Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
dos implacáveis, capaz de se valer dos seus diversos dotes e<br />
saberes num confronto.<br />
A casa do candomblé de seu “pai” João Alabá, na rua Barão<br />
de São Félix 174, era um dos mais importantes pontos de<br />
convergência e afirmação dos baia<strong>no</strong>s de origem. Babalorixá, ou<br />
pai-de-santo, chefiando tanto a parte administrativa do terreiro<br />
como sua mística, o corpo de sacerdotes e as cerimônias, a<br />
posição de liderança de Alabá era me<strong>no</strong>s comum <strong>no</strong>s cultos<br />
ioruba<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Brasil, quando os principais candomblés,<br />
principalmente na Bahia, haviam sido fundados e liderados por<br />
mulheres. D. Carmem, chegada ao <strong>Rio</strong> de Janeiro antes da<br />
passagem do século, foi sua filha <strong>no</strong> santo: [pg. 92]<br />
Era candomblé nagô. Na casa de meu pai enchia muito. Elas assim<br />
que vinham da Bahia, vinham pra cá, era na casa de meu pai que a<br />
baianada vinha. Porque lá, da Bahia, Costa da Mina, vinham barricas<br />
de búzios, sabão da costa, obi, orobô, mel de abelha, azeite de dendê,<br />
isso tudo vinha despachado pra lá, porque era a casa do <strong>Rio</strong> de<br />
Janeiro forte <strong>no</strong> santo, a baianada toda se acoitava ali (Depoimento de<br />
Carmem Teixeira da Conceição. Arquivo Corisco Filmes).<br />
A preocupação de um pai-de-santo é promover a<br />
continuação do culto dos orixás, garantindo a coesão do grupo e<br />
lhe dando o sentido central a partir da atividade religiosa, sua<br />
liderança se exercendo sobre a comunidade e sobre cada indivíduo<br />
freqüentador do terreiro. No caso de João Alabá, freqüentavam as<br />
tias baianas que eram os grandes esteios da comunidade negra,<br />
responsáveis pela <strong>no</strong>va geração que nascia carioca, pelas frentes<br />
do trabalho comunal, pela religião, rainhas negras de um <strong>Rio</strong> de<br />
Janeiro chamado por Heitor dos Prazeres de “<strong>Pequena</strong> África”, que<br />
se estendia da zona do cais do porto até a Cidade Nova, tendo<br />
como capital a praça Onze.