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Impactos da indústria canavieira no Brasil (Plataforma BNDES - Ibase

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Contribuição para a discussão sobre as políticas <strong>no</strong> setor sucroalcooleiro<br />

e as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores<br />

A. Considerações iniciais<br />

A opção brasileira pela produção, em larga escala, de<br />

bio-combustíveis, do eta<strong>no</strong>l em especial; reforça<strong>da</strong> pelo<br />

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tem<br />

provocado discussões e polêmicas envolvendo eco<strong>no</strong>mistas,<br />

cientistas e organizações não governamentais, mobilizados<br />

pelos múltiplos e complexos aspectos envolvidos.<br />

Nas palavras de Frei Beto (2008): “Vamos alimentar carros e<br />

desnutrir pessoas. Há 800 milhões de veículos automotores<br />

<strong>no</strong> mundo. O mesmo número de pessoas sobrevive<br />

em desnutrição crônica. O que inquieta é que nenhum<br />

dos gover<strong>no</strong>s entusiasmados com os agrocombustíveis<br />

questiona o modelo de transporte individual, como se os<br />

lucros <strong>da</strong> <strong>indústria</strong> automobilística fossem intocáveis”.<br />

O tema mobiliza o grupo de organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

civil, conhecido como <strong>Plataforma</strong> BNDS, que o elegeu<br />

entre cinco setores considerados estratégicos do ponto<br />

de vista econômico, ambiental e <strong>da</strong> saúde, como foco<br />

de ação articula<strong>da</strong>, media<strong>da</strong> pela produção e difusão de<br />

conhecimento sobre o tema que empodere os grupos<br />

sociais para a ação política. É neste contexto, que o IBASE<br />

está propondo a realização de um “estudo de caso” e ofi cina<br />

de trabalho, para discussão desse tema com o objetivo de<br />

alimentar as articulações sociais e pressionar o Banco<br />

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS),<br />

enquanto principal instrumento fi nanciador dessas políticas,<br />

a reorientar suas ações, <strong>no</strong> sentido do cui<strong>da</strong>do com a vi<strong>da</strong><br />

e a justiça social.<br />

Este documento foi preparado como contribuição para esse<br />

processo e busca responder às seguintes perguntas:<br />

�<br />

Quais são os impactos <strong>da</strong> produção intensiva de eta<strong>no</strong>l na<br />

saúde do trabalhador?<br />

�<br />

Há medições aceitas cientifi camente sobre o nível de<br />

desgaste do trabalhador <strong>no</strong> corte <strong>da</strong> cana?<br />

O texto não tem a pretensão de ser “estado <strong>da</strong> arte” sobre o<br />

tema, apenas, busca pontuar algumas questões relevantes,<br />

na opinião <strong>da</strong>s autoras, de modo a subsidiar as discussões<br />

e contribuir para um posicionamento coletivo sobre essa<br />

complexa questão. Ele está organizado em três partes:<br />

inicialmente são feitas considerações sobre o problema,<br />

abrangendo os antecedentes e os cenários <strong>da</strong> produção<br />

do eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A seguir, são apresentados aspectos<br />

<strong>da</strong> produção <strong>no</strong> setor sucro-alcooleiro, com destaque para<br />

o processo de trabalho e a saúde dos trabalhadores, e os<br />

desafi os para o Sistema Único de Saúde para responder a<br />

23<br />

essas questões. Finalizando são propostas questões, como<br />

contribuição à agen<strong>da</strong> de discussão na Ofi cina de Trabalho.<br />

B. Antecedentes e cenários <strong>da</strong> produção do<br />

eta<strong>no</strong>l <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

No <strong>Brasil</strong>, o Programa Pro-Álcool surgiu <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70 em<br />

resposta à crise internacional do petróleo, como estratégia<br />

para diminuir a dependência externa de fontes de energia,<br />

por meio <strong>da</strong> produção de combustível alternativo, re<strong>no</strong>vável<br />

e não “poluente”, envolvendo a expansão do cultivo <strong>da</strong> cana<br />

de açúcar, a implantação <strong>da</strong>s usinas para produção de álcool<br />

e a produção de veículos movidos a álcool, particularmente<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 80. (ARBEX et al, 2004).<br />

Como conseqüência, na déca<strong>da</strong> de 1970, a agro<strong>indústria</strong><br />

<strong>canavieira</strong> passou por um processo de modernização<br />

e diversifi cação expandindo para além <strong>da</strong>s regiões<br />

tradicionalmente produtoras, apoia<strong>da</strong> por investimentos<br />

internacionais e políticas nacionais que favoreceram o setor.<br />

Essas mu<strong>da</strong>nças promoveram mu<strong>da</strong>nças signifi cativas<br />

<strong>no</strong> mercado de trabalho, nas relações e tipos de vínculo<br />

empregatício, nas formas de seleção e organização do<br />

trabalho e <strong>no</strong> perfi l dos trabalhadores, com profun<strong>da</strong>s<br />

repercussões sociais sobre a vi<strong>da</strong> e o processo saúde<br />

doença dessas pessoas.<br />

Segundo o professor Francisco Alves (2006), <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal de São Carlos, na atuali<strong>da</strong>de, a competitivi<strong>da</strong>de dos<br />

produtos brasileiros do complexo canavieiro, <strong>no</strong> mercado<br />

internacional, decorre dos baixos custos de produção<br />

resultantes dos baixos salários pagos aos trabalhadores e<br />

do pouco controle e investimento nas políticas de proteção<br />

ambiental. A grande disponibili<strong>da</strong>de de terras permite a<br />

expansão <strong>da</strong> produção de modo rápido e a baixos custos.<br />

Porém, essa vantagem competitiva é insustentável, uma<br />

vez que práticas inadequa<strong>da</strong>s de cultivo intensivo são<br />

responsáveis pela degra<strong>da</strong>ção ambiental, pela erosão<br />

e a per<strong>da</strong> de solos férteis, assoreamento e poluição de<br />

importantes cursos d’água, desaparecimento de nascentes<br />

e a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de. Igualmente importantes são os<br />

impactos sobre a saúde humana. (MIRANDA et al, 2005).<br />

No pla<strong>no</strong> institucional, o Instituto do Açúcar e do<br />

Álcool foi responsável durante quase 40 a<strong>no</strong>s por to<strong>da</strong> a<br />

comercialização e exportação do produto, subsidiando<br />

empreendimentos, incentivando a centralização industrial<br />

e fundiária sob o argumento <strong>da</strong> “modernização” do setor,<br />

gerenciando as terras férteis, meios de transporte, energia,<br />

entre outros insumos.

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