Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase
Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase
Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ricardo Azoury<br />
Quando por volta do século VIII os mercadores árabes<br />
introduziram a cana-de-açúcar <strong>no</strong> Mediterrâneo, certamente<br />
não imaginavam que esta planta teria como desti<strong>no</strong> alastrarse<br />
pelas regiões tropicais de um “<strong>no</strong>vo mundo” a ser<br />
“descoberto” oitocentos a<strong>no</strong>s mais tarde. Seduzidos pelo<br />
prazer do seu sabor, os colonizadores europeus levaram<br />
a cana para os territórios conquistados, garantindo assim<br />
a auto-sufi ciência <strong>no</strong> abastecimento de açúcar e uma<br />
importante fonte de lucros. A eleva<strong>da</strong> deman<strong>da</strong> de mão-deobra<br />
exigi<strong>da</strong> para o seu cultivo fez com que, junto com a cana,<br />
prosperasse um valioso e vergonhoso mercado de escravos,<br />
alimentando ain<strong>da</strong> mais as motivações expansionistas dos<br />
impérios.<br />
Pelas mãos dos portugueses, esta planta magnífi ca aportou<br />
em solo brasileiro por volta de 1520, iniciando uma história<br />
de reconfi guração drástica <strong>da</strong> paisagem natural e social do<br />
país. A cana foi introduzi<strong>da</strong> na região originalmente ocupa<strong>da</strong><br />
pela Floresta Atlântica, atualmente um dos ecossistemas<br />
tropicais mais ameaçados do planeta. Inicialmente, os<br />
cultivos ocuparam a região costeira de Pernambuco, Espírito<br />
Eta<strong>no</strong>l para Alimentar Carros ou<br />
Comi<strong>da</strong> para Alimentar Gente?<br />
Angela Cordeiro<br />
9<br />
Santo e Rio de Janeiro, expandindo-se posteriormente para o<br />
planalto paulista. Depois de derruba<strong>da</strong> a fl oresta, as lavouras<br />
de cana eram cultiva<strong>da</strong>s por períodos de até 15 a<strong>no</strong>s,<br />
migrando para <strong>no</strong>vas áreas de mata quando a terra fi cava<br />
cansa<strong>da</strong>. As áreas abandona<strong>da</strong>s eram então ocupa<strong>da</strong>s por<br />
pastagens e, em me<strong>no</strong>r escala, por lavouras de subsistência.<br />
No período colonial, a luta <strong>da</strong> cana contra a fl oresta se deu<br />
não apenas na incorporação de áreas para o seu cultivo, mas<br />
também na extração de lenha para alimentar os engenhos.<br />
Historiadores estimam que em 1850, trezentos a<strong>no</strong>s após<br />
o início <strong>da</strong> exportação comercial de açúcar, cerca de 8.500<br />
km2 de fl oresta haviam sido eliminados como resultado <strong>da</strong><br />
expansão <strong>da</strong> cana 1 .<br />
Dota<strong>da</strong> de uma fi siologia privilegia<strong>da</strong>, a cana faz parte do<br />
grupo de plantas C4, as quais apresentam alta efi ciência<br />
fotossintética na transformação de CO2 (dióxido de<br />
carbo<strong>no</strong>) em biomassa. Desta forma, a abundância de<br />
energia solar e de água, associa<strong>da</strong> à temperatura adequa<strong>da</strong>,<br />
ofereceram as condições ideais para que a cana se<br />
a<strong>da</strong>ptasse <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, tornando-se a matéria prima básica