresentações de músicos e dançari<strong>no</strong>s, caracterizam desde cedo<br />

a festa que se constitui numa das alternativas de divertimento<br />

popular na cidade, festejos a que a chegada dos negros dá <strong>no</strong>va<br />

vitalidade. Num artigo de jornal em Juiz de Fora, Raul Pompéia<br />

descreve a festa do a<strong>no</strong> da Abolição: [pg. 108]<br />

Depois da refeição, vêm as danças e os cantos. Um delírio de sambas e<br />

fados, modinhas portuguesas, tiranas do Norte. Uma viola chocalha o<br />

compasso, um pandeiro acompanha, geme a sanfona, um negro<br />

esfrega uma faca <strong>no</strong> fundo do prato, e sorri negríssimo, um sorriso<br />

rasgado de dentes brancos e de ventura bestial. A roda fecha. No<br />

centro requebra-se a mulata e canta, afogada pela curiosidade sensual<br />

da roda. Depois da mulata dançam outros foliões dos dois sexos. Os<br />

circunstantes batem palmas, marcando a cadência e esquecem-se,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!