TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
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indústria de diversões, que incorpora muitos desses indivíduos e redefine a produção artística, tornando-a rentável, cria uma série de impasses no meio negro. Questões pessoais entre as grandes personalidades, artistas populares, lideranças, que teriam força desintegradora entre a baianada e seus primeiros aliados cariocas. [pg. 106] Entretanto, este movimento também tem força democratizante, as separações forçando novas alianças, propiciando encontros de gente diferenciada que se identifica a partir de contextos comuns e situações compartilhadas, abrindo uma elite inicialmente exclusivista, e transformando seu aristocratismo em resistência e sentimento revalorizador para enfrentar a grande distância em que é mantido o povo pelas classes superiores e os sentimentos de inferioridade impostos. A consistência das tradições e a força daquela geração permitiria que se mantivesse uma identidade negra atuante na forja do Rio de Janeiro moderno, na aparição de novas formas populares que fascinariam toda a cidade e chamariam seus interesses para cena. Os conflitos e a modernização expõem a antiga unidade do grupo e interferem nas suas formas fundamentais de expressão. Se o candomblé baiano se mantém em algumas casas, e mais freqüentemente de forma sincretizada nas macumbas que aparecem nos morros, e depois na umbanda da classe média, os ranchos desaparecem, renovando-se na forma moderna das escolas de samba. Os descendentes dos primeiros baianos, afastados de um convívio tão intenso, dispersos pela cidade, mantém o justo orgulho de suas origens e de seus antepassados, hoje consubstanciados nas modernas instituições religiosas e carnavalescas, nas artes e no temperamento profundo do Rio de Janeiro, para quem são tradição e referência. [pg. 107]
AS BAIANAS NA FESTA DA PENHA Saía eu, onte, de tardinha, do chatô para ir no choro do Madruga, no Agrião, quando risca na minha um cujo, meio sarará e que eu me recordei de haver estragado num dia de festa no arraial da Penha por motivo da Ermelinda que então vivia comigo. Transcrito por Luiz Edmundo em seu livro O Rio de Janeiro do meu tempo Já no primeiro outubro de sua estada no Rio de Janeiro, Hilária Batista iria à festa da Penha enfrentando as ruas tortuosas do Pedregulho, os olhos de recém-chegada fascinados pelo movimento dos romeiros portugueses. Carroças enfeitadas por flores de papel, algumas velhas caleças que só saíam em dias de festa, famílias de comerciantes abastados em andorinhas alugadas, jovens corados em cavalos de sela. Entretanto, já na época, na festa da colônia portuguesa, começavam a se misturar negros que se aproveitavam da franquia propiciada pelo feriado religioso, tornando a Penha, pouco a pouco, um dos seus pontos de encontro regulares e mesmo de extroversão na cidade, principalmente depois da Abolição e com a inauguração de uma linha de trem até as vizinhanças do arraial. A presença dos negros transformaria a festa, que começara a ser celebrada no dia da Natividade de Nossa Senhora, 8 de
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AS BAIANAS NA FESTA DA PENHA<br />
Saía eu, onte, de tardinha, do chatô para ir <strong>no</strong> choro do Madruga, <strong>no</strong><br />
Agrião, quando risca na minha um cujo, meio sarará e que eu me<br />
recordei de haver estragado num dia de festa <strong>no</strong> arraial da Penha por<br />
motivo da Ermelinda que então vivia comigo.<br />
Transcrito por Luiz Edmundo em seu livro O <strong>Rio</strong> de Janeiro do meu<br />
tempo<br />
Já <strong>no</strong> primeiro outubro de sua estada <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro,<br />
Hilária Batista iria à festa da Penha enfrentando as ruas tortuosas<br />
do Pedregulho, os olhos de recém-chegada fascinados pelo<br />
movimento dos romeiros portugueses. Carroças enfeitadas por<br />
flores de papel, algumas velhas caleças que só saíam em dias de<br />
festa, famílias de comerciantes abastados em andorinhas<br />
alugadas, jovens corados em cavalos de sela. Entretanto, já na<br />
época, na festa da colônia portuguesa, começavam a se misturar<br />
negros que se aproveitavam da franquia propiciada pelo feriado<br />
religioso, tornando a Penha, pouco a pouco, um dos seus pontos<br />
de encontro regulares e mesmo de extroversão na cidade,<br />
principalmente depois da Abolição e com a inauguração de uma<br />
linha de trem até as vizinhanças do arraial.<br />
A presença dos negros transformaria a festa, que começara a<br />
ser celebrada <strong>no</strong> dia da Natividade de Nossa Senhora, 8 de