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TiaCiata_e_a_Pequena_%C3%81frica_no_Rio

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iam por ali, tropeçando, erguendo archotes, carregando serpentes<br />

vivas sem os dentes, lagartos enfeitados, jabutis aterradores com<br />

grandes gritos roufenhos. (...) Mas o Carnaval teria desaparecido, seria<br />

hoje me<strong>no</strong>s que a festa da Glória ou o bumba-meu-boi se não fosse o<br />

entusiasmo dos grupos da Gamboa, Saco, da Saúde, de São Diogo, da<br />

Cidade Nova, esse entusiasmo ardente, que meses antes dos três dias<br />

vem queimando como pequenas fogueiras crepitantes para acabar <strong>no</strong><br />

formidável e total incêndio que envolve e estorce a cidade inteira. Há<br />

em todas as sociedades, em todos os meios, em todos os prazeres, um<br />

núcleo dos mais persistentes que através do tempo guarda a chama<br />

pura do entusiasmo. Os outros são mariposas, aumentam as sobras,<br />

fazem os efeitos (João do <strong>Rio</strong>, A alma encantadora das ruas). [pg. 90]<br />

Dos cucumbis, ainda quase africa<strong>no</strong>s, e dos afoxés, na<br />

Bahia, subordinados às casas de santo, surgiam <strong>no</strong>vas versões<br />

cariocas, que se valeriam de variações estilizadas das formas<br />

tradicionais, com o intuito de satirizar alguns africa<strong>no</strong>s influentes<br />

na comunidade, presos às origens e ainda resistindo aos <strong>no</strong>vos<br />

tempos. A distinção entre os gêneros não é extremamente<br />

definida, a ponto de aparecerem grupos se de<strong>no</strong>minando, ou<br />

de<strong>no</strong>minados pelos jornais, de afoxés-cucumbis, separados pela<br />

forma de dimensionar as influências africanas frente aos apelos da<br />

modernidade.<br />

Hilário, em suas atividades como carnavalesco, seria o mais<br />

fecundo fundador de ranchos e sujos do Carnaval carioca, um<br />

i<strong>no</strong>vador que buscava sua autoridade na tradição. Ele conta:<br />

Essas coisas eu costumo plantar e, desde que pega o galho, eu solto<br />

nas mãos de outros e vou fundar qualquer <strong>no</strong>vidade. Assim é que <strong>no</strong><br />

a<strong>no</strong> seguinte fundei o Rosa Branca, na rua da América, 106, na casa<br />

de Amélia de Almeida. Foi também uma surpresa! Logo <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />

seguinte, na travessa Bom Jardim, 64, fundei o Botão de Rosa. Aí, não<br />

queria saber. Começou a luta das criaturas contra o criador, de modo<br />

que as sociedades por mim fundadas e instituídas queriam dar-me o

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