AAS 74 - Vaticano
AAS 74 - Vaticano AAS 74 - Vaticano
1230 Acta Apostolicae Sedis - Commentarium Officiale miliar, como bem transparece em vosso relatório, constitui um desa fio. A Igreja aceita este desafio. 5. Vosso relatório fazia referencias também à cultura e mais espe cíficamente à alma africana. Posso assegurar-vos que, em minhas via- gens ao vosso continente, tive oportunidade de apreciar os valores que vos säo proprios. Procurei até, no retorno da mais recente viagem, em Abril deste ano, frisar quanto a cultura africana favorece urna verdadeira evangelizaçâo e constitui urna providencial resistencia aos ataques do ateísmo e das ideologías estranhas. Dése jo reafirmar aquí o empenho da Igreja em encarnar-se nas diversas civilizaçôes e culturas. Vossa posiçao na Igreja, como africanos entre africanos, concretiza esta preocupaçâo de conaturalizar a Igreja na África com o seu povo. Cabe-vos pois, dentro das perspectivas do Con cilio Vaticano II, tentar traduzir o Evangelho para a vossa cultura, de modo a torná-lo entendido e, mais ainda, vida para o vosso povo, sem, evidentemente, prejudicar a necessaria unidade eclesial e a auten- ticidade evangélica, que se estabelecem e firmam na diversidade dos po vos e das culturas. Cabe ao vosso judicioso criterio pastoral, secundado por um estudo sèrio e em constante referencia à Igreja universal, discernir, dentre as diversas expressöes culturáis do vosso povo, aquelas mais aptas para exprimir os valores evangélicos. E ainda mais. Nâo apenas assumir as expressöes culturáis apropri ad as, mas também evangelizar a pròpria cultura africana, de modo que, aos poucos, se possa falar de urna ver dadeira cultura africana crista, a exemplo daquela que caracterizou os primeiros tempos do Cristianismo, com Säo Cipriano e Santo Agostinho. É, sem duvida, ingente e difícil este trabalho. Exige a presença de homens de fé firme e de cultura profunda, que tenham o sentir do Evangelho e o sentir da pròpria gente. Mas também é um trabalho importante e diria até condiçâo para a sobrevivencia do Catolicismo na vossa terra, em meio às contrariedades a que tantas vezes este ve sujeita no decorrer dos tem pos. Enquanto as populaçôes da África näo sentirem o Cristianismo como seu pròprio sangue e alma, näo estaräo dispostas a defendê-lo com o risco da vida. Näo fostes pois postos à frente da Igreja, na África, para levar-lhe urna cultura, mas para impregnar a pròpria cultura africana de valores evangélicos. Por isso, integrados como estais em vosso ambiente naturai, sentindo as aspiraçôes e a vida do rebanho que vos foi confiado e, ao
Acta Ioannis Pauli Pp. II 1231 mesmo tempo, imbuidos profundamente da fé crista, sabereis vós mes- mos encontrar o modo de integraçâo destes dois polos vitáis: a fé e a cultura. Nesta importante encarnaçâo cultural, cabe à Santa Sé urna palavra de orientaci o para que se mantenha firme a unidade da Igreja universal, pela preservaçâo dos elementos essenciais da fé católica. Junto dos grandes valores tradicionais da religiosidade popular, vossa sociedade se ressente hoje de um forte impacto de ateísmo. Ideologías de diversas proveniencias penetram no vosso País, com influencia negativa particularmente sobre os jovens. Ë principalmente neste ambiente que se réis mestres na fé, valorizando os valores autóctones, para neles firmar urna profunda vivencia evangélica. 6. Cabe a vós, prezados Irmäos, a nobre e espinhosa tarefa de pio- neiros, também no relacionamento com a nova sociedade, que se está a criar a partir da independencia de vosso País. Sabemos que todo inicio é difícil. Sente-se agudamente o problema da fome, da violencia fratri cida, da instabilidade política e social. Há quase tudo ainda por fazer. Abrem-se, às vezes, incertezas e dúvidas quanto ao futuro. Ë pròprio do que é novo ainda nao ter solidez de estruturas. Duras provas desafiam a capacidade de criatividade e a coragem dos pioneiros, às vezes tímidos pela insegurança diante do melhor caminho a tomar. Nestas circunstancias, qual é a vossa missäo de Bispos? Qual é a missäo da Igreja? Compartilho plenamente convosco a solicitude pastoral que expri- mistes, no Comunicado da sessào de Maio de corrente ano de vossa Con ferencia episcopal, sobre o sofrimento no vosso País : « Comoveu-nos profundamente a noticia do tormento da fome que atingiu tantos dos nossos irmäos sobretudo em alguns distritos de Nampula. Edificam-nos os esforços da Caritas e das organizaçôes internacionais e a dedicaçâo de muitas pessoas que nao se pouparam a canseiras e f adigas para aliviar este sofrimento. Exortamos a todos que continuem socorrer estes nossos irmäos com fome. Também nao podemos ficar insensíveis aos sofrimentos por perturbaçôes de toda a ordern causadas pelas situaçôes de guerra e de violencia em varias Provincias. Animados pela fraternidade evan gélica cada qual faca quanto puder para dominar estes sofrimentos e criar um ambiente de reconciliaçao em toda a parte ». Vossa contribuiçao será pois a de construir como que a alma da nova sociedade. Nao vos cabe apresentar soluçôes técnicas, tarefa propria dos leigos especializados neste sector. Vosso dever específico é o de vos
- Page 1180 and 1181: 1180 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1182 and 1183: 1182 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1184 and 1185: 1184 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1186 and 1187: 1186 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1188 and 1189: 1188 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1190 and 1191: 1190 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1192 and 1193: 1192 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1194 and 1195: 1194 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1196 and 1197: 1196 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1198 and 1199: 1198 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1200 and 1201: 1200- Acta Apostolicae Sectis Comme
- Page 1202 and 1203: 1202 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1204 and 1205: 1204 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1206 and 1207: 1206 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1208 and 1209: 1208 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1210 and 1211: 1210 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1212 and 1213: 1212 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1214 and 1215: 1214 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1216 and 1217: 1216 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1218 and 1219: 1218 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1220 and 1221: 1220 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1222 and 1223: 1222 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1224 and 1225: 1224 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1226 and 1227: 1226 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1228 and 1229: 1228 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1232 and 1233: 1232 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1234 and 1235: 1234 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1236 and 1237: 1236 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1238 and 1239: 1238 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1240 and 1241: 1240 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1242 and 1243: 1242 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1244 and 1245: 1244 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1246 and 1247: 1246 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1248 and 1249: 1248 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1250 and 1251: 1250 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1252 and 1253: 1252 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1254 and 1255: 1254 Acta Apostolicae Sectis - Comm
- Page 1256 and 1257: 1256 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1258 and 1259: 1258 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1260 and 1261: 1260 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1262 and 1263: 1262 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1264 and 1265: 1264 Acta Apostolicae Bedis - Comme
- Page 1266 and 1267: 1266 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1268 and 1269: 1268 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1270 and 1271: 1270 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1272 and 1273: 1272 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1274 and 1275: 1274 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1276 and 1277: 1276 Acta Apostolicae Sedis - Comme
- Page 1278 and 1279: 1278 Acta Apostolicae Sedis - Comme
1230 Acta Apostolicae Sedis - Commentarium Officiale<br />
miliar, como bem transparece em vosso relatório, constitui um desa<br />
fio. A Igreja aceita este desafio.<br />
5. Vosso relatório fazia referencias também à cultura e mais espe<br />
cíficamente à alma africana. Posso assegurar-vos que, em minhas via-<br />
gens ao vosso continente, tive oportunidade de apreciar os valores que vos<br />
säo proprios. Procurei até, no retorno da mais recente viagem, em Abril<br />
deste ano, frisar quanto a cultura africana favorece urna verdadeira<br />
evangelizaçâo e constitui urna providencial resistencia aos ataques do<br />
ateísmo e das ideologías estranhas.<br />
Dése jo reafirmar aquí o empenho da Igreja em encarnar-se nas<br />
diversas civilizaçôes e culturas. Vossa posiçao na Igreja, como africanos<br />
entre africanos, concretiza esta preocupaçâo de conaturalizar a Igreja na<br />
África com o seu povo. Cabe-vos pois, dentro das perspectivas do Con<br />
cilio <strong>Vaticano</strong> II, tentar traduzir o Evangelho para a vossa cultura,<br />
de modo a torná-lo entendido e, mais ainda, vida para o vosso povo,<br />
sem, evidentemente, prejudicar a necessaria unidade eclesial e a auten-<br />
ticidade evangélica, que se estabelecem e firmam na diversidade dos po<br />
vos e das culturas.<br />
Cabe ao vosso judicioso criterio pastoral, secundado por um estudo<br />
sèrio e em constante referencia à Igreja universal, discernir, dentre as<br />
diversas expressöes culturáis do vosso povo, aquelas mais aptas para<br />
exprimir os valores evangélicos. E ainda mais. Nâo apenas assumir as<br />
expressöes culturáis apropri ad as, mas também evangelizar a pròpria<br />
cultura africana, de modo que, aos poucos, se possa falar de urna ver<br />
dadeira cultura africana crista, a exemplo daquela que caracterizou os<br />
primeiros tempos do Cristianismo, com Säo Cipriano e Santo Agostinho.<br />
É, sem duvida, ingente e difícil este trabalho. Exige a presença de homens<br />
de fé firme e de cultura profunda, que tenham o sentir do Evangelho e<br />
o sentir da pròpria gente. Mas também é um trabalho importante e diria<br />
até condiçâo para a sobrevivencia do Catolicismo na vossa terra, em meio<br />
às contrariedades a que tantas vezes este ve sujeita no decorrer dos tem<br />
pos. Enquanto as populaçôes da África näo sentirem o Cristianismo<br />
como seu pròprio sangue e alma, näo estaräo dispostas a defendê-lo com<br />
o risco da vida.<br />
Näo fostes pois postos à frente da Igreja, na África, para levar-lhe<br />
urna cultura, mas para impregnar a pròpria cultura africana de valores<br />
evangélicos. Por isso, integrados como estais em vosso ambiente naturai,<br />
sentindo as aspiraçôes e a vida do rebanho que vos foi confiado e, ao