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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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Eram pessoas de proa da comunidade que volta e meia se<br />

encontravam, se mediam, levando a briga para a rivalidade entre<br />

os ranchos. “O Macaco é Outro” da família da Ciata, liderado pelo<br />

Germa<strong>no</strong>, casado com Sinhá Velha, é criado em resposta ao “Bem<br />

de Conta” do Hilário, que saíra provocando o “Rosa Branca”,<br />

arremedando seu estandarte com uma bandeira com repolhos,<br />

tomates e cebolas, e dizendo <strong>no</strong> refrão:<br />

Repolho, tomate e cheiro<br />

São flores do <strong>no</strong>sso canteiro [pg. 105]<br />

À custa do <strong>no</strong>sso dinheiro<br />

Na rua dos Cajueiros.<br />

A música tornava pública a acusação de uma dívida não<br />

paga de fantasias do ranchos. Mas as quizilas não sepultariam as<br />

afinidades, e os dois bambas se freqüentariam e muitas vezes<br />

cantariam na mesma roda e chegam até, juntos, a contestar a<br />

autoria do Pelo Telefone, de Donga. Este sim, manteria uma<br />

constante polêmica com a negra, e depois de sua morte<br />

contestaria sua importância.<br />

A casa de tia Ciata se torna a capital dessa <strong>Pequena</strong> África<br />

<strong>no</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro, seu carisma se somando à ocupação integral de<br />

seu marido, permitindo que fosse preservada sua privacidade que<br />

se abria para a comunidade. A negra tinha respeitada sua pessoa<br />

e inviolabilizada sua casa. Privilégio? Coisa de cidadão que quando<br />

preto recebia ou exigia, se estranhava. Na sua casa, capital do<br />

peque<strong>no</strong> continente de africa<strong>no</strong>s e baia<strong>no</strong>s, se podiam reforçar os<br />

valores do grupo, afirmar o seu passado cultural e sua vitalidade<br />

criadora recusados pela sociedade. Lá começam a ser elaboradas<br />

<strong>no</strong>vas possibilidades para esse grupo excluído das grandes<br />

decisões e das propostas modernizadoras da cidade, gente que

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