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dramatizações processionais, se encontrassem com a música<br />
ocidental de feição popular veiculada já então definitivamente fora<br />
dos salões nas democráticas salas de divertimento, onde um<br />
público social e racialmente heterogêneo se ajunta. O lundu,<br />
oriundo do batuque, assume uma forma de canção já descrita<br />
pelos cronistas do século XVIII. Músicos brancos o<br />
“sincretizariam” com outros gêneros musicais, chegando o lundu a<br />
ter uma versão erudita que o desfiguraria a ponto de o confundir<br />
com a modinha de cunho camerístico. Sua dança extremamente<br />
expressiva e sensual, com a umbigada, tornaria mais tarde o<br />
lundu um quadro obrigatório nas revistas teatrais, geralmente<br />
com letras satíricas. Como diz J.R. Tinhorão, “uma canção de<br />
branco para ser cantada em língua de negro”.<br />
Na Cidade Nova, que se torna a fronteira entre o <strong>Rio</strong> de<br />
Janeiro “civilizado” e o subalter<strong>no</strong>, viviam [pg. 78] muitos desses<br />
músicos. Seus bares e gafieiras* se tornam locais privilegiados de<br />
encontros musicais, de onde os <strong>no</strong>vos gêneros, inicialmente<br />
ig<strong>no</strong>rados e estigmatizados pelo moralismo das elites, iriam<br />
contagiar toda a cidade a partir das liberdades propiciadas por<br />
sua vida <strong>no</strong>turna. Eram do bairro: Pixinguinha, Quincas<br />
Laranjeira, Carlos Espí<strong>no</strong>la, pai de Aracy Cortes, Catulo da Paixão<br />
Cearense que por lá morou e Anacleto de Medeiros, líder da banda<br />
do Corpo de Bombeiros na praça da República, freqüentador<br />
contumaz das rodas de choro. São inúmeros os personagens de<br />
sua vida musical: Leopoldo “Pé de Mesa”, Geraldo Santos, o<br />
flautista conhecido como “Bico de Ferro”, “Cupido”, o violonista<br />
Manuel Teixeira, Soares “Caixa de Fósforos”, Manquinha “Duas<br />
Covas”, mencionados por Alexandre Gonçalves Pinto, o “Animal”,<br />
<strong>no</strong> seu precioso livro sobre o choro primitivo.<br />
* Gafieira é um <strong>no</strong>me dado de cima para baixo, pejorativamente, aos salões