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Risco#30 HiRes

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EDITORIAL<br />

DIRECTOR<br />

Ricardo Florêncio<br />

ricardo.florencio@executivedigest.pt<br />

COORDENADORES EDITORIAIS<br />

André Manuel Mendes e António Sarmento<br />

andre.mendes@multipublicacoes.pt<br />

antonio.sarmento@multipublicacoes.pt<br />

REDACÇÃO e ONLINE<br />

Carla Ferreira (revisão), Beatriz Caetano, Daniel Almeida,<br />

Francisco Laranjeira, Margarida Lopes, Pedro Gonçalves,<br />

Rita Paz, Sandra M. Pinto<br />

COLABORAM NESTA EDIÇÃO<br />

Paulo Mendonça, Sara Afonso e David Piedade<br />

ARTE Projecto Gráfico DesignGlow<br />

FOTOGRAFIA<br />

Nuno Carrancho NC Produções IngImage.com/AIC<br />

N.º Registo ERC 126799<br />

Depósito Legal 409954/16 - ISSN 2182-4959<br />

Tiragem 18.000 exemplares – Periodicidade Trimestral<br />

IMPRESSÃO E ACABAMENTO<br />

Lidergraf – Sustainable Printing<br />

Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

VASP – Distribuidora de Publicações, Lda.<br />

MLP Media Logistics Park, Quinta do Grajal – Venda Seca<br />

2739-511 Agualva-Cacém<br />

ASSINATURAS<br />

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Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444<br />

MORADA DA SEDE, EDITOR E REDACÇÃO<br />

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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO<br />

Ricardo Florêncio (CEO)<br />

ASSISTENTE DE DIRECÇÃO<br />

Michelle Herculano<br />

michelle.herculano@multipublicacoes.pt<br />

COMERCIAL E PUBLICIDADE<br />

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Margarida Sousa (Directora de Publicidade)<br />

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Tânia Rodrigues<br />

tania.rodrigues@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 411<br />

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Paula Rodrigues (Events Manager)<br />

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Francisca Garcias (Marketing Assistant)<br />

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FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA<br />

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OPERAÇÕES<br />

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Proprietários com mais de 5% do capital social<br />

AMLC, SA · Gonçalo Dias ·<br />

Manuel Lopes da Costa · Ricardo Florêncio<br />

VIRAR DA PÁGINA<br />

NOS MERCADOS<br />

ANDRÉ MANUEL MENDES<br />

COORDENADOR EDITORIAL<br />

andre.mendes@multipublicacoes.pt<br />

O ano está a aproximar-se do fim,<br />

e os mercados, investidores e<br />

organizações têm já os olhos postos<br />

no horizonte de 2024.<br />

N<br />

o cenário global dos mercados<br />

financeiros, antecipar as tendências<br />

nas bolsas mundiais<br />

torna-se uma tarefa crucial,<br />

sendo imperativo analisar as<br />

perspectivas e considerar os riscos que podem<br />

moldar o curso dos investimentos.<br />

As perspectivas para os mercados e para<br />

as bolsas são um mar de incertezas. Não podemos<br />

ignorar os riscos inerentes ao mundo<br />

financeiro: tensões geopolíticas, volatilidade<br />

cambial e eventos imprevisíveis que podem<br />

desencadear correcções nos mercados.<br />

Em Portugal, o final do ano ficou marcado<br />

pela apresentação da demissão do primeiro-ministro,<br />

António Costa, após terem<br />

sido realizadas buscas em São Bento e de o<br />

Ministério Público ter anunciado que é alvo<br />

de investigação autónoma do Supremo Tribunal<br />

de Justiça sobre projectos de lítio e hidrogénio.<br />

No entanto, apesar de o país entrar<br />

em eleições antecipadas, não se espera que<br />

os resultados das eleições possam ter grande<br />

impacto na bolsa portuguesa.<br />

Já no cenário global, os riscos de recessão<br />

vão manter-se no radar dos investidores, e<br />

a queda do apetite pelo risco poderá ser um<br />

problema para as bolsas, com os activos de<br />

refúgio, como o ouro e as obrigações, a poderem<br />

beneficiar deste cenário.<br />

Para além disso, as projecções económicas<br />

para a produção mundial apontam para<br />

uma desaceleração da economia no próximo<br />

ano e as revisões em baixa por parte das grandes<br />

instituições têm sido constantes, pois a<br />

inflação alta resiste no contexto económico<br />

e tem sido a grande dor de cabeça para os<br />

bancos centrais em toda a parte do globo.<br />

Os especialistas apontam que a tendência<br />

altista nos mercados bolsistas tem perdurado<br />

e é provável que continue, mas com um ritmo<br />

mais lento do que temos visto até agora, assumindo<br />

que nada de novo estrutural acontece.<br />

À medida que viramos a página para o<br />

próximo ano, os mercados bolsistas apresentam-se<br />

como um vasto campo de possibilidades.<br />

O que podemos esperar? Já falta pouco<br />

para o virar da página.<br />

AS PROJECÇÕES<br />

ECONÓMICAS PARA<br />

A PRODUÇÃO MUNDIAL<br />

APONTAM PARA<br />

UMA DESACELERAÇÃO<br />

DA ECONOMIA<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 3


ESTA<br />

EDIÇÃO<br />

30<br />

62<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

6 NOTAS<br />

Ciberataques colocam União Europeia<br />

em alerta<br />

12 DIGITAL<br />

A experiência do cliente como<br />

vantagem competitiva<br />

16 MERCADOS<br />

O que esperar das bolsas mundiais<br />

em 2024?<br />

A IMPORTÂNCIA DA<br />

RESPONSABILIDADE<br />

POLÍTICA<br />

EMPRESARIAL<br />

22 ENTREVISTA<br />

Com Aaron Elliot-Gross, director<br />

de Fraude e Criminalidade Financeira<br />

na Revolut<br />

24 MACROECONOMIA<br />

Comércio mundial com perspectiva<br />

de crescimento de 1,9% em 2023<br />

28 SEGUROS<br />

«A actividade seguradora em tempos<br />

de inflação», por Miguel Guimarães,<br />

director-geral adjunto da Associação<br />

Portuguesa de Seguradores (APS)<br />

32 OPINIÃO<br />

«Resiliência cibernética no sector<br />

financeiro», por Gonçalo Heleno,<br />

IT Infrastructure and Security director<br />

na Asseco PST<br />

34 OPINIÃO<br />

«Será a falta de conhecimento<br />

o principal obstáculo à transição<br />

energética?», por André Pedro,<br />

Managing director do ComparaJá<br />

36 ENTREVISTA<br />

Com João Guerra, CEO<br />

da Nickel<br />

40 PAGAMENTOS<br />

Adopção de novos métodos de<br />

pagamento ganha peso em Portugal<br />

43 OPINIÃO<br />

«Cibersegurança para PME: navegar<br />

entre certificações e a realidade<br />

de mercado», por Paulo Nunes,<br />

IT head da Abreu Advogados<br />

44 ENTREVISTA<br />

Com Jon Fath,<br />

co-fundador e CEO da Rauva<br />

48 TECNOLOGIA<br />

O que se segue para os<br />

supercomputadores mais rápidos<br />

do mundo<br />

52 TRABALHO<br />

A inteligência do bem-estar<br />

58 TRABALHO<br />

Como aproveitar os erros para criar<br />

uma cultura de aprendizagem<br />

66 ESTANTE<br />

Sugestões de leitura<br />

ESTATUTO EDITORIAL REVISTA RISCO A Risco é uma revista trimestral<br />

de informação geral que aposta numa informação diversificada abrangendo os<br />

mais variados campos de actividade e que pretende ir ao encontro das motivações<br />

e interesses de um público plural. A Risco pretende atingir uma ampla<br />

cobertura dos mais importantes e significativos acontecimentos nacionais e<br />

internacionais em todos os domínios de interesse. A Risco é uma revista que<br />

dá primazia às matérias de finanças no seu sentido mais lato e abrangente.<br />

A revista Risco reger-se-á pelo seguinte projecto de estatuto editorial: 1. Cumprimento<br />

rigoroso das normas éticas e deontológicas do jornalismo; 2. Identificação<br />

com os valores da democracia; 3. Independência face a quaisquer grupos<br />

de pressão, poderes políticos ou económicos; 4. Salvaguarda do espaço privado<br />

dos cidadãos; 5. Defesa do pluralismo de opinião.<br />

04 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


GEOPOLÍTICA COM IMPACTO<br />

NAS PREVISÕES ECONÓMICAS<br />

PARA 2024<br />

Segundo um estudo da MAPFRE<br />

Economics, em 2024, os preços vão<br />

ter uma inflação superior aos 6%<br />

devido às tensões geopolíticas.<br />

O mais recente relatório da MAPFRE Economics<br />

prevê um crescimento da economia global de<br />

2,9%, em 2023, e reduz essa previsão, em<br />

2024, para 2,2%. Relativamente à inflação, as<br />

alterações são mais pronunciadas, deixando<br />

antever uma inflação média mais baixa em<br />

2023, situada nos 6,6%, que contrasta com os<br />

7,0% no relatório do trimestre anterior.<br />

«A previsão continua a oferecer uma dinâmica<br />

de estagnação, com o crescimento a abrandar,<br />

a política monetária a sustentar o aperto das<br />

condições financeiras e a inflação a enfrentar<br />

uma fase de moderação mais prolongada e<br />

sustentável, embora ainda longe dos níveis-<br />

-alvo», explica Manuel Aguilera, director-geral<br />

da MAPFRE Economics.<br />

CIBERATAQUES<br />

COLOCAM UNIÃO<br />

EUROPEIA<br />

EM ALERTA<br />

Um relatório recente<br />

da ESET revela como<br />

os grupos organizados<br />

do cibercrime<br />

– ou grupos APT<br />

–, alinhados com a<br />

China, têm desenvolvido<br />

campanhas de<br />

ciberespionagem na<br />

União Europeia entre<br />

Abril e Setembro<br />

de 2023.<br />

A<br />

ESET descobriu campanhas de<br />

ciberataques levadas a cabo por grupos<br />

de ameaça organizados, designados<br />

por Advanced Persistent Threat (APT),<br />

num estudo que decorreu entre Abril<br />

e Setembro de 2023.<br />

Esta pesquisa revela campanhas de ciberataque<br />

realizadas alegadamente por grupos APT<br />

associados à China na União Europeia (UE),<br />

que visam as entidades governamentais e as<br />

organizações afiliadas. Além disso, o relatório<br />

documenta a evolução da ciberguerra conduzida<br />

pela Rússia na Ucrânia, abrangendo actividades de<br />

sabotagem e espionagem.<br />

06 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


KYNDRYL E GOOGLE CLOUD<br />

ANUNCIAM PARCERIA<br />

ESTRATÉGICA<br />

O relatório da ESET identifica<br />

dois grupos chineses previamente<br />

não identificados, DigitalRecyclers e<br />

PerplexedGoblin, que têm como alvo os<br />

órgãos governamentais da União Europeia.<br />

Esses grupos exploraram vulnerabilidades e<br />

utilizaram ferramentas maliciosas, pelo que<br />

representam uma ameaça significativa<br />

à segurança cibernética.<br />

RELATÓRIO DOCUMENTA<br />

A EVOLUÇÃO DA CIBERGUERRA<br />

CONDUZIDA PELA RÚSSIA<br />

NA UCRÂNIA,<br />

ABRANGENDO ACTIVIDADES<br />

DE SABOTAGEM<br />

E ESPIONAGEM<br />

Esta parceria tem como objectivo oferecer uma nova gama<br />

de serviços inovadores e altamente seguros para as empresas<br />

do sector financeiro.<br />

Oferecer uma nova gama de serviços<br />

direccionados para as empresas<br />

do sector financeiro é o objectivo<br />

desta parceria.<br />

«Desenvolvemos serviços<br />

inovadores com recursos avançados<br />

de segurança, para ajudar as<br />

organizações financeiras a planear<br />

e implementar o seu ambiente<br />

de dados e aplicações na Google<br />

Cloud», destaca Meenagi Venkat,<br />

vice-presidente da Kyndryl Consult<br />

e Cloud.<br />

Os serviços da Kyndryl foram<br />

criados com base na arquitectura<br />

de referência da Google Cloud para<br />

o sector financeiro, priorizando<br />

a automação, segurança e<br />

conformidade. Os clientes vão ter<br />

acesso a soluções de segurança<br />

avançada, como o Confidential<br />

Computing da Google Cloud, que<br />

criptografa dados confidenciais,<br />

e o Google Cloud Security<br />

Command Center, que identifica<br />

vulnerabilidades e ameaças.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 07


INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />

EM DESTAQUE NOS SECTORES<br />

FINANCEIROS E JURÍDICOS<br />

Depois do sucesso das últimas quatro edições, o Lisbon,<br />

Law & Tech regressou para um debate sobre o impacto da<br />

inteligência artificial na banca, nos serviços financeiros, nas<br />

indústrias criativas e na prática jurídica.<br />

O<br />

Lisbon, Law & Tech<br />

regressou para a<br />

sua quinta edição e<br />

abordou o impacto<br />

da inteligência artificial (IA) em<br />

sectores-chave, como bancos,<br />

serviços financeiros, indústrias<br />

criativas ou prática jurídica. O evento<br />

online decorreu entre os dias 7 e<br />

9 de Novembro e contou com um<br />

painel de palestrantes, que incluiu<br />

figuras como Ricardo Chaves,<br />

director do Centro de Excelência em<br />

Inteligência Artificial do BPI; Pedro<br />

Abrunhosa, músico e compositor; e<br />

Dennis Kennedy, director do Centro<br />

de Direito, Tecnologia e Inovação da<br />

Michigan State University.<br />

As discussões ao longo dos três dias<br />

centraram-se em temas como<br />

“a Transformação Impulsionada<br />

por Inteligência Artificial na Banca<br />

e Finanças”; “o Impacto<br />

da Inteligência Artificial Generativa<br />

nas Indústrias Criativas” e<br />

“Advogados Generativos: IA nos<br />

Negócios Jurídicos”.<br />

O Lisbon, Law & Tech 2023<br />

permitiu reunir conhecimentos e<br />

testemunhos sobre a forma como a<br />

Inteligência Artificial está a moldar<br />

o presente e o futuro de sectores<br />

específicos, ao mesmo tempo que<br />

se torna num evento que segue na<br />

vanguarda da intersecção entre o<br />

direito e a tecnologia.<br />

SPRING SMART SOLUTIONS<br />

ANUNCIA ENTRADA<br />

NO MERCADO PORTUGUÊS<br />

Com 22 anos de experiência no<br />

mercado do Brasil, a Spring Smart<br />

Solutions anuncia a sua entrada em<br />

Portugal, com planos de estabelecer<br />

um escritório em Lisboa e contratar 10<br />

colaboradores até ao final do ano.<br />

A empresa especializada em software de optimização<br />

de telecomunicações – baseado em inteligência<br />

artificial e machine learning - visa reduzir os custos<br />

operacionais das empresas portuguesas. Este novo<br />

software é capaz de avaliar os dispositivos móveis,<br />

como baterias de telemóveis e as actividades online<br />

dos colaboradores.<br />

Rafael Mendes, CEO da Spring Smart Solutions em<br />

Portugal, mostra-se entusiasmado com a expansão,<br />

destacando a história e a localização estratégica do<br />

País. A empresa tem como objectivo ajudar as empresas<br />

locais a alcançar resultados semelhantes aos<br />

obtidos no Brasil, onde conquistou, em média, uma<br />

redução de 30% nos custos de telecomunicações<br />

ao longo de um ano.<br />

ESTE NOVO SOFTWARE<br />

É CAPAZ DE AVALIAR<br />

OS DISPOSITIVOS MÓVEIS,<br />

COMO BATERIAS<br />

DE TELEMÓVEIS E<br />

AS ACTIVIDADES ONLINE<br />

DOS COLABORADORES<br />

08 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


INDRA REGISTA<br />

CRESCIMENTO<br />

NO LUCRO LÍQUIDO<br />

EM 2023<br />

O crescimento corresponde<br />

a 26% no lucro líquido em<br />

comparação com o mesmo período<br />

de 2022.<br />

Este crescimento do lucro líquido totaliza<br />

146 milhões de euros. Durante esse período,<br />

a empresa também registou um aumento<br />

de 12% nas receitas, com destaque para o<br />

crescimento na área da Defesa durante o<br />

terceiro trimestre.<br />

O lucro líquido por acção aumentou 26%,<br />

o que contribuiu para o sólido desempenho<br />

financeiro da empresa. Os resultados<br />

financeiros também destacaram o aumento<br />

de 12% no EBIT, registado nos primeiros nove<br />

meses de 2023 em comparação com o mesmo<br />

período no ano anterior.<br />

Além disso, a carteira de encomendas e a<br />

entrada de encomendas cresceram a taxas de<br />

dois dígitos, com a carteira de encomendas<br />

atingindo máximos históricos. Os dados<br />

reflectem o desempenho positivo da divisão<br />

Minsait, que registou um aumento de 11%<br />

nas receitas.<br />

UNICRE LANÇA SOLUÇÃO<br />

DE PAGAMENTO<br />

INOVADORA<br />

A empresa promete revolucionar o sector de vendas de<br />

produtos e serviços em Portugal, após anunciar um sistema<br />

de pagamento parcelado directamente nos terminais<br />

de pagamento automático.<br />

E<br />

m colaboração com a Parcela Já, a<br />

UNICRE lançou uma inovadora<br />

solução para diversos sectores,<br />

incluindo hotéis, oficinas, farmácias,<br />

clínicas e veterinários. Esta novidade<br />

permite aos consumidores parcelarem<br />

o pagamento das suas compras directamente nos<br />

Terminais de Pagamento Automático (TPA), utilizando<br />

os cartões de crédito ou débito.<br />

A UNICRE procura impulsionar a digitalização<br />

dos processos de pagamento de negócios e oferecer<br />

um método conveniente para as famílias efectuarem<br />

pagamentos parcelados em lojas físicas com os seus<br />

10 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


cartões. A introdução da solução “compre<br />

agora, pague depois” representa uma<br />

tendência global no sector de vendas e<br />

serviços e tem o potencial de revolucionar os<br />

métodos de pagamento em Portugal.<br />

A partir de agora, os consumidores vão<br />

poder dividir o pagamento das suas compras<br />

entre duas a seis prestações mensais, sem a<br />

incidência de juros, directamente nas lojas.<br />

Para usufruir desta opção, os vendedores de<br />

retalho vão ser obrigados a ter o terminal<br />

REDUNIQ Smart à disposição, permitindo<br />

que os clientes escolham o número de<br />

parcelas desejadas, com uma prestação<br />

mínima de vinte euros.<br />

A UNICRE PROCURA<br />

IMPULSIONAR A DIGITALIZAÇÃO<br />

DOS PROCESSOS DE<br />

PAGAMENTO DE NEGÓCIOS<br />

E OFERECER UM MÉTODO<br />

CONVENIENTE PARA<br />

AS FAMÍLIAS<br />

PROSEGUR CRYPTO REFORÇA<br />

PRESENÇA NA AMÉRICA LATINA<br />

A empresa conta com uma tecnologia avançada de<br />

armazenamento, que garante níveis de segurança sem<br />

precedentes no sector de criptoactivos.<br />

Com o anúncio da criação de um<br />

segundo bunker de custódia de<br />

activos digitais no Brasil, a Prosegur<br />

Crypto consolida a sua presença no<br />

segmento de tutela institucional e<br />

procura ampliar a sua influência em<br />

toda a América Latina, bem como<br />

controlar 50% das operações globais<br />

da empresa.<br />

O bunker oferece tecnologia de<br />

armazenamento a frio patenteada,<br />

garantindo níveis de segurança<br />

inigualáveis de criptoactivos.<br />

«Este novo crypto bunker representa<br />

um marco significativo para a<br />

nossa empresa, expandindo a oferta<br />

de custódia de activos digitais para a<br />

América Latina, com a mesma excelência<br />

e especialização do nosso serviço de<br />

custódia convencional», explica José<br />

Ángel Fernández, executive chairman da<br />

Prosegur Crypto e director corporativo de<br />

Inovação da Prosegur Cash.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 11


DIGITAL<br />

A EXPERIÊNCIA<br />

DO CLIENTE<br />

COMO VANTAGEM<br />

COMPETITIVA<br />

Na economia digital, o novo modelo de relação<br />

entre empresas e clientes está centrado nas<br />

experiências personalizadas.<br />

POR ANTÓNIO SARMENTO<br />

A<br />

jornada do cliente exige um reforço da gestão da estratégia omnicanal<br />

e da personalização. Em ambos os casos, o futuro passará<br />

pela inteligência artificial, quer no que respeita à implementação<br />

de novas formas de interacção, como é o caso de chatbots,<br />

como também na personalização do conteúdo ou até na sua capacidade<br />

predictiva. Actualmente, com recurso à Inteligência Artificial e Machine<br />

Learning é possível compreender hábitos e padrões de consumo, conhecer os comportamentos<br />

e preferências do consumidor e, ainda, prever quando esse cliente<br />

terá necessidade de adquirir um determinado produto ou serviço.<br />

Na economia digital, o novo modelo de relação entre empresas e clientes está<br />

centrado nas experiências personalizadas. As empresas irão tirar partido de tecnologias<br />

como a inteligência artificial (IA), dispositivos conectados (ex. IoT), serviços<br />

omnipresentes e uma base subjacente de confiança para entenderem as necessidades<br />

dos seus clientes e satisfazê-las de forma dinâmica. Este tipo de relações<br />

cria um ciclo de feedback contínuo sobre as experiências dos clientes, ou seja, os<br />

clientes têm uma experiência, o feedback é recolhido e analisado e as experiências<br />

seguintes são ajustadas para fornecer o maior valor ao cliente e à marca. A IDC<br />

prevê que, até 2023, 40% dos dados recolhidos ao longo da jornada do cliente serão<br />

utilizados para fornecer uma experiência contínua contextualmente relevante,<br />

orientada para o comportamento e mais empática.<br />

De acordo com a mesma consultora, as organizações B2B e B2C estarão cada<br />

vez mais focadas na recolha de dados dos clientes para que possam construir um<br />

relacionamento directo com o cliente, incluindo produtores e fabricantes, que terão<br />

acesso crescente aos clientes através dos marketplaces online. Como resultado,<br />

as marcas que sejam capazes de utilizar os dados e tecnologias para fornecerem<br />

experiências de cliente mais personalizadas<br />

e contextualizadas terão um acesso cada<br />

vez mais abrangente e contínuo aos dados<br />

dos clientes e consequentemente a capacidade<br />

de desenvolver um relacionamento<br />

cada vez mais profundo com o cliente, criar<br />

e melhorar os seus produtos e desenvolver<br />

novos modelos de negócios.<br />

Até 2025, 30% dos consumidores irão<br />

entrar na economia de “continuous customer”,<br />

conectando vários dispositivos e<br />

mecanismos de pagamento aos mercados<br />

digitais para receberem produtos e serviços<br />

num ambiente automatizado e orientado<br />

por dados, sem a necessidade de aprovações<br />

constantes. Para os fornecedores, o<br />

fluxo constante de dados e a comunicação<br />

bilateral irão permitir um marketing de<br />

precisão e novos modelos de preços e receita,<br />

garantindo maior consistência.<br />

«Os decisores de topo reconhecem que,<br />

em determinado momento, as transformações<br />

devem ser substituídas por uma meta<br />

maior e mais significativa a longo prazo, ou<br />

seja, por negócios digitais», afirmou Gabriel<br />

Coimbra, country manager da IDC<br />

Portugal, no evento IDC Directions 2023,<br />

referindo que «a transformação digital cria<br />

soluções que permitem transformar o negócio,<br />

criar novos modelos de negócios baseados<br />

na utilização de tecnologias digitais,<br />

que utilizam o digital e que vão permitir<br />

12 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


DIGITAL<br />

10 PREVISÕES<br />

para o futuro da experiência do cliente<br />

melhorar ao nível dos processos internos e<br />

externos, bem como a experiência do utilizador<br />

e a relação com clientes, cidadãos,<br />

fornecedores e parceiros». Estas soluções<br />

tecnológicas «vão ajudar na forma como as<br />

organizações atraem, gerem e retêm colaboradores<br />

e, claro, como desenvolvem os<br />

seus produtos, serviços e experiências».<br />

Este ano, o sector vai crescer 0,8% em<br />

Portugal, sendo que esta diminuição do<br />

investimento se deve a três factores, entre<br />

eles «ajuste do mercado após crescimentos<br />

de 17,8% e 4,4% em 2021 e 2022 (efeito<br />

Covid)» e «diminuição das vendas de<br />

PC e smartphones em 2023». Segundo o<br />

responsável, entre 2020 e 2021, essencial-<br />

ATÉ 2025, 30% DOS<br />

CONSUMIDORES IRÃO<br />

ENTRAR NA ECONOMIA DE<br />

“CONTINUOUS CUSTOMER”,<br />

CONECTANDO VÁRIOS<br />

DISPOSITIVOS<br />

E MECANISMOS<br />

DE PAGAMENTO AOS<br />

MERCADOS DIGITAIS<br />

PREVISÃO 1<br />

Até 2027, um quarto das marcas globais abandonará<br />

o CSAT (Customer Satisfaction Score) como<br />

uma medida da experiência do cliente e adoptará<br />

uma pontuação de esforço do cliente correlacionada<br />

aos resultados, como um indicador-chave<br />

de satisfação e sucesso da jornada.<br />

PREVISÃO 2<br />

Até 2024, 50% do G2000 adoptará as<br />

plataformas de dados do cliente (CDP) como<br />

o serviço de dados do cliente corporativo para<br />

interacções com o cliente em tempo real, como<br />

um sistema nervoso central, aumentando as<br />

métricas de CX e a receita em 5%.<br />

PREVISÃO 3<br />

Para promover a lealdade e uma vantagem competitiva,<br />

64% do Global 2000 possuirá comunidades<br />

online até 2027 e as principais integrações<br />

de aplicativos de TI permitirão uma nova onda de<br />

colaboração e insights baseados em resultados.<br />

PREVISÃO 4<br />

Até 2026, 40% do G2000 incorporará iniciativas<br />

de experiência do funcionário (EX) nas suas<br />

principais estratégias de CX para competir em<br />

CX, aquisição de talentos e retenção, mas terá<br />

dificuldade para medir EX+CX.<br />

PREVISÃO 5<br />

A adopção de tecnologias Web3 levará 45%<br />

das marcas globais a criar novas experiências<br />

imersivas, conteúdo acessível e comunidades<br />

colaborativas e aumentar a economia do criador<br />

mente, registou-se um ciclo de renovação<br />

de hardware e software, não só ao nível dos<br />

consumidores como das empresas. «Nessa<br />

altura passámos de um modelo de trabalho<br />

90% presencial para 95% remoto, o que levou<br />

as empresas a criar condições para os<br />

seus colaboradores trabalharem de casa,<br />

bem como aos consumidores que, no caso<br />

dos alunos, tiveram de arranjar dispositivos<br />

para ter aulas em casa», referiu.<br />

A transformação digital exige que o governance<br />

seja cuidadosamente concebido<br />

para resolver várias dúvidas. A primeira é a<br />

de CX em um mercado de 300 mil milhões de<br />

dólares até 2024.<br />

PREVISÃO 6<br />

Até 2026, 45% do Global 2000 usará IA/ML para<br />

elevar o contexto e levar os clientes a experiências<br />

novas e desconhecidas que melhoram<br />

simultaneamente as métricas de sentimento e o<br />

potencial de “upselling” da marca.<br />

PREVISÃO 7<br />

Até 2024, pelo menos 30% das organizações<br />

introduzirão novas métricas de sucesso para<br />

rastrear e medir os fluxos internos e externos de<br />

criação de valor para o cliente.<br />

PREVISÃO 8<br />

Até 2025, 50% dos clientes corporativos G2000<br />

seleccionarão principalmente o seu provedor de<br />

plataforma CX com base na eficácia dos serviços<br />

de sucesso do cliente do fornecedor.<br />

PREVISÃO 9<br />

Até 2024, 30% das organizações serão forçadas<br />

a expandir a experiência de dados e as medidas<br />

de privacidade para mitigar os riscos de<br />

violações de dados causadas por parceiros do<br />

ecossistema, custando 4,6 milhões de dólares<br />

por violação.<br />

PREVISÃO 10<br />

Até 2026, 40% das empresas G2000 construirão<br />

comunidades seguras para promover protecções<br />

interpessoais para futuras plataformas Metaversas<br />

– e colectar dados primários.<br />

supervisão. Quem aprova os novos projectos?<br />

A quem é que eles reportam? E quem<br />

os encerra? A seguir é o financiamento.<br />

Como atribuir recursos a um portefólio<br />

de projectos para maximizar as oportunidades<br />

de sucesso? Igualmente importantes<br />

são as pessoas. Quem trabalhará nas novas<br />

iniciativas, dentro ou fora da sua organização?<br />

Como serão formadas as equipas com<br />

a combinação certa de competências? O<br />

governance também deve incluir métricas.<br />

Como será o progresso dos novos empreendimentos<br />

avaliado? E, crucialmente, como<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 13


DIGITAL<br />

pode disciplinar o encerramento regular de<br />

projectos, uma prática frequentemente negligenciada<br />

nas grandes empresas?<br />

David L. Rogers, director do corpo docente<br />

dos programas de Educação Executiva<br />

da Columbia Business School e autor do<br />

artigo “The Digital Transformation Roadmap”,<br />

referiu que o governance da inovação<br />

exige três bases principais: (1) As equipas<br />

devem ser capacitadas para agir rapidamente<br />

e experimentar, de modo a descobrirem<br />

o que funciona no mercado; (2) as<br />

administrações devem ter poderes para supervisionar<br />

e aconselhar os portefólios das<br />

equipas, alocando recursos onde for mais<br />

necessário; e (3) ambos devem seguir processos<br />

regulares para dar luz verde a novos<br />

empreendimentos, financiá-los interactivamente,<br />

e encerrá-los para libertar recursos<br />

para a próxima oportunidade emergente.<br />

Com o governance certo em vigor,<br />

empresas estabelecidas de todos os tipos<br />

podem desbloquear o potencial dos seus<br />

próprios colaboradores para impulsionar a<br />

transformação e o crescimento em todos os<br />

níveis dos seus negócios.<br />

A IDC estima que, em 2024, as empresas<br />

que se vão destacar são aquelas que<br />

demonstraram capacidade em inovar por<br />

meio da tecnologia para superar as mais<br />

diversas crises, conforme aponta o estudo<br />

“IDC FutureScape: Worldwide Future<br />

of Digital Innovation 2023 Top 10 Predictions”.<br />

A consultora sublinha que as crises<br />

globais, incluindo a inflação, a ameaça de<br />

recessão, os constrangimentos da cadeia de<br />

abastecimento, o aumento dos custos dos<br />

combustíveis e a guerra estão a tirar o sono<br />

aos executivos. Para muitos, a reacção é<br />

jogar pelo seguro: cortar, reduzir os custos<br />

tanto quanto possível e investir apenas em<br />

empresas ou negócios com baixo risco. No<br />

entanto, dependendo do sector e da crise<br />

que afecta, jogar pelo seguro pode ser mais<br />

arriscado do que investir em algo novo.<br />

Gabriel Coimbra relembra empresas<br />

como a Uber, a Airbnb e a Groupon, que<br />

OS BANCOS DEVERÃO OPTAR<br />

POR MODELOS BASEADOS<br />

EM PLATAFORMAS,<br />

PARA IMPULSIONAREM<br />

O CRESCIMENTO<br />

E A INOVAÇÃO<br />

surgiram na altura da recessão de 2008,<br />

utilizando tecnologias digitais inovadoras<br />

para agitar os mercados. «As empresas<br />

devem planear a utilização de tecnologias<br />

digitais para responder às necessidades dos<br />

clientes, que estão a mudar devido às crises<br />

mundiais. Sabemos que a inflação e as<br />

restrições da cadeia de abastecimento, p.e.,<br />

afectam o status quo, o que significa que as<br />

organizações têm de mudar ou correm o<br />

risco de declínio.»<br />

A IDC defende que as empresas estão<br />

a passar de uma estratégia de investimento<br />

em tecnologia centrada na transformação<br />

digital para uma estratégia focada na gestão<br />

do negócio digital. Logo, um factor importante<br />

do negócio digital será a capacidade<br />

de inovar através do desenvolvimento de<br />

tecnologia diferenciadora e disruptiva. As<br />

organizações de TI estão mais pressionadas<br />

do que nunca para aumentar a eficiência, a<br />

fim de dedicar o máximo de tempo e recursos<br />

à inovação.<br />

“Obter o máximo valor comercial da<br />

inovação digital requer normalmente<br />

mudanças significativas nos modelos de<br />

negócio. Os líderes de TI terão, cada vez<br />

mais, de compreender o negócio – incluindo<br />

o impacto de qualquer uma das<br />

crises globais – e fornecer ao negócio soluções<br />

inovadoras que produzam resultados<br />

estratégicos”, refere o estudo da IDC<br />

citado anteriormente.<br />

A pandemia de Covid-19 demonstrou<br />

o quão poderosa pode ser a tecnologia digital<br />

e a inovação para proporcionar resiliência,<br />

receitas e oportunidades para uma<br />

empresa face a uma crise. O resultado é o<br />

surgimento de uma divisão entre as organizações<br />

que são capazes de escalar o desenvolvimento<br />

e a entrega de inovação digital<br />

e as que não conseguem. As previsões da<br />

IDC para o futuro da inovação digital reflectem<br />

esta divisão, com as empresas que<br />

fornecem inovação digital a emergir como<br />

líderes nos seus sectores de mercado.<br />

Banca e seguros<br />

Os dados de um estudo do World Retail<br />

Banking Report (WRBR) revelam que<br />

os bancos de retalho estão a ser pressionados<br />

para se transformarem à medida que os<br />

novos operadores – focados na experiência<br />

do cliente – estão a ganhar terreno. O estudo<br />

mostra que os bancos que utilizam as<br />

plataformas digitais consideram que é duas<br />

vezes mais fácil aumentar os resultados<br />

operacionais, desbloquear novas fontes de<br />

receita e melhorar os níveis de eficiência<br />

operacional. Além disso, revelam que está<br />

em curso uma transformação histórica no<br />

sector financeiro a nível mundial, impulsionada<br />

pelos novos players nativos digitais e<br />

não tradicionais que, graças à sua agilidade<br />

e ao facto de colocarem a experiência<br />

do cliente no centro do negócio, estão a<br />

ganhar quota de mercado e a redefinir as<br />

regras que estavam estabelecidas no sector.<br />

Os dados sugerem ainda que os bancos<br />

deverão optar por modelos baseados em<br />

plataformas para impulsionarem o crescimento<br />

e a inovação de que precisam para<br />

continuarem a ser relevantes e competitivos,<br />

e que a adopção do OpenX será crítica<br />

para serem bem-sucedidos no longo prazo.<br />

“Os consumidores esperam que os bancos<br />

lhes proporcionem uma experiência digital<br />

14 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


DIGITAL<br />

transparente e semelhante àquela a que estão<br />

habituados a ter com as BigTechs noutras<br />

áreas. Os bancos tradicionais estão a ser<br />

desafiados a responder a estas expectativas,<br />

dado que os novos operadores nativos digitais<br />

se focam na experiência do cliente desde<br />

o início”, continua o estudo, “os bancos<br />

que investirem agora na modernização da<br />

sua tecnologia de base e que a façam evoluir<br />

para uma experiência semelhante à das<br />

plataformas irão satisfazer mais e melhor os<br />

seus clientes e, consequentemente, os seus<br />

negócios serão mais rentáveis. A Covid-19<br />

colocou o foco na experiência da banca digital.<br />

A modernização dos sistemas legados<br />

deve ser uma prioridade para os bancos que<br />

queiram acelerar o seu crescimento, sobretudo<br />

tendo em atenção que as expectativas<br />

dos clientes continuam a aumentar. E aqueles<br />

que negligenciarem este aspecto arriscam-se<br />

a perder relevância”.<br />

Já o sector segurador foi considerado<br />

líder na experiência do cliente, no con-<br />

junto dos sectores analisados pelo estudo<br />

Best European Customer Experience 2021<br />

(BECX) – actualização mais abrangente do<br />

European Customer Satisfaction Index. Ao<br />

longo dos últimos anos, o sector tem vindo<br />

a melhorar a sua posição neste ranking, demonstrando<br />

a capacidade de resposta aos<br />

seus clientes, cidadãos e empresas, em tempos<br />

muito difíceis para todos.<br />

Para José Galamba de Oliveira, presidente<br />

da APS – Associação Portuguesa de<br />

Seguradores, «este reconhecimento é reflexo<br />

de um trabalho de aproximação aos<br />

clientes, que tem sido desenvolvido pelas<br />

seguradoras, no sentido de compreender<br />

quais as suas necessidades e como os podem<br />

apoiar, e que é cada vez mais reconhecido<br />

e valorizado pelo público. Este<br />

trabalho tem, no entanto, de ser constante,<br />

para que as pessoas e as empresas<br />

sintam que o seguro é, de facto, uma rede<br />

de segurança cada vez mais relevante na<br />

sua vida».<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 15


MERCADOS<br />

NO HORIZONTE FINANCEIRO<br />

O QUE ESPERAR<br />

DAS BOLSAS MUNDIAIS<br />

EM 2024?<br />

À medida que nos<br />

aproximamos do final<br />

do ano, os investidores<br />

olham com atenção<br />

para as bolsas mundiais<br />

e começam a tentar<br />

desvendar o que 2024<br />

pode reservar.<br />

POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />

N<br />

um mundo financeiro que nunca descansa, as perspectivas<br />

para as bolsas mundiais são um mar de incertezas, ainda mais<br />

quando navegamos numa época marcada por uma elevada<br />

inflação, altas taxas de juro e um cenário geopolítico mundial<br />

bastante adverso.<br />

A Risco falou com diversos especialistas para perceber quais as tendências económicas<br />

para o próximo ano, o que esperar das bolsas mundiais em 2024, e como<br />

podem e devem os investidores actuar num mercado marcado pela volatilidade.<br />

Tendências económicas<br />

Em declarações à Risco, Stefan Hofrichter, economista-chefe da Allianz Global<br />

Investors (AllianzGI), explica que as perspectivas económicas são para crescimento<br />

em 2024, no entanto, alerta, esperam uma recessão nos EUA e na Europa a partir do<br />

primeiro semestre de 2024, o que deverá ser um obstáculo para os activos de risco.<br />

16 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


MERCADOS<br />

No que respeita às políticas monetárias,<br />

uma paragem nos ciclos de subida das<br />

taxas do banco central deve ser um bom<br />

presságio para os retornos das obrigações<br />

soberanas no futuro.<br />

«Ainda assim, existem riscos ascendentes<br />

para os rendimentos das obrigações<br />

a curto prazo. Os rendimentos dos títulos<br />

podem não cair tanto, mesmo quando uma<br />

recessão se materializa, devido aos factores<br />

mencionados acima», explica.<br />

Já Henrique Tomé, analista financeiro<br />

da XTB, sublinha que as projecções económicas<br />

para a produção mundial apontam<br />

para uma desaceleração da economia<br />

no próximo ano e as revisões em baixa por<br />

parte das grandes instituições têm sido<br />

constantes, pois a inflação alta resiste no<br />

contexto económico e tem sido a grande<br />

dor de cabeça para os bancos centrais em<br />

toda a parte do globo.<br />

«Assim, a expectativa para que as taxas<br />

de juro fiquem altas por mais tempo tem<br />

sido o cenário mais provável», sublinha.<br />

O especialista aponta ainda que o crescimento<br />

económico na China também tem<br />

levantado algumas dúvidas, pois um forte<br />

arrefecimento da segunda maior economia<br />

do mundo terá impacto directo em todas as<br />

economias desenvolvidas.<br />

Para além disso, as tensões geopolíticas<br />

com o conflito na Ucrânia e a guerra no Médio<br />

Oriente podem continuar a impactar o<br />

preço do petróleo e da alimentação. Segundo<br />

o FMI, se os conflitos se intensificarem<br />

na zona do Médio Oriente, uma escalada<br />

no preço em 10% no petróleo terá impacto<br />

em um decréscimo de 0,2% no PIB mundial<br />

e um aumento inflacionário de 0,4%.<br />

Na Zona Euro, as projecções apontam<br />

para um crescimento modesto de 0,7%<br />

em 2023 e 1,2% em 2024, com os números<br />

mais fracos da produção industrial alemã,<br />

francesa e italiana. «Posto isto, o momento<br />

mais complicado será a partir de Fevereiro<br />

e até Abril do próximo ano. Caso os indicadores<br />

macroeconómicos melhorem, não<br />

haja falências de bancos e empresas importantes,<br />

uma descida gradual da inflação,<br />

com o preço do petróleo estável, poderemos<br />

ver a economia a voltar a levantar-se<br />

de forma progressiva na segunda metade<br />

de 2024», explica.<br />

Já no que respeita às bolsas, a tendência<br />

altista tem perdurado e é provável que continue,<br />

mas com um ritmo mais lento do que<br />

temos visto até agora, assumindo que nada<br />

de novo estrutural acontece.<br />

Ricardo Evangelista, director executivo<br />

da ActivTrades Europe, considera que<br />

«o foco dos investidores continuará na inflação<br />

e política monetária dos principais<br />

bancos centrais. A escala do abrandamento<br />

do crescimento económico, sobretudo<br />

na China, também será importante, bem<br />

como a evolução da tensão geopolítica<br />

global. Estes serão os factores-chave que<br />

UMA PARAGEM NOS CICLOS<br />

DE SUBIDA DAS TAXAS<br />

DO BANCO CENTRAL DEVE SER<br />

UM BOM PRESSÁGIO<br />

PARA OS RETORNOS<br />

DAS OBRIGAÇÕES<br />

SOBERANAS<br />

poderão agravar os riscos de uma recessão<br />

e afectar de forma adversa a performance<br />

das bolsas».<br />

O presidente da Maxyield, Carlos Rodrigues,<br />

sublinha cinco fenómenos relevantes<br />

que podem impactar as tendências<br />

económicas mundiais em 2024:<br />

• Graus de abrandamento económico<br />

a nível dos EUA, União Europeia e Rússia,<br />

cujas economias tenderão a crescer a taxas<br />

inferiores às de 2023;<br />

• Dificuldade de sustentabilidade dos<br />

níveis de crescimento recente da economia<br />

chinesa;<br />

• Fragilização do processo de globalização<br />

económica com o reforço dos espaços<br />

regionais;<br />

• Debilidade económica nalguns mercados<br />

emergentes, designadamente na<br />

América do Sul;<br />

• Instabilidade dos mercados do petróleo<br />

e do gás e crescimento dos respectivos<br />

preços.<br />

Clima de investimento<br />

Em primeiro lugar, vamos aos números.<br />

Carlos Rodrigues continua a explicar<br />

que o índice S&P 500, composto pelas<br />

maiores 500 sociedades cotadas na NYSE,<br />

após uma diminuição de -19,4% em 2022,<br />

entrou em Junho de 2023 na situação de<br />

bull market (aumento superior a 20% relativamente<br />

ao último mínimo), apresentando<br />

em 30 de Setembro um crescimento de<br />

19,6% relativamente ao último mínimo.<br />

O índice tecnológico americano NAS-<br />

DAQ, após uma diminuição de -33,1%<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 17


MERCADOS<br />

I BULL MARKET DOS MERCADOS EUROPEUS E NORTE-AMERICANO<br />

Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação dos respectivos índices.<br />

em 2022, entrou no mês de Maio em bull<br />

market, apresentando em 30 de Setembro,<br />

um crescimento de 28,1% relativamente ao<br />

último mínimo.<br />

Já o índice STOXX 600, que agrega as<br />

600 maiores sociedades cotadas europeias,<br />

após uma diminuição de -12,9% em 2022,<br />

entrou em bull market em Fevereiro de<br />

2023 e apresenta um aumento de 17,6% relativamente<br />

ao último mínimo.<br />

Conforme se verifica no quadro, os índices<br />

europeus e americanos apresentam,<br />

em 30 de Setembro, uma evolução anual e<br />

homóloga que favorece o clima expectável<br />

para 2024. Os mercados francês, alemão e<br />

espanhol apresentam um crescimento anual<br />

vibrante e uma robusta evolução homóloga.<br />

«Esta situação é explicada pelo facto do<br />

STOXX 600 e dos índices alemão DAX 30,<br />

francês CAC 40 e espanhol IBEX 35 terem<br />

entrado tecnicamente em bear market no<br />

final de Setembro de 2022 (queda superior<br />

a 20% relativamente ao último máximo)»,<br />

explica o presidente da Maxyield. Já os<br />

mercados francês, alemão e espanhol apresentam<br />

um «crescimento anual vibrante e<br />

uma robusta evolução homóloga».<br />

Os índices asiáticos, com excepção da<br />

China, apresentam em Setembro uma variação<br />

anual significativa.<br />

«As dificuldades da “bazuca” chinesa<br />

para acelerar o crescimento económico e<br />

comportamento do sector imobiliário ajudam<br />

a explicar o desempenho negativo do<br />

mercado chinês», explica.<br />

Neste cenário, o presidente da Maxyield<br />

considera importante sublinhar os seguintes<br />

pontos:<br />

• No limiar de 2024 podem-se destacar<br />

os títulos de menor volatilidade e risco,<br />

designadamente utilities, sector financeiro<br />

e sector tecnológico;<br />

• O segundo semestre deverá antecipar<br />

o efeito do início do ciclo de descida das<br />

I EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS<br />

ÍNDICES ASIÁTICOS<br />

Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação<br />

dos respectivos índices.<br />

(a) Variação relativamente a 31 de Dezembro de 2022.<br />

taxas de juro, através de maior dinamismo<br />

dos mercados, influenciados por maior entusiasmo<br />

dos investidores;<br />

• Neste contexto, as commodities e o<br />

sector tecnológico apresentam-se como<br />

sectores susceptíveis de alavancar os mercados,<br />

e perspectiva-se que o sector energético<br />

beneficie com a redução das taxas de<br />

juro (exposição ao financiamento alheio e<br />

exigências de investimento);<br />

• A perspectiva de regresso do crescimento<br />

económico no final de 2024, a níveis<br />

mais elevados, poderá antecipar valorizações<br />

no sector industrial;<br />

• Os sectores petrolífero e bancário<br />

incorporam riscos de volatilidade que não<br />

devem ser ignorados.<br />

Para já, os investidores em geral ainda<br />

estão a assumir uma “aterragem suave” e<br />

um suporte para activos de risco devido ao<br />

fim do ciclo de alta de juros. No entanto, se<br />

a recessão se revelar mais profunda do que<br />

o previsto até agora, os activos de risco enfrentarão<br />

alguns ventos contrários e maior<br />

volume antes de oferecer oportunidades<br />

de entrada, considera o economista-chefe<br />

da AllianzGI.<br />

«Aconselhamos ter uma carteira de<br />

acções equilibrada com referência a sectores:<br />

embora as acções de tecnologia provavelmente<br />

superem o desempenho a longo<br />

prazo, elas tiveram uma boa corrida nos últimos<br />

anos e agora parecem bastante precificadas»,<br />

sublinha.<br />

Já o analista financeiro da XTB considera<br />

que o próximo ano poderá ser aquele em<br />

que o sector da Inteligência Artificial (IA)<br />

vai explodir, prevendo-se que esta cresça<br />

exponencialmente até ao final da década.<br />

No entanto, alerta, apesar do seu elevado<br />

potencial de crescimento, é possível que<br />

a revolução da IA já esteja em curso.<br />

Henrique Tomé destaca que vimos provas<br />

disso no mercado de acções durante<br />

2023, com as acções do fabricante de chips<br />

Nvidia a valorizarem uns incríveis 228%.<br />

I EVOLUÇÃO MENSAL E ANUAL DOS PRINCIPAIS ÍNDICES EUROPEUS<br />

E NORTE-AMERICANOS EM 2023<br />

Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação dos respectivos índices.<br />

(a) Variação relativamente a 31 de Dezembro de 2022 (b) Variação relativamente a 30 de Setembro de 2022.<br />

18 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


MERCADOS<br />

SE A RECESSÃO SE<br />

REVELAR MAIS PROFUNDA<br />

DO QUE O PREVISTO<br />

ATÉ AGORA,<br />

OS ACTIVOS DE RISCO<br />

ENFRENTARÃO VENTOS<br />

CONTRÁRIOS<br />

Mas também as tecnológicas estão a reinventar-se,<br />

como, por exemplo, o grande<br />

impulso por parte da Apple, que anunciou<br />

estar a trabalhar em ferramentas de IA para<br />

desafiar os serviços da OpenAI, incluindo<br />

aquilo a que alguns chamam o seu próprio<br />

“Apple GPT”. Outros actores importantes<br />

incluem a Alphabet, a Microsoft e a Tesla,<br />

para citar alguns.<br />

«Em 2024 e nos próximos anos, à medida<br />

que milhares de milhões de euros<br />

de investimento são injectados no sector<br />

emergente, penso que surgirá uma série de<br />

oportunidades numa variedade de negócios»,<br />

destacou.<br />

Para além destas, salienta a aposta no<br />

sector tecnológico, nomeadamente a computação<br />

na nuvem, que é utilizada por uma<br />

vasta gama de organizações, desde pequenas<br />

empresas em fase de arranque até empresas<br />

multinacionais. Alguns especialistas<br />

prevêem que o sector cresça cerca de 20%<br />

ao ano até 2030.<br />

Outra área é a das fintech (tecnologia financeira).<br />

Desde bancos digitais a empresas<br />

de pagamentos, há uma série de empresas<br />

inovadoras que estão a conquistar quota de<br />

mercado aos bancos tradicionais. Os especialistas<br />

prevêem que as receitas globais das<br />

fintech aumentem seis vezes até 2030.<br />

Por outro lado, o director executivo da<br />

ActivTrades Europe, alerta que «os riscos<br />

de uma recessão têm vindo a crescer e o<br />

cenário pode agravar-se em 2024. Contra<br />

este pano de fundo, diria que os sectores<br />

com maior resiliência, como o do consumo<br />

discricionário e saúde, bem como os gran-<br />

O especialista também corrobora que<br />

os melhores indicadores avançam uma<br />

possível recessão nos EUA durante o primeiro<br />

trimestre de 2024, sublinhando que<br />

a actual discrepância entre os fracos dados<br />

da indústria transformadora e os fortes resultados<br />

dos serviços tem sido um sinal de<br />

alerta no passado.<br />

«E se realmente esta fraqueza económica<br />

se verificar e a inflação estabilizar,<br />

deverá abrir caminho para que os principais<br />

bancos centrais comecem a cortar as<br />

taxas de juro mais do que os investidores<br />

prevêem actualmente em 2024», sublinha.<br />

Outro risco para 2024 seria o escalar<br />

das tensões entre Israel e Palestina, o que<br />

poderá levar outros países a entrar no conflito<br />

e a provocarem ainda mais incerteza<br />

e volatilidade nos mercados financeiros.<br />

O petróleo seria uma das matérias-primas<br />

mais afectadas, com a dificuldade de exportação<br />

a levantar novos problemas acerca<br />

da oferta no mercado para todo mundo,<br />

elevando os preços dos combustíveis para<br />

os consumidores.<br />

«Existem diversos riscos à escala planetária,<br />

susceptíveis de gerar níveis de volatides<br />

nomes do sector tecnológico, poderão<br />

agregar bastante procura».<br />

Riscos<br />

«Os riscos de recessão mantêm-se no<br />

radar dos investidores. A queda do apetite<br />

pelo risco poderá ser um problema para as<br />

bolsas, com activos de refúgio, como o ouro<br />

e as obrigações, a poderem beneficiar»,<br />

continua Ricardo Evangelista.<br />

Para Stefan Hofrichter, os riscos para<br />

as bolsas mundiais no próximo ano podem<br />

estar na estabilidade/desestabilidade financeira,<br />

nomeadamente decorrentes de instituições<br />

financeiras não bancárias, devido<br />

às taxas elevadas, à alavancagem do sector<br />

privado e à queda dos preços reais da habitação.<br />

Segundo o especialista, historicamente,<br />

isto implicou riscos acrescidos para<br />

a estabilidade financeira.<br />

Também incorrem em riscos políticos,<br />

como é o caso de uma maior desglobalização<br />

e do isolacionismo dos EUA, se a vitória<br />

eleitoral de Trump for antecipada.<br />

«A médio prazo, as coisas parecem<br />

muito menos prometedoras para os investidores»,<br />

alerta Henrique Tomé.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 19


MERCADOS<br />

lidade elevada nos mercados internacionais<br />

ao longo do ano, conjugando fases de crescimento<br />

com algumas marés vermelhas»,<br />

alerta o presidente da Maxyield.<br />

Carlos Rodrigues destaca ainda que existe<br />

um importante leque de riscos geopolíticos<br />

resultantes de conflitos militares, designadamente<br />

Rússia-Ucrânia, situação no Médio<br />

Oriente, relação China-Formosa (Taiwan) e<br />

China com União Europeia e/ou EUA. Mas,<br />

«o principal desafio é a manutenção do bull<br />

market em que se encontram os principais<br />

mercados internacionais», destaca.<br />

PSI, a praça de Lisboa<br />

O PSI ultrapassou em 2022 a histórica<br />

periodicidade bianual de bear's market<br />

(2014, 2016, 2018, 2020) e a intermitência<br />

anual de variações positivas e negativas,<br />

como explica o presidente da Maxyield.<br />

No decurso de 2022 e 2023, o PSI manteve<br />

o seu bull market oscilando na faixa de<br />

variação [5750-6300], que constitui um referencial<br />

para níveis atingidos há sete anos,<br />

sendo previsível o fecho do ano de 2023 em<br />

torno do limite superior do intervalo referido,<br />

o chamado nível de resistência.<br />

Carlos Rodrigues acredita que o PSI deverá<br />

fechar o ano de 2023 com uma taxa<br />

de crescimento anual inferior às dos principais<br />

mercados internacionais, com excepção<br />

dos mercados chinês e emergentes.<br />

A Maxyield considera que a entrada<br />

na faixa de variação seguinte [6300-7750]<br />

insere-se nas perspectivas para 2024 e reporta-nos<br />

para níveis atingidos há 10 anos.<br />

«Esta visão está de acordo com a média<br />

dos price targets para as sociedades do universo<br />

empresarial do PSI, incorporando um<br />

potencial global de valorização de 31%»,<br />

explica, reportando ao quadro seguinte.<br />

A capitalização bolsista do PSI em<br />

2022 representou sensivelmente 31% do<br />

PIB, atingindo 76 mil milhões de euros, estimando-se<br />

que, no final de 2023, continue<br />

a representar este nível no final de 2023.<br />

Assim, «com base na média ponderada<br />

dos price targets obteríamos em 2024 uma<br />

capitalização bolsista de 93,5 mil milhões<br />

de euros, passando a representar 33,5% do<br />

PIB nominal (apurado com base no cenário<br />

macroeconómico incluído na proposta<br />

de OE 2024)».<br />

I EVOLUÇÃO DO PSI E COMPORTAMENTO NA FAIXA DE VARIAÇÃO<br />

5750-6300<br />

6 000<br />

4 000<br />

2 000<br />

2014<br />

Fonte: Elaborado por Maxyield.<br />

Os especialistas explicam ainda que o<br />

universo EDP e EDP Renováveis tem um<br />

peso de 19,8% no PSI, pelo que a recuperação<br />

do sector energético tem um impacto<br />

assinalável no índice.<br />

Já as retalhistas Sonae SGPS e Jerónimo<br />

Martins ocupam 19,8% do mercado e<br />

20,8% do PSI, e, no sector industrial, representado<br />

pela Semapa, Navigator, Altri,<br />

Corticeira Amorim e Mota-Engil, representam<br />

9,6% da capitalização bolsista e<br />

13,6% do PSI.<br />

O INVESTIMENTO<br />

SUSTENTÁVEL,<br />

DESIGNADAMENTE<br />

O ESG, VEM OCUPANDO UM<br />

ESPAÇO CRESCENTE NA<br />

AGENDA DO CORPORATE<br />

MANAGEMENT<br />

2016 2018 2020 2022<br />

Merece destaque o peso da Galp na capitalização<br />

bolsista, representando 15,6% e<br />

14,2% do PSI, e o BCP que, apesar da fraca<br />

importância na capitalização bolsista<br />

(5,8%), tem um peso relevante no PSI com<br />

o valor de 14,6%.<br />

O free float médio ponderado do universo<br />

PSI é de 42,1%, sendo que BCP, CTT,<br />

EDP, Galp e Jerónimo Martins se encontram<br />

acima deste valor, explicando o seu<br />

peso mais elevado no PSI.<br />

Henrique Tomé, analista financeiro<br />

da XTB, explica que, tendo em conta<br />

que a economia nacional se tem mostrado<br />

mais forte que a média da Zona Euro<br />

e o PSI tem estado com uma performance<br />

um pouco abaixo da dos principais índices<br />

como (DAX alemão), «acreditamos que a<br />

performance ficará um pouco abaixo dos<br />

índices de referência para o próximo ano,<br />

dado que as empresas nacionais não têm a<br />

mesma capacidade de crescimento que as<br />

as grandes empresas de Espanha, França<br />

e Alemanha».<br />

No que respeita à competitividade e<br />

carga fiscal, o especialista alerta que o próximo<br />

ano será aquele com a maior carga<br />

fiscal, o que claramente impacta a competitividade<br />

e aumento do salário mínimo, para<br />

além das contribuições extraordinárias por<br />

parte de algumas empresas.<br />

20 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


MERCADOS<br />

«Assim, a expectativa será para que a<br />

performance do índice nacional fique abaixo,<br />

mas não muito. Deste modo, imaginando<br />

que as performances destes índices<br />

atingem uma valorização média de 9% no<br />

próximo ano, o PSI poderia ficar junto dos<br />

7%», sublinha.<br />

Investimento sustentável<br />

O investimento sustentável, designadamente<br />

o ESG, vem ocupando um espaço<br />

crescente na agenda do corporate management,<br />

e é uma tendência que se vai manter.<br />

«As escolhas dos investidores e o comportamento<br />

das bolsas serão determinados<br />

pela capacidade de partilha dos desígnios<br />

de sustentabilidade empresarial com os interesses<br />

dos accionistas, assim como pela<br />

capacidade das companhias na libertação<br />

de resultados e meios financeiros», considera<br />

o presidente da Maxyield.<br />

A mesma opinião é partilhada pelo economista-chefe<br />

da AllianzGI, que sublinha<br />

que «esta tendência veio para ficar». No<br />

entanto, alerta, as implicações para o desempenho<br />

são menos claras, uma vez que<br />

os investidores ainda querem ter um desempenho<br />

superior.<br />

«É impossível derivar expectativas de<br />

retorno com base em considerações ASG<br />

O PSI DEVERÁ FECHAR O ANO<br />

DE 2023 COM UMA TAXA<br />

DE CRESCIMENTO ANUAL<br />

INFERIOR ÀS DOS<br />

PRINCIPAIS<br />

MERCADOS<br />

INTERNACIONAIS<br />

apenas para um horizonte de investimento<br />

de um ano», clarifica.<br />

Já Henrique Tomé sublinha um dado<br />

importante: «Se olharmos para o mercado,<br />

as empresas com menor rating no ESG têm<br />

uma maior dificuldade de financiamento,<br />

portanto a yield paga pela emissão das obrigações<br />

tende a ser superior.»<br />

O especialista explica ainda que, a nível<br />

dos investidores, a preocupação em<br />

torno da sustentabilidade também se tem<br />

estendido aos mercados de capitais. Neste<br />

caso, os fluxos de capital poderão começar<br />

a tender mais para empresas com maior<br />

I POSICIONAMENTO DE MERCADO DO UNIVERSO EMPRESARIAL PSI<br />

Fonte: Maxyield.<br />

(a) Marketscreener (13-Out).<br />

1 – No cálculo do Price book value considerou-se a cotação média semestral com base nos valores de início e fim do período.<br />

2 – No cálculo do valor contabilístico da acção considerou-se a média do capital próprio entre o início e fim de cada semestre.<br />

classificação ESG, em sentido oposto, as<br />

empresas com menor score ESG poderão<br />

ser impactadas negativamente, uma vez<br />

que este tipo de empresas não é atractivo<br />

para os investidores que investem de forma<br />

responsável.<br />

Conselhos para investidores<br />

O analista financeiro da XTB continua<br />

a analisar os mercados para 2024, e deixa<br />

alguns conselhos para os investidores: «Em<br />

relação à volatilidade, espera-se que 2024<br />

seja um ano menos volátil, não tão atribulado<br />

como estes anteriores. Contudo, não<br />

devemos esquecer que as tensões geopolíticas<br />

podem escalar de tal modo que provoquem<br />

uma volatilidade agressiva nos<br />

mercados, por isso é importante manter<br />

um portefólio diversificado por sectores e<br />

classes de activos.»<br />

Carlos Rodrigues destaca a importância<br />

de diversificação das carteiras, para<br />

minimizar perigos inerentes aos mercados<br />

bolsistas, através da combinação de activos<br />

com diferentes níveis de risco.<br />

No entanto, alerta que «é importante<br />

ter em conta que em torno da tendência<br />

altista perspectivada, vão ocorrer flutuações<br />

de forma diferenciada, face aos diferentes<br />

níveis de volatilidade dos títulos e<br />

conjuntura sectorial, pelo que o sentimento<br />

optimista deve ser acompanhado de atitudes<br />

racionais».<br />

O presidente da Maxyield recomenda<br />

ainda que os investidores evitem vendas<br />

em condições precárias, nas situações de<br />

sell off, que ocorrem em ciclos de crescimento<br />

das cotações, para salvaguarda do<br />

valor dos investimentos e aplicações.<br />

Ricardo Evangelista, director executivo<br />

da ActivTrades Europe, partilha da mesma<br />

opinião, e aconselha a «ter um portefólio<br />

diversificado, que inclui activos de maior<br />

risco, como as acções, sem instrumentos<br />

mais defensivos, tais como o ouro e<br />

as obrigações».<br />

À medida que viramos a página para o<br />

próximo ano, os mercados bolsistas apresentam-se<br />

como um vasto campo de possibilidades.<br />

Os especialistas esperam que<br />

cada movimento seja guiado pela prudência,<br />

e que a tendência seja de alta para benefício<br />

da economia mundial.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 21


ENTREVISTA<br />

«ESTAMOS A REDOBRAR<br />

O USO DA CIÊNCIA DE DADOS E<br />

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA<br />

DETECTAR FRAUDES»<br />

Num mundo cada vez mais digitalizado, onde<br />

a evolução das tecnologias no sector financeiro<br />

avança a um ritmo vertiginoso, para dar resposta às<br />

necessidades dos clientes, surgem também desafios<br />

cruciais na segurança financeira.<br />

POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />

E<br />

m entrevista à Risco, Aaron Elliot-Gross, director de Fraude e Criminalidade<br />

Financeira na Revolut, explicou como a fintech faz a<br />

gestão das fraudes, as estratégias e tecnologias utilizadas, analisando<br />

também a literacia digital dos portugueses. Aaron Elliot-Gross<br />

lidera as equipas de defesa de primeira linha da empresa, responsáveis<br />

pela construção e operação de modelos, sistemas e controlos<br />

para prevenir e detectar crimes e fraudes financeiras em todo o mundo.<br />

Que desafios específicos enfrenta a Revolut ao lidar com as crescentes ameaças<br />

de fraude no sector financeiro?<br />

A fraude cresceu exponencialmente na última década, à medida que a velocidade<br />

dos pagamentos acelerou e que a nossa vida quotidiana passou a estar cada<br />

vez mais online.<br />

Nos últimos anos, o crescimento tem ocorrido principalmente no âmbito da<br />

fraude autorizada, mais conhecida como “scams”, em que as vítimas da mesma são<br />

convencidas pelos criminosos a efectuar pagamentos totalmente autorizados por<br />

elas. Por exemplo, os criminosos muitas vezes visam clientes com falsas oportunidades<br />

de investimento, que prometem taxas de retorno enormes e irrealistas.<br />

Os nossos desafios específicos incluem garantir que estamos um passo à frente<br />

da evolução das tácticas de fraude, fazer a gestão da segurança do utilizador num<br />

ambiente em rápida mudança e garantir que os fundos e dados dos nossos clientes<br />

estão protegidos, mantendo ao mesmo tempo a experiência de utilizador perfeita.<br />

Mais recentemente, vimos uma mudança na forma como os burlões roubam<br />

dinheiro das pessoas. Devido à crescente sofisticação das tecnologias contra fraudes,<br />

os criminosos estão a recorrer a esquemas que envolvem engenharia social, a<br />

fim de convencer as suas vítimas a efectuarem<br />

pagamentos.<br />

Como evoluiu a tecnologia para ajudar<br />

na detecção precoce e na prevenção de<br />

fraudes financeiras?<br />

A tecnologia é uma ferramenta fundamental<br />

para nós na luta contra a fraude. Na<br />

Revolut, utilizamos algoritmos avançados<br />

de aprendizagem automática, Inteligência<br />

Artificial e análise de dados para detectar<br />

transacções suspeitas em tempo real. Estas<br />

tecnologias ajudam-nos a identificar<br />

padrões, anomalias e riscos potenciais,<br />

permitindo-nos responder rapidamente e<br />

proteger os nossos clientes.<br />

Que medidas proactivas as fintechs<br />

devem tomar para garantir a segurança<br />

das transacções financeiras?<br />

Todas as instituições financeiras devem<br />

adoptar uma abordagem de segurança<br />

em vários níveis.<br />

Na Revolut, a nossa abordagem baseia-<br />

-se em três pilares fundamentais que fun-<br />

22 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


ENTREVISTA<br />

cionam em conjunto: segurança robusta,<br />

detecção precisa de fraudes e intervenções<br />

eficazes no cliente. Por exemplo, os nossos<br />

fluxos de aviso de pagamento são projectados<br />

para detectar com rapidez e precisão<br />

quando um cliente pode estar a realizar um<br />

pagamento fora do comum, e reagir rapidamente<br />

para o avisar e esclarecer antes que<br />

ele prossiga com o pagamento.<br />

Como abordam a educação financeira<br />

dos clientes em relação à segurança e à<br />

prevenção de fraudes?<br />

A Revolut está empenhada em educar<br />

os nossos clientes sobre as formas de<br />

se protegerem contra a crescente ameaça<br />

de fraudes. Fornecemos recursos educacionais,<br />

artigos e notificações na app para<br />

manter os utilizadores informados sobre<br />

os potenciais riscos. Mais recentemente,<br />

lançámos um curso educacional gratuito<br />

na app chamado “Fraud Learn”, que oferece<br />

uma forma interactiva de aprender sobre<br />

esquemas comuns e a forma como os<br />

clientes podem proteger-se.<br />

Aaron<br />

Elliot-Gross,<br />

director de Fraude<br />

e Criminalidade<br />

Financeira na<br />

Revolut<br />

A TECNOLOGIA<br />

É UMA FERRAMENTA<br />

FUNDAMENTAL NA LUTA<br />

CONTRA A FRAUDE<br />

Em que consiste o curso educativo<br />

da Revolut para ajudar os clientes a<br />

combater a fraude?<br />

O nosso curso educacional cobre uma<br />

variedade de tópicos, incluindo como reconhecer<br />

tentativas comuns de fraude,<br />

práticas bancárias online seguras, configuração<br />

de senhas fortes e uso de autenticação<br />

de dois factores.<br />

Enfatizamos, também, a importância<br />

de analisar regularmente as transacções e<br />

reportar qualquer actividade suspeita.<br />

Como analisa a literacia dos<br />

portugueses nesta matéria?<br />

A Revolut avalia activamente o conhecimento<br />

e a literacia dos nossos clientes<br />

portugueses, através de inquéritos, feedback<br />

e interacções.<br />

Usamos depois esses dados para adaptar<br />

os nossos materiais educacionais e<br />

recursos de segurança para poder dar<br />

resposta às necessidades e preocupações<br />

específicas. Por exemplo, de acordo com<br />

dados de um inquérito recente da Revolut<br />

e da Dynata, apenas 20% dos portugueses<br />

se sentem extremamente confiantes de<br />

que saberiam como detectar e evitar fraudes<br />

– isso significa que 80% da população<br />

ainda tem dúvidas em identificá-las ou<br />

como combatê-las.<br />

Mas, além disso, 14% reconhecem que<br />

não se encontram preparados para reagir,<br />

caso sejam vítimas de fraudes ou esquemas.<br />

É por isso que precisamos de continuar<br />

a trabalhar neste assunto, já que um<br />

terço dos portugueses também identifica a<br />

educação como o factor mais importante a<br />

ter em conta quando se trata de prevenção<br />

da fraude.<br />

Como é possível equilibrar segurança<br />

rigorosa com uma boa experiência do<br />

utilizador/cliente?<br />

Equilibrar a segurança e uma experiência<br />

de utilizador positiva são uma das<br />

principais prioridades da Revolut.<br />

Conseguimos isso através de métodos<br />

de autenticação contínuos, monitorização<br />

de transacções em tempo real e comunicação<br />

transparente com os utilizadores.<br />

O nosso objectivo é manter uma segurança<br />

robusta sem causar atritos desnecessários<br />

aos nossos clientes.<br />

Que projectos estão a desenvolver para<br />

combater a fraude?<br />

Investimos continuamente nesta área<br />

para garantir que estamos um passo à<br />

frente dos burlões.<br />

Estamos a redobrar o uso da ciência<br />

de dados e a Inteligência Artificial para<br />

detectar fraudes e criar recursos de segurança<br />

ainda melhores na nossa app, para<br />

manter os clientes protegidos contra burlões<br />

e criminosos.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 23


MACROECONOMIA<br />

COMÉRCIO MUNDIAL<br />

COM<br />

PERSPECTIVA DE<br />

CRESCIMENTO<br />

DE 1,9% EM 2023<br />

O mais recente<br />

Economic Outlook<br />

divulgado pela<br />

Crédito y Caución<br />

indica uma ligeira<br />

melhoria nas previsões<br />

de crescimento do<br />

comércio mundial até<br />

final de 2023.<br />

A<br />

Crédito y Caución antecipa um crescimento das trocas de mercadorias<br />

a nível global na ordem dos 1,9% em 2023. Embora esta percentagem represente<br />

um abrandamento face aos 3,2% alcançados em 2022, está 0,4<br />

pontos percentuais acima do esperado no início do ano. A melhoria nas<br />

previsões para o comércio mundial está alinhada com o aumento das importações nos EUA<br />

e na União Europeia e com a reabertura da China, que conduziu a um aumento das suas<br />

próprias importações e a uma redução dos custos comerciais e das pressões sobre a cadeia<br />

de fornecimento global.<br />

Há, contudo, factores que continuam a condicionar o crescimento do comércio mundial.<br />

Em primeiro lugar, o aumento dos custos financeiros resultante do endurecimento das<br />

políticas monetárias, que teve especial impacto sobre o comércio de bens de capital, com as<br />

exportações dos EUA, Alemanha e Japão a caírem nos primeiros meses de 2023, e que colocou<br />

os fluxos de investimento estrangeiro sob pressão. A mudança na procura de bens para a<br />

de serviços no pós-pandemia é outro factor que condiciona a evolução do comércio de bens<br />

em 2023. Por último, mantém-se o colapso comercial entre a União Europeia e a Rússia e,<br />

embora não haja dissociação em relação à China, há uma diminuição do comércio com os<br />

EUA, especialmente no sector das TIC.<br />

Se olharmos para a evolução do comércio por sector, os vencedores sectoriais no período<br />

da pandemia estão agora a perder participação e vice-versa. Verifica-se uma deslocação da<br />

procura de bens para os serviços, especialmente turismo e transportes. A normalização para<br />

os níveis de consumo de 2019 gera potencial comercial nos produtos automóvel, aeroespaciais<br />

ou turismo. No entanto, os semicondutores, que dispararam a sua procura durante a<br />

pandemia, vêem uma inversão na tendência. As economias avançadas da Ásia com interes-<br />

24 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


MACROECONOMIA<br />

ses nestes sectores, como a Coreia do Sul e<br />

Taiwan, são as que sofrem o maior impacto.<br />

Por região, regista-se um crescimento positivo<br />

na maioria das regiões, com excepção<br />

da China, devido à sua política de Zero<br />

Covid, e da Europa de Leste, mais afectada<br />

pela guerra na Ucrânia.<br />

Melhoria das perspectivas para<br />

a Zona Euro<br />

A Crédito y Caución estima que a Zona<br />

Euro registe um crescimento de 0,6% em<br />

2023, o que representa uma melhoria face<br />

às previsões de início do ano. Esta evolução<br />

baseia-se em factores como a queda dos<br />

preços do gás na Europa, o bom desempenho<br />

dos mercados laborais ou a melhoria<br />

dos indicadores de confiança económica.<br />

Apesar de taxas de juro mais elevadas,<br />

é esperado um aumento dos investimentos,<br />

tanto na indústria transformadora<br />

como nos serviços, em comparação com<br />

2022. No que diz respeito ao consumo,<br />

O AUMENTO DOS CUSTOS<br />

FINANCEIROS, RESULTANTE<br />

DO ENDURECIMENTO DAS<br />

POLÍTICAS MONETÁRIAS,<br />

TEVE ESPECIAL IMPACTO<br />

SOBRE O COMÉRCIO<br />

DE BENS DE CAPITAL<br />

o crescimento esperado será limitado a<br />

0,2% devido à elevada inflação e às dificuldades<br />

de crédito. Contudo, o mercado<br />

laboral mantém-se resistente e até final<br />

do ano é de esperar uma taxa média de<br />

desemprego na ordem dos 6,6%. A aceleração<br />

no crescimento dos salários, combinada<br />

com uma queda da inflação, deverá<br />

apoiar o poder de compra dos consumidores<br />

europeus ao longo do segundo semestre<br />

de 2023 e em 2024.<br />

Para o próximo ano, a seguradora de<br />

crédito antecipa um crescimento de 1,2% na<br />

Zona Euro, apesar dos efeitos persistentes<br />

da inflação e do endurecimento monetário.<br />

Consumidores norte-americanos<br />

sustêm crescimento<br />

Os EUA vão registar um crescimento<br />

de cerca de 1,3% em 2023, segundo<br />

as projecções divulgadas pela Crédito y<br />

Caución no seu mais recente Economic<br />

Outlook, o que representa uma melhoria<br />

substancial face às perspectivas económicas<br />

do início do ano.<br />

A poupança arrecadada, que apoia a<br />

capacidade de despesa, o elevado emprego,<br />

que continua a exceder as expectativas, em<br />

especial nos sectores da construção, transportes<br />

e serviços às empresas, e o aumento<br />

dos salários, que apoia o rendimento disponível,<br />

ajudaram os consumidores norte-americanos<br />

a suster o crescimento nos<br />

EUA face à subida das taxas de juro e às incertezas<br />

no sector bancário. Contudo, para<br />

o segundo semestre de 2023, é esperada<br />

uma desaceleração e a economia americana<br />

enfrentará uma ligeira recessão técnica.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 25


MACROECONOMIA<br />

Um dos principais factores influenciadores<br />

das perspectivas de desinflação<br />

e abrandamento no segundo semestre de<br />

2023 nos EUA é o significativo agravamento<br />

das condições de crédito. Os dados mais<br />

recentes da Reserva Federal mostram que<br />

o acesso ao crédito diminuiu tanto para as<br />

empresas como para as famílias. Os bancos<br />

argumentam com uma deterioração esperada<br />

da sua qualidade de crédito face à recessão<br />

económica e ao aumento dos custos<br />

de financiamento bancário, como justificativo<br />

para a reduzida disponibilidade na<br />

concessão de empréstimos.<br />

O crescimento da economia norte-<br />

-americana em 2024 deverá situar-se nos<br />

0,4%, o que traduz uma revisão em baixa.<br />

América Latina mais resiliente num<br />

cenário de contenção do crédito<br />

A América Latina está a enfrentar solidamente<br />

o cenário global de aumento das<br />

taxas de juro, segundo o relatório divulgado<br />

pela Crédito y Caución. Desde a crise da<br />

dívida nos anos oitenta, conhecida como<br />

a década perdida devido ao impacto que<br />

O CRESCIMENTO DA ECONOMIA<br />

NORTE-AMERICANA EM 2024<br />

DEVERÁ SITUAR-SE NOS<br />

0,4%, O QUE TRADUZ UMA<br />

REVISÃO EM BAIXA<br />

teve na região, muitos países da América<br />

Latina avançaram para sistemas cambiais<br />

flexíveis, que permitem usar a moeda como<br />

amortecedor para choques externos. Neste<br />

contexto, os bancos centrais da região estiveram<br />

entre os primeiros a aumentar as<br />

taxas de juro no combate à inflação.<br />

A América Latina destaca-se como<br />

mais resiliente do que outras regiões a um<br />

cenário global de aperto do crédito. As<br />

moedas dos maiores países da região estão<br />

entre as mais fortes do mundo, apesar<br />

da redução do diferencial de taxas de juro<br />

em relação aos Estados Unidos. Os países<br />

mais vulneráveis da região são a Argentina,<br />

Bolívia, Cuba, El Salvador, Venezuela e<br />

as ilhas mais pequenas e menos diversificadas<br />

das Caraíbas.<br />

O PIB da região ultrapassou os valores<br />

pré-pandemia, um sintoma do reforço<br />

das políticas macroeconómicas da região,<br />

da melhoria da supervisão bancária e do<br />

aumento das reservas estatais. No entanto,<br />

em 2023 a região terá de enfrentar um<br />

abrandamento do crescimento (previsão,<br />

1,5%) que se manterá em 2024 (previsão,<br />

1,3%), atrás dos valores alcançados por<br />

outras regiões emergentes. O pior desempenho<br />

do PIB é esperado nas economias<br />

da Argentina e do Chile, que vão contrair<br />

em 2023 (-0,8 e -0,7%, respectivamente), e<br />

na Colômbia, que o fará em 2024 (-0,9%).<br />

Isto reflecte a deterioração dos dois principais<br />

parceiros comerciais da região (os<br />

EUA e a China), os preços das matérias-<br />

-primas, a persistência da inflação subjacente,<br />

as condições financeiras restritivas<br />

e o espaço orçamental limitado. A região<br />

tem também alguns factores estruturais<br />

que explicam a sua fraca integração global,<br />

o que torna difícil beneficiar dos actuais<br />

processos de relocalização.<br />

A Crédito y Caución prevê que nos próximos<br />

anos o crescimento económico na<br />

América Latina permaneça abaixo da sua<br />

média anual pré-pandemia de 2,5%.<br />

26 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


SEGUROS<br />

A ACTIVIDADE SEGURADORA<br />

EM TEMPOS DE<br />

INFLAÇAO<br />

~<br />

Como bem sabemos e sentimos, a economia europeia<br />

vive (ainda) um período de taxas de inflação e de juro<br />

relativamente elevadas.<br />

POR MIGUEL GUIMARÃES, DIRECTOR-GERAL ADJUNTO DA ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE SEGURADORES (APS)<br />

N<br />

ão é um ambiente inédito, não atinge sequer os padrões de outros<br />

tempos, não tão longínquos assim, mas representa uma inegável<br />

alteração de contexto em relação ao ambiente de estabilidade de<br />

preços que vingava desde o final dos anos 90 e, sobretudo, desde<br />

o início da década passada (em Portugal, por exemplo, a taxa de<br />

inflação agregada entre 2011 e 2021 foi basicamente idêntica à de<br />

2022, perto de 8%).<br />

Acresce que resultou de uma transição muito súbita a partir de 2021, tendo<br />

a pressão inflacionista saltado rapidamente das commodities originalmente impactadas<br />

para um amplo conjunto de outros bens e serviços, de tal forma que<br />

estava já completamente generalizada em meados de 2022, depois de instalada<br />

a guerra na Ucrânia (em Portugal, a taxa de inflação média escalou de 1,27% em<br />

2021 para 7,83% em 2022).<br />

Para a actividade seguradora, este ambiente teve (e tem) impactos consideráveis<br />

1 , embora distintos em função do perfil dos sinistros e das responsabilidades<br />

envolvidas em cada tipologia de seguros.<br />

No segmento dos seguros de Vida:<br />

Os seguros de Vida geram tipicamente<br />

responsabilidades financeiras de longo<br />

prazo, sejam relacionadas com a remuneração<br />

de poupanças, sejam com o eventual<br />

pagamento de valores contratualizados<br />

em caso de ocorrência do risco sobre as<br />

pessoas seguras.<br />

O efeito directo do agravamento da inflação<br />

é, por isso, limitado neste segmento,<br />

mas o impacto indirecto, por via do aumento<br />

das taxas de juro que normalmente<br />

o acompanha, pode ser substancial.<br />

Por um lado – o lado do passivo –,<br />

este aumento reflecte-se numa redução<br />

do valor das responsabilidades futuras<br />

provisionadas em balanço, que corresponde<br />

ao respectivo valor actual descontado<br />

exactamente com taxas de juro de<br />

prazo equivalente.<br />

Por outro – o lado do activo –, reflecte-se<br />

numa redução do valor dos activos<br />

em carteira para cobertura dessas mesmas<br />

provisões, em especial dos títulos de rendimento<br />

fixo que, pelo seu baixo risco, constituem<br />

a parcela maioritária desta carteira.<br />

O efeito líquido destas duas forças –<br />

uma redução do passivo e uma redução do<br />

1<br />

Tema aprofundado recentemente pela Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA),<br />

no seu “Report on the impact of inflation on the insurance sector”.<br />

28 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


SEGUROS<br />

o sector tem particular experiência. Mas a<br />

transição tende a ser gradual, envolvendo<br />

avaliações cuidadosas do comportamento<br />

das taxas de juro e cautela no desenho e<br />

oferta de produtos, o que pode dar espaço<br />

a outras soluções alternativas de poupança<br />

pontualmente mais competitivas (como<br />

foi o caso em Portugal, com uma série de<br />

Certificados de Aforro que alcançou, entre<br />

2022 e 2023, uma remuneração especialmente<br />

atractiva).<br />

Para a procura, o aumento das taxas de<br />

juro, associado ao agravamento da inflação,<br />

tende a impor pressão orçamental sobre as<br />

famílias endividadas, condicionando naactivo<br />

– ponderará factores como a duração<br />

dos activos e dos passivos e a dimensão<br />

relativa de activos de rendimento fixo, determinando<br />

o impacto sobre os resultados<br />

e os capitais próprios do sector.<br />

Mas, para além desta consequência<br />

contabilística, o aumento das taxas de juro<br />

abala também as condições da oferta e da<br />

procura dos produtos de poupança explorados<br />

no âmbito da actividade seguradora.<br />

Para a oferta, pode representar uma<br />

oportunidade para promover produtos<br />

mais competitivos, assentes em activos de<br />

renovada rentabilidade, incluindo produtos<br />

com taxas de rendimento garantidas, onde<br />

COMO PARA MUITAS OUTRAS<br />

ÁREAS DA ECONOMIA, CENÁRIOS<br />

INESPERADOS DE INFLAÇÃO<br />

NÃO SÃO, OBVIAMENTE,<br />

FAVORÁVEIS À ACTIVIDADE<br />

SEGURADORA<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 29


SEGUROS<br />

turalmente a sua capacidade de aforro e<br />

obrigando muitas delas a recorrer mesmo à<br />

desmobilização de poupanças acumuladas,<br />

nomeadamente em produtos de seguros,<br />

para fazer face aos seus compromissos com<br />

empréstimos contraídos (foi um fenómeno<br />

de grande impacto em Portugal, em particular<br />

com os PPR, potenciado ainda por<br />

medidas políticas de flexibilização extraordinária<br />

do respectivo regime de resgates).<br />

Acresce que este resgate antecipado de<br />

poupanças ocorre, exactamente, quando<br />

boa parte dos activos se encontram desvalorizados,<br />

podendo gerar perdas para o<br />

aforrador e/ou para a seguradora.<br />

ves cobertas por seguros de acidentes de<br />

trabalho e de responsabilidade civil, em<br />

especial de automóvel, e (em Portugal)<br />

as responsabilidades com pensões (vitalícias)<br />

de acidentes de trabalho.<br />

O impacto mais directo da inflação decorre,<br />

evidentemente, da sua repercussão<br />

O AUMENTO DAS TAXAS<br />

DE JURO ABALA TAMBÉM<br />

AS CONDIÇÕES DA OFERTA<br />

E DA PROCURA<br />

DOS PRODUTOS<br />

DE POUPANÇA<br />

No segmento dos seguros Não Vida:<br />

Nos seguros Não Vida prevalecem sinistros<br />

com danos materiais ou corporais<br />

de regularização célere e, logo, responsabilidades<br />

de curta duração. São excepções,<br />

ainda que não menosprezáveis, as<br />

responsabilidades com o acompanhamento<br />

clínico de pessoas com lesões grano<br />

custo dos bens e serviços normalmente<br />

envolvidos na regularização dos sinistros,<br />

ainda que o sector segurador tenha capacidade<br />

para, numa primeira fase, absorver<br />

parte destes impactos por via da contratualização<br />

de condições com prestadores.<br />

Para a rentabilidade do sector, o problema<br />

decorre, não tanto do nível de inflação<br />

em si, mas mais da incapacidade de<br />

o estimar apropriadamente no início do<br />

período do contrato, quando o prémio é<br />

definido. Em termos conceptuais decorre,<br />

portanto, do ciclo de produção invertido<br />

da actividade seguradora, mais concretamente<br />

do desnivelamento entre as expectativas<br />

no momento inicial do cálculo do<br />

prémio e a efectiva dimensão do agravamento<br />

dos custos, quando o sinistro ocorre<br />

e tem de ser reparado.<br />

Para as responsabilidades que permanecem<br />

em balanço para além da duração<br />

(tipicamente anual) do contrato, o impacto<br />

directo da inflação nos períodos seguintes<br />

tende já a ser mitigado na conta de resultados<br />

pela metodologia de cálculo das correspondentes<br />

provisões técnicas, tal como se<br />

descreveu em relação aos seguros do segmento<br />

Vida (um efeito bem explícito em<br />

Portugal na redução, em 2022, da provisão<br />

para sinistros de acidentes de trabalho, que<br />

acautela um grande volume de responsabilidades<br />

de longo prazo).<br />

Em resumo:<br />

Como para muitas outras áreas da economia,<br />

cenários inesperados de inflação<br />

não são, obviamente, favoráveis à actividade<br />

seguradora.<br />

Embora o sector tenha mecanismos<br />

de mitigação de alguns dos seus impactos,<br />

a perturbação que este ambiente cria<br />

nos seus consumidores e aforradores e na<br />

gestão do seu ciclo de produção invertido<br />

é normalmente prejudicial para o seu desempenho<br />

económico.<br />

Mas a capacidade de gestão de ambientes<br />

de incerteza está no ADN do sector segurador.<br />

Isso mesmo tem ficado demonstrado<br />

em todas as conjunturas delicadas<br />

recentes, sempre ultrapassadas com resiliência,<br />

sempre geridas perto dos clientes,<br />

sempre respeitando as responsabilidades<br />

contratuais assumidas.<br />

30 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


OPINIÃO<br />

POR GONÇALO HELENO,<br />

IT INFRASTRUCTURE AND SECURITY<br />

DIRECTOR NA ASSECO PST<br />

RESILIÊNCIA<br />

CIBERNÉTICA<br />

NO SECTOR FINANCEIRO<br />

Na actual era digital, a segurança cibernética é mais<br />

crítica do que nunca.<br />

O<br />

s custos do cibercrime, em especial para as empresas,<br />

envolvem impactos directos significativos, de que são<br />

exemplo a interrupção temporária da actividade ou os<br />

valores associados à recuperação de sistemas.<br />

A isto juntam-se os impactos indirectos, como os danos causados à<br />

reputação. No limite, os ataques cibernéticos podem conduzir ao fecho<br />

de uma organização.<br />

Os números espelham bem a realidade – e há-os para todos os<br />

gostos. Mas sempre no mesmo sentido. Nos últimos cinco anos, houve<br />

um aumento de 75% no número de ataques, lemos num lado. Em 2022,<br />

a cada três empresas do mundo, uma foi atacada por hackers, lemos<br />

noutro. Até 2025, os danos causados à economia mundial continuarão<br />

a crescer ao ritmo de 15% ao ano, até atingir 8 mil milhões de euros<br />

anuais, vemos ainda noutro.<br />

Portugal não foge à regra. O país viveu em 2022 o maior número<br />

de ataques cibernéticos alguma vez registado em vários sectores da<br />

economia, da banca aos media, passando pela saúde e pelos transportes.<br />

O próprio Centro Nacional de Cibersegurança revelou que 2022 foi o ano<br />

em que foram assinalados mais ataques “de grande impacto” a infra-<br />

-estruturas e serviços.<br />

Adoptar uma estratégia de protecção é, por isso, essencial para<br />

proteger os negócios. Ou seja, ao mesmo tempo que a cibersegurança se<br />

tornou uma batalha constante entre os agentes<br />

económicos e os hackers, passou também<br />

a ser uma peça-chave da transformação<br />

digital, sendo essencial para garantir que as<br />

organizações se mantêm seguras durante esse<br />

processo de transformação. Mais do que saber<br />

se alguma vez se será vítima de um ataque<br />

cibernético, a questão é saber quando e se<br />

estaremos preparados.<br />

Entre as organizações que desde sempre<br />

suscitaram maior apetite dos hackers estão<br />

as instituições financeiras: bancos e outras<br />

organizações similares. Isto é, organizações<br />

que fazem da confiança, credibilidade e solidez<br />

três dos pilares essenciais da sua actividade.<br />

Falamos de instituições em que a quantidade<br />

de informações sensíveis em circulação é<br />

acentuada e que são depositárias de um volume<br />

32 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


Saiba mais<br />

enorme de dados críticos, incluindo os dos<br />

seus clientes.<br />

No mercado existem tecnologias de segurança<br />

cibernética poderosas que protegem os dados<br />

das instituições financeiras contra ameaças<br />

e garantem uma resposta eficaz a incidentes.<br />

Estas tecnologias trabalham em conjunto para<br />

criar um ambiente de TI mais seguro e resiliente,<br />

essencial em tempos de ameaças cibernéticas<br />

em constante evolução.<br />

O melhor conselho que podemos dar<br />

será sempre para implementar soluções de<br />

armazenamento com resiliência cibernética<br />

integrada, para proteger os seus activos de dados<br />

críticos. E, ao mesmo tempo, assegurar uma<br />

resposta ágil e rápida, seja a ransomware ou<br />

outros ciberataques. Garantindo também, por<br />

exemplo, que, mesmo em caso de ataque,<br />

ENTRE AS ORGANIZAÇÕES<br />

QUE DESDE SEMPRE<br />

SUSCITARAM MAIOR<br />

APETITE DOS HACKERS<br />

ESTÃO AS INSTITUIÇÕES<br />

FINANCEIRAS<br />

existem pontos seguros de restauro e<br />

recuperações rápidas que minimizam o tempo<br />

de inactividade.<br />

Este é também o nosso maior desafio<br />

na Asseco PST, enquanto especialistas no<br />

desenvolvimento de software e serviços<br />

para o sector financeiro. Em parceria com a<br />

IBM, oferecemos soluções abrangentes para<br />

protecção e resiliência de dados. Quando<br />

combinadas, elas reforçam os recursos da<br />

instituição financeira de detecção de ameaças e<br />

preparam-na para enfrentar qualquer ameaça<br />

cibernética, permitindo recuperar num curto<br />

espaço de tempo e sem perdas de informação.<br />

Cada instituição financeira saberá escolher os<br />

seus melhores parceiros neste caminho. Mas<br />

quando se trata de proteger activos críticos e<br />

fortalecer defesas, não há tempo a perder!<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 33


OPINIÃO<br />

POR ANDRÉ PEDRO,<br />

MANAGING DIRECTOR<br />

DO COMPARAJÁ<br />

SERÁ A FALTA<br />

DE CONHECIMENTO<br />

O PRINCIPAL OBSTÁCULO<br />

À TRANSIÇÃO ENERGÉTICA?<br />

Os temas da<br />

sustentabilidade e da<br />

transição energética<br />

fazem parte das<br />

agendas mediáticas já<br />

há alguns anos, e não<br />

é por acaso.<br />

A<br />

s alterações climáticas são um<br />

desafio global que exigem a mudança<br />

de paradigma e Portugal<br />

assumiu o compromisso de<br />

atingir a neutralidade carbónica<br />

até 2050 com o Acordo de Paris. Mas ainda há<br />

um longo caminho a percorrer. Tal só é possível<br />

se todos estiverem informados e trabalharem<br />

em colaboração, com esforço concertado, que<br />

começa, também, na casa de cada um de nós.<br />

Um dos principais aspectos a ter em conta<br />

está “diagnosticado”: quer queiramos, quer não,<br />

a falta de conhecimento ainda é um obstáculo<br />

à transição energética. A começar pela falta de<br />

conhecimento sobre os apoios que o Estado<br />

coloca à disposição dos cidadãos. Desde carros<br />

a electrodomésticos, passando por janelas,<br />

aparelhos de ar condicionado, automóveis,<br />

painéis solares ou até por condições especiais<br />

na banca, os incentivos e apoios para a transição<br />

energética são tão importantes quanto<br />

desconhecidos por cerca de um terço dos portugueses.<br />

Quantos consumidores sabem que o<br />

Fundo Ambiental de 2023 aceita candidaturas<br />

34 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


até ao próximo dia 31 de Outubro? Ou que os carros<br />

100% eléctricos não pagam nem ISV nem IUC?<br />

Ou que quem compra um dos primeiros carros<br />

eléctricos do ano pode receber 4 mil euros? Ou<br />

que existem apoios para a aquisição de bicicletas<br />

convencionais para uso citadino? A verdade é<br />

que nestas matérias o Estado tem disponibilizado<br />

alguns apoios, impulsionados também pela União<br />

Europeia, e todos temos a ganhar se procurarmos<br />

estar informados sobre os apoios a que podemos<br />

recorrer para acelerar a transição energética e,<br />

em simultâneo, poupar dinheiro.<br />

Se, por um lado, há desconhecimento do<br />

consumidor em relação a alguns apoios, em<br />

alguns sectores, como o dos carros eléctricos, os<br />

apoios parecem ser insuficientes. É verdade que<br />

Portugal é o décimo país da União Europeia, num<br />

total de 27, onde existem mais carros eléctricos,<br />

mas, ainda assim, de um parque automóvel de 5,5<br />

milhões os carros eléctricos só representam cerca<br />

de 2%. Em 2022, o subsídio de 5,2 milhões de<br />

euros destinado à aquisição de carros eléctricos<br />

esgotou-se em apenas três semanas, tendo sido<br />

aplicados na aquisição de 1300 novas viaturas<br />

PORTUGAL É O DÉCIMO<br />

PAÍS DA UNIÃO EUROPEIA,<br />

NUM TOTAL DE 27,<br />

ONDE EXISTEM<br />

MAIS CARROS<br />

ELÉCTRICOS<br />

eléctricas. Com um parque automóvel com uma<br />

média de 13,5 anos e com metas de neutralidade<br />

carbónica para atingir, são necessários mais<br />

incentivos para se substituir estes veículos. Mas o<br />

caminho faz-se caminhando e as boas notícias<br />

são que, apesar dos incentivos não serem<br />

suficientes, verifica-se uma maior consciência<br />

ambiental e só nos primeiros sete meses deste<br />

ano foram vendidos 18,9 mil veículos eléctricos,<br />

mais do dobro do que em 2022, o que revela que<br />

este é um mercado que tem vindo a crescer. A<br />

prova disso mesmo são os mais de 5000 postos<br />

de carregamento espalhados pelo país disponíveis<br />

através dos CEME (cartões de mobilidade eléctrica)<br />

– Portugal é o quarto país da Europa mais<br />

forte neste capítulo.<br />

Por fim, muitos receiam que a qualquer mudança<br />

esteja associada uma cruzada interminável<br />

num mar de burocracia. A falta de conhecimento<br />

aliada à burocracia ligada a estes assuntos é uma<br />

dor de cabeça, que condiciona muitos portugueses<br />

no momento de agir. Dados recentes de<br />

um estudo do Portal da Construção Sustentável<br />

mostram isso mesmo, que a maioria dos inquiridos,<br />

que soube destes apoios para promover a<br />

construção sustentável e a eficiência energética<br />

nos edifícios, não se candidatou aos mesmos,<br />

com 12% a dizer que não encontrou ajuda.<br />

É urgente, portanto, simplificar os processos,<br />

promover o conhecimento e criar mais apoios<br />

para que todos possam contribuir para um futuro<br />

mais sustentável.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 35


ENTREVISTA<br />

«PORTUGAL FORTALECEU<br />

O NOSSO NEGÓCIO À ESCALA<br />

EUROPEIA»<br />

A Nickel tem crescido de forma consistente em<br />

Portugal, alcançando mais de 460 pontos de venda em<br />

estabelecimentos de comércio local. Em entrevista à<br />

Risco, João Guerra, CEO da Nickel, faz o balanço da<br />

actividade no País e revela os planos para 2024.<br />

POR ANTÓNIO SARMENTO<br />

ual o balanço que fazem de um ano de actividade em Portugal?<br />

Q<br />

No primeiro ano de presença em Portugal, a Nickel cresceu de<br />

forma consistente, alcançando mais de 460 pontos de venda em<br />

estabelecimentos de comércio local. De momento, dispomos da<br />

terceira maior rede de pontos de acesso a serviços financeiros essenciais<br />

no país, o que reflecte uma aceitação muito positiva dos<br />

nossos serviços por parte dos portugueses. Neste período inicial<br />

de crescimento no mercado, procurámos não só ter uma expansão significativa<br />

a nível territorial, de modo a angariar pontos de venda em mais regiões e diversificar<br />

a nossa cobertura, mas também aprender sobre os hábitos financeiros<br />

da população portuguesa e conhecer as suas necessidades. Com este objectivo,<br />

realizámos um estudo em parceria com a agência independente DATA E, que<br />

nos revelou, por exemplo, que ainda existe um considerável desconhecimento<br />

dos portugueses relativamente aos novos modelos financeiros que estão a entrar<br />

na banca nacional, como é o caso da Nickel. No entanto, há também, transversalmente,<br />

um crescente interesse em trabalhar com instituições financeiras digitais<br />

no futuro, que foi declarado por 73% dos portugueses abrangidos pelo estudo,<br />

o que sugere que serviços como os nossos, que trazem inovação à banca, são<br />

valorizados pela nossa sociedade.<br />

Qual a importância do mercado português para a Nickel?<br />

O que nos destaca de outras fintechs em crescimento é a nossa adaptação a<br />

todos os mercados nacionais em que entramos. A Nickel é originalmente francesa,<br />

mas as equipas criadas nos outros países onde estamos (Portugal, Espanha,<br />

Bélgica e Alemanha) são totalmente locais. A lógica é sempre alavancar a nossa<br />

proposta de valor com o que o país em si tem para oferecer, por isso conseguimos<br />

crescer, sobretudo, porque queremos<br />

ser uma instituição que está perto dos seus<br />

clientes em todos os níveis. Portugal tem<br />

sido um caso de sucesso que contribui para<br />

fortalecer o nosso negócio à escala europeia<br />

por esta razão. Num panorama comparativo<br />

de mercados, por exemplo, com a Bélgica,<br />

onde a Nickel foi lançada no mesmo período<br />

que em Portugal, e que tem à partida<br />

uma relação cultural mais estreita com as<br />

origens da instituição, o nosso crescimento<br />

é comparativamente mais significativo.<br />

Por outro lado, sentimos que o nosso<br />

serviço, simples e universal, se enquadra<br />

nas necessidades da realidade financeira<br />

observada em Portugal. Ainda há um número<br />

significativo de portugueses que não<br />

estão bancarizados, e a relação dos mesmos<br />

com a banca tradicional regista crescentes<br />

pain points, desde o fenómeno de encerramento<br />

de balcões, que está a criar um afastamento<br />

físico dos serviços financeiros à<br />

população em algumas regiões, até ao descontentamento<br />

generalizado que é sentido<br />

com os custos destes serviços. Numa perspectiva<br />

geral, também conseguimos perceber<br />

que a falta de mais players digitais, que<br />

apresentam novos modelos financeiros aos<br />

clientes portugueses, faz com que estes tenham<br />

uma maior predisposição para aderir<br />

às novas soluções que vão permeando o<br />

sector bancário nacional.<br />

Qual o vosso público-alvo?<br />

Um dos valores centrais do nosso serviço<br />

é a universalidade, sendo que qual-<br />

36 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


João Guerra,<br />

CEO da Nickel<br />

ENTREVISTA<br />

A NICKEL É ORIGINALMENTE FRANCESA, MAS AS<br />

EQUIPAS CRIADAS NOS OUTROS PAÍSES ONDE ESTAMOS<br />

(PORTUGAL, ESPANHA, BÉLGICA E ALEMANHA)<br />

SÃO TOTALMENTE LOCAIS<br />

de clientes de obter informações sobre o<br />

que acontece com o seu dinheiro, de forma<br />

mais acessível e directa. Já os segmentos<br />

mais seniores conseguem obter mais liberdade<br />

na realização dos seus afazeres financeiros<br />

através do nosso modelo de negócio<br />

híbrido, ao poderem contar com lojas de<br />

comércio local presentes nas suas comunidades,<br />

que dispõem do nosso serviço, onde<br />

podem ir com mais frequência do que aos<br />

bancos, que têm reduzido os seus balcões<br />

de contacto com os clientes.<br />

No entanto, de forma mais concreta,<br />

durante este primeiro ano conseguimos<br />

descobrir alguns dados importantes sobre<br />

a maioria dos nossos clientes portugueses:<br />

65% são homens, embora em tendência<br />

decrescente, e 59% encontram-se entre<br />

os 24 e 44 anos. Este retrato inicial vai ao<br />

encontro do segmento que tipicamente<br />

adere a serviços financeiros digitais como<br />

o nosso, mas temos confiança de que vamos<br />

também continuar a crescer significativamente<br />

noutros segmentos, diversificando<br />

os nossos clientes nacionais. Ainda<br />

assim, outro aspecto importante é que 35%<br />

dos clientes Nickel residem fora das áreas<br />

metropolitanas de Lisboa e do Porto. Este<br />

facto prova não só a importância e a adesão<br />

ao lado físico do nosso serviço através<br />

dos pontos de venda, mas também o nosso<br />

esforço de aproximação às populações e<br />

localidades onde a banca tradicional está a<br />

encerrar cada vez mais pontos de contacto.<br />

Conseguimos também saber que 70% dos<br />

nossos clientes já utilizam o nosso serviço<br />

como conta principal, sendo que 76% das<br />

operações realizadas pelos mesmos são pagamentos<br />

do quotidiano.<br />

quer pessoa pode abrir conta na Nickel e<br />

desfrutar da realização de operações financeiras<br />

com mais flexibilidade. Disponibilizamos<br />

uma solução de pagamento com<br />

um processo de adesão simples, com um<br />

preço justo, que oferece o mesmo produto<br />

independentemente dos rendimentos e<br />

origem do cliente, sem montante mínimo<br />

de abertura, sem burocracias, e de grande<br />

acessibilidade, considerando a capilaridade<br />

e natureza dos nossos pontos de venda físicos.<br />

Assim sendo, não consideramos que<br />

temos um público-alvo propriamente definido,<br />

mas sabemos que conseguimos adicionar<br />

valor a vários segmentos de clientes,<br />

já que oferecemos um produto que se caracteriza<br />

pela simplicidade e transparência.<br />

Para os jovens, destacamo-nos na vertente<br />

da solução digital que oferecemos, sendo<br />

que há uma procura crescente nesta faixa<br />

Que produtos/serviços oferecem? Há<br />

novidades para 2024?<br />

Neste momento, o nosso produto principal<br />

é uma conta de pagamento. As pessoas<br />

podem abrir as contas nos nossos canais<br />

digitais, ou nos pontos de venda perto<br />

das suas residências, apenas com um documento<br />

de identificação, um número de<br />

telemóvel e o pagamento de 20,80 euros de<br />

comissão anual de manutenção – valor que<br />

está inalterado desde a origem da Nickel<br />

em França, há 9 anos. A partir do momento<br />

em que abrem e activam a sua conta (IBAN<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 37


ENTREVISTA<br />

português), os clientes têm logo disponível<br />

também um cartão de débito, pronto para a<br />

realização de movimentos financeiros.<br />

A esta oferta simples e universal, que<br />

está presente tanto online, como nos nossos<br />

pontos físicos, temos acrescentado outras<br />

funcionalidades, que não só seguem a lógica<br />

de corresponder às necessidades dos portugueses,<br />

como também algumas novidades<br />

mais disruptivas que contribuem para uma<br />

maior inclusão financeira e social da população.<br />

Neste sentido, e para além de alguns<br />

detalhes que facilitam a utilização dos nossos<br />

serviços por pessoas com deficiências<br />

visuais ou auditivas, fomos, por exemplo, a<br />

primeira instituição a lançar a opção “True<br />

Name” no país, em parceria com a Mastercard.<br />

Esta é uma funcionalidade que permite<br />

às pessoas trans e não binárias a opção<br />

de colocarem o nome, com que verdadeiramente<br />

se identificam, nos cartões de débito<br />

personalizados My Nickel, sem terem de<br />

mudar de nome legalmente.<br />

No contexto da celebração de um ano<br />

de presença em Portugal, e até ao final do<br />

ano, continuaremos a lançar um conjunto<br />

de novos produtos e serviços, nomeadamente,<br />

as transferências digitais imediatas,<br />

a possibilidade de carregamento automático<br />

da conta Nickel recorrendo a outro<br />

cartão, também conhecido como top-up<br />

by card, os pagamentos móveis Apple Pay,<br />

via iPhone ou Apple Watch, através da integração<br />

com a Apple Wallet, e a selecção<br />

de novas cores que podem ser escolhidas<br />

pelos clientes para os seus cartões personalizados<br />

My Nickel.<br />

Para 2024, ambicionamos trazer mais<br />

inovações, mantendo o ritmo que criamos<br />

durante este ano. Temos planos para reforçar<br />

os pagamentos móveis e lançar alguns<br />

novos produtos, assegurando sempre que<br />

tenham uma lógica de simplicidade, utilidade<br />

e acessibilidade a todos. Já há várias<br />

novidades em carteira, mas ainda não as<br />

podemos desvendar.<br />

E a vossa ambição para o mercado<br />

português? Ter uma rede de 2500<br />

pontos de venda?<br />

Os 2500 pontos de venda são, de facto, o<br />

nosso objectivo nos próximos 5 anos, porque<br />

consideramos que os nossos agentes<br />

físicos são a aposta que devemos fazer para<br />

estarmos mais próximos e chegar a mais<br />

portugueses. De momento, já estamos presentes<br />

em 16 dos 18 distritos de Portugal<br />

continental, e continuamos a investir nesta<br />

expansão em território nacional. Muitos<br />

dos nossos pontos estão em zonas litorais,<br />

onde existe uma maior concentração populacional,<br />

no entanto, estamos também já<br />

presentes nas regiões do interior do país, e<br />

vamos continuar a reforçar essa presença,<br />

conscientes de que estas são as mais afectadas<br />

pela tendência de fecho de balcões na<br />

banca tradicional, podendo beneficiar da<br />

nossa capacidade de dispersão geográfica.<br />

Como é feita a selecção dos pontos<br />

de venda?<br />

Existem duas formas de iniciar este<br />

processo. Uma delas passa pela prospeção<br />

das nossas equipas de terreno e a outra<br />

passa por uma demonstração de intenções,<br />

que é essencialmente o preenchimento de<br />

um formulário no nosso website (https://<br />

nickel.eu/pt-pt/torne-se-agente-nickel).<br />

Em termos do processo de aprovação<br />

do agente, uma vez concluído o processo<br />

de due dilligence e de preparação da documentação<br />

necessária do potencial agente,<br />

a respectiva aprovação e validação fica a<br />

cargo da Autorité de Contrôle Prudentiel<br />

et de Supervisión (a autoridade supervisora<br />

francesa do Banque de France, “ACPR”) e<br />

do Banco de Portugal.<br />

Quais os principais factores de<br />

diferenciação da Nickel? A proximidade<br />

e confiança?<br />

A ideia por detrás de ter um modelo de<br />

negócio híbrido com presença em estabelecimentos<br />

de comércio local serve, exactamente,<br />

o propósito de estarmos mais perto<br />

das pessoas que utilizam os nossos serviços.<br />

Ao estarmos em espaços que são parte<br />

do dia-a-dia das comunidades, nos quais as<br />

pessoas podem também passar a realizar os<br />

seus afazeres financeiros via agentes com<br />

quem já têm, muitas vezes, uma relação de<br />

confiança, estamos a aproximar os serviços<br />

financeiros da população, o que acaba por<br />

ser um factor crucial no fomentar da prosperidade<br />

económica do nosso país. Queremos<br />

também ter este papel desmistificador<br />

do sector financeiro, ao fornecer aos nossos<br />

clientes informação detalhada e directa sobre<br />

o que fazem com o seu dinheiro, por<br />

exemplo, através da disponibilização de um<br />

preçário mais simples. Além disso, o nosso<br />

38 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


ENTREVISTA<br />

Onde estão presentes a nível mundial?<br />

A Nickel cada vez mais se assume como<br />

um modelo financeiro europeu. Já estamos<br />

presentes em 5 países distintos do continente<br />

europeu: França, Espanha, Bélgica,<br />

Portugal e, mais recentemente, Alemanha.<br />

UM DOS VALORES CENTRAIS DO NOSSO SERVIÇO<br />

É A UNIVERSALIDADE, SENDO QUE QUALQUER<br />

PESSOA PODE ABRIR CONTA NA NICKEL<br />

E DESFRUTAR DA REALIZAÇÃO DE OPERAÇÕES<br />

FINANCEIRAS COM MAIS FLEXIBILIDADE<br />

modelo híbrido de funcionamento acaba,<br />

igualmente, por trazer mais dinamismo ao<br />

comércio local, revitalizando o negócio de<br />

espaços que passam a dispor de uma oferta<br />

mais diversificada para os seus clientes.<br />

Numa perspectiva mais geral, o que<br />

nos distingue é que somos uma conta para<br />

todos, uma instituição financeira de pagamentos<br />

com serviços que primam pela<br />

sua acessibilidade, utilidade, simplicidade,<br />

transparência, oferecendo o melhor de dois<br />

mundos: a facilidade do digital e a flexibilidade<br />

de atendimento físico e, por fim, com<br />

um propósito muito claro de criar um impacto<br />

positivo na sociedade, nomeadamente<br />

em termos de inclusão financeira e social<br />

das populações.<br />

Qual a importância da inovação para o<br />

vosso negócio?<br />

A inovação é um dos marcos principais<br />

do nosso ADN. A Nickel foi criada<br />

para transformar a forma como as pessoas<br />

se relacionam com os serviços financeiros<br />

tradicionais. Deste modo, consideramos<br />

que a inovação só vale a pena se for útil<br />

para todos, pelo que os produtos e serviços<br />

que criamos para os nossos clientes<br />

seguem este valor. Foi, efectivamente, graças<br />

a esta filosofia que fomos reconhecidos<br />

nos World Digital Bank Awards 2023,<br />

organizados pelo The Digital Banker, com<br />

as distinções de “Most Innovative Digital<br />

Banking Business Model” e “Most Improved<br />

Digital Bank in Europe”.<br />

Como é a relação entre BNP e a Nickel?<br />

A Nickel e o BNP Paribas complementam-se<br />

perfeitamente. Cada instituição tem<br />

os seus objectivos e características próprias,<br />

mas tendo o grupo uma forte estratégia,<br />

quer em termos de serviço ao cliente<br />

como de políticas “ESG”, a Nickel desempenha,<br />

neste contexto, um papel estratégico<br />

ao oferecer a todos os consumidores a possibilidade<br />

de terem uma conta de pagamento<br />

sem requisitos mínimos, com uma rede<br />

de lojas de comércio local treinadas para<br />

fornecer esse serviço com total segurança,<br />

sempre com um total foco na experiência<br />

do cliente e com a inclusão financeira e social<br />

no seu ADN. Dentro do grupo, a Nickel<br />

é a solução mais simples de todas e convive<br />

com o melhor de dois mundos: mantém a<br />

sua agilidade pela sua independência orçamental<br />

e estratégica, ao mesmo tempo que<br />

beneficia das funções exemplares do BNP<br />

Paribas em termos de segurança (TI em<br />

particular), compliance e gestão do risco.<br />

Qual a importância das fintech para<br />

o mercado financeiro?<br />

Há, por vezes, a ideia incorrecta de que<br />

a banca tradicional não consegue coexistir<br />

com novas soluções financeiras, e que uns<br />

serviços acabam por anular outros. Consideramos<br />

que esta não é a realidade, e que<br />

as fintechs existem de forma complementar<br />

às entidades financeiras tradicionais<br />

já estabelecidas, diversificando a oferta<br />

do sector financeiro em si. Pela natureza<br />

dos negócios mais concentrados que as<br />

fintech desenvolvem, estas têm também<br />

mais abertura para apostar na inovação<br />

das soluções, que depois podem ser incorporadas<br />

e aproveitadas por players mais<br />

tradicionais. O cenário ideal seria fomentar<br />

a entrada destes novos players e uma<br />

maior concorrência e interacção entre os<br />

vários agentes do sector, que permitisse<br />

conjugar visões de negócio, sempre em<br />

prol do benefício do consumidor final.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 39


PAGAMENTOS<br />

ADOPÇÃO DE NOVOS MÉTODOS<br />

DE PAGAMENTO<br />

GANHA PESO EM PORTUGAL<br />

Cartões e dinheiro dominam pagamentos, mas<br />

carteiras digitais e soluções móveis estão a crescer.<br />

agar e receber digitalmente é agora uma realidade para<br />

uma fatia crescente da população, não obstante o cartão<br />

P<br />

de débito continuar a ser a preferência dos portugueses<br />

para efectuar pagamentos presenciais (40,6%), seguido dos<br />

pagamentos em dinheiro (22,9%), e as transferências imediatas<br />

são as preferidas para pagamentos online (36,7%),<br />

revela o XII Relatório de Tendências de Meios de Pagamento<br />

da Minsait Payments.<br />

Em Portugal, a percentagem de população adulta bancarizada<br />

é de 93% e, dada a aceitação em praticamente todos os estabelecimentos,<br />

o cartão bancário continua no topo da lista de métodos de<br />

pagamento. Em 2022, 96% dos portugueses tinha cartão de débito,<br />

53% tinha cartão de crédito e apenas 23%<br />

da população tinha cartões pré-pagos, o<br />

valor mais baixo dos países analisados da<br />

Europa, a seguir ao Reino Unido. Entre<br />

os portugueses inquiridos, 30% tem dois<br />

ou mais cartões de crédito, 29% dois ou<br />

mais cartões de débito, e 18% dois ou<br />

mais cartões pré-pagos. A digitalização<br />

dos cartões está a impulsionar o aumento<br />

das carteiras digitais: 28% dos cartões<br />

são virtuais, um valor que supera a média<br />

europeia (24%).<br />

40 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


PAGAMENTOS<br />

Apesar da preponderância do cartão,<br />

as carteiras digitais e as soluções de pagamento<br />

móvel estão a ganhar força, à medida<br />

que o pagamento contactless ou através<br />

de aplicações se torna mais generalizado<br />

no comércio físico. Uma das razões que<br />

pode explicar esta situação é o sucesso do<br />

MB Way, uma solução de pagamentos móveis<br />

para pagamentos presenciais e entre<br />

particulares. De acordo com o relatório,<br />

37% dos portugueses já pagaram através<br />

da leitura de código QR. O pagamento<br />

com dispositivos móveis em terminais<br />

de pagamento (30%), via aplicação (26%)<br />

e por SMS (18%), está também entre os<br />

principais métodos digitais.<br />

De acordo com o estudo da Minsait<br />

Payments, e apesar da diversificação de<br />

meios de pagamento existentes, 46% dos<br />

portugueses encontraram dificuldades<br />

para utilizar os seus meios de pagamento<br />

preferidos, por não se encontrarem disponíveis<br />

no momento de efectuar o pagamento.<br />

Estes resultados corroboram a<br />

visão de mais de metade dos executivos do<br />

sector, entrevistados para o relatório, que<br />

acreditam que o pagamento móvel vai ser<br />

PORTUGAL É O MAIS PREDISPOSTO A ADOPTAR<br />

MEDIDAS PARA MELHORAR A SUSTENTABILIDADE<br />

DOS MEIOS DE PAGAMENTO<br />

80,6%<br />

QUATRO EM CADA 10<br />

PORTUGUESES JÁ PAGARAM<br />

ATRAVÉS DA LEITURA<br />

DO CÓDIGO QR.<br />

30% JÁ O FIZERAM<br />

COM DISPOSITIVOS<br />

MÓVEIS NO TERMINAL<br />

DE PAGAMENTO,<br />

26% VIA APLICAÇÃO<br />

E 18% VIA SMS<br />

PREFERIA UTILIZAR CARTÕES DE PAGAMENTO<br />

FEITOS COM MATERIAIS MAIS SUSTENTÁVEIS<br />

a forma preferida dos consumidores para<br />

efectuarem os seus pagamentos diários<br />

daqui a cinco anos.<br />

O estudo salienta igualmente a popularidade<br />

das transferências imediatas junto<br />

dos portugueses mais jovens, tanto para<br />

enviar ou receber dinheiro, como para pagamentos.<br />

Entre os inquiridos com menos<br />

de 35 anos, a percentagem dos que preferem<br />

pagar por transferência imediata é<br />

quase três vezes superior à dos maiores de<br />

55 anos. No total, 55% dos portugueses inquiridos<br />

efectuaram transferências imediatas<br />

na semana anterior ao inquérito.<br />

Fintechs e paytechs<br />

A banca tradicional mantém-se como<br />

a entidade financeira principal em todos<br />

os países. De acordo com o relatório, 86%<br />

dos portugueses recorreriam a um banco<br />

tradicional para solicitar um serviço<br />

financeiro, por oposição aos 4% que recorreria<br />

a um neobanco. Além disso, 91%<br />

consideram os bancos como a entidade<br />

principal de serviços financeiros e de<br />

pagamento. A proporção da população<br />

bancarizada com pelo menos um serviço<br />

financeiro contratado a mais do que um<br />

prestador de serviços de pagamento é de<br />

96%. Porém, a percentagem de inquiridos<br />

com serviços em dois ou mais bancos<br />

desceu de 53%, em 2020, para 41%, em<br />

2022. Em Portugal, o estudo refere ainda<br />

que, em 2022, 61,5% dos portugueses<br />

tinha apenas uma conta bancária e 38,5%<br />

tinha mais de uma conta.<br />

Seis em cada dez executivos entrevistados<br />

para o estudo acreditam que a<br />

oportunidade de crescimento dos pagamentos<br />

com cartões digitais será impulsionada<br />

pelos neobancos e pela banca<br />

digital, que procuram fornecer soluções<br />

para problemas específicos do utilizador<br />

com o objectivo de melhorar a experiência<br />

do utilizador. Este crescimento será<br />

reforçado por plataformas e mercados<br />

de comércio electrónico, com casos de<br />

utilização como a emissão instantânea e<br />

escalável de cartões virtuais, para pagamento<br />

a partir de múltiplos fornecedores<br />

e comerciantes parceiros.<br />

Por outro lado, os cartões virtuais<br />

de utilização única Buy Now, Pay Later<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 41


PAGAMENTOS<br />

(BNPL), que permitem que as compras sejam<br />

adiadas ou pagas em prestações também<br />

deverão crescer. Embora em Portugal<br />

esta modalidade ainda não tenha muita<br />

adesão, 48% dos especialistas acreditam<br />

que as soluções BNPL serão susceptíveis<br />

de nova regulamentação num futuro próximo,<br />

motivado por um possível risco de sobreendividamento,<br />

que já está a começar a<br />

ser observado noutros países. No entanto,<br />

66% dos executivos inquiridos acreditam<br />

que as fintechs e paytechs são os agentes<br />

mais bem posicionados para capturar a<br />

oportunidade de mercado BNPL.<br />

Num contexto da multiplicidade de<br />

soluções financeiras e de pagamentos<br />

digitais, o estudo destaca a ascensão das<br />

fintechs. Quarenta por cento dos portugueses<br />

inquiridos operam frequentemente<br />

com alguma delas e 19% fazem-no ocasionalmente,<br />

em contraste com a média<br />

europeia: 26% opera frequentemente e<br />

22% utiliza-as de forma ocasional.<br />

Quanto ao pagamento em prestações<br />

no comércio electrónico, mais de metade<br />

dos portugueses inquiridos (53%), que<br />

diferiu um pagamento de comércio electrónico,<br />

acabou por liquidá-lo no mesmo<br />

mês, sem juros. Uma tendência que não é<br />

seguida nos outros mercados analisados<br />

no relatório.<br />

«Após um crescimento devido à pandemia,<br />

a adopção de meios de pagamentos<br />

digitais está a estabilizar em Portugal<br />

e na Europa. A utilização dos novos<br />

meios de pagamento já é generalizada, e o<br />

comércio e as empresas têm de se adaptar<br />

rapidamente para dar resposta aos novos<br />

hábitos de compra, que vieram para ficar,<br />

especialmente entre as gerações mais<br />

jovens», refere Enrique Alvarez, head of<br />

Business Development da Minsait Payments<br />

na Europa.<br />

O fenómeno das criptomoedas, embora<br />

ainda uma minoria, já não pode ser<br />

considerado de nicho porque em alguns<br />

países na América Latina a percentagem<br />

de pessoas que compraram criptomoedas<br />

já atinge um quarto da população bancarizada.<br />

Na Europa, a percentagem de<br />

pessoas que afirmam ter comprado criptomoedas<br />

é mais baixa, 11,6%, dos quais<br />

25,9% já utilizaram um criptocartão.<br />

O CARTÃO DE DÉBITO<br />

CONTINUA A LIDERAR<br />

A PREFERÊNCIA DOS<br />

PORTUGUESES PARA<br />

PAGAMENTOS PRESENCIAIS<br />

(40,6%) E PARA AS<br />

COMPRAS ONLINE<br />

NAS TRANSFERÊNCIAS<br />

IMEDIATAS (36,7%)<br />

Em Portugal, 16,2% da população<br />

bancarizada já comprou criptomoedas<br />

e 5,6% dos portugueses entrevistados já<br />

as utilizaram como forma de pagamento<br />

presencial, colocando Portugal como o<br />

país europeu, deste estudo, que mais utilizou<br />

esta modalidade de pagamento.<br />

Pagamentos sustentáveis<br />

O potencial impacto ambiental dos<br />

meios de pagamento pode ser um elemento<br />

que influencie uma maior digitalização,<br />

no intuito de um comportamento mais<br />

responsável e sustentável. Os pagamentos<br />

digitais são vistos como mais sustentáveis<br />

do que os efectuados com dinheiro ou cartões<br />

de plástico.<br />

No entanto, quando se trata de adoptar<br />

comportamentos que promovam a<br />

sustentabilidade ambiental, a medida que<br />

reúne maior consenso da população é a<br />

de utilização de cartões, embora feitos de<br />

um material sustentável e não de plástico,<br />

e neste caso Portugal é o país mais predisposto<br />

a adoptar esta medida – 80,6%<br />

dos portugueses preferia utilizar cartões<br />

de pagamento feitos com materiais mais<br />

sustentáveis e 65,7% estariam dispostos a<br />

efectuar apenas pagamentos digitais (sem<br />

plástico ou papel).<br />

De acordo com o relatório da Minsait<br />

Payments, a próxima vaga de digitalização<br />

terá impacto em novos fluxos de pagamento,<br />

permitindo que o acesso a produtos e<br />

serviços financeiros seja alargado entre<br />

empresas, consumidores e a administração<br />

pública. O foco da inovação passará dos<br />

consumidores para as empresas durante a<br />

próxima década. Os especialistas concordam<br />

que em todas as áreas onde se realizam<br />

transacções de pagamento, especialmente<br />

em novos fluxos de pagamento em<br />

ambientes B2B (business-to-business) ou<br />

estatais, há um caminho grande a percorrer,<br />

e em ambas as direcções: novas formas<br />

de pagar e de receber.<br />

42 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


OPINIÃO<br />

CIBERSEGURANÇA PARA PME<br />

NAVEGAR ENTRE CERTIFICAÇÕES<br />

E A REALIDADE DE MERCADO<br />

POR PAULO NUNES,<br />

IT HEAD DA ABREU ADVOGADOS<br />

Numa era dominada pela<br />

digitalização e tokenização,<br />

a cibersegurança emerge como<br />

o alicerce da confiança digital.<br />

P<br />

ara as PME, operar<br />

com segurança no<br />

vasto universo digital<br />

não é apenas desejável,<br />

mas também<br />

essencial. Normas como ISO 27001, NIST, PCI DSS<br />

(estas últimas aplicadas a pagamentos) actuam<br />

como bússolas neste trajecto. Segundo um<br />

estudo sobre ataques a PME, 95% dos incidentes<br />

de segurança cibernética em pequenas e médias<br />

empresas custam entre 820 e 650 mil euros,<br />

e, da experiência própria ao embarcar nesta<br />

jornada, é imperativo avaliar meticulosamente os<br />

benefícios e desafios de cada uma destas opções.<br />

PRÓS:<br />

1. Credibilidade no mercado: Estar certificado<br />

sinaliza ao mercado que os processos seguem<br />

padrões internacionais, e aumenta a confiança<br />

dos clientes e parceiros;<br />

2. Melhorias internas: O processo de preparação<br />

para a certificação exige uma análise<br />

minuciosa dos processos internos, e leva muitas<br />

vezes a melhorias operacionais, identificando<br />

riscos organizacionais.<br />

3. Mitigação de riscos: Estar alinhado com<br />

padrões reconhecidos ajuda as empresas a<br />

protegerem-se contra ameaças cibernéticas,<br />

reduzindo possíveis prejuízos.<br />

CONTRAS:<br />

1. Custos associados: O processo de certificação<br />

envolve custos, considerando auditorias,<br />

consultorias e adaptações internas necessárias,<br />

podendo a organização estar preparada para se<br />

alinhar com esta cultura de processos.<br />

2. Adaptação de processos: Cada PME deve<br />

adaptar-se a normas e à realidade específica da<br />

segurança de informação.<br />

3. Sentimento de segurança: Uma certificação<br />

não garante imunidade a ataques. Nas PME existe<br />

muitas vezes a sensação errada de achar que,<br />

por possuir um certificado, todos os riscos estão<br />

devidamente mitigados.<br />

E no epicentro deste debate tem estado a<br />

desconexão entre normas e a necessidade de<br />

responder de forma ágil ao mercado. A cibersegurança<br />

não é estática; novas ameaças surgem<br />

a cada dia, e a flexibilidade para uma PME se<br />

adaptar é vital.<br />

Então, como lidar com esta desconexão?<br />

1. Entendimento profundo: Antes de encetar o<br />

caminho da certificação, é fundamental entender<br />

a relevância para o negócio e para os clientes.<br />

2. Actualização constante: Possuir uma certificação<br />

não é o fim, mas o início. Formações e<br />

actualizações constantes são essenciais.<br />

3. Olhar crítico: As normas são guias, não são<br />

regras inquebráveis. Cada empresa deve adaptá-<br />

-las à sua realidade, sem perder de vista<br />

o objectivo principal: segurança e confiabilidade.<br />

É essencial colaborar com parceiros confiáveis<br />

que possuam expertise em negócios, e não apenas<br />

em segurança.<br />

Em conclusão, apesar das certificações em<br />

cibersegurança oferecerem muitos benefícios,<br />

as PME devem abordá-las de forma equilibrada<br />

e crítica, garantindo que as normas escolhidas<br />

amplifiquem a segurança sem comprometer a<br />

capacidade de resposta ao mercado. O apoio<br />

de uma consultora que garanta a adaptação da<br />

norma à realidade da PME é também um factor<br />

de sucesso para uma garantia de certificação.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 43


ENTREVISTA<br />

«PORTUGAL ESTÁ<br />

A PRECISAR DE UMA<br />

PROPOSTA SÓLIDA<br />

NO QUE DIZ RESPEITO<br />

À BANCA COMO UM<br />

SERVIÇO»<br />

A<br />

presença<br />

O mercado fintech tem assistido a um crescimento<br />

exponencial em todo o mundo, e Portugal não<br />

é excepção à regra. Este tem vindo a redefinir<br />

paradigmas e a desempenhar um papel crucial na<br />

transformação do cenário financeiro do país.<br />

POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />

de diversas fintechs no país está a contribuir para a modernização<br />

do sistema financeiro, estimulando a concorrência,<br />

inspirando a adopção de práticas mais inovadoras, e assumindo<br />

um papel vital no impulso da economia portuguesa para o futuro.<br />

Jon Fath, co-fundador e CEO da fintech portuguesa Rauva, falou<br />

com a Risco sobre o panorama das fintechs a nível nacional, os<br />

projectos em desenvolvimento e perspectivas para o futuro.<br />

Como descreveria o actual cenário das fintechs em Portugal?<br />

Quais os principais desafios e oportunidades?<br />

O sector fintech tem vindo a crescer rapidamente em Portugal nos últimos<br />

anos. Várias startups e empresas têm surgido<br />

em diversas áreas financeiras. Um<br />

dos exemplos desse crescimento é a The<br />

Fintech House, que, no espaço de um ano,<br />

mais do que duplicou o número de empresas<br />

residentes.<br />

Depois, é um sector que se tem destacado<br />

pela sua abordagem inovadora e pelo<br />

uso de tecnologia de ponta. As fintechs<br />

não só têm o potencial de melhorar a inclusão<br />

financeira em Portugal, chegando a<br />

áreas ou segmentos da população que poderão<br />

ter sido negligenciados pelos bancos<br />

tradicionais, como, além disso, também<br />

oferecem soluções que facilitam o acesso a<br />

serviços financeiros.<br />

44 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


Jon Fath,<br />

co-fundador<br />

e CEO da fintech<br />

portuguesa Rauva<br />

ENTREVISTA<br />

do para garantir a estabilidade financeira e<br />

a protecção dos activos dos clientes. Assim<br />

sendo, várias fintechs precisam de obter<br />

licenças ou autorizações de reguladores<br />

financeiros, como o Banco de Portugal e a<br />

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários<br />

(CMVM). Em termos legais, as fintechs<br />

são obrigadas a cumprir regulamentos que<br />

vão desde a prevenção do branqueamento<br />

de capitais, a protecção dos consumidores<br />

e a privacidade de dados. Estas regras,<br />

apesar de muito importantes, exigem um<br />

investimento significativo em tecnologia e<br />

recursos humanos.<br />

Na Rauva, estamos a construir uma<br />

banktech. Os requisitos de licenciamento<br />

enquanto banco exigem a criação de processos<br />

robustos alimentados por soluções<br />

digitais sofisticadas e uma equipa experiente.<br />

Estamos totalmente empenhados neste<br />

esforço e estamos a construir um banco em<br />

total conformidade com o ambiente regulamentar<br />

português. Lidar com o ambiente<br />

regulamentar é uma exigência constante,<br />

mas o cumprimento dos regulamentos<br />

é fundamental para ganhar e manter a<br />

confiança dos nossos clientes.<br />

«O SECTOR FINTECH<br />

EM PORTUGAL<br />

TEM VINDO<br />

A CRESCER<br />

RAPIDAMENTE NOS<br />

ÚLTIMOS ANOS»<br />

No que respeita às oportunidades, o<br />

crescimento das fintechs em Portugal pode<br />

contribuir para o desenvolvimento de um<br />

ecossistema mais rico em inovação e tecnologia,<br />

atraindo investidores e talento<br />

para o país, assim como expandir-se para<br />

mercados internacionais, exportando tecnologia<br />

e conhecimento. Já os principais<br />

desafios prendem-se com o investimento<br />

em medidas de segurança que protejam os<br />

dados dos clientes, e a regulação no sector<br />

financeiro ser rigorosa e intrincada.<br />

Quais os desafios e como lidam as<br />

fintechs com o ambiente regulatório?<br />

O sector financeiro é altamente regula-<br />

Existe uma colaboração significativa<br />

entre as fintechs e as instituições<br />

financeiras tradicionais no país?<br />

Sim, pois são parcerias vantajosas para<br />

ambas as partes. As fintechs trazem inovação<br />

tecnológica e os bancos tradicionais<br />

oferecem experiência regulatória, reputação<br />

e uma base de clientes estabelecida. Alguns<br />

bancos optam inclusive por adquirir<br />

fintechs ou investir nelas, o que lhes permite<br />

obter tecnologias e conhecimento, assim<br />

como lhes dá a oportunidade de modernizar<br />

as suas ofertas de serviços e permanecer<br />

competitivos.<br />

Já os clientes acabam por beneficiar da<br />

variedade de serviços inovadores resultantes<br />

dessas colaborações. No caso da Rauva,<br />

fizemos exactamente o inverso e estamos<br />

a trilhar caminho no sector: enquanto fintech,<br />

assinámos um acordo para adquirir<br />

100% das acções do Banco Empresas Montepio,<br />

porque estamos a construir com tecnologia<br />

de ponta e queremos operá-la com<br />

uma licença bancária para servir o utilizador<br />

final da forma mais completa.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 45


ENTREVISTA<br />

De que forma as fintechs têm<br />

impactado positivamente as<br />

empresas em Portugal?<br />

As fintechs trouxeram benefícios significativos,<br />

tanto para as empresas como<br />

para a economia nacional. Muitas oferecem<br />

ferramentas de gestão financeira como softwares<br />

de contabilidade e soluções de pagamento,<br />

permitindo que as empresas<br />

optimizem as suas finanças e controlem<br />

despesas de forma mais eficiente. Outras<br />

disponibilizam soluções de financiamento<br />

alternativo que podem ser mais vantajosas<br />

que as tradicionais. Já as fintechs de pagamento<br />

oferecem soluções de pagamento<br />

rápidas e convenientes, o que beneficia<br />

empresas que dependem de transacções<br />

financeiras.<br />

Em termos de custos, as fintechs podem<br />

oferecer taxas mais baixas e/ou transparentes<br />

comparativamente a instituições<br />

financeiras tradicionais, algo que os clientes<br />

procuram para as suas operações diárias.<br />

No fundo, a agilidade e a capacidade<br />

de adaptação das fintechs são especialmente<br />

benéficas para as organizações que<br />

necessitam de soluções financeiras ágeis<br />

e personalizadas.<br />

Quais as principais dificuldades das<br />

empresas na gestão das suas finanças?<br />

Até agora, o processo de criação e gestão<br />

de uma empresa tem sido altamente<br />

complexo, fragmentado e offline. O panorama<br />

actual em Portugal não permite a<br />

abertura de uma conta comercial de forma<br />

exclusivamente digital. Este processo<br />

demora normalmente entre uma a quatro<br />

semanas e é necessária a deslocação a agências<br />

físicas, o que é moroso e inconveniente,<br />

com a maioria (73%) dos empreendedores<br />

a afirmar que não é fácil abrir uma<br />

conta na Europa.<br />

Depois, a conta da empresa só pode ser<br />

registada e utilizada através de uma determinada<br />

aplicação, as facturas são emitidas<br />

num software específico e o seu acompanhamento<br />

e reconciliação com o extracto<br />

tem de ser feito manualmente. Esta dispersão<br />

torna a actividade de empresário muito<br />

exigente e demorada.<br />

Além disso, no caso das PME, não existem<br />

soluções de gestão financeira desenhadas<br />

para elas. Num contexto empresarial<br />

onde os recursos são escassos, os gestores<br />

acabam por dedicar mais de 10 horas semanais<br />

a tarefas administrativas, impedindo-os<br />

de dedicar tempo ao crescimento das<br />

suas empresas. Depois, é também exigido<br />

aos empresários que conheçam e garantam<br />

a regulamentação fiscal, algo que pode ser<br />

desafiante e complexo.<br />

A Rauva é uma one-stop shop que está<br />

a combater todos estes constrangimentos,<br />

ao integrar vários serviços e funcionalidades<br />

de gestão empresarial numa só plataforma<br />

digital, facilmente acessível a todos,<br />

com o objectivo de impactar mais de 99,9%<br />

das empresas em Portugal e ajudá-las a<br />

manter o seu foco no crescimento e não em<br />

questões administrativas e burocráticas.<br />

Como é que a automação e a<br />

digitalização financeira estão a ser<br />

incorporadas para optimizar os<br />

processos empresariais?<br />

A incorporação de automação e digitalização<br />

na optimização dos processos<br />

empresariais está a desempenhar um papel<br />

cada vez mais importante, pois permite<br />

«A CRESCENTE PRESENÇA DE FINTECHS NO PAÍS<br />

OFERECE ÀS EMPRESAS OPORTUNIDADES<br />

DE ACESSO A SOLUÇÕES<br />

FINANCEIRAS INOVADORAS»<br />

que as empresas aumentem a eficiência,<br />

economizem tempo e dinheiro, reduzam<br />

erros e melhorem o acesso a informações<br />

financeiras cruciais. Alguns exemplos dessas<br />

práticas são a facturação e os pagamentos<br />

electrónicos, as ferramentas de gestão<br />

de despesas digitais e os relatórios financeiros<br />

automatizados.<br />

Quais as estratégias adoptadas para<br />

ajudar as empresas a mitigar riscos em<br />

ambientes financeiros voláteis?<br />

Nos últimos anos, os clientes do sector<br />

financeiro mundial têm vindo a adaptar-se<br />

a choques económicos atrás uns dos outros<br />

– desde a pandemia de Covid-19 à guerra<br />

na Ucrânia, passando pela subida das taxas<br />

de juro para níveis que não se viam há mais<br />

de uma década. Todos estes acontecimentos<br />

se repercutem nos mercados financeiros<br />

e afectam as finanças das empresas. A<br />

oferta de produtos financeiros simples e de<br />

fácil acesso é essencial para apoiar as empresas<br />

nestes tempos difíceis. Isto inclui a<br />

concessão de crédito, um domínio em que<br />

existe uma lacuna significativa no mercado,<br />

especialmente para as PME. Há mais a fazer<br />

neste espaço e a Rauva está aqui para<br />

preencher este vazio, uma vez que esperamos<br />

lançar uma variedade de produtos de<br />

crédito para as PME no futuro.<br />

46 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


Como analisa a literacia financeira<br />

das empresas e dos empresários<br />

portugueses?<br />

Existem programas de formação e<br />

educação em finanças disponíveis para<br />

empresários e gestores de empresas em<br />

Portugal e a verdade é que a crescente presença<br />

de fintechs no país oferece às empresas<br />

oportunidades de acesso a soluções<br />

financeiras inovadoras que melhoram a<br />

gestão financeira. Na verdade, segundo o<br />

primeiro relatório sobre a literacia financeira<br />

de empresários de micro e pequenas<br />

empresas – Portugal 2021, os empreendedores<br />

portugueses apresentam dos maiores<br />

níveis de literacia financeira entre 14<br />

países da Rede Internacional de Educação<br />

Financeira da OCDE. No caso das pequenas<br />

empresas, Portugal ocupa mesmo o<br />

2.º lugar no indicador global de literacia<br />

financeira nas empresas.<br />

Contudo, a conformidade com regulamentações<br />

fiscais e financeiras pode ser<br />

complexa e desafiadora. Neste campo, é<br />

essencial o investimento em formação a<br />

empresários de modo a tomarem decisões<br />

financeiras mais informadas.<br />

A melhoria da literacia financeira só irá<br />

contribuir para o sucesso e estabilidade do<br />

sector empresarial em Portugal e algumas<br />

fintechs já estão a trabalhar nesse sentido,<br />

Sam Mizrahi<br />

e Jon Fath,<br />

co-fundadores<br />

da Rauva<br />

ao fornecerem informações financeiras<br />

acessíveis, simplificarem alguns serviços<br />

complexos, incorporarem recursos de educação<br />

financeira, e ao oferecerem ferramentas<br />

de gestão financeira, entre outros.<br />

É este o caso da Rauva, que apoia os<br />

empresários ao longo de todo o seu percurso,<br />

com conteúdos educativos e transparência,<br />

bem como com um acesso fácil a<br />

uma equipa de apoio receptiva.<br />

ENTREVISTA<br />

Como é que a Rauva está a ajudar os<br />

clientes a compreender e maximizar os<br />

benefícios das suas soluções?<br />

A Rauva integra vários serviços e funcionalidades<br />

de gestão empresarial numa<br />

one-stop shop. Temos um processo de<br />

onboarding simples e 100% digital, que<br />

permite a qualquer empresa registar a sua<br />

nova conta empresarial em apenas alguns<br />

minutos. É a única solução integrada em<br />

Portugal que permite fazer pagamentos,<br />

emitir cartões de débito, enviar facturas em<br />

conformidade com a Autoridade Tributária,<br />

gerir despesas e ter o negócio monitorizado<br />

por contabilistas para garantir o total<br />

cumprimento dos regulamentos.<br />

Além disso, a Rauva oferece o serviço<br />

de criação de empresas com o apoio de advogados<br />

e contabilistas certificados, quando<br />

o negócio ainda não está materializado,<br />

ajudando portugueses e estrangeiros a<br />

prosperar em território nacional.<br />

Estamos também a apoiar os empresários<br />

ao longo do seu percurso e trabalhamos<br />

continuamente para fornecer mais soluções<br />

com base no feedback dos nossos clientes.<br />

Para tal, estamos sempre em contacto com<br />

os nossos utilizadores para compreender as<br />

suas necessidades e melhorar a aplicação,<br />

que é actualizada duas vezes por semana.<br />

A optimização e simplificação dos processos<br />

burocráticos, bem como a promoção<br />

da literacia para o empreendedorismo e<br />

a gestão empresarial, promovem um maior<br />

estímulo em inovação e ao crescimento.<br />

Por isso, podemos dizer que a Rauva tem<br />

um impacto directo e positivo no quotidiano<br />

dos empresários de PME e freelancers<br />

– que representam 99,9% do tecido empresarial<br />

português e, consequentemente, na<br />

economia nacional.<br />

Que tendências prevê para o sector de<br />

fintech em Portugal nos próximos anos?<br />

Portugal está a precisar de uma proposta<br />

sólida no que diz respeito à banca<br />

como um serviço, tendo o potencial de<br />

impulsionar a inovação, não só no espaço<br />

dos neobancos, mas também no financiamento<br />

integrado.<br />

No ano passado, tivemos a honra de<br />

participar no programa Portugal FinLab,<br />

organizado pelo Banco de Portugal, pela<br />

CMVM e pela Autoridade de Supervisão<br />

de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), e<br />

agora gostaria de ajudar o ecossistema,<br />

criando inovação e compreendendo melhor<br />

as possibilidades do mercado, para<br />

que a tecnologia e a banca trabalhem em<br />

conjunto. Isto será possível graças aos reguladores<br />

e a estes programas.<br />

Outras tendências incluem a contínua<br />

emergência dos bancos digitais e o papel<br />

da Inteligência Artificial no mercado das<br />

fintech, que certamente será cada vez mais<br />

significativo, melhorando a personalização<br />

e eficiência dos serviços financeiros.<br />

O tema da sustentabilidade financeira<br />

também deve ser levado para cima da<br />

mesa, pois o foco nas questões de sustentabilidade<br />

e nos investimentos éticos poderá<br />

reflectir-se em soluções mais verdes<br />

e responsáveis.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 47


TECNOLOGIA<br />

O QUE SE SEGUE<br />

PARA OS<br />

SUPERCOMPUTADORES<br />

MAIS RÁPIDOS<br />

DO MUNDO<br />

O supercomputador em questão chama-se Frontier.<br />

Ocupa o espaço de dois campos de ténis no Laboratório<br />

Nacional de Oak Ridge, nas colinas do leste do Tennessee,<br />

onde foi apresentado em Maio de 2022.<br />

POR SOPHIA CHEN, MIT TECHNOLOGY REVIEW<br />

P<br />

ode ser difícil compreender a capacidade de processamento<br />

de números do supercomputador mais rápido do<br />

mundo. Mas Jack Dongarra, cientista informático da Universidade<br />

do Tennessee, explica-o da seguinte forma: «Se<br />

todos na Terra fizessem um cálculo por segundo, seriam<br />

necessários quatro anos para igualar o que este computador<br />

consegue fazer num segundo.»<br />

Eis mais algumas especificações: o Frontier utiliza cerca de 50 mil<br />

processadores, em comparação com os 16 ou 24 dos computadores portáteis<br />

mais potentes. Consome 20 milhões de watts, em comparação<br />

com os cerca de 65 watts de um computador portátil. A sua construção<br />

custou 570 milhões de euros.<br />

Quando o Frontier entrou em funcionamento, marcou o início<br />

da chamada computação “exascale”, com máquinas que podem executar<br />

um “exaflop” — ou um trilião (1018) de operações de vírgula<br />

flutuante por segundo. Desde então, os cientistas têm-se preparado<br />

para fabricar mais destes computadores incrivelmente rápidos: várias<br />

máquinas exascale deverão entrar em funcionamento nos EUA e na<br />

Europa em 2024.<br />

Mas a velocidade em si não é o objectivo<br />

final. Os investigadores estão a criar<br />

computadores exascale para explorarem<br />

questões científicas e de engenharia anteriormente<br />

inacessíveis nos domínios da<br />

biologia, clima, astronomia e outros. Nos<br />

próximos anos, os cientistas utilizarão o<br />

Frontier para efectuar as simulações informáticas<br />

mais complicadas que o ser<br />

humano alguma vez concebeu. Esperam<br />

assim responder a perguntas ainda sem<br />

resposta sobre a natureza e conceber<br />

novas tecnologias em áreas que vão dos<br />

transportes à medicina.<br />

Evan Schneider, da Universidade de<br />

Pittsburgh, por exemplo, utiliza o Frontier<br />

para fazer simulações da evolução da nossa<br />

galáxia ao longo do tempo. Em particular,<br />

está interessada no fluxo de gás que entra<br />

48 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


TECNOLOGIA<br />

e sai da Via Láctea. Uma galáxia respira, de<br />

certa forma: o gás entra nela, fundindo-se<br />

em estrelas através da gravidade, mas o<br />

gás também sai – por exemplo, quando as<br />

estrelas explodem e libertam matéria. Schneider<br />

estuda os mecanismos pelos quais<br />

as galáxias exalam. «Podemos comparar as<br />

simulações com o universo real observado,<br />

e isso dá-nos uma ideia se estamos a fazer<br />

bem a física», explica.<br />

Schneider usa o Frontier para construir<br />

um modelo informático da Via Láctea com<br />

uma resolução suficientemente alta para<br />

fazer zoom em estrelas individuais em explosão.<br />

Isto significa que o modelo tem de<br />

captar as propriedades em grande escala da<br />

nossa galáxia a 100 mil anos-luz, bem como<br />

as propriedades das supernovas a cerca de<br />

10 anos-luz de distância. «Isso ainda não<br />

COMO OAK RIDGE TEM CRIADO SUPERCOMPUTADORES CADA<br />

VEZ MAIORES, OS ENGENHEIROS TÊM TRABALHADO PARA<br />

MELHORAR A EFICIÊNCIA DAS MÁQUINAS COM INOVAÇÕES<br />

QUE INCLUEM UM NOVO MÉTODO DE ARREFECIMENTO<br />

foi feito», afirma. Para se ter uma ideia do<br />

significado dessa resolução, seria análogo a<br />

criar um modelo fisicamente exacto de uma<br />

lata de cerveja, juntamente com as células<br />

de levedura individuais que a compõem e<br />

as interacções em cada escala intermédia.<br />

Stephan Priebe, engenheiro sénior da<br />

GE, utiliza o Frontier para simular a aerodi-<br />

nâmica da próxima geração de aviões. Para<br />

aumentar a eficiência do combustível, a GE<br />

está a investigar uma concepção de motor<br />

conhecida como “arquitectura de ventilador<br />

aberto”. Os motores a jacto usam ventoinhas<br />

para gerar impulso, e ventoinhas<br />

maiores significam maior eficiência. Para<br />

as tornar ainda maiores, os engenheiros<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 49


TECNOLOGIA<br />

O FRONTIER UTILIZA CERCA DE 50 MIL PROCESSADORES, EM<br />

COMPARAÇÃO COM OS 16 OU 24 DOS COMPUTADORES PORTÁTEIS<br />

MAIS POTENTES. CONSOME 20 MILHÕES DE WATTS,<br />

EM COMPARAÇÃO COM OS CERCA DE 65 WATTS<br />

DE UM COMPUTADOR PORTÁTIL<br />

propuseram a remoção da estrutura exterior,<br />

conhecida como “nacelle”, para as pás<br />

ficarem expostas como num cata-vento.<br />

«As simulações permitem-nos obter uma<br />

visão pormenorizada do desempenho aerodinâmico<br />

no início da fase de projecto»,<br />

refere Priebe. Dão aos engenheiros uma<br />

ideia do formato das pás da ventoinha para<br />

melhorar a aerodinâmica, por exemplo, ou<br />

para as tornar mais silenciosas.<br />

O Frontier beneficiará particularmente<br />

os estudos de Priebe sobre turbulência, o<br />

movimento caótico de um fluido perturbado<br />

– neste caso, o ar – à volta da ventoinha.<br />

A turbulência é um fenómeno comum.<br />

Vemo-lo no bater das ondas do mar e no<br />

fumo enrolado que sai de uma vela apagada.<br />

Mas os cientistas ainda têm dificuldade<br />

em prever como um fluido turbulento flui<br />

exactamente. Isto porque se move em resposta<br />

a influências macroscópicas, como as<br />

alterações de pressão e temperatura, e a influências<br />

microscópicas, como a fricção de<br />

moléculas individuais de azoto no ar umas<br />

contra as outras. A interacção de forças em<br />

múltiplas escalas complica o movimento.<br />

«Na pós-graduação, [um professor]<br />

disse-me uma vez: “Bronson, se alguém<br />

lhe disser que compreende a turbulência,<br />

deve pôr uma mão na carteira e sair da<br />

sala, porque estão a tentar vender-lhe alguma<br />

coisa”», observa o astrofísico Bronson<br />

Messer, director de ciência da Oak Ridge<br />

Leadership Computing Facility, que alberga<br />

o Frontier. «Ninguém compreende a turbulência.<br />

É de facto o último grande problema<br />

da física clássica.»<br />

Estes estudos científicos ilustram o<br />

ponto forte dos supercomputadores: a simulação<br />

simultânea de objectos físicos a<br />

várias escalas. Outras aplicações reflectem<br />

este tema. O Frontier permite modelos climáticos<br />

mais precisos, que têm de simular<br />

o clima a diferentes escalas espaciais em<br />

todo o planeta e também a escalas de tempo<br />

longas e curtas. Os físicos podem também<br />

simular a fusão nuclear, o processo<br />

turbulento pelo qual o Sol gera energia ao<br />

juntar átomos para formar elementos diferentes.<br />

Pretendem compreender melhor<br />

o processo para desenvolver a fusão como<br />

uma tecnologia de energia limpa. Embora<br />

este tipo de simulações multiescala tenha<br />

sido um elemento básico da supercomputação<br />

durante muitos anos, o Frontier pode<br />

incorporar uma gama mais vasta de escalas<br />

diferentes do que nunca.<br />

Para utilizar o Frontier, cientistas aprovados<br />

ligam-se remotamente ao supercomputador,<br />

submetendo os seus trabalhos<br />

através da internet. Para tirar o máximo<br />

partido da máquina, Oak Ridge pretende<br />

que cerca de 90% dos processadores do supercomputador<br />

efectuem cálculos 24 horas<br />

por dia, sete dias por semana. «Entramos<br />

numa espécie de estado estacionário em<br />

que fazemos constantemente simulações<br />

científicas durante alguns anos», nota Messer.<br />

Os utilizadores guardam os seus dados<br />

em Oak Ridge numa instalação de armaze-<br />

50 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


TECNOLOGIA<br />

namento de dados que pode armazenar até<br />

700 petabytes, o equivalente a cerca de 700<br />

mil discos rígidos portáteis.<br />

Embora o Frontier seja o primeiro supercomputador<br />

exascale, outros estão a<br />

caminho. Nos EUA, os investigadores estão<br />

actualmente a instalar duas máquinas<br />

que terão capacidade para mais de dois<br />

exaflops: o Aurora, no Laboratório Nacional<br />

de Argonne, em Illinois, e o El Capitan,<br />

no Laboratório Nacional Lawrence Livermore,<br />

na Califórnia. A partir do início de<br />

2024, os cientistas tencionam utilizar o Aurora<br />

para criar mapas de neurónios no cérebro<br />

e procurar catalisadores que possam<br />

tornar mais eficientes processos industriais,<br />

como a produção de fertilizantes. O El Capitan,<br />

também previsto para 2024, simulará<br />

armas nucleares para ajudar o governo a<br />

manter as suas reservas sem efectuar testes<br />

de armas. Entretanto, a Europa planeia<br />

instalar o seu primeiro supercomputador<br />

exascale, o Jupiter, no final de 2024.<br />

A China supostamente também tem<br />

supercomputadores exascale, mas não divulgou<br />

os resultados dos testes de referência<br />

padrão do seu desempenho, pelo que<br />

os computadores não aparecem no Top<br />

500, uma lista semestral dos supercomputadores<br />

mais rápidos. «Os chineses estão<br />

preocupados com o facto de os EUA imporem<br />

mais limites na tecnologia que vai<br />

para a China e estão relutantes em revelar<br />

quantas destas máquinas de alto desempenho<br />

estão disponíveis», diz Dongarra,<br />

que concebeu o teste de referência que os<br />

QUANDO O FRONTIER ENTROU EM FUNCIONAMENTO, MARCOU<br />

O INÍCIO DA COMPUTAÇÃO “EXASCALE”, COM MÁQUINAS QUE<br />

PODEM EXECUTAR UM “EXAFLOP” – OU UM TRILIÃO (1018) DE<br />

OPERAÇÕES DE VÍRGULA FLUTUANTE POR SEGUNDO<br />

supercomputadores têm de executar para<br />

o Top 500.<br />

A fome de mais poder de computação<br />

não pára com o exascale. Oak Ridge já está<br />

a pensar na próxima geração de computadores,<br />

indica Messer. Estes teriam três a<br />

cinco vezes mais capacidade de computação<br />

do que o Frontier. Mas há um grande<br />

desafio: o enorme consumo de energia. A<br />

energia que o Frontier consome, mesmo<br />

quando funciona em vazio, é suficiente<br />

para dar energia a milhares de casas. «É<br />

provável que não seja sustentável criarmos<br />

máquinas cada vez maiores», assinala.<br />

Como Oak Ridge tem criado supercomputadores<br />

cada vez maiores, os engenheiros<br />

têm trabalhado para melhorar a<br />

eficiência das máquinas com inovações que<br />

incluem um novo método de arrefecimento.<br />

O Summit, o antecessor do Frontier que<br />

ainda funciona em Oak Ridge, gasta cerca<br />

de 10% do seu consumo total de energia<br />

para se arrefecer. Em comparação, 3% a 4%<br />

do consumo de energia do Frontier é para<br />

arrefecimento. Esta melhoria resulta da<br />

utilização de água à temperatura ambiente<br />

para arrefecer o supercomputador, em vez<br />

de água refrigerada.<br />

Os supercomputadores da próxima geração<br />

conseguirão simular ainda mais escalas<br />

em simultâneo. Por exemplo, com o<br />

Frontier, a simulação da galáxia de Schneider<br />

tem uma resolução de dezenas de anos-<br />

-luz. Mas isso ainda não é suficiente para<br />

chegar à escala das supernovas individuais,<br />

pelo que os investigadores têm de simular<br />

as explosões individuais separadamente.<br />

Um futuro supercomputador poderá conseguir<br />

unir todas estas escalas.<br />

Ao simularem a complexidade da natureza<br />

e da tecnologia de forma mais realista,<br />

estes supercomputadores alargam os limites<br />

da ciência. Uma simulação mais realista<br />

de uma galáxia coloca a vastidão do universo<br />

na ponta dos dedos dos cientistas. Um<br />

modelo exacto da turbulência do ar em torno<br />

da ventoinha de um avião evita a necessidade<br />

de construir um túnel de vento de<br />

custo proibitivo. Melhores modelos climáticos<br />

permitem aos cientistas prever o destino<br />

do nosso planeta. Por outras palavras,<br />

dão-nos uma nova ferramenta para nos<br />

prepararmos para um futuro incerto.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 51


TRABALHO<br />

INTELIGÊNCIA DO<br />

PARA AS ORGANIZAÇÕES<br />

TOTALMENTE REMOTAS,<br />

A INTEGRAÇÃO DE DEBATES SOBRE<br />

BEM-ESTAR NAS AVALIAÇÕES<br />

ANUAIS E O INÍCIO<br />

DE REUNIÕES DE EQUIPA REMOTAS,<br />

COM UMA RÁPIDA RONDA DE<br />

RELATÓRIOS DE BEM-ESTAR,<br />

PODEM SER UMA FORMA<br />

SIMPLES DE DEMONSTRAR QUE<br />

O BEM-ESTAR<br />

DOS COLABORADORES<br />

É IMPORTANTE<br />

52 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


TRABALHO<br />

UM CONJUNTO DE<br />

COMPETÊNCIAS PARA<br />

O NOVO MUNDO DO<br />

TRABALHO<br />

BEM-ESTAR<br />

O aumento do número de dias de baixa por doença dos<br />

trabalhadores está a tornar-se uma preocupação em<br />

muitos países desenvolvidos.<br />

POR THOMAS ROULET E KIRAN BHATTI MIT SLOAN MANAGEMENT REVIEW<br />

a Suécia, o número de dias de baixa por trabalhador aumentou<br />

um dia inteiro por ano de 2021 a 2022. Nos EUA, a taxa<br />

N<br />

de absentismo é a mais elevada há uma década; só em Dezembro<br />

de 2022, estima-se que 1,5 milhões de norte-americanos<br />

tenham faltado ao trabalho.<br />

Embora as vagas contínuas de infecções por Covid-19 tenham<br />

desempenhado um papel no absentismo, há também<br />

provas de um aumento dos problemas de saúde mental, que<br />

foram responsáveis por 20% dos dias de baixa utilizados em França em 2022<br />

– um aumento de 17% em 2021 e 15% em 2020. Para o Serviço Nacional de<br />

Saúde do Reino Unido, o custo dos dias de baixa por doença relacionados<br />

com problemas de saúde mental duplicou desde o início da pandemia, totalizando<br />

quase 500 milhões por ano.<br />

Há muitas explicações que se sobrepõem para esta aparente diminuição<br />

do bem-estar no trabalho. O mais óbvio é que estamos a emergir de uma<br />

pandemia global que exigiu que, tanto organizações como trabalhadores, fossem<br />

resilientes face a condições de trabalho stressantes, para além das preocupações<br />

com a saúde e a família. Se acrescentarmos uma crise de custo de<br />

vida, é evidente que a ansiedade começa a<br />

dominar a nossa experiência de trabalho.<br />

Além disso, quando os colegas se ausentam<br />

devido a doenças ou problemas de saúde<br />

mental, isso pode criar um efeito dominó,<br />

uma vez que os que ficam para trás têm de<br />

assumir responsabilidades adicionais a curto<br />

prazo.<br />

Muitas organizações, como a Vitality, a<br />

Salesforce e a Infosys, conceberam aquilo<br />

a que chamamos estratégias organizacionais<br />

para o bem-estar, mediante iniciativas<br />

como a reformulação da sua cultura e a<br />

oferta de benefícios directos de bem-estar.<br />

Estas mudanças podem envolver a formação<br />

de líderes em bem-estar, a oferta de benefícios,<br />

como meditação ou aplicações de<br />

bem-estar, ou o acesso a aconselhamento.<br />

A tendência para o aumento dos dias<br />

de baixa por doença e dos problemas de<br />

saúde mental exige que se concentre a<br />

atenção nestas iniciativas de bem-estar no<br />

local de trabalho. Propomos o conceito de<br />

inteligência do bem-estar para os gestores<br />

como um conjunto de competências e uma<br />

ferramenta para compreender e melhorar o<br />

seu próprio bem-estar e o dos seus trabalhadores.<br />

À medida que os desafios no local<br />

de trabalho aumentam, a inteligência do<br />

bem-estar torna-se uma competência de liderança<br />

essencial. Os gestores eficazes devem<br />

conseguir detectar quando os outros<br />

têm dificuldades no seu bem-estar, e saber<br />

quando e como oferecer apoio.<br />

Muitas pessoas estão familiarizadas<br />

com o conceito de inteligência emocional<br />

– a maneira como as pessoas compreendem<br />

as suas próprias emoções, as regulam<br />

e abordam as emoções dos outros – popularizado<br />

por Dan Goleman no seu livro.<br />

Embora as emoções e o bem-estar estejam<br />

interligados, diferem na sua definição e no<br />

seu impacto no trabalho. As emoções são<br />

mais difusas e o seu efeito no trabalho é<br />

menos directo do que o do bem-estar. Podemos<br />

experimentar uma grande variedade<br />

de emoções durante um curto período,<br />

com o nosso humor a mudar consoante<br />

o contexto, as pessoas à nossa volta ou os<br />

nossos próprios pensamentos. O bem-estar,<br />

no entanto, é um estado a longo prazo,<br />

que influencia o comportamento e as interacções<br />

no local de trabalho e fora dele.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 53


TRABALHO<br />

Círculos da inteligência do bem-estar<br />

Quando os líderes reconhecem que<br />

existem problemas de saúde mental no local<br />

de trabalho, podem mudar a cultura e aumentar<br />

a consciencialização para esta preocupação<br />

premente. Líderes de todos os níveis<br />

podem sentir-se deprimidos, ansiosos e<br />

stressados no trabalho, mas, ao reconhecer<br />

e abordarem as causas profundas, podem<br />

demonstrar o seu empenho em apoiar o seu<br />

próprio bem-estar e o dos outros.<br />

O modelo abaixo resume os conjuntos<br />

de competências essenciais da inteligência<br />

do bem-estar: identificar os principais<br />

desafios da saúde mental, como o stress<br />

e a ansiedade; reconhecer as suas causas<br />

profundas; e conceber abordagens para os<br />

resolver a nível individual, da equipa e da<br />

organização. O primeiro passo é desenvolver<br />

a autoconsciência do próprio bem-estar.<br />

Esta permite que os indivíduos compreendam<br />

os seus pensamentos, sentimentos e<br />

comportamentos, e ajustem as práticas de<br />

trabalho individuais em conformidade para<br />

o autocuidado.<br />

Compreender o nosso próprio bem-estar<br />

ajuda-nos a perceber e a explicar como o<br />

dos outros também pode ser afectado, a detectar<br />

os desafios que enfrentam e a agir relativamente<br />

a esses problemas e aos nossos<br />

(que podem ser os mesmos). Por sua vez,<br />

observar e agir sobre o bem-estar permitirá<br />

aprender com a experiência, ajudando,<br />

em última análise, os gestores a implementarem<br />

mudanças ao nível da equipa. Isto,<br />

por sua vez, alargará o apoio ao bem-estar<br />

e encorajará o desenvolvimento de normas<br />

positivas em toda a organização.<br />

dos outros é limitado. Para serem atentos,<br />

ponderados, resilientes e colaborativos, os<br />

gestores devem começar por se concentrar<br />

no seu próprio bem-estar e adoptar as seguintes<br />

medidas:<br />

Auto-avaliar continuamente a sua própria<br />

saúde mental – nesta primeira etapa,<br />

reflectimos sobre as nossas experiências no<br />

trabalho e identificamos como estas afectam<br />

o nosso bem-estar, positiva ou negativamente.<br />

O stress é actualmente provocado<br />

por interacções específicas no trabalho ou<br />

por períodos específicos, como prazos orçamentais?<br />

Ou é a experiência de um sentimento<br />

persistente de pavor – típico da<br />

ansiedade – quando vamos para o trabalho?<br />

A inteligência do bem-estar requer uma auto-reflexão<br />

contínua, em vez de se ignorar<br />

as necessidades até que estas se tornem demasiado<br />

graves para o serem.<br />

Fazer mudanças concretas na sua própria<br />

abordagem ao trabalho – a auto-análise<br />

permite que os líderes façam alterações<br />

nas práticas ou estruturas de trabalho<br />

Inteligência do bem-estar na prática<br />

A aplicação da inteligência do bem-estar<br />

exige um esforço dedicado e uma mudança<br />

de comportamento a três níveis.<br />

1. Dar prioridade ao bem-estar individual.<br />

O primeiro passo de um gestor para<br />

aumentar a sua inteligência de bem-estar é<br />

olhar para dentro de si próprio para reconhecer<br />

os seus próprios desafios de saúde<br />

mental no trabalho e identificar as suas<br />

fontes. Sem a capacidade de compreender<br />

o que afecta a nossa própria saúde mental<br />

e quais os desafios que enfrentamos, o<br />

nosso potencial para resolver os problemas<br />

54 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


TRABALHO<br />

MUITAS ORGANIZAÇÕES, COMO<br />

A VITALITY, A SALESFORCE<br />

E A INFOSYS, CONCEBERAM AQUILO<br />

A QUE CHAMAMOS ESTRATÉGIAS<br />

ORGANIZACIONAIS PARA O BEM-ESTAR,<br />

MEDIANTE INICIATIVAS COMO<br />

A REFORMULAÇÃO<br />

DA SUA CULTURA E A OFERTA<br />

DE BENEFÍCIOS DIRECTOS<br />

DE BEM-ESTAR<br />

que respondam aos desafios. Por exemplo,<br />

descobrimos que, no contexto do trabalho<br />

híbrido, quando a abundância de reuniões<br />

provocava um aumento dos níveis de stress,<br />

o bem-estar dos executivos seniores beneficiava<br />

mais com as horas de enfoque. Na<br />

sequência do stress, os gestores podem rever<br />

a sua gestão do tempo no trabalho e reafectar<br />

tarefas para protegerem o seu próprio<br />

tempo de enfoque. Os gestores inteligentes<br />

em termos de bem-estar também têm mais<br />

probabilidade de proteger o seu tempo livre,<br />

prevenindo o burnout.<br />

2. Melhorar o bem-estar da equipa.<br />

Embora a auto-avaliação seja essencial para<br />

a inteligência de bem-estar, é provável que<br />

os problemas enfrentados por um indivíduo<br />

sejam sentidos por outros membros da<br />

equipa. Por conseguinte, o conhecimento e<br />

a compreensão pessoais destas questões podem<br />

ajudar a resolvê-las colectivamente ao<br />

tomar as medidas seguintes:<br />

Avaliar o bem-estar dos membros da<br />

equipa – a realização de breves inquéritos<br />

de opinião é uma boa forma de obter dados<br />

anónimos sobre a saúde mental dos<br />

colaboradores, uma vez que permite que as<br />

pessoas comuniquem os problemas discre-<br />

tamente. A um nível mais pessoal, quando<br />

a confiança tiver sido estabelecida, reuniões<br />

anuais de avaliação ou mesmo conversas<br />

informais podem ser ferramentas úteis para<br />

avaliar os desafios de bem-estar que os colaboradores<br />

enfrentam. As informações<br />

recolhidas através destes esforços podem<br />

ser avaliadas e tratadas pelos gestores que<br />

compreendem como e porquê desafios semelhantes<br />

aos seus podem afectar os trabalhadores.<br />

Se os gestores observarem desafios<br />

de bem-estar entre os seus colegas<br />

que diferem dos seus, a experiência de terem<br />

aprendido e abordado os seus próprios<br />

problemas tê-los-á provavelmente ensinado<br />

a desenvolver uma abordagem sistemática<br />

para separar os problemas de bem-estar das<br />

suas causas profundas.<br />

Melhorar as práticas de trabalho – as informações<br />

recolhidas através das avaliações<br />

podem fornecer provas e criar ímpeto para<br />

se mudar as práticas organizacionais, e o<br />

próprio processo cria uma consciencialização<br />

e aceitação das questões de saúde mental<br />

em geral. Ao nível da gestão, as pequenas<br />

mudanças são importantes; impor horários<br />

de trabalho limitados, encorajar um equilíbrio<br />

saudável entre a vida profissional e<br />

a vida privada, ou estabelecer pausas dedicadas<br />

e dias sem reuniões pode fazer uma<br />

diferença significativa nos membros da<br />

equipa. Convidar os trabalhadores com dificuldades<br />

a pedir apoio à sua equipa ou aos<br />

seus gestores melhorará o bem-estar, tanto<br />

directa como indirectamente, reduzindo a<br />

vergonha e o estigma frequentemente associados<br />

aos problemas de saúde mental.<br />

3. Promover a mudança sistémica.<br />

Compreender e dar prioridade ao bem-estar<br />

individual e da equipa pode desencadear<br />

uma mudança mais ampla e inspirar novas<br />

abordagens nas organizações.<br />

Alargar o apoio organizacional ao bem-<br />

-estar – algumas questões de bem-estar exigem<br />

um apoio a um nível mais elevado do<br />

que aquele que um gestor individual pode<br />

dar. As políticas organizacionais relativas a<br />

acordos de trabalho flexíveis ou tempo livre<br />

são cruciais para garantir que os colaboradores<br />

preservem limites fortes entre o seu<br />

lado profissional e pessoal. Se a carga de<br />

trabalho for um problema importante, pode<br />

ser útil melhorar a concepção das funções,<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 55


TRABALHO<br />

redistribuir as tarefas, ou considerar formas<br />

de aumentar o pessoal ou o apoio em áreas<br />

específicas da organização.<br />

Alterar as normas organizacionais – algumas<br />

normas organizacionais – a maneira<br />

como o feedback é fornecido, os estilos de<br />

comunicação da gestão (principalmente se<br />

os gestores comunicam depois do horário<br />

de trabalho), ou as atitudes em relação a faltas<br />

por doença – podem desencadear problemas<br />

de bem-estar. Identificar e abordar<br />

estas normas a nível individual e de equipa<br />

podem ajudar a mudar essas práticas bem<br />

enraizadas. Destacar as consequências dessas<br />

normas negativas e incentivar boas práticas<br />

em torno do feedback, da comunicação<br />

e das interacções no local de trabalho<br />

podem levar a uma mudança duradoura.<br />

Desenvolver a inteligência<br />

do bem-estar<br />

A inteligência do bem-estar não é uma<br />

competência inata, e aprender, explorar e<br />

avaliar potenciais soluções para questões<br />

relacionadas com a saúde mental implica<br />

um esforço consciente. Avaliar se as mudanças<br />

melhoraram com sucesso o bem-estar<br />

pode ajudar os gestores a determinarem<br />

se o diagnóstico inicial era exacto, ou se<br />

uma abordagem alternativa seria mais eficaz.<br />

Esta baseia-se na recolha contínua de<br />

feedback dos colaboradores, mediante inquéritos<br />

formais e anónimos ou conversas<br />

informais individuais. Variáveis mais tangíveis,<br />

como a rotatividade ou o aumento do<br />

número de dias de baixa, são também indicadores<br />

óbvios de problemas actuais.<br />

Os problemas de bem-estar podem levar<br />

algum tempo a surgir e a ser resolvidos<br />

à medida que os gestores ajustam as mudanças.<br />

A inteligência do bem-estar implica<br />

descobrir como as mudanças afectam<br />

o bem-estar, e modificar essas abordagens<br />

MUITAS PESSOAS ESTÃO FAMILIARIZADAS COM O CONCEITO<br />

DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – A MANEIRA COMO COMPREENDEM<br />

AS SUAS PRÓPRIAS EMOÇÕES, AS REGULAM E ABORDAM<br />

AS EMOÇÕES DOS OUTROS<br />

para garantir a sua eficácia. Além disso, a<br />

sensibilização para estas questões e a criação<br />

de uma coligação na organização são<br />

cruciais para liderar a mudança.<br />

As empresas podem também considerar<br />

a possibilidade de dar formação adaptada<br />

aos colaboradores sobre a detecção<br />

de problemas de saúde mental, incluindo<br />

o reconhecimento de sinais e sintomas de<br />

stress, ansiedade ou depressão. O stress e<br />

a ansiedade são muitas vezes confundidos<br />

– porque aparecem frequentemente em simultâneo<br />

–, mas a ansiedade é vista como<br />

uma apreensão persistente e uma preocupação<br />

avassaladora. O stress é um estado de<br />

curto prazo, normalmente causado por um<br />

factor externo, como um prazo apertado<br />

ou uma reunião com um colega particularmente<br />

intimidante. O burnout é frequentemente<br />

o resultado de stress prolongado<br />

e não tratado; identificar os problemas à<br />

medida que surgem pode ajudar os gestores<br />

a detectar o burnout e a resolverem o problema<br />

antes que se torne crítico.<br />

Um desafio permanente à aprendizagem<br />

e ao desenvolvimento da inteligência<br />

do bem-estar é a mudança para o trabalho<br />

híbrido. Detectar problemas de bem-estar<br />

em interacções mediadas por ecrã ou áudio<br />

é mais difícil. Os sinais de stress ou ansiedade<br />

visíveis nas interacções frente a frente<br />

podem ser muito mais difíceis de discernir<br />

num contexto remoto. Os gestores podem<br />

ter de se basear no tom de voz, nos silêncios<br />

das conversas ou na velocidade do discurso,<br />

em vez de recorrerem a sinais não verbais<br />

típicos, para detectar o stress ou a ansiedade<br />

dos colegas. Os sinais comportamentais,<br />

como dificuldade em manter o volume de<br />

trabalho, isolamento dos membros da equipa<br />

durante as reuniões, atrasos frequentes,<br />

ou incumprimento de prazos, também podem<br />

indicar uma quebra no bem-estar.<br />

A inteligência do bem-estar exigirá,<br />

portanto, a capacidade de conduzir discussões<br />

delicadas sobre saúde mental no contexto<br />

da comunicação online. Desenvolver<br />

confiança durante as interacções presenciais<br />

pode facilitar as partilhas online. Para<br />

as organizações totalmente remotas, a integração<br />

de debates sobre bem-estar nas<br />

avaliações anuais e o início de reuniões de<br />

equipa remotas, com uma rápida ronda de<br />

relatórios de bem-estar, podem ser uma forma<br />

simples de demonstrar que o bem-estar<br />

dos colaboradores é importante.<br />

A pandemia tornou claro que o investimento<br />

em inteligência do bem-estar já não<br />

é opcional; é essencial tanto para o bem-estar<br />

dos trabalhadores como para o sucesso<br />

das organizações. Não é rebuscado imaginar<br />

um futuro em que os gestores são regularmente<br />

questionados sobre as próprias<br />

práticas de saúde mental e as medidas que<br />

tomaram para promover o bem-estar dos<br />

membros da equipa. As organizações que<br />

promovem a inteligência do bem-estar não<br />

se limitam a criar uma força de trabalho<br />

mais saudável e produtiva; constroem uma<br />

vantagem competitiva para o futuro.<br />

56 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


TRABALHO<br />

COMO APROVEITAR OS ERROS<br />

PARA CRIAR UMA CULTURA<br />

DE APRENDIZAGEM<br />

Erros e incidentes<br />

importantes acontecem<br />

inevitavelmente:<br />

websites vão abaixo,<br />

produtos partem-se,<br />

clientes ficam zangados.<br />

POR BEN LAKER MIT SLOAN<br />

MANAGEMENT REVIEW<br />

A<br />

maneira como os líderes reagem e respondem pode revelar a cultura de<br />

uma organização – para o melhor ou para o pior. A culpa leva a apontar<br />

o dedo, ressentimentos, desconfiança e comportamentos pouco produtivos.<br />

Pode causar a estagnação de uma organização, com as pessoas a sentirem<br />

que os seus esforços não são valorizados. Em contraste, responder<br />

sem atribuir culpas cria um ambiente de aprendizagem e crescimento em<br />

que os colaboradores reconhecem que os erros fazem parte do processo e os seus esforços<br />

são apreciados – uma cultura sem culpas.<br />

Numa cultura sem culpas, os líderes responsabilizam os processos, não as pessoas. Eles<br />

concentram-se em compreender por que é que algo aconteceu, e não quem é culpado. Ao<br />

esforçarem-se por identificar a causa de um problema, criam sistemas que impedem que ele<br />

volte a acontecer. Os líderes de culturas sem culpas também reconhecem que fazem parte<br />

do sistema, portanto assumem a responsabilidade pelos seus próprios erros – tais como<br />

comunicar insuficientemente sobre uma questão importante ou tomar uma má decisão – e<br />

58 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


Ben Laker (@drbenlaker)<br />

É professor de Liderança na Henley Business<br />

School da Universidade de Reading e co-autor<br />

de “Too Proud to Lead”.<br />

não esperam a perfeição de si próprios ou<br />

dos outros. Isto encoraja os colaboradores<br />

a serem abertos sobre os seus erros e<br />

a usá-los como oportunidades de aprendizagem,<br />

em vez de os esconderem com<br />

medo de represálias.<br />

Como sugere a teoria de segurança psicológica<br />

de Amy C. Edmondson, ao reconhecerem<br />

que os erros são inevitáveis, as<br />

organizações permitem aos trabalhadores<br />

experimentar e correr riscos sem medo<br />

de sanções ou constrangimentos. Isto encoraja<br />

a resolução criativa de problemas,<br />

a colaboração e a inovação – componentes<br />

essenciais de empresas de sucesso. A<br />

criação de espaços onde os colaboradores<br />

se sintam seguros para experimentar algo<br />

novo e, crucialmente, para cometerem erros<br />

sem medo de repercussões ou juízos de<br />

valor, ajuda a encorajá-los a sair das suas<br />

zonas de conforto, a aprender com as suas<br />

experiências e a desenvolver soluções inovadoras<br />

que impulsionam a organização.<br />

CULTURALMENTE,<br />

É MELHOR ENCORAJAR OS<br />

COLABORADORES A TENTAR,<br />

MESMO QUE POSSAM FALHAR,<br />

DO QUE TENTAR EVITAR<br />

O FRACASSO A TODO O<br />

CUSTO; AFINAL, A MELHOR<br />

MANEIRA DE APRENDER É<br />

ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA<br />

TRABALHO<br />

Em última análise, o objectivo deve ser<br />

criar um ambiente onde todos se sintam<br />

confortáveis a cometer erros e a aprender<br />

com eles para se tornarem melhores<br />

– uma cultura de melhoria contínua. Isto<br />

não significa que os erros devam ser negligenciados;<br />

pelo contrário, devem ser<br />

tratados de forma construtiva. Eis três formas<br />

de usar os erros para evoluir.<br />

1. Ver os incidentes como oportunidades.<br />

Há um velho ditado: se transformar<br />

algo numa métrica, tornar-se-á o objectivo.<br />

Em teoria, faz sentido que um líder<br />

queira ver o número de incidentes diminuir<br />

ao longo do tempo. Mas quando isto<br />

se torna a métrica, os engenheiros que são<br />

avaliados por ela podem adiar o reconhecimento<br />

dos incidentes, ou considerá-los<br />

encerrados antes de estarem totalmente<br />

resolvidos, o que pode levar a uma cultura<br />

que evita incidentes e tem equipas a trabalhar<br />

24 horas para evitar cometer erros.<br />

Culturalmente, é melhor encorajar os<br />

colaboradores a tentar, mesmo que possam<br />

falhar, do que tentar evitar o fracasso<br />

a todo o custo; afinal, a melhor maneira de<br />

aprender é através da experiência. Em vez<br />

de se basear a métrica de desempenho na<br />

prevenção de incidentes, é essencial incentivar<br />

os colaboradores a aprenderem.<br />

Concentre as suas métricas na consciência<br />

da rapidez com que os incidentes são<br />

resolvidos e como as equipas estão preparadas<br />

para lidar com eles – e não apenas<br />

em evitá-los. Isto pode fomentar uma cultura<br />

onde o fracasso é aceite como parte<br />

do processo, encorajando a inovação e a<br />

criatividade. Promover um ambiente de<br />

crescimento e aprendizagem desta forma<br />

pode estimular os colaboradores a experimentarem<br />

coisas novas, a aprenderem novas<br />

competências, e a envolverem-se mais<br />

no seu trabalho à medida que evoluem, o<br />

que ajuda a estimular um melhor desempenho<br />

e produtividade a longo prazo.<br />

Simultaneamente, é essencial assegurar<br />

que os colaboradores se sentem apoiados e<br />

têm acesso aos recursos de que necessitam<br />

para serem bem-sucedidos. Por exemplo,<br />

as equipas podem necessitar de software<br />

de gestão de projectos, ou de uma base de<br />

dados de melhores práticas para os ajudar<br />

a trabalhar mais eficazmente, ou podem<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 59


TRABALHO<br />

beneficiar de programas de mentoria. A<br />

garantia de que os trabalhadores estão<br />

equipados com as ferramentas e a formação<br />

certas pode contribuir em muito para<br />

os ajudar a aprender com os seus erros.<br />

2. Recompensar as pessoas pela partilha<br />

de conhecimentos. Todos ouvimos a<br />

história do “herói de serviço” – o colaborador<br />

que recebeu uma chamada a meio da<br />

noite porque o website estava em baixo,<br />

saltou para a frente do seu computador e<br />

salvou o dia. Porque é que recebeu a chamada?<br />

Por ser o único que sabia como funciona<br />

um determinado serviço. Embora<br />

esta pessoa mereça certamente ser elogiada<br />

por esses esforços, a verdade é esta: depender<br />

de um único colaborador para resolver<br />

um problema pode tornar-se um perigoso<br />

ponto único de fracasso. E se ele estiver<br />

doente quando surgir a próxima questão<br />

urgente? E se ele sair da empresa?<br />

Os líderes devem incentivar e felicitar<br />

aqueles que partilham os seus conhecimentos<br />

institucionais com o mesmo entusiasmo<br />

com que celebram os momentos de herói<br />

de serviço (se não mais). Por exemplo,<br />

os líderes podem criar recompensas para<br />

os membros da equipa que documentam<br />

processos e partilham informações com os<br />

colegas, ou criar um orçamento para formação<br />

externa ou oportunidades internas.<br />

Os líderes também precisam de assegurar<br />

que os membros da equipa têm as<br />

ferramentas, modelos e processos adequados<br />

para partilhar facilmente informações<br />

com os seus colegas de equipa. Isto ajudará<br />

a criar uma cultura onde todos, e não apenas<br />

os heróis solitários, podem contribuir<br />

– e, claro, evita futuros incidentes através<br />

da concentração de conhecimentos especializados<br />

dos colaboradores. Isto pode<br />

implicar o estabelecimento de uma página<br />

wiki para documentos da equipa, a criação<br />

de gravações em vídeo de passagens de<br />

pastas, ou a utilização de software que encoraja<br />

a colaboração.<br />

3. Rever o que correu mal para seguir<br />

em frente. Para que uma empresa aprenda<br />

verdadeiramente com um incidente, os<br />

membros da equipa devem estar à vontade<br />

NÃO TENHA MEDO<br />

DE COMETER ERROS;<br />

ABRACE-OS COMO<br />

OPORTUNIDADES PARA<br />

COLABORADORES E<br />

ORGANIZAÇÃO ATINGIREM O<br />

SEU PLENO POTENCIAL<br />

para discutir o fracasso ou levantar potenciais<br />

problemas, sem medo de punição ou<br />

represálias. Uma forma de criar este tipo<br />

de cultura é utilizar as reuniões pós-incidente<br />

como momentos de aprendizagem, e<br />

não como inquisições. Ao fazê-lo, as organizações<br />

podem melhorar continuamente,<br />

crescer e alcançar as suas metas e objectivos,<br />

através destas lições aprendidas.<br />

Ao dedicarem tempo a documentar,<br />

reflectir e discutir incidentes críticos, as<br />

organizações estarão mais bem equipadas<br />

para compreender como problemas particulares<br />

afectam as operações, identificar<br />

áreas que necessitam de melhoria, e usar<br />

essas ideias para fazer mudanças e desenvolver<br />

estratégias mais eficazes. Isto também<br />

ajuda a criar um ambiente onde todos<br />

se sentem capacitados para assumir riscos e<br />

falar quando vêem que algo está errado – e<br />

ajuda a criar a noção de responsabilidade<br />

dos colaboradores dentro da organização.<br />

Para criar uma cultura de interrogação<br />

aberta, desenvolva um processo de comunicação<br />

de erros sem repercussão e encoraje<br />

os membros da equipa a pronunciarem-se<br />

se notarem algo que possa causar um problema<br />

no futuro. Esta abordagem cria confiança<br />

dentro da equipa e pode levar a uma<br />

melhor comunicação na identificação de riscos<br />

e na sua rápida abordagem. Em última<br />

análise, o objectivo é que as equipas trabalhem<br />

em conjunto para identificar e abordarem<br />

potenciais riscos antes que estes criem<br />

questões ou crises mais significativas.<br />

Os incidentes críticos criam excelentes<br />

oportunidades de aprendizagem, e as organizações<br />

mais bem-sucedidas reconhecem<br />

a importância de aprender com os erros.<br />

Ao procurarem activamente áreas onde<br />

podem ser feitas melhorias, avaliarem o<br />

impacto das mudanças, e investirem numa<br />

cultura de crescimento e melhoria contínua,<br />

as organizações podem criar um ambiente<br />

onde todos trabalham em conjunto<br />

para alcançar o sucesso. Aprender com os<br />

erros fomenta uma cultura de crescimento<br />

e colaboração que ajudará a sua organização<br />

a prosperar nos anos vindouros. Não<br />

tenha medo de cometer erros; em vez disso,<br />

abrace-os como oportunidades para ajudar<br />

os seus colaboradores e a sua organização a<br />

atingir o seu pleno potencial.<br />

60 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


1 ANO<br />

ASSINATURA<br />

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VÁLIDOS PARA<br />

CONTINENTE<br />

E ILHAS


SUSTENTABILIDADE<br />

A IMPORTÂNCIA DA<br />

RESPONSABILIDADE<br />

POLÍTICA EMPRESARIAL<br />

O mundo empresarial sente-se cada vez mais<br />

inspirado, genuinamente, pela ideia de criar negócios<br />

mais sustentáveis.<br />

POR ANDREW WINSTON, ELIZABETH DOTY E THOMAS LYON<br />

MIT SLOAN MANAGEMENT REVIEW<br />

A<br />

s organizações são motivadas pela pressão dos seus colaboradores,<br />

clientes, investidores, outros stakeholders, e dos seus próprios valores<br />

– bem como pela crescente clareza sobre as oportunidades<br />

(e requisitos) das grandes transições económicas e tecnológicas já<br />

em curso (como, por exemplo, descarbonizar o mundo inteiro).<br />

Os verdadeiros líderes olham para além do exercício reactivo de atingir os<br />

objectivos de uma iniciativa ambiental, social e de governance (ESG) e procuram<br />

criar algo melhor – um negócio que prospera enquanto ajuda o mundo. Estas<br />

empresas têm um impacto positivo líquido no planeta e na sua população ao<br />

assumirem, entre outras coisas, a responsabilidade por todos os seus impactos,<br />

intencionais ou não; servirem todos os stakeholders, e não apenas os accionistas;<br />

ajudarem a resolver os maiores desafios da sociedade; e permitirem a mudança<br />

para uma economia próspera e regenerativa. No entanto, muitas vezes estes mesmos<br />

líderes não vêem algo fundamental para a criação de um negócio melhor e<br />

mais positivo: a questão de saber o que defendem e o que apoiam quando entram<br />

na esfera pública.<br />

A maior parte das empresas depende de um modelo antigo de envolvimento<br />

político com governos e sociedade civil, compartimentando as suas actividades<br />

de influência política num silo organizacional, tal como costumavam fazer com<br />

as suas cadeias de abastecimento. (Por “influência política”, entendemos acções<br />

destinadas a influenciar processos eleitorais, governamentais ou cívicos de uma<br />

nação, estado ou município, directamente ou por terceiros, incluindo despesas<br />

políticas, lobby e advocacia, comunicação com os colaboradores, comunicação<br />

externa e outras influências no discurso cívico.) As associações profissionais – e<br />

muitas vezes os seus próprios departamentos de relações governamentais – lutam<br />

por defeito contra todos os regulamentos, incluindo os que realinhariam os<br />

interesses privados com o bem público.<br />

62 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


SUSTENTABILIDADE<br />

OS VERDADEIROS LÍDERES OLHAM PARA ALÉM DO EXERCÍCIO<br />

REACTIVO DE ATINGIR OS OBJECTIVOS DE UMA INICIATIVA<br />

AMBIENTAL, SOCIAL E DE GOVERNANCE (ESG)<br />

E PROCURAM CRIAR ALGO MELHOR – UM NEGÓCIO<br />

QUE PROSPERA ENQUANTO AJUDA O MUNDO<br />

Isso pode colocá-las no lado errado das<br />

mudanças políticas necessárias para criar o<br />

mundo mais sustentável que muitas vezes se<br />

comprometeram publicamente a construir.<br />

Esta inconsistência coloca-as na mira de<br />

muitos stakeholders e torna-as vulneráveis a<br />

ataques, seja por não apoiarem os seus compromissos<br />

sociais e ambientais com acções<br />

políticas ou, no outro extremo do espectro,<br />

por ousarem assumir esses compromissos<br />

sociais. As empresas gerem visões contraditórias<br />

sobre quando e como devem utilizar<br />

as suas vozes e a sua influência política.<br />

Um exemplo recente é a montanha-<br />

-russa que tem sido o envolvimento da BP<br />

em matéria de política climática no estado<br />

de Washington. Há alguns anos, a empresa<br />

gastou quase 12 milhões de euros com o<br />

objectivo de derrotar uma votação estatal<br />

para impor um preço no carbono. É fácil<br />

interpretar a acção como algo que dá prioridade<br />

aos interesses limitados e de curto<br />

prazo da BP. Mas, mais recentemente, a BP<br />

apoiou uma lei do estado de Washington<br />

que colocaria um limite global às emissões<br />

de carbono do estado. Podemos debater os<br />

méritos de um limite ou de um imposto,<br />

mas pelo menos a BP apoiou as novas regras<br />

do jogo, conciliando os incentivos de<br />

mercado com o bem público mais abrangente,<br />

de fazer algo sobre as alterações climáticas,<br />

alinhando assim melhor a empresa<br />

com os seus próprios compromissos de<br />

sustentabilidade, que visam ajudar o mundo<br />

a chegar à neutralidade carbónica.<br />

Agir com responsabilidade no envolvimento<br />

político pode exigir coragem se for<br />

contra o dogma do sector, ou se for contra<br />

questões sociais importantes, onde as empresas<br />

enfrentam a ameaça crescente de<br />

retaliação política. A experiência da Disney<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 63


SUSTENTABILIDADE<br />

nos seus esforços na Florida para apoiar colaboradores<br />

e clientes LGBTQ – e os subsequentes<br />

ataques do governador do estado<br />

– oferece um exemplo de aviso sobre os<br />

desafios de fazer o que está certo.<br />

No ambiente político litigioso de hoje,<br />

as despesas políticas de qualquer empresa<br />

podem colocá-la em situações complicadas,<br />

em que os seus valores ou prioridades<br />

declaradas (e o que os seus colaboradores<br />

mais expressivos podem querer) estão em<br />

desacordo com as pessoas a quem doou.<br />

No conjunto, estas práticas de despesas podem<br />

também contribuir para um ambiente<br />

político em que a retaliação governamental<br />

contra os críticos – uma marca de autoritarismo<br />

– se torna rotineira. É precisamente<br />

por esta razão que os executivos devem reconhecer<br />

o que está em jogo e pesar as suas<br />

responsabilidades de forma ponderada.<br />

COMO PONTO DE PARTIDA, OS LÍDERES DA EMPRESA PODEM<br />

ENVOLVER-SE COM OS SEUS PARES E STAKEHOLDERS<br />

INTERNOS E EXTERNOS PARA CONSIDERAREM AS SUAS<br />

RESPONSABILIDADES A CADA NÍVEL<br />

Gerir num mundo novo<br />

de envolvimento político<br />

Compreensivelmente, os líderes empresariais<br />

preocupam-se com o impasse político<br />

e se os seus países se alinham com as estruturas<br />

políticas e regulamentares estáveis de<br />

que necessitam para prosperar e cumprirem<br />

os seus compromissos de sustentabilidade.<br />

Mas é desonesto fingir que as empresas<br />

são apenas observadoras passivas de regulamentos,<br />

leis, ou do clima político. Muitas<br />

contribuíram propositadamente para o impasse,<br />

que lamentam através de mensagens<br />

contraditórias, doações e filiações de terceiros.<br />

As despesas políticas ajudam as empresas<br />

a eleger líderes que representam os seus<br />

interesses e a obter acesso quando precisam<br />

dele. As redes sociais, a publicidade, a filantropia<br />

e as relações públicas podem moldar<br />

o discurso cívico e as crenças culturais, influenciando<br />

votos e comportamentos. E<br />

com o lobby directo, as empresas não jogam<br />

apenas segundo as regras do jogo, elas moldam<br />

essas regras e como são aplicadas.<br />

Claramente, as empresas precisam de<br />

princípios e orientações gerais para gerir<br />

nestes terrenos políticos complicados e<br />

aplicar mais coerência e responsabilidade<br />

na sua influência. No mínimo, as organizações<br />

devem reconhecer a necessidade de<br />

uma gestão e enquadramentos mais consistentes,<br />

proactivos e integrados em termos<br />

de princípios para guiar as suas decisões<br />

sobre quando e como se devem envolver<br />

em assuntos políticos. Grande parte desta<br />

discussão insere-se na parte aparentemente<br />

menos interessante do ESG – a componente<br />

de governance, que pode moldar como<br />

uma empresa gere o resto.<br />

Até agora, a generalidade da atenção<br />

dada à acção política das empresas concentra-se<br />

na transparência. Nos EUA, a grande<br />

maioria dos cidadãos (incluindo a maior<br />

parte dos executivos e investidores) apoia a<br />

divulgação de despesas políticas, e dois terços<br />

das S&P 500 divulgam voluntariamente<br />

as suas despesas relacionadas com eleições.<br />

Recentemente, assistimos a uma expansão<br />

gradual da atenção, passando da transparência<br />

para a responsabilização. Colaboradores,<br />

investidores, clientes e peritos<br />

externos examinam agora regularmente se<br />

as influências políticas de uma empresa se<br />

alinham com os seus compromissos declarados<br />

de propósito, valores, sustentabilidade,<br />

stakeholders e objectivos empresariais.<br />

As empresas que se esforçam por prestar<br />

contas encaram compromissos cada vez<br />

mais complexos à medida que enfrentam<br />

as realidades do actual sistema político dos<br />

EUA e as armadilhas de hipocrisia que este<br />

cria. Perguntam: “Como alinhar as nossas<br />

despesas com os valores da nossa empresa?<br />

Quais os valores a que dou prioridade?<br />

Como promover políticas que permitam<br />

os nossos compromissos de neutralidade<br />

carbónica enquanto gerimos o risco de os<br />

legisladores prejudicarem as nossas empresas<br />

com uma assinatura?”<br />

Felizmente, o reconhecimento destes<br />

desafios começa a sugerir uma saída.<br />

As empresas precisam de uma visão mais<br />

ampla dos seus interesses e de passar da<br />

procura constante de questões individuais<br />

para a concentração na saúde dos sistemas<br />

maiores, dos quais as empresas e a humanidade<br />

dependem. Isto ainda significa reagir<br />

e enfrentar as crises à medida que estas<br />

ocorrem, mas também tomar uma posição<br />

proactiva e ajudar a reforçar os sistemas<br />

fundacionais que geram confiança cívica,<br />

coesão social e prosperidade generalizada.<br />

Significa também enfrentar as rupturas que<br />

geram desconfiança. Ao longo do último<br />

ano, à medida que falámos com decisores<br />

sobre estes desafios, encontrámos cada vez<br />

mais líderes convencidos da necessidade<br />

de ir além da transparência, e da responsabilidade<br />

de explorar a responsabilidade<br />

política empresarial, ou RPE. Esta é uma<br />

ideia desenvolvida por Tom e ampliada por<br />

Elizabeth no seu trabalho na Taskforce de<br />

Responsabilidade Política Empresarial da<br />

Universidade de Michigan.<br />

64 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024


SUSTENTABILIDADE<br />

UM EXEMPLO RECENTE É O QUE<br />

TEM SIDO O ENVOLVIMENTO<br />

DA BP EM MATÉRIA<br />

DE POLÍTICA CLIMÁTICA NO<br />

ESTADO DE WASHINGTON<br />

Trabalhar em prol da responsabilidade<br />

política empresarial<br />

A RPE é um aproveitamento da responsabilidade<br />

social das empresas da velha<br />

guarda, ou RSE. Centra-se na maneira<br />

como as empresas influenciam quatro sistemas-chave:<br />

as regras do jogo (mercados,<br />

leis e regulamentos), instituições cívicas e<br />

de representação (por exemplo, protecção<br />

da democracia), sociedade civil e discurso<br />

público, e sistemas naturais e recursos partilhados.<br />

Estes quatro sistemas podem ajudar<br />

os líderes a pensar nos seus impactos e<br />

na forma de defender e desenvolverem capacidades<br />

nestas bases sociais críticas.<br />

Acreditamos que, ao empenharem-se<br />

na RPE e concentrarem-se nestes quatro<br />

níveis, as empresas podem melhorar a sua<br />

própria reputação de marca, tornar as estratégias<br />

sustentáveis e de neutralidade viáveis<br />

e mais rentáveis, e ter uma base sólida<br />

de suporte, com o apoio de uma série de<br />

stakeholders perante um revés político.<br />

Como ponto de partida, os líderes da<br />

empresa podem envolver-se com os seus<br />

pares e stakeholders internos e externos<br />

para considerarem as suas responsabilidades<br />

a cada nível, explorando as questões<br />

de reflexão sobre a RPE incluídas na tabela<br />

ou nas suas próprias perguntas. Com<br />

base nestas reflexões, as empresas podem<br />

dar prioridade a acções que se concentrem<br />

numa espécie de juramento hipocrático<br />

de RPE – no mínimo, não prejudicar. Esse<br />

procedimento também ajuda a assegurar<br />

que as empresas respeitam a sociedade<br />

civil e o autogoverno, levando os líderes a<br />

identificar uma base legítima para qualquer<br />

compromisso político.<br />

Para além dos benefícios para as empresas<br />

que adoptam a RPE por si próprias, os<br />

benefícios totais desta abordagem virão de<br />

ajudar a estabelecer ou reforçar a RPE como<br />

norma. Uma abordagem mais orientada<br />

para os sistemas é o que um de nós (Andrew,<br />

com Paul Polman, co-autor do livro “Net Positive”)<br />

chama ao activismo positivo. Implica<br />

uma visão mais sistémica das políticas e<br />

investimentos de que a sociedade necessita<br />

para resolver grandes desafios comuns. E<br />

significa abordar o governo não como um<br />

adversário ou um interveniente a ser contido<br />

e minimizado, mas como um verdadeiro<br />

parceiro, porque as empresas não podem ser<br />

empresas positivas (ou abraçar mais eficazmente<br />

a RPE) apenas por si próprias.<br />

Se um amplo segmento transversal de<br />

empresas adoptar um conjunto de princípios<br />

para a RPE, e se estes forem aceites<br />

como significativos e legítimos, isto pode<br />

representar um ponto de viragem que levaria<br />

as empresas a sair do pântano actual.<br />

Estas podem mobilizar parcerias dentro<br />

das suas cadeias de fornecimento ou sector<br />

para adoptarem novos princípios para<br />

a RPE. Fazê-lo oferece a esperança de um<br />

cenário novo e nivelado – um cenário em<br />

que as empresas jurem, de forma credível,<br />

não usar as contribuições políticas e o lobbying<br />

indirecto para obterem uma pequena<br />

vantagem à custa de um maior bem-estar<br />

público (e, portanto, da sua própria<br />

prosperidade ao longo do tempo).<br />

Os críticos e vigilantes podem reconhecer<br />

as empresas que promovem a RPE de<br />

boa-fé, e os investidores podem apelar-lhes<br />

para utilizarem a sua influência política<br />

construtivamente para objectivos amplos<br />

e a longo prazo. Os parceiros transversais<br />

podem apoiar e desafiar os legisladores a<br />

respeitarem práticas semelhantes, abordando-os<br />

conjuntamente para regras que<br />

façam sentido, e resistindo no apoio fundamental<br />

à democracia representativa. Neste<br />

mundo, os líderes empresariais serão vistos<br />

como parceiros de boa-fé, construindo um<br />

mundo que funcione para todos.<br />

Andrew Winston (@andrewwinston)<br />

é um especialista mundialmente reconhecido<br />

em criar empresas resilientes e rentáveis<br />

que ajudam as pessoas e o planeta a prosperar.<br />

É co-autor de “Net Positive”.<br />

Elizabeth Doty (@elizdo) é directora do<br />

Grupo de Trabalho de Responsabilidade Política<br />

Empresarial do Instituto Erb da Universidade de<br />

Michigan, e fundadora da Leadership Momentum,<br />

uma consultoria de estratégia.<br />

Thomas Lyon é professor de Ciência,<br />

Tecnologia e Comércio Sustentável no<br />

Instituto Erb.<br />

RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 65


AS RESPOSTAS PARA<br />

ENTENDER OS MISTÉRIOS<br />

FINANCEIROS<br />

Nuno Crespo e Nádia Simões<br />

empenharam-se em trazer clareza<br />

e conhecimento para o mercado<br />

financeiro, simplificando e tornando<br />

mais acessíveis alguns mistérios<br />

da economia.<br />

A obra - “Uma Viagem ao Mundo das<br />

Ideias Económicas: 100 questões para<br />

entender a economia” - oferece respostas<br />

claras a perguntas fundamentais<br />

sobre a área da economia.<br />

Os autores, que são especialistas em<br />

economia, perceberam a necessidade<br />

de tornar esse campo do conhecimento<br />

mais acessível ao público em<br />

geral. Nesse sentido, responderam<br />

a 100 perguntas essenciais sobre<br />

economia, desde “O que é o PIB?” e<br />

“O que explica o desemprego?” até “O<br />

que são criptomoedas?” ou “O que é a<br />

economia circular?”.<br />

Nuno Crespo e Nádia Simões fizeram-no<br />

dando exemplos práticos da<br />

economia portuguesa, tornando a<br />

obra mais interessante para os leitores<br />

interessados no cenário económico do<br />

nosso País.<br />

O livro promete desmistificar a economia<br />

e capacitar os leitores a participar<br />

em discussões económicas com mais<br />

confiança e conhecimento da área.<br />

UMA VIAGEM AO MUNDO DAS IDEIAS<br />

ECONÓMICAS: 100 QUESTÕES PARA<br />

ENTENDER A ECONOMIA<br />

Nuno Crespo e Nádia Simões<br />

Editora: Actual Editora<br />

Género: Economia, Finanças e<br />

Contabilidade; Mercados Financeiros<br />

N.º de páginas: 200<br />

O livro de Nassim Nicholas Taleb está<br />

a abalar Wall Street e promete desafiar<br />

as convenções do mundo dos negócios.<br />

N<br />

o mundo da literatura financeira, Nassim Nicholas<br />

Taleb, autor e pensador, lançou uma bomba<br />

literária que está a abalar o mercado económico<br />

e a redefinir a forma como as pessoas estão a<br />

encarar o acaso nas suas vidas. Com a intenção<br />

de ser um livro provocativo e de reflexão, a obra - “Iludidos<br />

pelo Acaso: o papel oculto do acaso na vida e nos mercados”<br />

- oferece uma visão ímpar sobre o papel da sorte e do acaso<br />

na experiência pessoal e profissional das pessoas.<br />

Conhecido pelo seu estilo irreverente e inovador, o autor<br />

desafia a visão convencional de Wall Street e outros sectores,<br />

propondo uma análise profunda sobre a importância do<br />

acaso. Nassim Nicholas Taleb argumenta que, muitas vezes,<br />

as pessoas confundem a sorte com a habilidade e que a<br />

aleatoriedade desempenha um papel significativo na vida e<br />

nos mercados financeiros. No sector financeiro, a sorte é frequentemente<br />

confundida com perícia e o escritor revela uma<br />

perspectiva nova e radical sobre um dos elementos menos<br />

compreendidos da existência humana.<br />

Fernando Braga de Matos montou um manual prático para<br />

investidores em início de carreira, abrindo as portas para o<br />

universo da bolsa.<br />

O PAPEL DO ACASO<br />

NA VIDA E NOS MERCADOS<br />

ILUDIDOS PELO ACASO: O PAPEL OCULTO<br />

DO ACASO NA VIDA E NOS MERCADOS<br />

Nassim Nicholas Taleb<br />

Editora: Temas e Debates<br />

Género: Economia, Finanças e Contabilidade<br />

N.º de páginas: 352<br />

DESVENDAR SEGREDOS DA BOLSA<br />

FINANCEIRA<br />

Para os leitores que sempre<br />

desejaram investir na bolsa,<br />

mas que sempre tiveram receio,<br />

o novo livro de Fernando Braga<br />

de Matos promete ser um guia<br />

indispensável.<br />

O autor aponta as formas e as<br />

fontes de informação a que os<br />

iniciantes podem recorrer para<br />

analisar o mercado. Com uma<br />

abordagem didáctica, guia os<br />

leitores através dos primeiros<br />

passos necessários para<br />

entender e entrar no mundo da<br />

bolsa. Posteriormente, enfatiza<br />

a importância de aprender<br />

tácticas e estratégias antes de<br />

mergulhar neste universo.<br />

Tal como em qualquer jogo,<br />

destaca que é necessário adquirir<br />

conhecimento para evitar<br />

perdas e optimizar lucros.<br />

“A Bolsa para Iniciados” não<br />

oferece apenas informações<br />

essenciais, dado que também<br />

partilha insights valiosos sobre<br />

como navegar com segurança<br />

no mercado das acções.<br />

A BOLSA PARA INICIADOS<br />

Fernando Braga de Matos<br />

Editora: Editorial Presença<br />

Género: Economia, Finanças<br />

e Contabilidade; Bolsa;<br />

Mercados Financeiros<br />

N.º de páginas: 224<br />

66 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024

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