TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio
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Planta da casa de Tia Ciata conforme depoimento dos parentes que lá conviveram. Arquivo Francisco Duarte. brancos das elites não eram vistos como inimigos, nem claramente responsabilizados pela escravatura. Dele o negro “de origem” se opunha por sua diversidade cultural, pelo devotamento a sua vida separada, onde um graúdo podia chegar e ser bem recebido, sabida sua ignorância das tradições e preceitos dos negros. “Eles gostavam mesmo é de comer” — diziam os negros — quando a comida, anteriormente consagrada, depois de separadas as partes dos orixás, era servida à assistência. Podiam aparecer, era gente de que um negro podia se valer em caso de precisão. Já outros, principalmente brancos não tão diferenciados racial ou socialmente, como um Mauro de Almeida, chegavam de outro jeito, acabavam virando gente de casa e até participando do samba. Isso, com seus limites. Limites? Com a morte de Bebiana, Ciata ficava sozinha, sua mudança para a casa na Visconde de Itaúna simboliza a passagem do desfile e de todo “pequeno Carnaval”, o grande Carnaval da gente pequena, para a praça Onze. A casa que alugava era bastante grande, fosse um pouquinho maior o senhorio teria logo feito um albergue, uma cabeça-de-porco para arranjar mais dinheiro.
Depois de uma sala de visitas ampla, onde nos dias de festa ficava o baile, a casa se encompridava para o fundo, num corredor escuro onde se enfileiravam três quartos grandes intervalados por uma pequena área por onde entrava luz, através de uma clarabóia. No final, uma sala de refeições, a cozinha grande, e a despensa. Atrás da casa, um quintal com um centro de terra batida para se dançar e depois um barracão de madeira onde ficavam ritualmente dispostas as coisas do culto. Na sala, o baile onde se tocavam os sambas de partido entre os mais velhos, e mesmo música instrumental quando [pg. 102] apareciam os músicos profissionais, muitos da primeira geração dos filhos dos baianos, que freqüentavam a casa. No terreiro, o samba raiado e às vezes, as rodas de batuque entre os mais moços. No samba se batia pandeiro, tamborim, agogô, surdo, instrumentos tradicionais que vão se renovando a partir da nova música, confeccionados pelos músicos, ou com o que estivesse disponível, pratos de louça, panelas, raladores, latas, caixas, valorizados pelas mãos rítmicas do negro. As grandes figuras do mundo musical carioca, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, surgem ainda crianças naquelas rodas onde aprendem as tradições musicais baianas a que depois dariam uma forma nova, carioca. Nessa época Hilária já tinha empregados que se juntavam à família na feitura e venda dos doces, ou no comércio com as roupas, o dinheiro usado no santo e nas festas que se sucediam ao longo do ano: principalmente, Cosme e Damião — uma Ibejada tradicional que não se interrompeu enquanto era viva uma de suas irmãs de santo, d. Carmem do Xibuca velha moradora de uma vila da Cidade Nova* — , e Nossa Senhora da Conceição, a festa de sua Oxum. E a dos outros orixás, além dos aniversários da família e dos amigos celebrados com entusiasmo. Simbolizando
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conforme depoimento dos parentes<br />
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vistos como inimigos, nem<br />
claramente responsabilizados<br />
pela escravatura. Dele o<br />
negro “de origem” se opunha<br />
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pelo devotamento a sua vida<br />
separada, onde um graúdo<br />
podia chegar e ser bem<br />
recebido, sabida sua<br />
ig<strong>no</strong>rância das tradições e<br />
preceitos dos negros. “Eles<br />
gostavam mesmo é de comer”<br />
— diziam os negros —<br />
quando a comida,<br />
anteriormente consagrada,<br />
depois de separadas as partes<br />
dos orixás, era servida à<br />
assistência. Podiam aparecer,<br />
era gente de que um negro podia se valer em caso de precisão. Já<br />
outros, principalmente brancos não tão diferenciados racial ou<br />
socialmente, como um Mauro de Almeida, chegavam de outro<br />
jeito, acabavam virando gente de casa e até participando do<br />
samba. Isso, com seus limites. Limites?<br />
Com a morte de Bebiana, Ciata ficava sozinha, sua mudança<br />
para a casa na Visconde de Itaúna simboliza a passagem do<br />
desfile e de todo “peque<strong>no</strong> Carnaval”, o grande Carnaval da gente<br />
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