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a forma dionisíaca com que o negro se apropria das festas<br />
católicas provoca protestos e interdições que têm como<br />
conseqüência o deslocamento das principais festas negras para o<br />
tempo desinibido do Carnaval, e sua definitiva profanização.<br />
Hilário se refere, na mesma entrevista, ao tempo do antigo<br />
entrudo, desabusado e grosseiro, que ganha <strong>no</strong>vos tons com a<br />
aparição de um Carnaval negro de extrema expressividade<br />
artística: [pg. 88]<br />
Naquele tempo o Carnaval era feito pelos cordões de velhos, pelos zé-<br />
pereiras e pelos dois cucumbis da rua João Caeta<strong>no</strong> e o da rua do<br />
Hospício (atual Bue<strong>no</strong>s Aires). O Rei de Ouro, meu Vagalume*, quando<br />
se apresentou com perfeita organização de rancho <strong>no</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro:<br />
porta-bandeira, porta-machado, batedores etc. Perfeitamente<br />
organizado, saímos licenciados pela polícia. Quem se interessou pela<br />
<strong>no</strong>ssa licença foi o velho Araújo, o escrivão da antiga Quarta Pretoria,<br />
na praia de Santa Luzia, hoje ponta do Calabouço. Naquela pretoria<br />
trabalhavam e eram <strong>no</strong>ssos amigos os senhores Seraphim, Augusto e<br />
Frederico Moss de Castro, Mauro de Almeida (o Peru dos Pés Frios)<br />
hoje cronista carnavalesco d’A Batalha e d’A Esquerda. Era também<br />
empregado da Pretoria Aveli<strong>no</strong> Pedro de Alcântara, que foi eleito <strong>no</strong>sso<br />
primeiro vice-presidente. Devo dizer que o Rei de Ouro foi um sucesso.<br />
* Vagalume, o jornalista Francisco Guimarães.<br />
As características organizacionais das <strong>no</strong>vas instituições<br />
populares, já com a preocupação de se legitimar ante o poder<br />
público, aceitando em sua estrutura interna algumas de suas<br />
regras, mostra o <strong>no</strong>rteamento dos <strong>no</strong>vos líderes por um princípio<br />
de realidade, que também determinaria alianças destes grupos<br />
com indivíduos solidários vindos das camadas superiores, capazes<br />
de avalizá-los e protegê-los contra as perseguições da polícia, e de<br />
mobilizar recursos para seus gastos carnavalescos. A necessidade