Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase
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A política agrícola dominante favorece as grandes empresas,<br />
às quais são concedidos créditos bilionários em muito<br />
superiores a aquele concedido aos peque<strong>no</strong>s agricultores<br />
através do Programa Nacional de Fortalecimento <strong>da</strong><br />
Agricultura Familiar (PRONAF). (MENDONÇA, 2006)<br />
A propagan<strong>da</strong> do agro-negócio veicula a idéia positiva<br />
de “desenvolvimento” em contraposição com o modelo<br />
de mo<strong>no</strong>cultura que gera sérios problemas sociais e<br />
econômicos: degra<strong>da</strong>ção do meio ambiente, concentração<br />
de ren<strong>da</strong> e o desemprego <strong>no</strong> campo; além dos agravos à<br />
saúde do trabalhador.<br />
A opção desenvolvimentista anuncia que o desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s forças produtivas e a expansão <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia libertariam<br />
a humani<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escassez, <strong>da</strong> injustiça e do mal estar.<br />
Entretanto a opção por este modelo de desenvolvimento, <strong>no</strong><br />
<strong>Brasil</strong>, tem resultado em transformações irreversíveis dos<br />
ecossistemas, pela expansão <strong>da</strong>s fronteiras e colonização de<br />
<strong>no</strong>vos territórios para a implantação de projetos agrícolas,<br />
industriais, de extração e de energia que são lucrativos<br />
em curto prazo, mas exploram os recursos naturais<br />
negligentemente. Rigotto (2003).<br />
Além disso, como constatam Acselrad, Hercula<strong>no</strong> e Pádua<br />
(2004), observa-se que aos trabalhadores de baixa ren<strong>da</strong>,<br />
grupos sociais discriminados, povos étnicos tradicionais,<br />
populações marginaliza<strong>da</strong>s nas periferias <strong>da</strong>s grandes<br />
ci<strong>da</strong>des é destina<strong>da</strong> a maior carga dos <strong>da</strong><strong>no</strong>s ambientais do<br />
desenvolvimento.<br />
Entre as alternativas propostas para contrapor esse modelo,<br />
as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) defi nem<br />
que as questões relaciona<strong>da</strong>s à saúde e ao meio ambiente<br />
devem ser um dos objetivos centrais na luta contra a pobreza,<br />
visando garantir a segurança humana através <strong>da</strong> integração<br />
dos princípios do desenvolvimento sustentável às políticas<br />
e programas dos países e a reverter a per<strong>da</strong> dos recursos<br />
ambientais. Segundo Periago e colaboradores (2007): “para<br />
que a saúde infl uencie positivamente o desenvolvimento,<br />
ela deve ser protegi<strong>da</strong> contra riscos ambientais e promovi<strong>da</strong><br />
através de intervenções visando a construir ambientes<br />
saudáveis”.<br />
É nesse cenário que se propõe a discussão <strong>da</strong> produção<br />
do eta<strong>no</strong>l, referencia<strong>da</strong> nas relações entre o modelo de<br />
produção e consumo, o processo saúde doença e as<br />
repercussões sobre o ambiente físico e social, entendendose<br />
que muitos dos problemas ambientais e de saúde dos<br />
trabalhadores e <strong>da</strong> população em geral têm origem comum,<br />
<strong>no</strong>s processos produtivos, ou na forma de organização<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas. Essa compreensão deve ser<br />
incorpora<strong>da</strong> nas políticas públicas, de modo transversal e<br />
traduzi<strong>da</strong> em práticas transdisciplinares, democráticas e<br />
participativas que assegurem a justiça social.<br />
25<br />
C. A produção <strong>no</strong> setor sucro-alcooleiro e as<br />
repercussões sobre a saúde <strong>da</strong> população e<br />
dos trabalhadores de modo particular<br />
Compartilhamos a compreensão enuncia<strong>da</strong> por Laurell<br />
e Noriega (1982) de que “o processo saúde-doença é<br />
determinado pelo modo como o Homem se apropria <strong>da</strong><br />
natureza em um <strong>da</strong>do momento, apropriação esta que se<br />
realiza por meio do processo de trabalho, baseado em<br />
determinado grau de desenvolvimento <strong>da</strong>s forças produtivas<br />
e relações sociais de produção”.<br />
A produção técnico-científi ca sobre os impactos <strong>da</strong><br />
mo<strong>no</strong>cultura extensiva <strong>da</strong> cana de açúcar sobre o meio<br />
ambiente e a saúde <strong>da</strong> população e dos trabalhadores de modo<br />
particular já é bem signifi cativa e neste capítulo utilizaremos<br />
algumas <strong>da</strong>s idéias, conceitos e resultados desses estudos<br />
para responder a seguinte questão: - Quais os impactos<br />
causados pelas ativi<strong>da</strong>des do setor sucroalcooleiro sobre a<br />
saúde <strong>da</strong> população e dos trabalhadores em particular?<br />
Costuma-se dizer que os trabalhadores são “canários<br />
sentinelas” dos efeitos dos processos produtivos sobre a<br />
saúde humana. Esta comparação surge <strong>da</strong> prática adota<strong>da</strong><br />
por antigos trabalhadores <strong>da</strong> mineração <strong>no</strong> subsolo, que,<br />
na ausência dos moder<strong>no</strong>s procedimentos de monitoração<br />
ambiental, costumavam descer para o ambiente de<br />
trabalho levando um canário na gaiola. Quando o canarinho<br />
apresentava sinais de tontura e desmaiava, signifi cava que o<br />
ar estava se tornando rarefeito, com baixos teores de oxigênio<br />
e que deveriam retornar a superfície para evitar acidentes e<br />
morte. Ou seja, o frágil organismo do canarinho sinalizava<br />
precocemente os efeitos <strong>da</strong> poluição e inadequação do ar <strong>no</strong><br />
ambiente, avisando sobre o perigo para os seres vivos.<br />
Em muitos aspectos, não é muito diferente, na atuali<strong>da</strong>de,<br />
pois os trabalhadores apesar de geralmente serem jovens<br />
e fortes, e, portanto, me<strong>no</strong>s vulneráveis do que outros<br />
grupos <strong>da</strong> população, como as crianças e os idosos, sofrem<br />
dupla exposição aos fatores de risco para a saúde, quando<br />
presentes <strong>no</strong>s processos de trabalho e <strong>no</strong> ambiente onde<br />
vivem.<br />
No caso <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> cana de açúcar, os fatores de<br />
risco para a saúde incluem, por exemplo, a poluição do ar<br />
decorrente <strong>da</strong> queima do solo para o plantio e aquela que<br />
precede a colheita, a utilização maciça de produtos químicos,<br />
os efl uentes <strong>da</strong>s usinas processadoras de álcool e açúcar,<br />
entre outros. Além disso, o Relatório <strong>da</strong> World Wildlife – WWF,<br />
de <strong>no</strong>vembro de 2004, alerta para a <strong>indústria</strong> <strong>da</strong> cana como<br />
importante poluidor do meio ambiente e destruidor <strong>da</strong> fauna<br />
e <strong>da</strong> fl ora, acarretando a morte de peixes e <strong>da</strong> vegetação dos<br />
cursos de água, além <strong>da</strong> poluição de lençóis freáticos e de<br />
águas subterrâneas por agrotóxicos e pestici<strong>da</strong>s.