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“Porque baiana como era, trouxe isso <strong>no</strong> sangue”,<br />
relembrava o grande sambista e violonista Donga falando de sua<br />
mãe Amélia Silvana de Araújo, Tia Amélia, cantadora de modinha,<br />
que realizava na rua do Aragão grandes reuniões de samba.<br />
Conhecida também como Amélia de Aragão, morou antes disso na<br />
rua Teodoro da Silva, 44, onde nasce Donga em 1889, e depois na<br />
rua Costa Pereira, 129. Nessa época vivia com a comadre Maria<br />
Francisca, Dona Chiquinha, madrinha do “Donguinha”.<br />
Lá em casa se reuniam os primeiros sambistas, aliás, não havia esse<br />
tratamento de sambista e sim, pessoas que festejavam um ritmo que<br />
era <strong>no</strong>sso, não eram como os sambistas profissionais de agora. Era<br />
festa mesmo. Assim como havia na minha casa, havia em todas as<br />
casas de conterrâneos de minha mãe. Eu fui crescendo nesse<br />
ambiente (Entrevista de Donga em As vozes desassombradas do<br />
museu, Museu da Imagem e do Som/ RJ).<br />
É fácil perceber a centralidade dessas mulheres conterrâneas,<br />
mantenedoras das festas realizadas em homenagem aos santos<br />
que depois se profanizavam em encontros de música e conversa,<br />
onde se expandia a afetividade do corpo, atualizando o prazer e a<br />
funcionalidade da coesão.<br />
Perciliana Maria Constança, Tia Perciliana do Santo Amaro,<br />
foi neta de escravos beneficiados pela Lei do Ventre Livre. Seus<br />
pais, Joana Ortiz e Fernandes de Castro, tinham uma quitanda de<br />
artigos afro-brasileiros na rua do Sabão, conseguida com muito<br />
trabalho depois de alguns a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro. Perciliana<br />
morou muitos a<strong>no</strong>s na rua Senador Pompeu 286, na zona do Peo,<br />
casada com Félix José Guedes, outro baia<strong>no</strong> vindo para a capital.<br />
João da Baiana, outro dos grandes personagens dos primórdios do<br />
samba carioca, o caçula de seus doze filhos, conta que seus pais:<br />
(...) cantavam muito, pois sempre estavam dando festas de candomblé,