AAS 74 - Vaticano
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894 Acta Apostolicae Sedis - Commentarium Officiale contradiçoes e desafíos que tal conjuntura apresenta. Ao contrario, pro cura identificar esses desafios para poder oferecer-lhes urna resposta an tes que se tornem insolúveis. 3. Neste ponto os Pastores da Igreja têm um papel de primordial importancia que, em virtude do carisma episcopal e de um mandato de Deus, só a eles pertence. Ninguém assumirá esse papel, se eles nao o assumirem. Este múnus do Bispo está relacionado fundamentalmente com o ca risma de Pastor, um dos principáis da vocaçâo episcopal. Se sao fosse breve o tempo e premente o programa, cedería ao dése jo de descer convosco às profundezas deste carisma, tal como o revela Sâo Joäo no admirável capítulo décimo do seu Evangelho. Numa pa rábola e respectiva explicaçâo, Jesus fala do Pastor à luz da sua condicio de Bom Pastor. Haveria muito a dizer sobre o Pastor que conhece as ovelhas pelo nome ; que dá a vida por elas ; que as defende contra os ladröes, ou contra o lobo. Poderíamos reler juntos Santo Agostinho ou Sâo Gregorio Magno, nalgumas das suas páginas mais belas sobre o pastoreio, a que o primeiro chama (( officium amoris » e o segundo, referindo-se à cura d'almas, chama « ars artium ». Aqui desejo sublinhar apenas urna funçâo do Pastor : a de guiar o rebanho. Guiar é ir à frente : à frente, para fazer o reconhecimento do caminho, medir a profundidade das torrentes, detectar perigos, ga rantir a marcha ; à frente, para estimular e incutir coragem ; à frente, para mostrar o rumo certo e evitar desvios. Ñas fases de instabilidade e mudança, é indispensável e preciosa a funçâo destes guias e é aben- çoado o povo que os encontra nos seus Bispos. Se pela graça do Espirito Santo, pelas virtudes e dotes cultivados com esforço e oraçâo e pela sólida preparaçâo, os Bispos de um País forem capazes de discernir, com clarividencia, o sinal dos acontecimen- tos, muitos encontrarâo neles alguém que, no meio de realidades am biguas, porque polivalentes, faça a crítica das situacöes, das tenden cias, das correntes de pensamento e das ideologías e interrompa assim a marcha incerta. Se além de guias sâo pais, saberäo incentivar a seguir por novos caminhos, ainda que desconfortáveis, abandonando os atractivos de sendas mais facéis, mas quase sempre engañadoras. A Igreja, especialmente esta sua parcela que está em Portugal, e aquele sobre quem pesa o ónus do Sumo Pontificado sabem que vos, Bispos portugueses, estais conscientes da vossa missäo de Pastores e
Acta Ioannis Pauli Pp. II 895 guias. Continuai a pô-la em pràtica sem hesitaçôes, sobretudo quando se trata de indicar o rumo certo, no meio de um emaranhado de possi- veis caminhos. A este propósito, tenho repetido que a Igreja näo se arroga ó direito de impor a ninguém a sua doutrina; mas tem o direito-dever de pro- pô-la, com humildade e amor. Parafraseando Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, posso dizer que, se nos Bispos propusermos com desassom- bro a via da Igreja, quem, por preconceito, despreza tal proposta, pode pecar, mas a nossa consciência de nada nos acusará. Se, ao con tràrio, por cansaço ou temor, respeito humano ou incerteza das pro prias convicçôes, deixarmos de propor o que sabemos ser a verdade, quem por causa disso permanecer na ignorancia do Evangelho e de Cristo, talvez nao peque, mas nos nao seremos isentos de culpa. 4. A determinada altura o carisma do Pastor-guia encontra-se pro fundamente ligado ao de educador da fé. Guiar urna pessoa ou urna colectivídade, orientar um processo de transformaçâo, na perspectiva de um Bispo, é educar na fé. Quanto mais observo a fé do vosso povo, sobretudo da gente simples, mais a admiro pelas raízes ancestrais que eia lança na alma dessa gente : pela sua espontaneidade e singeleza, pelos gestos concretos que suscita e pelas atitudes que provoca nas relaçôes com Deus e o seu Filho Jesus, com o sofrimento e com a propria morte, com as outras pessoas e com os acontecimentos, com o mundo presente e com o futuro. Por outro lado, vejo essa fé exposta ao perigo e até, como escreveu Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, assediada por muitas forças corrosivas, amea- çada na sua integridade e até na sobrevivencia; isso porque, em vir- tude de circunstancias históricas, que nao podemos analisar aqui, essa fé nao é sempre tao sólida quanto espontánea, nem tao profunda quanto sincera. O vosso primeiro compromisso perante esta fé do vosso povo, é o de reconhecê-la e apreciá-la; de respeitar as suas manifestaçoes au ténticas; de defendé-la contra os fermentos que a pôem em risco; de reforcá-la, libertando-a de eventuais elementos de crendice e supersti- çâo e dando-lhe mais conteúdo doutrinal. Numa palavra, é o compro misso de educá-la à luz da Palavra de Deus e do Magisterio da Igreja, de nutri-la com urna verdadeira catequese. Reconhecendo os esforços que tendes feito e estais a incrementar, exorto-vos a prosseguir na
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Se sao fosse breve o tempo e premente o programa, cedería ao dése jo<br />
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Aqui desejo sublinhar apenas urna funçâo do Pastor : a de guiar<br />
o rebanho. Guiar é ir à frente : à frente, para fazer o reconhecimento<br />
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e mudança, é indispensável e preciosa a funçâo destes guias e é aben-<br />
çoado o povo que os encontra nos seus Bispos.<br />
Se pela graça do Espirito Santo, pelas virtudes e dotes cultivados<br />
com esforço e oraçâo e pela sólida preparaçâo, os Bispos de um País<br />
forem capazes de discernir, com clarividencia, o sinal dos acontecimen-<br />
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biguas, porque polivalentes, faça a crítica das situacöes, das tenden<br />
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a marcha incerta. Se além de guias sâo pais, saberäo incentivar a<br />
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A Igreja, especialmente esta sua parcela que está em Portugal, e<br />
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Bispos portugueses, estais conscientes da vossa missäo de Pastores e