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Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase

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1. Socie<strong>da</strong>de e meio ambiente: a problemática<br />

concreta<br />

Em sentido lato, os problemas relativos à degra<strong>da</strong>ção<br />

ambiental estão estreitamente vinculados ao acelerado<br />

processo de acumulação de capital registrado <strong>no</strong>s últimos<br />

50 a<strong>no</strong>s. Conforme <strong>no</strong>s mostra Altvater (1995) acerca do<br />

que chama de pilhagem ambiental, o moder<strong>no</strong> sistema<br />

industrial capitalista depende de recursos naturais numa<br />

dimensão desconheci<strong>da</strong> a qualquer outro sistema social<br />

<strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, liberando emissões tóxicas <strong>no</strong><br />

ar, nas águas e <strong>no</strong>s solos. Este sistema necessita tanto de<br />

recursos naturais como fontes de energia e matérias-primas<br />

quanto de “recipientes”, ou seja, locais de despejo, onde os<br />

rejeitos gasosos, líquidos e sólidos passam ser absorvidos<br />

ou depositados. Nestes termos, à medi<strong>da</strong> que este sistema<br />

se expande, e acelera<strong>da</strong>mente, o meio ambiente passa a ser<br />

visto como um fator restritivo, uma vez que a capaci<strong>da</strong>de de<br />

absorção dos ecossistemas globais é pequena..<br />

Isto <strong>no</strong>s indica que esta pilhagem ambiental compõe um<br />

processo mais amplo que não se esgota na de<strong>no</strong>minação<br />

de crise ambiental – como, por vezes, os ecologistas<br />

chegam a afi rmar. Revela, a rigor, parte <strong>da</strong>s contradições<br />

de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de histórica de vivência social. Como bem<br />

destaca Stahel (1999), trata-se de uma crise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

produtora de valores excedentes, posto que seu modo de<br />

reprodução social não é capaz de incorporar em sua lógica<br />

a situação de fi nitude dos recursos ecológicos. Não por<br />

outra razão, este autor propõe que a crítica analítica deva<br />

dirigir-se aos fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> sociabili<strong>da</strong>de capitalista, que<br />

em sua concepção mecânico-instrumental de tempo (time<br />

index) não consegue <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> dimensão sistêmica <strong>da</strong><br />

produção social. Desta feita, os limites <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de do valor<br />

excedente abrangeria tanto as contradições <strong>da</strong>s relações<br />

de trabalho quanto sua incapaci<strong>da</strong>de de interpretação do<br />

esgotamento do objeto alvo do trabalho social, que são os<br />

recursos naturais.<br />

Também seguindo este marco teórico, Harvey (1994),<br />

resgatando os conceitos de valor excedente e acumulação<br />

de capital, procurou enfatizar que uma <strong>da</strong>s características<br />

essenciais do modo produção capitalista diz respeito à<br />

sua necessi<strong>da</strong>de de expansão. Tal necessi<strong>da</strong>de vincula-se<br />

estritamente às fi nali<strong>da</strong>des de crescimento <strong>da</strong>s taxas de<br />

lucro – assegurando assim altos níveis de acumulação – e<br />

de obtenção de vantagens na concorrência inter-capitais. De<br />

acordo com o autor, este expansionismo, responsável então<br />

pela dinâmica tec<strong>no</strong>lógica e organizacional do capital, tem se<br />

realizado historicamente a despeito de suas conseqüências<br />

sociais, políticas, geopolíticas e ecológicas nefastas. Neste<br />

mesmo sentido, Foladori (2001) <strong>no</strong>s afi rma que a tendência<br />

ao incremento <strong>da</strong> rotação do capital para o aumento do<br />

lucro constitui-se na explicação mais contundente do<br />

51<br />

avanço capitalista sobre territórios e elementos <strong>da</strong> natureza<br />

não mercantiliza<strong>da</strong>. Isto porque, se nas socie<strong>da</strong>des précapitalistas<br />

o limite <strong>da</strong> produção social era a criação de<br />

valores de uso, <strong>no</strong> capitalismo o movimento de acumulação<br />

– por via <strong>da</strong> produção de valores excedentes – é a<br />

fi nali<strong>da</strong>de última, o que lhe asseguraria, segundo o autor,<br />

a ausência de limites. Deste modo, a suposta ausência de<br />

fronteiras naturais se constitui em um dos pilares <strong>da</strong> lógica<br />

de produção capitalista. E, como bem sugere O’Con<strong>no</strong>r<br />

(1991), estas crescentes barreiras naturais de expansão <strong>da</strong><br />

produção capitalista constituem-se na segun<strong>da</strong> contradição<br />

essencial do próprio modo de produção. Isto é, as formas<br />

sociais de apropriação do trabalho e <strong>da</strong> natureza revelariam<br />

simultaneamente as bases para realização do capital (como<br />

relação social), bem como suas contradições essenciais,<br />

através <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção de ambos.<br />

Em síntese, esta breve revisão dos estudos voltados para<br />

a questão dos recursos naturais aponta para a seguinte<br />

contradição: de um lado, os recursos naturais são fi nitos<br />

e, de outro lado, o modo de produção capitalista, na busca<br />

desenfrea<strong>da</strong> de lucros, não leva em conta esta fi nitude,<br />

intensifi cando, ca<strong>da</strong> vez mais, a exploração de tais recursos,<br />

realizando, assim a pilhagem ambiental, o que aumentará<br />

os riscos de sobrevivência de milhões de pessoas em várias<br />

partes do mundo, particularmente, as mais pobres.<br />

2. Agricultura e pilhagem ambiental <strong>no</strong> estado<br />

de São Paulo<br />

Base técnica sobre a qual o capital industrial assentou<br />

suas relações com a agricultura <strong>no</strong> curso do século XX,<br />

a chama<strong>da</strong> Revolução Verde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> caracterizou-se<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente pela prática de uma agricultura altamente<br />

especulativa, volta<strong>da</strong> para o cultivo contínuo de produtos<br />

com maiores níveis de rentabili<strong>da</strong>de. Tal característica foi<br />

fun<strong>da</strong>mental para consoli<strong>da</strong>r a mo<strong>no</strong>cultura – em detrimento<br />

dos sistemas de rotação – como elemento de destaque nas<br />

estruturas agrárias não apenas do <strong>Brasil</strong>, mas de todos<br />

os países tropicais infl uenciados pelo referido modelo<br />

(Goodman; Redclift, 1991). Além disso, a adoção dos<br />

agroquímicos como reposta tec<strong>no</strong>lógica ao esgotamento<br />

do solo e à infestação de pragas gera<strong>da</strong>s pela própria<br />

mo<strong>no</strong>cultura resultou, sobretudo nestes países, em índices<br />

ain<strong>da</strong> mais elevados de per<strong>da</strong>s de fertili<strong>da</strong>de e estabili<strong>da</strong>de<br />

física do próprio solo.<br />

No caso brasileiro, os riscos ecológicos próprios dos<br />

componentes do moder<strong>no</strong> pacote tec<strong>no</strong>lógico, somado<br />

ao descontrole do receituário agronômico <strong>da</strong> maioria<br />

<strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des agrícolas, provocaram – e continuam a<br />

provocar – <strong>da</strong><strong>no</strong>s ecossistêmicos irreversíveis em algumas<br />

regiões do país. O uso intensivo de fertilizantes, por exemplo,<br />

é um dos fatores fortemente associados à eutrofi zação dos

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