Risco#30 HiRes
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
EDITORIAL<br />
DIRECTOR<br />
Ricardo Florêncio<br />
ricardo.florencio@executivedigest.pt<br />
COORDENADORES EDITORIAIS<br />
André Manuel Mendes e António Sarmento<br />
andre.mendes@multipublicacoes.pt<br />
antonio.sarmento@multipublicacoes.pt<br />
REDACÇÃO e ONLINE<br />
Carla Ferreira (revisão), Beatriz Caetano, Daniel Almeida,<br />
Francisco Laranjeira, Margarida Lopes, Pedro Gonçalves,<br />
Rita Paz, Sandra M. Pinto<br />
COLABORAM NESTA EDIÇÃO<br />
Paulo Mendonça, Sara Afonso e David Piedade<br />
ARTE Projecto Gráfico DesignGlow<br />
FOTOGRAFIA<br />
Nuno Carrancho NC Produções IngImage.com/AIC<br />
N.º Registo ERC 126799<br />
Depósito Legal 409954/16 - ISSN 2182-4959<br />
Tiragem 18.000 exemplares – Periodicidade Trimestral<br />
IMPRESSÃO E ACABAMENTO<br />
Lidergraf – Sustainable Printing<br />
Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
VASP – Distribuidora de Publicações, Lda.<br />
MLP Media Logistics Park, Quinta do Grajal – Venda Seca<br />
2739-511 Agualva-Cacém<br />
ASSINATURAS<br />
assinaturas@multipublicacoes.pt<br />
Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444<br />
MORADA DA SEDE, EDITOR E REDACÇÃO<br />
Rua Cidade de Rabat, 41-B | 1500-159 Lisboa<br />
Tel. 210 123 400 | Fax 210 123 444<br />
geral@multipublicacoes.pt<br />
NIPC: 506 012 905 | CRCL: 11061<br />
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO<br />
Ricardo Florêncio (CEO)<br />
ASSISTENTE DE DIRECÇÃO<br />
Michelle Herculano<br />
michelle.herculano@multipublicacoes.pt<br />
COMERCIAL E PUBLICIDADE<br />
Tel. 210 123 413 | Fax 210 123 444<br />
publicidade@multipublicacoes.pt<br />
Margarida Sousa (Directora de Publicidade)<br />
margarida.sousa@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 413<br />
GESTORES DE CONTA<br />
Tânia Rodrigues<br />
tania.rodrigues@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 411<br />
Paula Cristina Leitão<br />
paula.leitao@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 424<br />
MARKETING E COMUNICAÇÃO<br />
marketing@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 441<br />
Filipa Pereira (Marketing Manager)<br />
filipa.pereira@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 412<br />
Paula Rodrigues (Events Manager)<br />
paula.rodrigues@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 441<br />
Sónia Almeida (Marketing Assistant)<br />
sonia.almeida@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 418<br />
Francisca Garcias (Marketing Assistant)<br />
francisca.garcias@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 432<br />
FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA<br />
Teresa Vultos (Manager) teresa.vultos@multipublicacoes.pt<br />
Tel. 210 123 400 | Fax 210 123 444<br />
Marisa Silvestre (Assistente) marisa.silvestre@multipublicacoes.pt<br />
OPERAÇÕES<br />
José Sousa (Operations Manager)<br />
jose.sousa@multipublicacoes.pt | Tel.: 210 123 464<br />
Proprietários com mais de 5% do capital social<br />
AMLC, SA · Gonçalo Dias ·<br />
Manuel Lopes da Costa · Ricardo Florêncio<br />
VIRAR DA PÁGINA<br />
NOS MERCADOS<br />
ANDRÉ MANUEL MENDES<br />
COORDENADOR EDITORIAL<br />
andre.mendes@multipublicacoes.pt<br />
O ano está a aproximar-se do fim,<br />
e os mercados, investidores e<br />
organizações têm já os olhos postos<br />
no horizonte de 2024.<br />
N<br />
o cenário global dos mercados<br />
financeiros, antecipar as tendências<br />
nas bolsas mundiais<br />
torna-se uma tarefa crucial,<br />
sendo imperativo analisar as<br />
perspectivas e considerar os riscos que podem<br />
moldar o curso dos investimentos.<br />
As perspectivas para os mercados e para<br />
as bolsas são um mar de incertezas. Não podemos<br />
ignorar os riscos inerentes ao mundo<br />
financeiro: tensões geopolíticas, volatilidade<br />
cambial e eventos imprevisíveis que podem<br />
desencadear correcções nos mercados.<br />
Em Portugal, o final do ano ficou marcado<br />
pela apresentação da demissão do primeiro-ministro,<br />
António Costa, após terem<br />
sido realizadas buscas em São Bento e de o<br />
Ministério Público ter anunciado que é alvo<br />
de investigação autónoma do Supremo Tribunal<br />
de Justiça sobre projectos de lítio e hidrogénio.<br />
No entanto, apesar de o país entrar<br />
em eleições antecipadas, não se espera que<br />
os resultados das eleições possam ter grande<br />
impacto na bolsa portuguesa.<br />
Já no cenário global, os riscos de recessão<br />
vão manter-se no radar dos investidores, e<br />
a queda do apetite pelo risco poderá ser um<br />
problema para as bolsas, com os activos de<br />
refúgio, como o ouro e as obrigações, a poderem<br />
beneficiar deste cenário.<br />
Para além disso, as projecções económicas<br />
para a produção mundial apontam para<br />
uma desaceleração da economia no próximo<br />
ano e as revisões em baixa por parte das grandes<br />
instituições têm sido constantes, pois a<br />
inflação alta resiste no contexto económico<br />
e tem sido a grande dor de cabeça para os<br />
bancos centrais em toda a parte do globo.<br />
Os especialistas apontam que a tendência<br />
altista nos mercados bolsistas tem perdurado<br />
e é provável que continue, mas com um ritmo<br />
mais lento do que temos visto até agora, assumindo<br />
que nada de novo estrutural acontece.<br />
À medida que viramos a página para o<br />
próximo ano, os mercados bolsistas apresentam-se<br />
como um vasto campo de possibilidades.<br />
O que podemos esperar? Já falta pouco<br />
para o virar da página.<br />
AS PROJECÇÕES<br />
ECONÓMICAS PARA<br />
A PRODUÇÃO MUNDIAL<br />
APONTAM PARA<br />
UMA DESACELERAÇÃO<br />
DA ECONOMIA<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 3
ESTA<br />
EDIÇÃO<br />
30<br />
62<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
6 NOTAS<br />
Ciberataques colocam União Europeia<br />
em alerta<br />
12 DIGITAL<br />
A experiência do cliente como<br />
vantagem competitiva<br />
16 MERCADOS<br />
O que esperar das bolsas mundiais<br />
em 2024?<br />
A IMPORTÂNCIA DA<br />
RESPONSABILIDADE<br />
POLÍTICA<br />
EMPRESARIAL<br />
22 ENTREVISTA<br />
Com Aaron Elliot-Gross, director<br />
de Fraude e Criminalidade Financeira<br />
na Revolut<br />
24 MACROECONOMIA<br />
Comércio mundial com perspectiva<br />
de crescimento de 1,9% em 2023<br />
28 SEGUROS<br />
«A actividade seguradora em tempos<br />
de inflação», por Miguel Guimarães,<br />
director-geral adjunto da Associação<br />
Portuguesa de Seguradores (APS)<br />
32 OPINIÃO<br />
«Resiliência cibernética no sector<br />
financeiro», por Gonçalo Heleno,<br />
IT Infrastructure and Security director<br />
na Asseco PST<br />
34 OPINIÃO<br />
«Será a falta de conhecimento<br />
o principal obstáculo à transição<br />
energética?», por André Pedro,<br />
Managing director do ComparaJá<br />
36 ENTREVISTA<br />
Com João Guerra, CEO<br />
da Nickel<br />
40 PAGAMENTOS<br />
Adopção de novos métodos de<br />
pagamento ganha peso em Portugal<br />
43 OPINIÃO<br />
«Cibersegurança para PME: navegar<br />
entre certificações e a realidade<br />
de mercado», por Paulo Nunes,<br />
IT head da Abreu Advogados<br />
44 ENTREVISTA<br />
Com Jon Fath,<br />
co-fundador e CEO da Rauva<br />
48 TECNOLOGIA<br />
O que se segue para os<br />
supercomputadores mais rápidos<br />
do mundo<br />
52 TRABALHO<br />
A inteligência do bem-estar<br />
58 TRABALHO<br />
Como aproveitar os erros para criar<br />
uma cultura de aprendizagem<br />
66 ESTANTE<br />
Sugestões de leitura<br />
ESTATUTO EDITORIAL REVISTA RISCO A Risco é uma revista trimestral<br />
de informação geral que aposta numa informação diversificada abrangendo os<br />
mais variados campos de actividade e que pretende ir ao encontro das motivações<br />
e interesses de um público plural. A Risco pretende atingir uma ampla<br />
cobertura dos mais importantes e significativos acontecimentos nacionais e<br />
internacionais em todos os domínios de interesse. A Risco é uma revista que<br />
dá primazia às matérias de finanças no seu sentido mais lato e abrangente.<br />
A revista Risco reger-se-á pelo seguinte projecto de estatuto editorial: 1. Cumprimento<br />
rigoroso das normas éticas e deontológicas do jornalismo; 2. Identificação<br />
com os valores da democracia; 3. Independência face a quaisquer grupos<br />
de pressão, poderes políticos ou económicos; 4. Salvaguarda do espaço privado<br />
dos cidadãos; 5. Defesa do pluralismo de opinião.<br />
04 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
GEOPOLÍTICA COM IMPACTO<br />
NAS PREVISÕES ECONÓMICAS<br />
PARA 2024<br />
Segundo um estudo da MAPFRE<br />
Economics, em 2024, os preços vão<br />
ter uma inflação superior aos 6%<br />
devido às tensões geopolíticas.<br />
O mais recente relatório da MAPFRE Economics<br />
prevê um crescimento da economia global de<br />
2,9%, em 2023, e reduz essa previsão, em<br />
2024, para 2,2%. Relativamente à inflação, as<br />
alterações são mais pronunciadas, deixando<br />
antever uma inflação média mais baixa em<br />
2023, situada nos 6,6%, que contrasta com os<br />
7,0% no relatório do trimestre anterior.<br />
«A previsão continua a oferecer uma dinâmica<br />
de estagnação, com o crescimento a abrandar,<br />
a política monetária a sustentar o aperto das<br />
condições financeiras e a inflação a enfrentar<br />
uma fase de moderação mais prolongada e<br />
sustentável, embora ainda longe dos níveis-<br />
-alvo», explica Manuel Aguilera, director-geral<br />
da MAPFRE Economics.<br />
CIBERATAQUES<br />
COLOCAM UNIÃO<br />
EUROPEIA<br />
EM ALERTA<br />
Um relatório recente<br />
da ESET revela como<br />
os grupos organizados<br />
do cibercrime<br />
– ou grupos APT<br />
–, alinhados com a<br />
China, têm desenvolvido<br />
campanhas de<br />
ciberespionagem na<br />
União Europeia entre<br />
Abril e Setembro<br />
de 2023.<br />
A<br />
ESET descobriu campanhas de<br />
ciberataques levadas a cabo por grupos<br />
de ameaça organizados, designados<br />
por Advanced Persistent Threat (APT),<br />
num estudo que decorreu entre Abril<br />
e Setembro de 2023.<br />
Esta pesquisa revela campanhas de ciberataque<br />
realizadas alegadamente por grupos APT<br />
associados à China na União Europeia (UE),<br />
que visam as entidades governamentais e as<br />
organizações afiliadas. Além disso, o relatório<br />
documenta a evolução da ciberguerra conduzida<br />
pela Rússia na Ucrânia, abrangendo actividades de<br />
sabotagem e espionagem.<br />
06 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
KYNDRYL E GOOGLE CLOUD<br />
ANUNCIAM PARCERIA<br />
ESTRATÉGICA<br />
O relatório da ESET identifica<br />
dois grupos chineses previamente<br />
não identificados, DigitalRecyclers e<br />
PerplexedGoblin, que têm como alvo os<br />
órgãos governamentais da União Europeia.<br />
Esses grupos exploraram vulnerabilidades e<br />
utilizaram ferramentas maliciosas, pelo que<br />
representam uma ameaça significativa<br />
à segurança cibernética.<br />
RELATÓRIO DOCUMENTA<br />
A EVOLUÇÃO DA CIBERGUERRA<br />
CONDUZIDA PELA RÚSSIA<br />
NA UCRÂNIA,<br />
ABRANGENDO ACTIVIDADES<br />
DE SABOTAGEM<br />
E ESPIONAGEM<br />
Esta parceria tem como objectivo oferecer uma nova gama<br />
de serviços inovadores e altamente seguros para as empresas<br />
do sector financeiro.<br />
Oferecer uma nova gama de serviços<br />
direccionados para as empresas<br />
do sector financeiro é o objectivo<br />
desta parceria.<br />
«Desenvolvemos serviços<br />
inovadores com recursos avançados<br />
de segurança, para ajudar as<br />
organizações financeiras a planear<br />
e implementar o seu ambiente<br />
de dados e aplicações na Google<br />
Cloud», destaca Meenagi Venkat,<br />
vice-presidente da Kyndryl Consult<br />
e Cloud.<br />
Os serviços da Kyndryl foram<br />
criados com base na arquitectura<br />
de referência da Google Cloud para<br />
o sector financeiro, priorizando<br />
a automação, segurança e<br />
conformidade. Os clientes vão ter<br />
acesso a soluções de segurança<br />
avançada, como o Confidential<br />
Computing da Google Cloud, que<br />
criptografa dados confidenciais,<br />
e o Google Cloud Security<br />
Command Center, que identifica<br />
vulnerabilidades e ameaças.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 07
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
EM DESTAQUE NOS SECTORES<br />
FINANCEIROS E JURÍDICOS<br />
Depois do sucesso das últimas quatro edições, o Lisbon,<br />
Law & Tech regressou para um debate sobre o impacto da<br />
inteligência artificial na banca, nos serviços financeiros, nas<br />
indústrias criativas e na prática jurídica.<br />
O<br />
Lisbon, Law & Tech<br />
regressou para a<br />
sua quinta edição e<br />
abordou o impacto<br />
da inteligência artificial (IA) em<br />
sectores-chave, como bancos,<br />
serviços financeiros, indústrias<br />
criativas ou prática jurídica. O evento<br />
online decorreu entre os dias 7 e<br />
9 de Novembro e contou com um<br />
painel de palestrantes, que incluiu<br />
figuras como Ricardo Chaves,<br />
director do Centro de Excelência em<br />
Inteligência Artificial do BPI; Pedro<br />
Abrunhosa, músico e compositor; e<br />
Dennis Kennedy, director do Centro<br />
de Direito, Tecnologia e Inovação da<br />
Michigan State University.<br />
As discussões ao longo dos três dias<br />
centraram-se em temas como<br />
“a Transformação Impulsionada<br />
por Inteligência Artificial na Banca<br />
e Finanças”; “o Impacto<br />
da Inteligência Artificial Generativa<br />
nas Indústrias Criativas” e<br />
“Advogados Generativos: IA nos<br />
Negócios Jurídicos”.<br />
O Lisbon, Law & Tech 2023<br />
permitiu reunir conhecimentos e<br />
testemunhos sobre a forma como a<br />
Inteligência Artificial está a moldar<br />
o presente e o futuro de sectores<br />
específicos, ao mesmo tempo que<br />
se torna num evento que segue na<br />
vanguarda da intersecção entre o<br />
direito e a tecnologia.<br />
SPRING SMART SOLUTIONS<br />
ANUNCIA ENTRADA<br />
NO MERCADO PORTUGUÊS<br />
Com 22 anos de experiência no<br />
mercado do Brasil, a Spring Smart<br />
Solutions anuncia a sua entrada em<br />
Portugal, com planos de estabelecer<br />
um escritório em Lisboa e contratar 10<br />
colaboradores até ao final do ano.<br />
A empresa especializada em software de optimização<br />
de telecomunicações – baseado em inteligência<br />
artificial e machine learning - visa reduzir os custos<br />
operacionais das empresas portuguesas. Este novo<br />
software é capaz de avaliar os dispositivos móveis,<br />
como baterias de telemóveis e as actividades online<br />
dos colaboradores.<br />
Rafael Mendes, CEO da Spring Smart Solutions em<br />
Portugal, mostra-se entusiasmado com a expansão,<br />
destacando a história e a localização estratégica do<br />
País. A empresa tem como objectivo ajudar as empresas<br />
locais a alcançar resultados semelhantes aos<br />
obtidos no Brasil, onde conquistou, em média, uma<br />
redução de 30% nos custos de telecomunicações<br />
ao longo de um ano.<br />
ESTE NOVO SOFTWARE<br />
É CAPAZ DE AVALIAR<br />
OS DISPOSITIVOS MÓVEIS,<br />
COMO BATERIAS<br />
DE TELEMÓVEIS E<br />
AS ACTIVIDADES ONLINE<br />
DOS COLABORADORES<br />
08 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
INDRA REGISTA<br />
CRESCIMENTO<br />
NO LUCRO LÍQUIDO<br />
EM 2023<br />
O crescimento corresponde<br />
a 26% no lucro líquido em<br />
comparação com o mesmo período<br />
de 2022.<br />
Este crescimento do lucro líquido totaliza<br />
146 milhões de euros. Durante esse período,<br />
a empresa também registou um aumento<br />
de 12% nas receitas, com destaque para o<br />
crescimento na área da Defesa durante o<br />
terceiro trimestre.<br />
O lucro líquido por acção aumentou 26%,<br />
o que contribuiu para o sólido desempenho<br />
financeiro da empresa. Os resultados<br />
financeiros também destacaram o aumento<br />
de 12% no EBIT, registado nos primeiros nove<br />
meses de 2023 em comparação com o mesmo<br />
período no ano anterior.<br />
Além disso, a carteira de encomendas e a<br />
entrada de encomendas cresceram a taxas de<br />
dois dígitos, com a carteira de encomendas<br />
atingindo máximos históricos. Os dados<br />
reflectem o desempenho positivo da divisão<br />
Minsait, que registou um aumento de 11%<br />
nas receitas.<br />
UNICRE LANÇA SOLUÇÃO<br />
DE PAGAMENTO<br />
INOVADORA<br />
A empresa promete revolucionar o sector de vendas de<br />
produtos e serviços em Portugal, após anunciar um sistema<br />
de pagamento parcelado directamente nos terminais<br />
de pagamento automático.<br />
E<br />
m colaboração com a Parcela Já, a<br />
UNICRE lançou uma inovadora<br />
solução para diversos sectores,<br />
incluindo hotéis, oficinas, farmácias,<br />
clínicas e veterinários. Esta novidade<br />
permite aos consumidores parcelarem<br />
o pagamento das suas compras directamente nos<br />
Terminais de Pagamento Automático (TPA), utilizando<br />
os cartões de crédito ou débito.<br />
A UNICRE procura impulsionar a digitalização<br />
dos processos de pagamento de negócios e oferecer<br />
um método conveniente para as famílias efectuarem<br />
pagamentos parcelados em lojas físicas com os seus<br />
10 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
cartões. A introdução da solução “compre<br />
agora, pague depois” representa uma<br />
tendência global no sector de vendas e<br />
serviços e tem o potencial de revolucionar os<br />
métodos de pagamento em Portugal.<br />
A partir de agora, os consumidores vão<br />
poder dividir o pagamento das suas compras<br />
entre duas a seis prestações mensais, sem a<br />
incidência de juros, directamente nas lojas.<br />
Para usufruir desta opção, os vendedores de<br />
retalho vão ser obrigados a ter o terminal<br />
REDUNIQ Smart à disposição, permitindo<br />
que os clientes escolham o número de<br />
parcelas desejadas, com uma prestação<br />
mínima de vinte euros.<br />
A UNICRE PROCURA<br />
IMPULSIONAR A DIGITALIZAÇÃO<br />
DOS PROCESSOS DE<br />
PAGAMENTO DE NEGÓCIOS<br />
E OFERECER UM MÉTODO<br />
CONVENIENTE PARA<br />
AS FAMÍLIAS<br />
PROSEGUR CRYPTO REFORÇA<br />
PRESENÇA NA AMÉRICA LATINA<br />
A empresa conta com uma tecnologia avançada de<br />
armazenamento, que garante níveis de segurança sem<br />
precedentes no sector de criptoactivos.<br />
Com o anúncio da criação de um<br />
segundo bunker de custódia de<br />
activos digitais no Brasil, a Prosegur<br />
Crypto consolida a sua presença no<br />
segmento de tutela institucional e<br />
procura ampliar a sua influência em<br />
toda a América Latina, bem como<br />
controlar 50% das operações globais<br />
da empresa.<br />
O bunker oferece tecnologia de<br />
armazenamento a frio patenteada,<br />
garantindo níveis de segurança<br />
inigualáveis de criptoactivos.<br />
«Este novo crypto bunker representa<br />
um marco significativo para a<br />
nossa empresa, expandindo a oferta<br />
de custódia de activos digitais para a<br />
América Latina, com a mesma excelência<br />
e especialização do nosso serviço de<br />
custódia convencional», explica José<br />
Ángel Fernández, executive chairman da<br />
Prosegur Crypto e director corporativo de<br />
Inovação da Prosegur Cash.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 11
DIGITAL<br />
A EXPERIÊNCIA<br />
DO CLIENTE<br />
COMO VANTAGEM<br />
COMPETITIVA<br />
Na economia digital, o novo modelo de relação<br />
entre empresas e clientes está centrado nas<br />
experiências personalizadas.<br />
POR ANTÓNIO SARMENTO<br />
A<br />
jornada do cliente exige um reforço da gestão da estratégia omnicanal<br />
e da personalização. Em ambos os casos, o futuro passará<br />
pela inteligência artificial, quer no que respeita à implementação<br />
de novas formas de interacção, como é o caso de chatbots,<br />
como também na personalização do conteúdo ou até na sua capacidade<br />
predictiva. Actualmente, com recurso à Inteligência Artificial e Machine<br />
Learning é possível compreender hábitos e padrões de consumo, conhecer os comportamentos<br />
e preferências do consumidor e, ainda, prever quando esse cliente<br />
terá necessidade de adquirir um determinado produto ou serviço.<br />
Na economia digital, o novo modelo de relação entre empresas e clientes está<br />
centrado nas experiências personalizadas. As empresas irão tirar partido de tecnologias<br />
como a inteligência artificial (IA), dispositivos conectados (ex. IoT), serviços<br />
omnipresentes e uma base subjacente de confiança para entenderem as necessidades<br />
dos seus clientes e satisfazê-las de forma dinâmica. Este tipo de relações<br />
cria um ciclo de feedback contínuo sobre as experiências dos clientes, ou seja, os<br />
clientes têm uma experiência, o feedback é recolhido e analisado e as experiências<br />
seguintes são ajustadas para fornecer o maior valor ao cliente e à marca. A IDC<br />
prevê que, até 2023, 40% dos dados recolhidos ao longo da jornada do cliente serão<br />
utilizados para fornecer uma experiência contínua contextualmente relevante,<br />
orientada para o comportamento e mais empática.<br />
De acordo com a mesma consultora, as organizações B2B e B2C estarão cada<br />
vez mais focadas na recolha de dados dos clientes para que possam construir um<br />
relacionamento directo com o cliente, incluindo produtores e fabricantes, que terão<br />
acesso crescente aos clientes através dos marketplaces online. Como resultado,<br />
as marcas que sejam capazes de utilizar os dados e tecnologias para fornecerem<br />
experiências de cliente mais personalizadas<br />
e contextualizadas terão um acesso cada<br />
vez mais abrangente e contínuo aos dados<br />
dos clientes e consequentemente a capacidade<br />
de desenvolver um relacionamento<br />
cada vez mais profundo com o cliente, criar<br />
e melhorar os seus produtos e desenvolver<br />
novos modelos de negócios.<br />
Até 2025, 30% dos consumidores irão<br />
entrar na economia de “continuous customer”,<br />
conectando vários dispositivos e<br />
mecanismos de pagamento aos mercados<br />
digitais para receberem produtos e serviços<br />
num ambiente automatizado e orientado<br />
por dados, sem a necessidade de aprovações<br />
constantes. Para os fornecedores, o<br />
fluxo constante de dados e a comunicação<br />
bilateral irão permitir um marketing de<br />
precisão e novos modelos de preços e receita,<br />
garantindo maior consistência.<br />
«Os decisores de topo reconhecem que,<br />
em determinado momento, as transformações<br />
devem ser substituídas por uma meta<br />
maior e mais significativa a longo prazo, ou<br />
seja, por negócios digitais», afirmou Gabriel<br />
Coimbra, country manager da IDC<br />
Portugal, no evento IDC Directions 2023,<br />
referindo que «a transformação digital cria<br />
soluções que permitem transformar o negócio,<br />
criar novos modelos de negócios baseados<br />
na utilização de tecnologias digitais,<br />
que utilizam o digital e que vão permitir<br />
12 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
DIGITAL<br />
10 PREVISÕES<br />
para o futuro da experiência do cliente<br />
melhorar ao nível dos processos internos e<br />
externos, bem como a experiência do utilizador<br />
e a relação com clientes, cidadãos,<br />
fornecedores e parceiros». Estas soluções<br />
tecnológicas «vão ajudar na forma como as<br />
organizações atraem, gerem e retêm colaboradores<br />
e, claro, como desenvolvem os<br />
seus produtos, serviços e experiências».<br />
Este ano, o sector vai crescer 0,8% em<br />
Portugal, sendo que esta diminuição do<br />
investimento se deve a três factores, entre<br />
eles «ajuste do mercado após crescimentos<br />
de 17,8% e 4,4% em 2021 e 2022 (efeito<br />
Covid)» e «diminuição das vendas de<br />
PC e smartphones em 2023». Segundo o<br />
responsável, entre 2020 e 2021, essencial-<br />
ATÉ 2025, 30% DOS<br />
CONSUMIDORES IRÃO<br />
ENTRAR NA ECONOMIA DE<br />
“CONTINUOUS CUSTOMER”,<br />
CONECTANDO VÁRIOS<br />
DISPOSITIVOS<br />
E MECANISMOS<br />
DE PAGAMENTO AOS<br />
MERCADOS DIGITAIS<br />
PREVISÃO 1<br />
Até 2027, um quarto das marcas globais abandonará<br />
o CSAT (Customer Satisfaction Score) como<br />
uma medida da experiência do cliente e adoptará<br />
uma pontuação de esforço do cliente correlacionada<br />
aos resultados, como um indicador-chave<br />
de satisfação e sucesso da jornada.<br />
PREVISÃO 2<br />
Até 2024, 50% do G2000 adoptará as<br />
plataformas de dados do cliente (CDP) como<br />
o serviço de dados do cliente corporativo para<br />
interacções com o cliente em tempo real, como<br />
um sistema nervoso central, aumentando as<br />
métricas de CX e a receita em 5%.<br />
PREVISÃO 3<br />
Para promover a lealdade e uma vantagem competitiva,<br />
64% do Global 2000 possuirá comunidades<br />
online até 2027 e as principais integrações<br />
de aplicativos de TI permitirão uma nova onda de<br />
colaboração e insights baseados em resultados.<br />
PREVISÃO 4<br />
Até 2026, 40% do G2000 incorporará iniciativas<br />
de experiência do funcionário (EX) nas suas<br />
principais estratégias de CX para competir em<br />
CX, aquisição de talentos e retenção, mas terá<br />
dificuldade para medir EX+CX.<br />
PREVISÃO 5<br />
A adopção de tecnologias Web3 levará 45%<br />
das marcas globais a criar novas experiências<br />
imersivas, conteúdo acessível e comunidades<br />
colaborativas e aumentar a economia do criador<br />
mente, registou-se um ciclo de renovação<br />
de hardware e software, não só ao nível dos<br />
consumidores como das empresas. «Nessa<br />
altura passámos de um modelo de trabalho<br />
90% presencial para 95% remoto, o que levou<br />
as empresas a criar condições para os<br />
seus colaboradores trabalharem de casa,<br />
bem como aos consumidores que, no caso<br />
dos alunos, tiveram de arranjar dispositivos<br />
para ter aulas em casa», referiu.<br />
A transformação digital exige que o governance<br />
seja cuidadosamente concebido<br />
para resolver várias dúvidas. A primeira é a<br />
de CX em um mercado de 300 mil milhões de<br />
dólares até 2024.<br />
PREVISÃO 6<br />
Até 2026, 45% do Global 2000 usará IA/ML para<br />
elevar o contexto e levar os clientes a experiências<br />
novas e desconhecidas que melhoram<br />
simultaneamente as métricas de sentimento e o<br />
potencial de “upselling” da marca.<br />
PREVISÃO 7<br />
Até 2024, pelo menos 30% das organizações<br />
introduzirão novas métricas de sucesso para<br />
rastrear e medir os fluxos internos e externos de<br />
criação de valor para o cliente.<br />
PREVISÃO 8<br />
Até 2025, 50% dos clientes corporativos G2000<br />
seleccionarão principalmente o seu provedor de<br />
plataforma CX com base na eficácia dos serviços<br />
de sucesso do cliente do fornecedor.<br />
PREVISÃO 9<br />
Até 2024, 30% das organizações serão forçadas<br />
a expandir a experiência de dados e as medidas<br />
de privacidade para mitigar os riscos de<br />
violações de dados causadas por parceiros do<br />
ecossistema, custando 4,6 milhões de dólares<br />
por violação.<br />
PREVISÃO 10<br />
Até 2026, 40% das empresas G2000 construirão<br />
comunidades seguras para promover protecções<br />
interpessoais para futuras plataformas Metaversas<br />
– e colectar dados primários.<br />
supervisão. Quem aprova os novos projectos?<br />
A quem é que eles reportam? E quem<br />
os encerra? A seguir é o financiamento.<br />
Como atribuir recursos a um portefólio<br />
de projectos para maximizar as oportunidades<br />
de sucesso? Igualmente importantes<br />
são as pessoas. Quem trabalhará nas novas<br />
iniciativas, dentro ou fora da sua organização?<br />
Como serão formadas as equipas com<br />
a combinação certa de competências? O<br />
governance também deve incluir métricas.<br />
Como será o progresso dos novos empreendimentos<br />
avaliado? E, crucialmente, como<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 13
DIGITAL<br />
pode disciplinar o encerramento regular de<br />
projectos, uma prática frequentemente negligenciada<br />
nas grandes empresas?<br />
David L. Rogers, director do corpo docente<br />
dos programas de Educação Executiva<br />
da Columbia Business School e autor do<br />
artigo “The Digital Transformation Roadmap”,<br />
referiu que o governance da inovação<br />
exige três bases principais: (1) As equipas<br />
devem ser capacitadas para agir rapidamente<br />
e experimentar, de modo a descobrirem<br />
o que funciona no mercado; (2) as<br />
administrações devem ter poderes para supervisionar<br />
e aconselhar os portefólios das<br />
equipas, alocando recursos onde for mais<br />
necessário; e (3) ambos devem seguir processos<br />
regulares para dar luz verde a novos<br />
empreendimentos, financiá-los interactivamente,<br />
e encerrá-los para libertar recursos<br />
para a próxima oportunidade emergente.<br />
Com o governance certo em vigor,<br />
empresas estabelecidas de todos os tipos<br />
podem desbloquear o potencial dos seus<br />
próprios colaboradores para impulsionar a<br />
transformação e o crescimento em todos os<br />
níveis dos seus negócios.<br />
A IDC estima que, em 2024, as empresas<br />
que se vão destacar são aquelas que<br />
demonstraram capacidade em inovar por<br />
meio da tecnologia para superar as mais<br />
diversas crises, conforme aponta o estudo<br />
“IDC FutureScape: Worldwide Future<br />
of Digital Innovation 2023 Top 10 Predictions”.<br />
A consultora sublinha que as crises<br />
globais, incluindo a inflação, a ameaça de<br />
recessão, os constrangimentos da cadeia de<br />
abastecimento, o aumento dos custos dos<br />
combustíveis e a guerra estão a tirar o sono<br />
aos executivos. Para muitos, a reacção é<br />
jogar pelo seguro: cortar, reduzir os custos<br />
tanto quanto possível e investir apenas em<br />
empresas ou negócios com baixo risco. No<br />
entanto, dependendo do sector e da crise<br />
que afecta, jogar pelo seguro pode ser mais<br />
arriscado do que investir em algo novo.<br />
Gabriel Coimbra relembra empresas<br />
como a Uber, a Airbnb e a Groupon, que<br />
OS BANCOS DEVERÃO OPTAR<br />
POR MODELOS BASEADOS<br />
EM PLATAFORMAS,<br />
PARA IMPULSIONAREM<br />
O CRESCIMENTO<br />
E A INOVAÇÃO<br />
surgiram na altura da recessão de 2008,<br />
utilizando tecnologias digitais inovadoras<br />
para agitar os mercados. «As empresas<br />
devem planear a utilização de tecnologias<br />
digitais para responder às necessidades dos<br />
clientes, que estão a mudar devido às crises<br />
mundiais. Sabemos que a inflação e as<br />
restrições da cadeia de abastecimento, p.e.,<br />
afectam o status quo, o que significa que as<br />
organizações têm de mudar ou correm o<br />
risco de declínio.»<br />
A IDC defende que as empresas estão<br />
a passar de uma estratégia de investimento<br />
em tecnologia centrada na transformação<br />
digital para uma estratégia focada na gestão<br />
do negócio digital. Logo, um factor importante<br />
do negócio digital será a capacidade<br />
de inovar através do desenvolvimento de<br />
tecnologia diferenciadora e disruptiva. As<br />
organizações de TI estão mais pressionadas<br />
do que nunca para aumentar a eficiência, a<br />
fim de dedicar o máximo de tempo e recursos<br />
à inovação.<br />
“Obter o máximo valor comercial da<br />
inovação digital requer normalmente<br />
mudanças significativas nos modelos de<br />
negócio. Os líderes de TI terão, cada vez<br />
mais, de compreender o negócio – incluindo<br />
o impacto de qualquer uma das<br />
crises globais – e fornecer ao negócio soluções<br />
inovadoras que produzam resultados<br />
estratégicos”, refere o estudo da IDC<br />
citado anteriormente.<br />
A pandemia de Covid-19 demonstrou<br />
o quão poderosa pode ser a tecnologia digital<br />
e a inovação para proporcionar resiliência,<br />
receitas e oportunidades para uma<br />
empresa face a uma crise. O resultado é o<br />
surgimento de uma divisão entre as organizações<br />
que são capazes de escalar o desenvolvimento<br />
e a entrega de inovação digital<br />
e as que não conseguem. As previsões da<br />
IDC para o futuro da inovação digital reflectem<br />
esta divisão, com as empresas que<br />
fornecem inovação digital a emergir como<br />
líderes nos seus sectores de mercado.<br />
Banca e seguros<br />
Os dados de um estudo do World Retail<br />
Banking Report (WRBR) revelam que<br />
os bancos de retalho estão a ser pressionados<br />
para se transformarem à medida que os<br />
novos operadores – focados na experiência<br />
do cliente – estão a ganhar terreno. O estudo<br />
mostra que os bancos que utilizam as<br />
plataformas digitais consideram que é duas<br />
vezes mais fácil aumentar os resultados<br />
operacionais, desbloquear novas fontes de<br />
receita e melhorar os níveis de eficiência<br />
operacional. Além disso, revelam que está<br />
em curso uma transformação histórica no<br />
sector financeiro a nível mundial, impulsionada<br />
pelos novos players nativos digitais e<br />
não tradicionais que, graças à sua agilidade<br />
e ao facto de colocarem a experiência<br />
do cliente no centro do negócio, estão a<br />
ganhar quota de mercado e a redefinir as<br />
regras que estavam estabelecidas no sector.<br />
Os dados sugerem ainda que os bancos<br />
deverão optar por modelos baseados em<br />
plataformas para impulsionarem o crescimento<br />
e a inovação de que precisam para<br />
continuarem a ser relevantes e competitivos,<br />
e que a adopção do OpenX será crítica<br />
para serem bem-sucedidos no longo prazo.<br />
“Os consumidores esperam que os bancos<br />
lhes proporcionem uma experiência digital<br />
14 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
DIGITAL<br />
transparente e semelhante àquela a que estão<br />
habituados a ter com as BigTechs noutras<br />
áreas. Os bancos tradicionais estão a ser<br />
desafiados a responder a estas expectativas,<br />
dado que os novos operadores nativos digitais<br />
se focam na experiência do cliente desde<br />
o início”, continua o estudo, “os bancos<br />
que investirem agora na modernização da<br />
sua tecnologia de base e que a façam evoluir<br />
para uma experiência semelhante à das<br />
plataformas irão satisfazer mais e melhor os<br />
seus clientes e, consequentemente, os seus<br />
negócios serão mais rentáveis. A Covid-19<br />
colocou o foco na experiência da banca digital.<br />
A modernização dos sistemas legados<br />
deve ser uma prioridade para os bancos que<br />
queiram acelerar o seu crescimento, sobretudo<br />
tendo em atenção que as expectativas<br />
dos clientes continuam a aumentar. E aqueles<br />
que negligenciarem este aspecto arriscam-se<br />
a perder relevância”.<br />
Já o sector segurador foi considerado<br />
líder na experiência do cliente, no con-<br />
junto dos sectores analisados pelo estudo<br />
Best European Customer Experience 2021<br />
(BECX) – actualização mais abrangente do<br />
European Customer Satisfaction Index. Ao<br />
longo dos últimos anos, o sector tem vindo<br />
a melhorar a sua posição neste ranking, demonstrando<br />
a capacidade de resposta aos<br />
seus clientes, cidadãos e empresas, em tempos<br />
muito difíceis para todos.<br />
Para José Galamba de Oliveira, presidente<br />
da APS – Associação Portuguesa de<br />
Seguradores, «este reconhecimento é reflexo<br />
de um trabalho de aproximação aos<br />
clientes, que tem sido desenvolvido pelas<br />
seguradoras, no sentido de compreender<br />
quais as suas necessidades e como os podem<br />
apoiar, e que é cada vez mais reconhecido<br />
e valorizado pelo público. Este<br />
trabalho tem, no entanto, de ser constante,<br />
para que as pessoas e as empresas<br />
sintam que o seguro é, de facto, uma rede<br />
de segurança cada vez mais relevante na<br />
sua vida».<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 15
MERCADOS<br />
NO HORIZONTE FINANCEIRO<br />
O QUE ESPERAR<br />
DAS BOLSAS MUNDIAIS<br />
EM 2024?<br />
À medida que nos<br />
aproximamos do final<br />
do ano, os investidores<br />
olham com atenção<br />
para as bolsas mundiais<br />
e começam a tentar<br />
desvendar o que 2024<br />
pode reservar.<br />
POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />
N<br />
um mundo financeiro que nunca descansa, as perspectivas<br />
para as bolsas mundiais são um mar de incertezas, ainda mais<br />
quando navegamos numa época marcada por uma elevada<br />
inflação, altas taxas de juro e um cenário geopolítico mundial<br />
bastante adverso.<br />
A Risco falou com diversos especialistas para perceber quais as tendências económicas<br />
para o próximo ano, o que esperar das bolsas mundiais em 2024, e como<br />
podem e devem os investidores actuar num mercado marcado pela volatilidade.<br />
Tendências económicas<br />
Em declarações à Risco, Stefan Hofrichter, economista-chefe da Allianz Global<br />
Investors (AllianzGI), explica que as perspectivas económicas são para crescimento<br />
em 2024, no entanto, alerta, esperam uma recessão nos EUA e na Europa a partir do<br />
primeiro semestre de 2024, o que deverá ser um obstáculo para os activos de risco.<br />
16 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
MERCADOS<br />
No que respeita às políticas monetárias,<br />
uma paragem nos ciclos de subida das<br />
taxas do banco central deve ser um bom<br />
presságio para os retornos das obrigações<br />
soberanas no futuro.<br />
«Ainda assim, existem riscos ascendentes<br />
para os rendimentos das obrigações<br />
a curto prazo. Os rendimentos dos títulos<br />
podem não cair tanto, mesmo quando uma<br />
recessão se materializa, devido aos factores<br />
mencionados acima», explica.<br />
Já Henrique Tomé, analista financeiro<br />
da XTB, sublinha que as projecções económicas<br />
para a produção mundial apontam<br />
para uma desaceleração da economia<br />
no próximo ano e as revisões em baixa por<br />
parte das grandes instituições têm sido<br />
constantes, pois a inflação alta resiste no<br />
contexto económico e tem sido a grande<br />
dor de cabeça para os bancos centrais em<br />
toda a parte do globo.<br />
«Assim, a expectativa para que as taxas<br />
de juro fiquem altas por mais tempo tem<br />
sido o cenário mais provável», sublinha.<br />
O especialista aponta ainda que o crescimento<br />
económico na China também tem<br />
levantado algumas dúvidas, pois um forte<br />
arrefecimento da segunda maior economia<br />
do mundo terá impacto directo em todas as<br />
economias desenvolvidas.<br />
Para além disso, as tensões geopolíticas<br />
com o conflito na Ucrânia e a guerra no Médio<br />
Oriente podem continuar a impactar o<br />
preço do petróleo e da alimentação. Segundo<br />
o FMI, se os conflitos se intensificarem<br />
na zona do Médio Oriente, uma escalada<br />
no preço em 10% no petróleo terá impacto<br />
em um decréscimo de 0,2% no PIB mundial<br />
e um aumento inflacionário de 0,4%.<br />
Na Zona Euro, as projecções apontam<br />
para um crescimento modesto de 0,7%<br />
em 2023 e 1,2% em 2024, com os números<br />
mais fracos da produção industrial alemã,<br />
francesa e italiana. «Posto isto, o momento<br />
mais complicado será a partir de Fevereiro<br />
e até Abril do próximo ano. Caso os indicadores<br />
macroeconómicos melhorem, não<br />
haja falências de bancos e empresas importantes,<br />
uma descida gradual da inflação,<br />
com o preço do petróleo estável, poderemos<br />
ver a economia a voltar a levantar-se<br />
de forma progressiva na segunda metade<br />
de 2024», explica.<br />
Já no que respeita às bolsas, a tendência<br />
altista tem perdurado e é provável que continue,<br />
mas com um ritmo mais lento do que<br />
temos visto até agora, assumindo que nada<br />
de novo estrutural acontece.<br />
Ricardo Evangelista, director executivo<br />
da ActivTrades Europe, considera que<br />
«o foco dos investidores continuará na inflação<br />
e política monetária dos principais<br />
bancos centrais. A escala do abrandamento<br />
do crescimento económico, sobretudo<br />
na China, também será importante, bem<br />
como a evolução da tensão geopolítica<br />
global. Estes serão os factores-chave que<br />
UMA PARAGEM NOS CICLOS<br />
DE SUBIDA DAS TAXAS<br />
DO BANCO CENTRAL DEVE SER<br />
UM BOM PRESSÁGIO<br />
PARA OS RETORNOS<br />
DAS OBRIGAÇÕES<br />
SOBERANAS<br />
poderão agravar os riscos de uma recessão<br />
e afectar de forma adversa a performance<br />
das bolsas».<br />
O presidente da Maxyield, Carlos Rodrigues,<br />
sublinha cinco fenómenos relevantes<br />
que podem impactar as tendências<br />
económicas mundiais em 2024:<br />
• Graus de abrandamento económico<br />
a nível dos EUA, União Europeia e Rússia,<br />
cujas economias tenderão a crescer a taxas<br />
inferiores às de 2023;<br />
• Dificuldade de sustentabilidade dos<br />
níveis de crescimento recente da economia<br />
chinesa;<br />
• Fragilização do processo de globalização<br />
económica com o reforço dos espaços<br />
regionais;<br />
• Debilidade económica nalguns mercados<br />
emergentes, designadamente na<br />
América do Sul;<br />
• Instabilidade dos mercados do petróleo<br />
e do gás e crescimento dos respectivos<br />
preços.<br />
Clima de investimento<br />
Em primeiro lugar, vamos aos números.<br />
Carlos Rodrigues continua a explicar<br />
que o índice S&P 500, composto pelas<br />
maiores 500 sociedades cotadas na NYSE,<br />
após uma diminuição de -19,4% em 2022,<br />
entrou em Junho de 2023 na situação de<br />
bull market (aumento superior a 20% relativamente<br />
ao último mínimo), apresentando<br />
em 30 de Setembro um crescimento de<br />
19,6% relativamente ao último mínimo.<br />
O índice tecnológico americano NAS-<br />
DAQ, após uma diminuição de -33,1%<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 17
MERCADOS<br />
I BULL MARKET DOS MERCADOS EUROPEUS E NORTE-AMERICANO<br />
Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação dos respectivos índices.<br />
em 2022, entrou no mês de Maio em bull<br />
market, apresentando em 30 de Setembro,<br />
um crescimento de 28,1% relativamente ao<br />
último mínimo.<br />
Já o índice STOXX 600, que agrega as<br />
600 maiores sociedades cotadas europeias,<br />
após uma diminuição de -12,9% em 2022,<br />
entrou em bull market em Fevereiro de<br />
2023 e apresenta um aumento de 17,6% relativamente<br />
ao último mínimo.<br />
Conforme se verifica no quadro, os índices<br />
europeus e americanos apresentam,<br />
em 30 de Setembro, uma evolução anual e<br />
homóloga que favorece o clima expectável<br />
para 2024. Os mercados francês, alemão e<br />
espanhol apresentam um crescimento anual<br />
vibrante e uma robusta evolução homóloga.<br />
«Esta situação é explicada pelo facto do<br />
STOXX 600 e dos índices alemão DAX 30,<br />
francês CAC 40 e espanhol IBEX 35 terem<br />
entrado tecnicamente em bear market no<br />
final de Setembro de 2022 (queda superior<br />
a 20% relativamente ao último máximo)»,<br />
explica o presidente da Maxyield. Já os<br />
mercados francês, alemão e espanhol apresentam<br />
um «crescimento anual vibrante e<br />
uma robusta evolução homóloga».<br />
Os índices asiáticos, com excepção da<br />
China, apresentam em Setembro uma variação<br />
anual significativa.<br />
«As dificuldades da “bazuca” chinesa<br />
para acelerar o crescimento económico e<br />
comportamento do sector imobiliário ajudam<br />
a explicar o desempenho negativo do<br />
mercado chinês», explica.<br />
Neste cenário, o presidente da Maxyield<br />
considera importante sublinhar os seguintes<br />
pontos:<br />
• No limiar de 2024 podem-se destacar<br />
os títulos de menor volatilidade e risco,<br />
designadamente utilities, sector financeiro<br />
e sector tecnológico;<br />
• O segundo semestre deverá antecipar<br />
o efeito do início do ciclo de descida das<br />
I EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS<br />
ÍNDICES ASIÁTICOS<br />
Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação<br />
dos respectivos índices.<br />
(a) Variação relativamente a 31 de Dezembro de 2022.<br />
taxas de juro, através de maior dinamismo<br />
dos mercados, influenciados por maior entusiasmo<br />
dos investidores;<br />
• Neste contexto, as commodities e o<br />
sector tecnológico apresentam-se como<br />
sectores susceptíveis de alavancar os mercados,<br />
e perspectiva-se que o sector energético<br />
beneficie com a redução das taxas de<br />
juro (exposição ao financiamento alheio e<br />
exigências de investimento);<br />
• A perspectiva de regresso do crescimento<br />
económico no final de 2024, a níveis<br />
mais elevados, poderá antecipar valorizações<br />
no sector industrial;<br />
• Os sectores petrolífero e bancário<br />
incorporam riscos de volatilidade que não<br />
devem ser ignorados.<br />
Para já, os investidores em geral ainda<br />
estão a assumir uma “aterragem suave” e<br />
um suporte para activos de risco devido ao<br />
fim do ciclo de alta de juros. No entanto, se<br />
a recessão se revelar mais profunda do que<br />
o previsto até agora, os activos de risco enfrentarão<br />
alguns ventos contrários e maior<br />
volume antes de oferecer oportunidades<br />
de entrada, considera o economista-chefe<br />
da AllianzGI.<br />
«Aconselhamos ter uma carteira de<br />
acções equilibrada com referência a sectores:<br />
embora as acções de tecnologia provavelmente<br />
superem o desempenho a longo<br />
prazo, elas tiveram uma boa corrida nos últimos<br />
anos e agora parecem bastante precificadas»,<br />
sublinha.<br />
Já o analista financeiro da XTB considera<br />
que o próximo ano poderá ser aquele em<br />
que o sector da Inteligência Artificial (IA)<br />
vai explodir, prevendo-se que esta cresça<br />
exponencialmente até ao final da década.<br />
No entanto, alerta, apesar do seu elevado<br />
potencial de crescimento, é possível que<br />
a revolução da IA já esteja em curso.<br />
Henrique Tomé destaca que vimos provas<br />
disso no mercado de acções durante<br />
2023, com as acções do fabricante de chips<br />
Nvidia a valorizarem uns incríveis 228%.<br />
I EVOLUÇÃO MENSAL E ANUAL DOS PRINCIPAIS ÍNDICES EUROPEUS<br />
E NORTE-AMERICANOS EM 2023<br />
Fonte: Elaborado por Maxyield com base na informação dos respectivos índices.<br />
(a) Variação relativamente a 31 de Dezembro de 2022 (b) Variação relativamente a 30 de Setembro de 2022.<br />
18 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
MERCADOS<br />
SE A RECESSÃO SE<br />
REVELAR MAIS PROFUNDA<br />
DO QUE O PREVISTO<br />
ATÉ AGORA,<br />
OS ACTIVOS DE RISCO<br />
ENFRENTARÃO VENTOS<br />
CONTRÁRIOS<br />
Mas também as tecnológicas estão a reinventar-se,<br />
como, por exemplo, o grande<br />
impulso por parte da Apple, que anunciou<br />
estar a trabalhar em ferramentas de IA para<br />
desafiar os serviços da OpenAI, incluindo<br />
aquilo a que alguns chamam o seu próprio<br />
“Apple GPT”. Outros actores importantes<br />
incluem a Alphabet, a Microsoft e a Tesla,<br />
para citar alguns.<br />
«Em 2024 e nos próximos anos, à medida<br />
que milhares de milhões de euros<br />
de investimento são injectados no sector<br />
emergente, penso que surgirá uma série de<br />
oportunidades numa variedade de negócios»,<br />
destacou.<br />
Para além destas, salienta a aposta no<br />
sector tecnológico, nomeadamente a computação<br />
na nuvem, que é utilizada por uma<br />
vasta gama de organizações, desde pequenas<br />
empresas em fase de arranque até empresas<br />
multinacionais. Alguns especialistas<br />
prevêem que o sector cresça cerca de 20%<br />
ao ano até 2030.<br />
Outra área é a das fintech (tecnologia financeira).<br />
Desde bancos digitais a empresas<br />
de pagamentos, há uma série de empresas<br />
inovadoras que estão a conquistar quota de<br />
mercado aos bancos tradicionais. Os especialistas<br />
prevêem que as receitas globais das<br />
fintech aumentem seis vezes até 2030.<br />
Por outro lado, o director executivo da<br />
ActivTrades Europe, alerta que «os riscos<br />
de uma recessão têm vindo a crescer e o<br />
cenário pode agravar-se em 2024. Contra<br />
este pano de fundo, diria que os sectores<br />
com maior resiliência, como o do consumo<br />
discricionário e saúde, bem como os gran-<br />
O especialista também corrobora que<br />
os melhores indicadores avançam uma<br />
possível recessão nos EUA durante o primeiro<br />
trimestre de 2024, sublinhando que<br />
a actual discrepância entre os fracos dados<br />
da indústria transformadora e os fortes resultados<br />
dos serviços tem sido um sinal de<br />
alerta no passado.<br />
«E se realmente esta fraqueza económica<br />
se verificar e a inflação estabilizar,<br />
deverá abrir caminho para que os principais<br />
bancos centrais comecem a cortar as<br />
taxas de juro mais do que os investidores<br />
prevêem actualmente em 2024», sublinha.<br />
Outro risco para 2024 seria o escalar<br />
das tensões entre Israel e Palestina, o que<br />
poderá levar outros países a entrar no conflito<br />
e a provocarem ainda mais incerteza<br />
e volatilidade nos mercados financeiros.<br />
O petróleo seria uma das matérias-primas<br />
mais afectadas, com a dificuldade de exportação<br />
a levantar novos problemas acerca<br />
da oferta no mercado para todo mundo,<br />
elevando os preços dos combustíveis para<br />
os consumidores.<br />
«Existem diversos riscos à escala planetária,<br />
susceptíveis de gerar níveis de volatides<br />
nomes do sector tecnológico, poderão<br />
agregar bastante procura».<br />
Riscos<br />
«Os riscos de recessão mantêm-se no<br />
radar dos investidores. A queda do apetite<br />
pelo risco poderá ser um problema para as<br />
bolsas, com activos de refúgio, como o ouro<br />
e as obrigações, a poderem beneficiar»,<br />
continua Ricardo Evangelista.<br />
Para Stefan Hofrichter, os riscos para<br />
as bolsas mundiais no próximo ano podem<br />
estar na estabilidade/desestabilidade financeira,<br />
nomeadamente decorrentes de instituições<br />
financeiras não bancárias, devido<br />
às taxas elevadas, à alavancagem do sector<br />
privado e à queda dos preços reais da habitação.<br />
Segundo o especialista, historicamente,<br />
isto implicou riscos acrescidos para<br />
a estabilidade financeira.<br />
Também incorrem em riscos políticos,<br />
como é o caso de uma maior desglobalização<br />
e do isolacionismo dos EUA, se a vitória<br />
eleitoral de Trump for antecipada.<br />
«A médio prazo, as coisas parecem<br />
muito menos prometedoras para os investidores»,<br />
alerta Henrique Tomé.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 19
MERCADOS<br />
lidade elevada nos mercados internacionais<br />
ao longo do ano, conjugando fases de crescimento<br />
com algumas marés vermelhas»,<br />
alerta o presidente da Maxyield.<br />
Carlos Rodrigues destaca ainda que existe<br />
um importante leque de riscos geopolíticos<br />
resultantes de conflitos militares, designadamente<br />
Rússia-Ucrânia, situação no Médio<br />
Oriente, relação China-Formosa (Taiwan) e<br />
China com União Europeia e/ou EUA. Mas,<br />
«o principal desafio é a manutenção do bull<br />
market em que se encontram os principais<br />
mercados internacionais», destaca.<br />
PSI, a praça de Lisboa<br />
O PSI ultrapassou em 2022 a histórica<br />
periodicidade bianual de bear's market<br />
(2014, 2016, 2018, 2020) e a intermitência<br />
anual de variações positivas e negativas,<br />
como explica o presidente da Maxyield.<br />
No decurso de 2022 e 2023, o PSI manteve<br />
o seu bull market oscilando na faixa de<br />
variação [5750-6300], que constitui um referencial<br />
para níveis atingidos há sete anos,<br />
sendo previsível o fecho do ano de 2023 em<br />
torno do limite superior do intervalo referido,<br />
o chamado nível de resistência.<br />
Carlos Rodrigues acredita que o PSI deverá<br />
fechar o ano de 2023 com uma taxa<br />
de crescimento anual inferior às dos principais<br />
mercados internacionais, com excepção<br />
dos mercados chinês e emergentes.<br />
A Maxyield considera que a entrada<br />
na faixa de variação seguinte [6300-7750]<br />
insere-se nas perspectivas para 2024 e reporta-nos<br />
para níveis atingidos há 10 anos.<br />
«Esta visão está de acordo com a média<br />
dos price targets para as sociedades do universo<br />
empresarial do PSI, incorporando um<br />
potencial global de valorização de 31%»,<br />
explica, reportando ao quadro seguinte.<br />
A capitalização bolsista do PSI em<br />
2022 representou sensivelmente 31% do<br />
PIB, atingindo 76 mil milhões de euros, estimando-se<br />
que, no final de 2023, continue<br />
a representar este nível no final de 2023.<br />
Assim, «com base na média ponderada<br />
dos price targets obteríamos em 2024 uma<br />
capitalização bolsista de 93,5 mil milhões<br />
de euros, passando a representar 33,5% do<br />
PIB nominal (apurado com base no cenário<br />
macroeconómico incluído na proposta<br />
de OE 2024)».<br />
I EVOLUÇÃO DO PSI E COMPORTAMENTO NA FAIXA DE VARIAÇÃO<br />
5750-6300<br />
6 000<br />
4 000<br />
2 000<br />
2014<br />
Fonte: Elaborado por Maxyield.<br />
Os especialistas explicam ainda que o<br />
universo EDP e EDP Renováveis tem um<br />
peso de 19,8% no PSI, pelo que a recuperação<br />
do sector energético tem um impacto<br />
assinalável no índice.<br />
Já as retalhistas Sonae SGPS e Jerónimo<br />
Martins ocupam 19,8% do mercado e<br />
20,8% do PSI, e, no sector industrial, representado<br />
pela Semapa, Navigator, Altri,<br />
Corticeira Amorim e Mota-Engil, representam<br />
9,6% da capitalização bolsista e<br />
13,6% do PSI.<br />
O INVESTIMENTO<br />
SUSTENTÁVEL,<br />
DESIGNADAMENTE<br />
O ESG, VEM OCUPANDO UM<br />
ESPAÇO CRESCENTE NA<br />
AGENDA DO CORPORATE<br />
MANAGEMENT<br />
2016 2018 2020 2022<br />
Merece destaque o peso da Galp na capitalização<br />
bolsista, representando 15,6% e<br />
14,2% do PSI, e o BCP que, apesar da fraca<br />
importância na capitalização bolsista<br />
(5,8%), tem um peso relevante no PSI com<br />
o valor de 14,6%.<br />
O free float médio ponderado do universo<br />
PSI é de 42,1%, sendo que BCP, CTT,<br />
EDP, Galp e Jerónimo Martins se encontram<br />
acima deste valor, explicando o seu<br />
peso mais elevado no PSI.<br />
Henrique Tomé, analista financeiro<br />
da XTB, explica que, tendo em conta<br />
que a economia nacional se tem mostrado<br />
mais forte que a média da Zona Euro<br />
e o PSI tem estado com uma performance<br />
um pouco abaixo da dos principais índices<br />
como (DAX alemão), «acreditamos que a<br />
performance ficará um pouco abaixo dos<br />
índices de referência para o próximo ano,<br />
dado que as empresas nacionais não têm a<br />
mesma capacidade de crescimento que as<br />
as grandes empresas de Espanha, França<br />
e Alemanha».<br />
No que respeita à competitividade e<br />
carga fiscal, o especialista alerta que o próximo<br />
ano será aquele com a maior carga<br />
fiscal, o que claramente impacta a competitividade<br />
e aumento do salário mínimo, para<br />
além das contribuições extraordinárias por<br />
parte de algumas empresas.<br />
20 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
MERCADOS<br />
«Assim, a expectativa será para que a<br />
performance do índice nacional fique abaixo,<br />
mas não muito. Deste modo, imaginando<br />
que as performances destes índices<br />
atingem uma valorização média de 9% no<br />
próximo ano, o PSI poderia ficar junto dos<br />
7%», sublinha.<br />
Investimento sustentável<br />
O investimento sustentável, designadamente<br />
o ESG, vem ocupando um espaço<br />
crescente na agenda do corporate management,<br />
e é uma tendência que se vai manter.<br />
«As escolhas dos investidores e o comportamento<br />
das bolsas serão determinados<br />
pela capacidade de partilha dos desígnios<br />
de sustentabilidade empresarial com os interesses<br />
dos accionistas, assim como pela<br />
capacidade das companhias na libertação<br />
de resultados e meios financeiros», considera<br />
o presidente da Maxyield.<br />
A mesma opinião é partilhada pelo economista-chefe<br />
da AllianzGI, que sublinha<br />
que «esta tendência veio para ficar». No<br />
entanto, alerta, as implicações para o desempenho<br />
são menos claras, uma vez que<br />
os investidores ainda querem ter um desempenho<br />
superior.<br />
«É impossível derivar expectativas de<br />
retorno com base em considerações ASG<br />
O PSI DEVERÁ FECHAR O ANO<br />
DE 2023 COM UMA TAXA<br />
DE CRESCIMENTO ANUAL<br />
INFERIOR ÀS DOS<br />
PRINCIPAIS<br />
MERCADOS<br />
INTERNACIONAIS<br />
apenas para um horizonte de investimento<br />
de um ano», clarifica.<br />
Já Henrique Tomé sublinha um dado<br />
importante: «Se olharmos para o mercado,<br />
as empresas com menor rating no ESG têm<br />
uma maior dificuldade de financiamento,<br />
portanto a yield paga pela emissão das obrigações<br />
tende a ser superior.»<br />
O especialista explica ainda que, a nível<br />
dos investidores, a preocupação em<br />
torno da sustentabilidade também se tem<br />
estendido aos mercados de capitais. Neste<br />
caso, os fluxos de capital poderão começar<br />
a tender mais para empresas com maior<br />
I POSICIONAMENTO DE MERCADO DO UNIVERSO EMPRESARIAL PSI<br />
Fonte: Maxyield.<br />
(a) Marketscreener (13-Out).<br />
1 – No cálculo do Price book value considerou-se a cotação média semestral com base nos valores de início e fim do período.<br />
2 – No cálculo do valor contabilístico da acção considerou-se a média do capital próprio entre o início e fim de cada semestre.<br />
classificação ESG, em sentido oposto, as<br />
empresas com menor score ESG poderão<br />
ser impactadas negativamente, uma vez<br />
que este tipo de empresas não é atractivo<br />
para os investidores que investem de forma<br />
responsável.<br />
Conselhos para investidores<br />
O analista financeiro da XTB continua<br />
a analisar os mercados para 2024, e deixa<br />
alguns conselhos para os investidores: «Em<br />
relação à volatilidade, espera-se que 2024<br />
seja um ano menos volátil, não tão atribulado<br />
como estes anteriores. Contudo, não<br />
devemos esquecer que as tensões geopolíticas<br />
podem escalar de tal modo que provoquem<br />
uma volatilidade agressiva nos<br />
mercados, por isso é importante manter<br />
um portefólio diversificado por sectores e<br />
classes de activos.»<br />
Carlos Rodrigues destaca a importância<br />
de diversificação das carteiras, para<br />
minimizar perigos inerentes aos mercados<br />
bolsistas, através da combinação de activos<br />
com diferentes níveis de risco.<br />
No entanto, alerta que «é importante<br />
ter em conta que em torno da tendência<br />
altista perspectivada, vão ocorrer flutuações<br />
de forma diferenciada, face aos diferentes<br />
níveis de volatilidade dos títulos e<br />
conjuntura sectorial, pelo que o sentimento<br />
optimista deve ser acompanhado de atitudes<br />
racionais».<br />
O presidente da Maxyield recomenda<br />
ainda que os investidores evitem vendas<br />
em condições precárias, nas situações de<br />
sell off, que ocorrem em ciclos de crescimento<br />
das cotações, para salvaguarda do<br />
valor dos investimentos e aplicações.<br />
Ricardo Evangelista, director executivo<br />
da ActivTrades Europe, partilha da mesma<br />
opinião, e aconselha a «ter um portefólio<br />
diversificado, que inclui activos de maior<br />
risco, como as acções, sem instrumentos<br />
mais defensivos, tais como o ouro e<br />
as obrigações».<br />
À medida que viramos a página para o<br />
próximo ano, os mercados bolsistas apresentam-se<br />
como um vasto campo de possibilidades.<br />
Os especialistas esperam que<br />
cada movimento seja guiado pela prudência,<br />
e que a tendência seja de alta para benefício<br />
da economia mundial.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 21
ENTREVISTA<br />
«ESTAMOS A REDOBRAR<br />
O USO DA CIÊNCIA DE DADOS E<br />
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA<br />
DETECTAR FRAUDES»<br />
Num mundo cada vez mais digitalizado, onde<br />
a evolução das tecnologias no sector financeiro<br />
avança a um ritmo vertiginoso, para dar resposta às<br />
necessidades dos clientes, surgem também desafios<br />
cruciais na segurança financeira.<br />
POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />
E<br />
m entrevista à Risco, Aaron Elliot-Gross, director de Fraude e Criminalidade<br />
Financeira na Revolut, explicou como a fintech faz a<br />
gestão das fraudes, as estratégias e tecnologias utilizadas, analisando<br />
também a literacia digital dos portugueses. Aaron Elliot-Gross<br />
lidera as equipas de defesa de primeira linha da empresa, responsáveis<br />
pela construção e operação de modelos, sistemas e controlos<br />
para prevenir e detectar crimes e fraudes financeiras em todo o mundo.<br />
Que desafios específicos enfrenta a Revolut ao lidar com as crescentes ameaças<br />
de fraude no sector financeiro?<br />
A fraude cresceu exponencialmente na última década, à medida que a velocidade<br />
dos pagamentos acelerou e que a nossa vida quotidiana passou a estar cada<br />
vez mais online.<br />
Nos últimos anos, o crescimento tem ocorrido principalmente no âmbito da<br />
fraude autorizada, mais conhecida como “scams”, em que as vítimas da mesma são<br />
convencidas pelos criminosos a efectuar pagamentos totalmente autorizados por<br />
elas. Por exemplo, os criminosos muitas vezes visam clientes com falsas oportunidades<br />
de investimento, que prometem taxas de retorno enormes e irrealistas.<br />
Os nossos desafios específicos incluem garantir que estamos um passo à frente<br />
da evolução das tácticas de fraude, fazer a gestão da segurança do utilizador num<br />
ambiente em rápida mudança e garantir que os fundos e dados dos nossos clientes<br />
estão protegidos, mantendo ao mesmo tempo a experiência de utilizador perfeita.<br />
Mais recentemente, vimos uma mudança na forma como os burlões roubam<br />
dinheiro das pessoas. Devido à crescente sofisticação das tecnologias contra fraudes,<br />
os criminosos estão a recorrer a esquemas que envolvem engenharia social, a<br />
fim de convencer as suas vítimas a efectuarem<br />
pagamentos.<br />
Como evoluiu a tecnologia para ajudar<br />
na detecção precoce e na prevenção de<br />
fraudes financeiras?<br />
A tecnologia é uma ferramenta fundamental<br />
para nós na luta contra a fraude. Na<br />
Revolut, utilizamos algoritmos avançados<br />
de aprendizagem automática, Inteligência<br />
Artificial e análise de dados para detectar<br />
transacções suspeitas em tempo real. Estas<br />
tecnologias ajudam-nos a identificar<br />
padrões, anomalias e riscos potenciais,<br />
permitindo-nos responder rapidamente e<br />
proteger os nossos clientes.<br />
Que medidas proactivas as fintechs<br />
devem tomar para garantir a segurança<br />
das transacções financeiras?<br />
Todas as instituições financeiras devem<br />
adoptar uma abordagem de segurança<br />
em vários níveis.<br />
Na Revolut, a nossa abordagem baseia-<br />
-se em três pilares fundamentais que fun-<br />
22 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
ENTREVISTA<br />
cionam em conjunto: segurança robusta,<br />
detecção precisa de fraudes e intervenções<br />
eficazes no cliente. Por exemplo, os nossos<br />
fluxos de aviso de pagamento são projectados<br />
para detectar com rapidez e precisão<br />
quando um cliente pode estar a realizar um<br />
pagamento fora do comum, e reagir rapidamente<br />
para o avisar e esclarecer antes que<br />
ele prossiga com o pagamento.<br />
Como abordam a educação financeira<br />
dos clientes em relação à segurança e à<br />
prevenção de fraudes?<br />
A Revolut está empenhada em educar<br />
os nossos clientes sobre as formas de<br />
se protegerem contra a crescente ameaça<br />
de fraudes. Fornecemos recursos educacionais,<br />
artigos e notificações na app para<br />
manter os utilizadores informados sobre<br />
os potenciais riscos. Mais recentemente,<br />
lançámos um curso educacional gratuito<br />
na app chamado “Fraud Learn”, que oferece<br />
uma forma interactiva de aprender sobre<br />
esquemas comuns e a forma como os<br />
clientes podem proteger-se.<br />
Aaron<br />
Elliot-Gross,<br />
director de Fraude<br />
e Criminalidade<br />
Financeira na<br />
Revolut<br />
A TECNOLOGIA<br />
É UMA FERRAMENTA<br />
FUNDAMENTAL NA LUTA<br />
CONTRA A FRAUDE<br />
Em que consiste o curso educativo<br />
da Revolut para ajudar os clientes a<br />
combater a fraude?<br />
O nosso curso educacional cobre uma<br />
variedade de tópicos, incluindo como reconhecer<br />
tentativas comuns de fraude,<br />
práticas bancárias online seguras, configuração<br />
de senhas fortes e uso de autenticação<br />
de dois factores.<br />
Enfatizamos, também, a importância<br />
de analisar regularmente as transacções e<br />
reportar qualquer actividade suspeita.<br />
Como analisa a literacia dos<br />
portugueses nesta matéria?<br />
A Revolut avalia activamente o conhecimento<br />
e a literacia dos nossos clientes<br />
portugueses, através de inquéritos, feedback<br />
e interacções.<br />
Usamos depois esses dados para adaptar<br />
os nossos materiais educacionais e<br />
recursos de segurança para poder dar<br />
resposta às necessidades e preocupações<br />
específicas. Por exemplo, de acordo com<br />
dados de um inquérito recente da Revolut<br />
e da Dynata, apenas 20% dos portugueses<br />
se sentem extremamente confiantes de<br />
que saberiam como detectar e evitar fraudes<br />
– isso significa que 80% da população<br />
ainda tem dúvidas em identificá-las ou<br />
como combatê-las.<br />
Mas, além disso, 14% reconhecem que<br />
não se encontram preparados para reagir,<br />
caso sejam vítimas de fraudes ou esquemas.<br />
É por isso que precisamos de continuar<br />
a trabalhar neste assunto, já que um<br />
terço dos portugueses também identifica a<br />
educação como o factor mais importante a<br />
ter em conta quando se trata de prevenção<br />
da fraude.<br />
Como é possível equilibrar segurança<br />
rigorosa com uma boa experiência do<br />
utilizador/cliente?<br />
Equilibrar a segurança e uma experiência<br />
de utilizador positiva são uma das<br />
principais prioridades da Revolut.<br />
Conseguimos isso através de métodos<br />
de autenticação contínuos, monitorização<br />
de transacções em tempo real e comunicação<br />
transparente com os utilizadores.<br />
O nosso objectivo é manter uma segurança<br />
robusta sem causar atritos desnecessários<br />
aos nossos clientes.<br />
Que projectos estão a desenvolver para<br />
combater a fraude?<br />
Investimos continuamente nesta área<br />
para garantir que estamos um passo à<br />
frente dos burlões.<br />
Estamos a redobrar o uso da ciência<br />
de dados e a Inteligência Artificial para<br />
detectar fraudes e criar recursos de segurança<br />
ainda melhores na nossa app, para<br />
manter os clientes protegidos contra burlões<br />
e criminosos.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 23
MACROECONOMIA<br />
COMÉRCIO MUNDIAL<br />
COM<br />
PERSPECTIVA DE<br />
CRESCIMENTO<br />
DE 1,9% EM 2023<br />
O mais recente<br />
Economic Outlook<br />
divulgado pela<br />
Crédito y Caución<br />
indica uma ligeira<br />
melhoria nas previsões<br />
de crescimento do<br />
comércio mundial até<br />
final de 2023.<br />
A<br />
Crédito y Caución antecipa um crescimento das trocas de mercadorias<br />
a nível global na ordem dos 1,9% em 2023. Embora esta percentagem represente<br />
um abrandamento face aos 3,2% alcançados em 2022, está 0,4<br />
pontos percentuais acima do esperado no início do ano. A melhoria nas<br />
previsões para o comércio mundial está alinhada com o aumento das importações nos EUA<br />
e na União Europeia e com a reabertura da China, que conduziu a um aumento das suas<br />
próprias importações e a uma redução dos custos comerciais e das pressões sobre a cadeia<br />
de fornecimento global.<br />
Há, contudo, factores que continuam a condicionar o crescimento do comércio mundial.<br />
Em primeiro lugar, o aumento dos custos financeiros resultante do endurecimento das<br />
políticas monetárias, que teve especial impacto sobre o comércio de bens de capital, com as<br />
exportações dos EUA, Alemanha e Japão a caírem nos primeiros meses de 2023, e que colocou<br />
os fluxos de investimento estrangeiro sob pressão. A mudança na procura de bens para a<br />
de serviços no pós-pandemia é outro factor que condiciona a evolução do comércio de bens<br />
em 2023. Por último, mantém-se o colapso comercial entre a União Europeia e a Rússia e,<br />
embora não haja dissociação em relação à China, há uma diminuição do comércio com os<br />
EUA, especialmente no sector das TIC.<br />
Se olharmos para a evolução do comércio por sector, os vencedores sectoriais no período<br />
da pandemia estão agora a perder participação e vice-versa. Verifica-se uma deslocação da<br />
procura de bens para os serviços, especialmente turismo e transportes. A normalização para<br />
os níveis de consumo de 2019 gera potencial comercial nos produtos automóvel, aeroespaciais<br />
ou turismo. No entanto, os semicondutores, que dispararam a sua procura durante a<br />
pandemia, vêem uma inversão na tendência. As economias avançadas da Ásia com interes-<br />
24 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
MACROECONOMIA<br />
ses nestes sectores, como a Coreia do Sul e<br />
Taiwan, são as que sofrem o maior impacto.<br />
Por região, regista-se um crescimento positivo<br />
na maioria das regiões, com excepção<br />
da China, devido à sua política de Zero<br />
Covid, e da Europa de Leste, mais afectada<br />
pela guerra na Ucrânia.<br />
Melhoria das perspectivas para<br />
a Zona Euro<br />
A Crédito y Caución estima que a Zona<br />
Euro registe um crescimento de 0,6% em<br />
2023, o que representa uma melhoria face<br />
às previsões de início do ano. Esta evolução<br />
baseia-se em factores como a queda dos<br />
preços do gás na Europa, o bom desempenho<br />
dos mercados laborais ou a melhoria<br />
dos indicadores de confiança económica.<br />
Apesar de taxas de juro mais elevadas,<br />
é esperado um aumento dos investimentos,<br />
tanto na indústria transformadora<br />
como nos serviços, em comparação com<br />
2022. No que diz respeito ao consumo,<br />
O AUMENTO DOS CUSTOS<br />
FINANCEIROS, RESULTANTE<br />
DO ENDURECIMENTO DAS<br />
POLÍTICAS MONETÁRIAS,<br />
TEVE ESPECIAL IMPACTO<br />
SOBRE O COMÉRCIO<br />
DE BENS DE CAPITAL<br />
o crescimento esperado será limitado a<br />
0,2% devido à elevada inflação e às dificuldades<br />
de crédito. Contudo, o mercado<br />
laboral mantém-se resistente e até final<br />
do ano é de esperar uma taxa média de<br />
desemprego na ordem dos 6,6%. A aceleração<br />
no crescimento dos salários, combinada<br />
com uma queda da inflação, deverá<br />
apoiar o poder de compra dos consumidores<br />
europeus ao longo do segundo semestre<br />
de 2023 e em 2024.<br />
Para o próximo ano, a seguradora de<br />
crédito antecipa um crescimento de 1,2% na<br />
Zona Euro, apesar dos efeitos persistentes<br />
da inflação e do endurecimento monetário.<br />
Consumidores norte-americanos<br />
sustêm crescimento<br />
Os EUA vão registar um crescimento<br />
de cerca de 1,3% em 2023, segundo<br />
as projecções divulgadas pela Crédito y<br />
Caución no seu mais recente Economic<br />
Outlook, o que representa uma melhoria<br />
substancial face às perspectivas económicas<br />
do início do ano.<br />
A poupança arrecadada, que apoia a<br />
capacidade de despesa, o elevado emprego,<br />
que continua a exceder as expectativas, em<br />
especial nos sectores da construção, transportes<br />
e serviços às empresas, e o aumento<br />
dos salários, que apoia o rendimento disponível,<br />
ajudaram os consumidores norte-americanos<br />
a suster o crescimento nos<br />
EUA face à subida das taxas de juro e às incertezas<br />
no sector bancário. Contudo, para<br />
o segundo semestre de 2023, é esperada<br />
uma desaceleração e a economia americana<br />
enfrentará uma ligeira recessão técnica.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 25
MACROECONOMIA<br />
Um dos principais factores influenciadores<br />
das perspectivas de desinflação<br />
e abrandamento no segundo semestre de<br />
2023 nos EUA é o significativo agravamento<br />
das condições de crédito. Os dados mais<br />
recentes da Reserva Federal mostram que<br />
o acesso ao crédito diminuiu tanto para as<br />
empresas como para as famílias. Os bancos<br />
argumentam com uma deterioração esperada<br />
da sua qualidade de crédito face à recessão<br />
económica e ao aumento dos custos<br />
de financiamento bancário, como justificativo<br />
para a reduzida disponibilidade na<br />
concessão de empréstimos.<br />
O crescimento da economia norte-<br />
-americana em 2024 deverá situar-se nos<br />
0,4%, o que traduz uma revisão em baixa.<br />
América Latina mais resiliente num<br />
cenário de contenção do crédito<br />
A América Latina está a enfrentar solidamente<br />
o cenário global de aumento das<br />
taxas de juro, segundo o relatório divulgado<br />
pela Crédito y Caución. Desde a crise da<br />
dívida nos anos oitenta, conhecida como<br />
a década perdida devido ao impacto que<br />
O CRESCIMENTO DA ECONOMIA<br />
NORTE-AMERICANA EM 2024<br />
DEVERÁ SITUAR-SE NOS<br />
0,4%, O QUE TRADUZ UMA<br />
REVISÃO EM BAIXA<br />
teve na região, muitos países da América<br />
Latina avançaram para sistemas cambiais<br />
flexíveis, que permitem usar a moeda como<br />
amortecedor para choques externos. Neste<br />
contexto, os bancos centrais da região estiveram<br />
entre os primeiros a aumentar as<br />
taxas de juro no combate à inflação.<br />
A América Latina destaca-se como<br />
mais resiliente do que outras regiões a um<br />
cenário global de aperto do crédito. As<br />
moedas dos maiores países da região estão<br />
entre as mais fortes do mundo, apesar<br />
da redução do diferencial de taxas de juro<br />
em relação aos Estados Unidos. Os países<br />
mais vulneráveis da região são a Argentina,<br />
Bolívia, Cuba, El Salvador, Venezuela e<br />
as ilhas mais pequenas e menos diversificadas<br />
das Caraíbas.<br />
O PIB da região ultrapassou os valores<br />
pré-pandemia, um sintoma do reforço<br />
das políticas macroeconómicas da região,<br />
da melhoria da supervisão bancária e do<br />
aumento das reservas estatais. No entanto,<br />
em 2023 a região terá de enfrentar um<br />
abrandamento do crescimento (previsão,<br />
1,5%) que se manterá em 2024 (previsão,<br />
1,3%), atrás dos valores alcançados por<br />
outras regiões emergentes. O pior desempenho<br />
do PIB é esperado nas economias<br />
da Argentina e do Chile, que vão contrair<br />
em 2023 (-0,8 e -0,7%, respectivamente), e<br />
na Colômbia, que o fará em 2024 (-0,9%).<br />
Isto reflecte a deterioração dos dois principais<br />
parceiros comerciais da região (os<br />
EUA e a China), os preços das matérias-<br />
-primas, a persistência da inflação subjacente,<br />
as condições financeiras restritivas<br />
e o espaço orçamental limitado. A região<br />
tem também alguns factores estruturais<br />
que explicam a sua fraca integração global,<br />
o que torna difícil beneficiar dos actuais<br />
processos de relocalização.<br />
A Crédito y Caución prevê que nos próximos<br />
anos o crescimento económico na<br />
América Latina permaneça abaixo da sua<br />
média anual pré-pandemia de 2,5%.<br />
26 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
SEGUROS<br />
A ACTIVIDADE SEGURADORA<br />
EM TEMPOS DE<br />
INFLAÇAO<br />
~<br />
Como bem sabemos e sentimos, a economia europeia<br />
vive (ainda) um período de taxas de inflação e de juro<br />
relativamente elevadas.<br />
POR MIGUEL GUIMARÃES, DIRECTOR-GERAL ADJUNTO DA ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE SEGURADORES (APS)<br />
N<br />
ão é um ambiente inédito, não atinge sequer os padrões de outros<br />
tempos, não tão longínquos assim, mas representa uma inegável<br />
alteração de contexto em relação ao ambiente de estabilidade de<br />
preços que vingava desde o final dos anos 90 e, sobretudo, desde<br />
o início da década passada (em Portugal, por exemplo, a taxa de<br />
inflação agregada entre 2011 e 2021 foi basicamente idêntica à de<br />
2022, perto de 8%).<br />
Acresce que resultou de uma transição muito súbita a partir de 2021, tendo<br />
a pressão inflacionista saltado rapidamente das commodities originalmente impactadas<br />
para um amplo conjunto de outros bens e serviços, de tal forma que<br />
estava já completamente generalizada em meados de 2022, depois de instalada<br />
a guerra na Ucrânia (em Portugal, a taxa de inflação média escalou de 1,27% em<br />
2021 para 7,83% em 2022).<br />
Para a actividade seguradora, este ambiente teve (e tem) impactos consideráveis<br />
1 , embora distintos em função do perfil dos sinistros e das responsabilidades<br />
envolvidas em cada tipologia de seguros.<br />
No segmento dos seguros de Vida:<br />
Os seguros de Vida geram tipicamente<br />
responsabilidades financeiras de longo<br />
prazo, sejam relacionadas com a remuneração<br />
de poupanças, sejam com o eventual<br />
pagamento de valores contratualizados<br />
em caso de ocorrência do risco sobre as<br />
pessoas seguras.<br />
O efeito directo do agravamento da inflação<br />
é, por isso, limitado neste segmento,<br />
mas o impacto indirecto, por via do aumento<br />
das taxas de juro que normalmente<br />
o acompanha, pode ser substancial.<br />
Por um lado – o lado do passivo –,<br />
este aumento reflecte-se numa redução<br />
do valor das responsabilidades futuras<br />
provisionadas em balanço, que corresponde<br />
ao respectivo valor actual descontado<br />
exactamente com taxas de juro de<br />
prazo equivalente.<br />
Por outro – o lado do activo –, reflecte-se<br />
numa redução do valor dos activos<br />
em carteira para cobertura dessas mesmas<br />
provisões, em especial dos títulos de rendimento<br />
fixo que, pelo seu baixo risco, constituem<br />
a parcela maioritária desta carteira.<br />
O efeito líquido destas duas forças –<br />
uma redução do passivo e uma redução do<br />
1<br />
Tema aprofundado recentemente pela Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA),<br />
no seu “Report on the impact of inflation on the insurance sector”.<br />
28 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
SEGUROS<br />
o sector tem particular experiência. Mas a<br />
transição tende a ser gradual, envolvendo<br />
avaliações cuidadosas do comportamento<br />
das taxas de juro e cautela no desenho e<br />
oferta de produtos, o que pode dar espaço<br />
a outras soluções alternativas de poupança<br />
pontualmente mais competitivas (como<br />
foi o caso em Portugal, com uma série de<br />
Certificados de Aforro que alcançou, entre<br />
2022 e 2023, uma remuneração especialmente<br />
atractiva).<br />
Para a procura, o aumento das taxas de<br />
juro, associado ao agravamento da inflação,<br />
tende a impor pressão orçamental sobre as<br />
famílias endividadas, condicionando naactivo<br />
– ponderará factores como a duração<br />
dos activos e dos passivos e a dimensão<br />
relativa de activos de rendimento fixo, determinando<br />
o impacto sobre os resultados<br />
e os capitais próprios do sector.<br />
Mas, para além desta consequência<br />
contabilística, o aumento das taxas de juro<br />
abala também as condições da oferta e da<br />
procura dos produtos de poupança explorados<br />
no âmbito da actividade seguradora.<br />
Para a oferta, pode representar uma<br />
oportunidade para promover produtos<br />
mais competitivos, assentes em activos de<br />
renovada rentabilidade, incluindo produtos<br />
com taxas de rendimento garantidas, onde<br />
COMO PARA MUITAS OUTRAS<br />
ÁREAS DA ECONOMIA, CENÁRIOS<br />
INESPERADOS DE INFLAÇÃO<br />
NÃO SÃO, OBVIAMENTE,<br />
FAVORÁVEIS À ACTIVIDADE<br />
SEGURADORA<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 29
SEGUROS<br />
turalmente a sua capacidade de aforro e<br />
obrigando muitas delas a recorrer mesmo à<br />
desmobilização de poupanças acumuladas,<br />
nomeadamente em produtos de seguros,<br />
para fazer face aos seus compromissos com<br />
empréstimos contraídos (foi um fenómeno<br />
de grande impacto em Portugal, em particular<br />
com os PPR, potenciado ainda por<br />
medidas políticas de flexibilização extraordinária<br />
do respectivo regime de resgates).<br />
Acresce que este resgate antecipado de<br />
poupanças ocorre, exactamente, quando<br />
boa parte dos activos se encontram desvalorizados,<br />
podendo gerar perdas para o<br />
aforrador e/ou para a seguradora.<br />
ves cobertas por seguros de acidentes de<br />
trabalho e de responsabilidade civil, em<br />
especial de automóvel, e (em Portugal)<br />
as responsabilidades com pensões (vitalícias)<br />
de acidentes de trabalho.<br />
O impacto mais directo da inflação decorre,<br />
evidentemente, da sua repercussão<br />
O AUMENTO DAS TAXAS<br />
DE JURO ABALA TAMBÉM<br />
AS CONDIÇÕES DA OFERTA<br />
E DA PROCURA<br />
DOS PRODUTOS<br />
DE POUPANÇA<br />
No segmento dos seguros Não Vida:<br />
Nos seguros Não Vida prevalecem sinistros<br />
com danos materiais ou corporais<br />
de regularização célere e, logo, responsabilidades<br />
de curta duração. São excepções,<br />
ainda que não menosprezáveis, as<br />
responsabilidades com o acompanhamento<br />
clínico de pessoas com lesões grano<br />
custo dos bens e serviços normalmente<br />
envolvidos na regularização dos sinistros,<br />
ainda que o sector segurador tenha capacidade<br />
para, numa primeira fase, absorver<br />
parte destes impactos por via da contratualização<br />
de condições com prestadores.<br />
Para a rentabilidade do sector, o problema<br />
decorre, não tanto do nível de inflação<br />
em si, mas mais da incapacidade de<br />
o estimar apropriadamente no início do<br />
período do contrato, quando o prémio é<br />
definido. Em termos conceptuais decorre,<br />
portanto, do ciclo de produção invertido<br />
da actividade seguradora, mais concretamente<br />
do desnivelamento entre as expectativas<br />
no momento inicial do cálculo do<br />
prémio e a efectiva dimensão do agravamento<br />
dos custos, quando o sinistro ocorre<br />
e tem de ser reparado.<br />
Para as responsabilidades que permanecem<br />
em balanço para além da duração<br />
(tipicamente anual) do contrato, o impacto<br />
directo da inflação nos períodos seguintes<br />
tende já a ser mitigado na conta de resultados<br />
pela metodologia de cálculo das correspondentes<br />
provisões técnicas, tal como se<br />
descreveu em relação aos seguros do segmento<br />
Vida (um efeito bem explícito em<br />
Portugal na redução, em 2022, da provisão<br />
para sinistros de acidentes de trabalho, que<br />
acautela um grande volume de responsabilidades<br />
de longo prazo).<br />
Em resumo:<br />
Como para muitas outras áreas da economia,<br />
cenários inesperados de inflação<br />
não são, obviamente, favoráveis à actividade<br />
seguradora.<br />
Embora o sector tenha mecanismos<br />
de mitigação de alguns dos seus impactos,<br />
a perturbação que este ambiente cria<br />
nos seus consumidores e aforradores e na<br />
gestão do seu ciclo de produção invertido<br />
é normalmente prejudicial para o seu desempenho<br />
económico.<br />
Mas a capacidade de gestão de ambientes<br />
de incerteza está no ADN do sector segurador.<br />
Isso mesmo tem ficado demonstrado<br />
em todas as conjunturas delicadas<br />
recentes, sempre ultrapassadas com resiliência,<br />
sempre geridas perto dos clientes,<br />
sempre respeitando as responsabilidades<br />
contratuais assumidas.<br />
30 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
OPINIÃO<br />
POR GONÇALO HELENO,<br />
IT INFRASTRUCTURE AND SECURITY<br />
DIRECTOR NA ASSECO PST<br />
RESILIÊNCIA<br />
CIBERNÉTICA<br />
NO SECTOR FINANCEIRO<br />
Na actual era digital, a segurança cibernética é mais<br />
crítica do que nunca.<br />
O<br />
s custos do cibercrime, em especial para as empresas,<br />
envolvem impactos directos significativos, de que são<br />
exemplo a interrupção temporária da actividade ou os<br />
valores associados à recuperação de sistemas.<br />
A isto juntam-se os impactos indirectos, como os danos causados à<br />
reputação. No limite, os ataques cibernéticos podem conduzir ao fecho<br />
de uma organização.<br />
Os números espelham bem a realidade – e há-os para todos os<br />
gostos. Mas sempre no mesmo sentido. Nos últimos cinco anos, houve<br />
um aumento de 75% no número de ataques, lemos num lado. Em 2022,<br />
a cada três empresas do mundo, uma foi atacada por hackers, lemos<br />
noutro. Até 2025, os danos causados à economia mundial continuarão<br />
a crescer ao ritmo de 15% ao ano, até atingir 8 mil milhões de euros<br />
anuais, vemos ainda noutro.<br />
Portugal não foge à regra. O país viveu em 2022 o maior número<br />
de ataques cibernéticos alguma vez registado em vários sectores da<br />
economia, da banca aos media, passando pela saúde e pelos transportes.<br />
O próprio Centro Nacional de Cibersegurança revelou que 2022 foi o ano<br />
em que foram assinalados mais ataques “de grande impacto” a infra-<br />
-estruturas e serviços.<br />
Adoptar uma estratégia de protecção é, por isso, essencial para<br />
proteger os negócios. Ou seja, ao mesmo tempo que a cibersegurança se<br />
tornou uma batalha constante entre os agentes<br />
económicos e os hackers, passou também<br />
a ser uma peça-chave da transformação<br />
digital, sendo essencial para garantir que as<br />
organizações se mantêm seguras durante esse<br />
processo de transformação. Mais do que saber<br />
se alguma vez se será vítima de um ataque<br />
cibernético, a questão é saber quando e se<br />
estaremos preparados.<br />
Entre as organizações que desde sempre<br />
suscitaram maior apetite dos hackers estão<br />
as instituições financeiras: bancos e outras<br />
organizações similares. Isto é, organizações<br />
que fazem da confiança, credibilidade e solidez<br />
três dos pilares essenciais da sua actividade.<br />
Falamos de instituições em que a quantidade<br />
de informações sensíveis em circulação é<br />
acentuada e que são depositárias de um volume<br />
32 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
Saiba mais<br />
enorme de dados críticos, incluindo os dos<br />
seus clientes.<br />
No mercado existem tecnologias de segurança<br />
cibernética poderosas que protegem os dados<br />
das instituições financeiras contra ameaças<br />
e garantem uma resposta eficaz a incidentes.<br />
Estas tecnologias trabalham em conjunto para<br />
criar um ambiente de TI mais seguro e resiliente,<br />
essencial em tempos de ameaças cibernéticas<br />
em constante evolução.<br />
O melhor conselho que podemos dar<br />
será sempre para implementar soluções de<br />
armazenamento com resiliência cibernética<br />
integrada, para proteger os seus activos de dados<br />
críticos. E, ao mesmo tempo, assegurar uma<br />
resposta ágil e rápida, seja a ransomware ou<br />
outros ciberataques. Garantindo também, por<br />
exemplo, que, mesmo em caso de ataque,<br />
ENTRE AS ORGANIZAÇÕES<br />
QUE DESDE SEMPRE<br />
SUSCITARAM MAIOR<br />
APETITE DOS HACKERS<br />
ESTÃO AS INSTITUIÇÕES<br />
FINANCEIRAS<br />
existem pontos seguros de restauro e<br />
recuperações rápidas que minimizam o tempo<br />
de inactividade.<br />
Este é também o nosso maior desafio<br />
na Asseco PST, enquanto especialistas no<br />
desenvolvimento de software e serviços<br />
para o sector financeiro. Em parceria com a<br />
IBM, oferecemos soluções abrangentes para<br />
protecção e resiliência de dados. Quando<br />
combinadas, elas reforçam os recursos da<br />
instituição financeira de detecção de ameaças e<br />
preparam-na para enfrentar qualquer ameaça<br />
cibernética, permitindo recuperar num curto<br />
espaço de tempo e sem perdas de informação.<br />
Cada instituição financeira saberá escolher os<br />
seus melhores parceiros neste caminho. Mas<br />
quando se trata de proteger activos críticos e<br />
fortalecer defesas, não há tempo a perder!<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 33
OPINIÃO<br />
POR ANDRÉ PEDRO,<br />
MANAGING DIRECTOR<br />
DO COMPARAJÁ<br />
SERÁ A FALTA<br />
DE CONHECIMENTO<br />
O PRINCIPAL OBSTÁCULO<br />
À TRANSIÇÃO ENERGÉTICA?<br />
Os temas da<br />
sustentabilidade e da<br />
transição energética<br />
fazem parte das<br />
agendas mediáticas já<br />
há alguns anos, e não<br />
é por acaso.<br />
A<br />
s alterações climáticas são um<br />
desafio global que exigem a mudança<br />
de paradigma e Portugal<br />
assumiu o compromisso de<br />
atingir a neutralidade carbónica<br />
até 2050 com o Acordo de Paris. Mas ainda há<br />
um longo caminho a percorrer. Tal só é possível<br />
se todos estiverem informados e trabalharem<br />
em colaboração, com esforço concertado, que<br />
começa, também, na casa de cada um de nós.<br />
Um dos principais aspectos a ter em conta<br />
está “diagnosticado”: quer queiramos, quer não,<br />
a falta de conhecimento ainda é um obstáculo<br />
à transição energética. A começar pela falta de<br />
conhecimento sobre os apoios que o Estado<br />
coloca à disposição dos cidadãos. Desde carros<br />
a electrodomésticos, passando por janelas,<br />
aparelhos de ar condicionado, automóveis,<br />
painéis solares ou até por condições especiais<br />
na banca, os incentivos e apoios para a transição<br />
energética são tão importantes quanto<br />
desconhecidos por cerca de um terço dos portugueses.<br />
Quantos consumidores sabem que o<br />
Fundo Ambiental de 2023 aceita candidaturas<br />
34 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
até ao próximo dia 31 de Outubro? Ou que os carros<br />
100% eléctricos não pagam nem ISV nem IUC?<br />
Ou que quem compra um dos primeiros carros<br />
eléctricos do ano pode receber 4 mil euros? Ou<br />
que existem apoios para a aquisição de bicicletas<br />
convencionais para uso citadino? A verdade é<br />
que nestas matérias o Estado tem disponibilizado<br />
alguns apoios, impulsionados também pela União<br />
Europeia, e todos temos a ganhar se procurarmos<br />
estar informados sobre os apoios a que podemos<br />
recorrer para acelerar a transição energética e,<br />
em simultâneo, poupar dinheiro.<br />
Se, por um lado, há desconhecimento do<br />
consumidor em relação a alguns apoios, em<br />
alguns sectores, como o dos carros eléctricos, os<br />
apoios parecem ser insuficientes. É verdade que<br />
Portugal é o décimo país da União Europeia, num<br />
total de 27, onde existem mais carros eléctricos,<br />
mas, ainda assim, de um parque automóvel de 5,5<br />
milhões os carros eléctricos só representam cerca<br />
de 2%. Em 2022, o subsídio de 5,2 milhões de<br />
euros destinado à aquisição de carros eléctricos<br />
esgotou-se em apenas três semanas, tendo sido<br />
aplicados na aquisição de 1300 novas viaturas<br />
PORTUGAL É O DÉCIMO<br />
PAÍS DA UNIÃO EUROPEIA,<br />
NUM TOTAL DE 27,<br />
ONDE EXISTEM<br />
MAIS CARROS<br />
ELÉCTRICOS<br />
eléctricas. Com um parque automóvel com uma<br />
média de 13,5 anos e com metas de neutralidade<br />
carbónica para atingir, são necessários mais<br />
incentivos para se substituir estes veículos. Mas o<br />
caminho faz-se caminhando e as boas notícias<br />
são que, apesar dos incentivos não serem<br />
suficientes, verifica-se uma maior consciência<br />
ambiental e só nos primeiros sete meses deste<br />
ano foram vendidos 18,9 mil veículos eléctricos,<br />
mais do dobro do que em 2022, o que revela que<br />
este é um mercado que tem vindo a crescer. A<br />
prova disso mesmo são os mais de 5000 postos<br />
de carregamento espalhados pelo país disponíveis<br />
através dos CEME (cartões de mobilidade eléctrica)<br />
– Portugal é o quarto país da Europa mais<br />
forte neste capítulo.<br />
Por fim, muitos receiam que a qualquer mudança<br />
esteja associada uma cruzada interminável<br />
num mar de burocracia. A falta de conhecimento<br />
aliada à burocracia ligada a estes assuntos é uma<br />
dor de cabeça, que condiciona muitos portugueses<br />
no momento de agir. Dados recentes de<br />
um estudo do Portal da Construção Sustentável<br />
mostram isso mesmo, que a maioria dos inquiridos,<br />
que soube destes apoios para promover a<br />
construção sustentável e a eficiência energética<br />
nos edifícios, não se candidatou aos mesmos,<br />
com 12% a dizer que não encontrou ajuda.<br />
É urgente, portanto, simplificar os processos,<br />
promover o conhecimento e criar mais apoios<br />
para que todos possam contribuir para um futuro<br />
mais sustentável.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 35
ENTREVISTA<br />
«PORTUGAL FORTALECEU<br />
O NOSSO NEGÓCIO À ESCALA<br />
EUROPEIA»<br />
A Nickel tem crescido de forma consistente em<br />
Portugal, alcançando mais de 460 pontos de venda em<br />
estabelecimentos de comércio local. Em entrevista à<br />
Risco, João Guerra, CEO da Nickel, faz o balanço da<br />
actividade no País e revela os planos para 2024.<br />
POR ANTÓNIO SARMENTO<br />
ual o balanço que fazem de um ano de actividade em Portugal?<br />
Q<br />
No primeiro ano de presença em Portugal, a Nickel cresceu de<br />
forma consistente, alcançando mais de 460 pontos de venda em<br />
estabelecimentos de comércio local. De momento, dispomos da<br />
terceira maior rede de pontos de acesso a serviços financeiros essenciais<br />
no país, o que reflecte uma aceitação muito positiva dos<br />
nossos serviços por parte dos portugueses. Neste período inicial<br />
de crescimento no mercado, procurámos não só ter uma expansão significativa<br />
a nível territorial, de modo a angariar pontos de venda em mais regiões e diversificar<br />
a nossa cobertura, mas também aprender sobre os hábitos financeiros<br />
da população portuguesa e conhecer as suas necessidades. Com este objectivo,<br />
realizámos um estudo em parceria com a agência independente DATA E, que<br />
nos revelou, por exemplo, que ainda existe um considerável desconhecimento<br />
dos portugueses relativamente aos novos modelos financeiros que estão a entrar<br />
na banca nacional, como é o caso da Nickel. No entanto, há também, transversalmente,<br />
um crescente interesse em trabalhar com instituições financeiras digitais<br />
no futuro, que foi declarado por 73% dos portugueses abrangidos pelo estudo,<br />
o que sugere que serviços como os nossos, que trazem inovação à banca, são<br />
valorizados pela nossa sociedade.<br />
Qual a importância do mercado português para a Nickel?<br />
O que nos destaca de outras fintechs em crescimento é a nossa adaptação a<br />
todos os mercados nacionais em que entramos. A Nickel é originalmente francesa,<br />
mas as equipas criadas nos outros países onde estamos (Portugal, Espanha,<br />
Bélgica e Alemanha) são totalmente locais. A lógica é sempre alavancar a nossa<br />
proposta de valor com o que o país em si tem para oferecer, por isso conseguimos<br />
crescer, sobretudo, porque queremos<br />
ser uma instituição que está perto dos seus<br />
clientes em todos os níveis. Portugal tem<br />
sido um caso de sucesso que contribui para<br />
fortalecer o nosso negócio à escala europeia<br />
por esta razão. Num panorama comparativo<br />
de mercados, por exemplo, com a Bélgica,<br />
onde a Nickel foi lançada no mesmo período<br />
que em Portugal, e que tem à partida<br />
uma relação cultural mais estreita com as<br />
origens da instituição, o nosso crescimento<br />
é comparativamente mais significativo.<br />
Por outro lado, sentimos que o nosso<br />
serviço, simples e universal, se enquadra<br />
nas necessidades da realidade financeira<br />
observada em Portugal. Ainda há um número<br />
significativo de portugueses que não<br />
estão bancarizados, e a relação dos mesmos<br />
com a banca tradicional regista crescentes<br />
pain points, desde o fenómeno de encerramento<br />
de balcões, que está a criar um afastamento<br />
físico dos serviços financeiros à<br />
população em algumas regiões, até ao descontentamento<br />
generalizado que é sentido<br />
com os custos destes serviços. Numa perspectiva<br />
geral, também conseguimos perceber<br />
que a falta de mais players digitais, que<br />
apresentam novos modelos financeiros aos<br />
clientes portugueses, faz com que estes tenham<br />
uma maior predisposição para aderir<br />
às novas soluções que vão permeando o<br />
sector bancário nacional.<br />
Qual o vosso público-alvo?<br />
Um dos valores centrais do nosso serviço<br />
é a universalidade, sendo que qual-<br />
36 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
João Guerra,<br />
CEO da Nickel<br />
ENTREVISTA<br />
A NICKEL É ORIGINALMENTE FRANCESA, MAS AS<br />
EQUIPAS CRIADAS NOS OUTROS PAÍSES ONDE ESTAMOS<br />
(PORTUGAL, ESPANHA, BÉLGICA E ALEMANHA)<br />
SÃO TOTALMENTE LOCAIS<br />
de clientes de obter informações sobre o<br />
que acontece com o seu dinheiro, de forma<br />
mais acessível e directa. Já os segmentos<br />
mais seniores conseguem obter mais liberdade<br />
na realização dos seus afazeres financeiros<br />
através do nosso modelo de negócio<br />
híbrido, ao poderem contar com lojas de<br />
comércio local presentes nas suas comunidades,<br />
que dispõem do nosso serviço, onde<br />
podem ir com mais frequência do que aos<br />
bancos, que têm reduzido os seus balcões<br />
de contacto com os clientes.<br />
No entanto, de forma mais concreta,<br />
durante este primeiro ano conseguimos<br />
descobrir alguns dados importantes sobre<br />
a maioria dos nossos clientes portugueses:<br />
65% são homens, embora em tendência<br />
decrescente, e 59% encontram-se entre<br />
os 24 e 44 anos. Este retrato inicial vai ao<br />
encontro do segmento que tipicamente<br />
adere a serviços financeiros digitais como<br />
o nosso, mas temos confiança de que vamos<br />
também continuar a crescer significativamente<br />
noutros segmentos, diversificando<br />
os nossos clientes nacionais. Ainda<br />
assim, outro aspecto importante é que 35%<br />
dos clientes Nickel residem fora das áreas<br />
metropolitanas de Lisboa e do Porto. Este<br />
facto prova não só a importância e a adesão<br />
ao lado físico do nosso serviço através<br />
dos pontos de venda, mas também o nosso<br />
esforço de aproximação às populações e<br />
localidades onde a banca tradicional está a<br />
encerrar cada vez mais pontos de contacto.<br />
Conseguimos também saber que 70% dos<br />
nossos clientes já utilizam o nosso serviço<br />
como conta principal, sendo que 76% das<br />
operações realizadas pelos mesmos são pagamentos<br />
do quotidiano.<br />
quer pessoa pode abrir conta na Nickel e<br />
desfrutar da realização de operações financeiras<br />
com mais flexibilidade. Disponibilizamos<br />
uma solução de pagamento com<br />
um processo de adesão simples, com um<br />
preço justo, que oferece o mesmo produto<br />
independentemente dos rendimentos e<br />
origem do cliente, sem montante mínimo<br />
de abertura, sem burocracias, e de grande<br />
acessibilidade, considerando a capilaridade<br />
e natureza dos nossos pontos de venda físicos.<br />
Assim sendo, não consideramos que<br />
temos um público-alvo propriamente definido,<br />
mas sabemos que conseguimos adicionar<br />
valor a vários segmentos de clientes,<br />
já que oferecemos um produto que se caracteriza<br />
pela simplicidade e transparência.<br />
Para os jovens, destacamo-nos na vertente<br />
da solução digital que oferecemos, sendo<br />
que há uma procura crescente nesta faixa<br />
Que produtos/serviços oferecem? Há<br />
novidades para 2024?<br />
Neste momento, o nosso produto principal<br />
é uma conta de pagamento. As pessoas<br />
podem abrir as contas nos nossos canais<br />
digitais, ou nos pontos de venda perto<br />
das suas residências, apenas com um documento<br />
de identificação, um número de<br />
telemóvel e o pagamento de 20,80 euros de<br />
comissão anual de manutenção – valor que<br />
está inalterado desde a origem da Nickel<br />
em França, há 9 anos. A partir do momento<br />
em que abrem e activam a sua conta (IBAN<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 37
ENTREVISTA<br />
português), os clientes têm logo disponível<br />
também um cartão de débito, pronto para a<br />
realização de movimentos financeiros.<br />
A esta oferta simples e universal, que<br />
está presente tanto online, como nos nossos<br />
pontos físicos, temos acrescentado outras<br />
funcionalidades, que não só seguem a lógica<br />
de corresponder às necessidades dos portugueses,<br />
como também algumas novidades<br />
mais disruptivas que contribuem para uma<br />
maior inclusão financeira e social da população.<br />
Neste sentido, e para além de alguns<br />
detalhes que facilitam a utilização dos nossos<br />
serviços por pessoas com deficiências<br />
visuais ou auditivas, fomos, por exemplo, a<br />
primeira instituição a lançar a opção “True<br />
Name” no país, em parceria com a Mastercard.<br />
Esta é uma funcionalidade que permite<br />
às pessoas trans e não binárias a opção<br />
de colocarem o nome, com que verdadeiramente<br />
se identificam, nos cartões de débito<br />
personalizados My Nickel, sem terem de<br />
mudar de nome legalmente.<br />
No contexto da celebração de um ano<br />
de presença em Portugal, e até ao final do<br />
ano, continuaremos a lançar um conjunto<br />
de novos produtos e serviços, nomeadamente,<br />
as transferências digitais imediatas,<br />
a possibilidade de carregamento automático<br />
da conta Nickel recorrendo a outro<br />
cartão, também conhecido como top-up<br />
by card, os pagamentos móveis Apple Pay,<br />
via iPhone ou Apple Watch, através da integração<br />
com a Apple Wallet, e a selecção<br />
de novas cores que podem ser escolhidas<br />
pelos clientes para os seus cartões personalizados<br />
My Nickel.<br />
Para 2024, ambicionamos trazer mais<br />
inovações, mantendo o ritmo que criamos<br />
durante este ano. Temos planos para reforçar<br />
os pagamentos móveis e lançar alguns<br />
novos produtos, assegurando sempre que<br />
tenham uma lógica de simplicidade, utilidade<br />
e acessibilidade a todos. Já há várias<br />
novidades em carteira, mas ainda não as<br />
podemos desvendar.<br />
E a vossa ambição para o mercado<br />
português? Ter uma rede de 2500<br />
pontos de venda?<br />
Os 2500 pontos de venda são, de facto, o<br />
nosso objectivo nos próximos 5 anos, porque<br />
consideramos que os nossos agentes<br />
físicos são a aposta que devemos fazer para<br />
estarmos mais próximos e chegar a mais<br />
portugueses. De momento, já estamos presentes<br />
em 16 dos 18 distritos de Portugal<br />
continental, e continuamos a investir nesta<br />
expansão em território nacional. Muitos<br />
dos nossos pontos estão em zonas litorais,<br />
onde existe uma maior concentração populacional,<br />
no entanto, estamos também já<br />
presentes nas regiões do interior do país, e<br />
vamos continuar a reforçar essa presença,<br />
conscientes de que estas são as mais afectadas<br />
pela tendência de fecho de balcões na<br />
banca tradicional, podendo beneficiar da<br />
nossa capacidade de dispersão geográfica.<br />
Como é feita a selecção dos pontos<br />
de venda?<br />
Existem duas formas de iniciar este<br />
processo. Uma delas passa pela prospeção<br />
das nossas equipas de terreno e a outra<br />
passa por uma demonstração de intenções,<br />
que é essencialmente o preenchimento de<br />
um formulário no nosso website (https://<br />
nickel.eu/pt-pt/torne-se-agente-nickel).<br />
Em termos do processo de aprovação<br />
do agente, uma vez concluído o processo<br />
de due dilligence e de preparação da documentação<br />
necessária do potencial agente,<br />
a respectiva aprovação e validação fica a<br />
cargo da Autorité de Contrôle Prudentiel<br />
et de Supervisión (a autoridade supervisora<br />
francesa do Banque de France, “ACPR”) e<br />
do Banco de Portugal.<br />
Quais os principais factores de<br />
diferenciação da Nickel? A proximidade<br />
e confiança?<br />
A ideia por detrás de ter um modelo de<br />
negócio híbrido com presença em estabelecimentos<br />
de comércio local serve, exactamente,<br />
o propósito de estarmos mais perto<br />
das pessoas que utilizam os nossos serviços.<br />
Ao estarmos em espaços que são parte<br />
do dia-a-dia das comunidades, nos quais as<br />
pessoas podem também passar a realizar os<br />
seus afazeres financeiros via agentes com<br />
quem já têm, muitas vezes, uma relação de<br />
confiança, estamos a aproximar os serviços<br />
financeiros da população, o que acaba por<br />
ser um factor crucial no fomentar da prosperidade<br />
económica do nosso país. Queremos<br />
também ter este papel desmistificador<br />
do sector financeiro, ao fornecer aos nossos<br />
clientes informação detalhada e directa sobre<br />
o que fazem com o seu dinheiro, por<br />
exemplo, através da disponibilização de um<br />
preçário mais simples. Além disso, o nosso<br />
38 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
ENTREVISTA<br />
Onde estão presentes a nível mundial?<br />
A Nickel cada vez mais se assume como<br />
um modelo financeiro europeu. Já estamos<br />
presentes em 5 países distintos do continente<br />
europeu: França, Espanha, Bélgica,<br />
Portugal e, mais recentemente, Alemanha.<br />
UM DOS VALORES CENTRAIS DO NOSSO SERVIÇO<br />
É A UNIVERSALIDADE, SENDO QUE QUALQUER<br />
PESSOA PODE ABRIR CONTA NA NICKEL<br />
E DESFRUTAR DA REALIZAÇÃO DE OPERAÇÕES<br />
FINANCEIRAS COM MAIS FLEXIBILIDADE<br />
modelo híbrido de funcionamento acaba,<br />
igualmente, por trazer mais dinamismo ao<br />
comércio local, revitalizando o negócio de<br />
espaços que passam a dispor de uma oferta<br />
mais diversificada para os seus clientes.<br />
Numa perspectiva mais geral, o que<br />
nos distingue é que somos uma conta para<br />
todos, uma instituição financeira de pagamentos<br />
com serviços que primam pela<br />
sua acessibilidade, utilidade, simplicidade,<br />
transparência, oferecendo o melhor de dois<br />
mundos: a facilidade do digital e a flexibilidade<br />
de atendimento físico e, por fim, com<br />
um propósito muito claro de criar um impacto<br />
positivo na sociedade, nomeadamente<br />
em termos de inclusão financeira e social<br />
das populações.<br />
Qual a importância da inovação para o<br />
vosso negócio?<br />
A inovação é um dos marcos principais<br />
do nosso ADN. A Nickel foi criada<br />
para transformar a forma como as pessoas<br />
se relacionam com os serviços financeiros<br />
tradicionais. Deste modo, consideramos<br />
que a inovação só vale a pena se for útil<br />
para todos, pelo que os produtos e serviços<br />
que criamos para os nossos clientes<br />
seguem este valor. Foi, efectivamente, graças<br />
a esta filosofia que fomos reconhecidos<br />
nos World Digital Bank Awards 2023,<br />
organizados pelo The Digital Banker, com<br />
as distinções de “Most Innovative Digital<br />
Banking Business Model” e “Most Improved<br />
Digital Bank in Europe”.<br />
Como é a relação entre BNP e a Nickel?<br />
A Nickel e o BNP Paribas complementam-se<br />
perfeitamente. Cada instituição tem<br />
os seus objectivos e características próprias,<br />
mas tendo o grupo uma forte estratégia,<br />
quer em termos de serviço ao cliente<br />
como de políticas “ESG”, a Nickel desempenha,<br />
neste contexto, um papel estratégico<br />
ao oferecer a todos os consumidores a possibilidade<br />
de terem uma conta de pagamento<br />
sem requisitos mínimos, com uma rede<br />
de lojas de comércio local treinadas para<br />
fornecer esse serviço com total segurança,<br />
sempre com um total foco na experiência<br />
do cliente e com a inclusão financeira e social<br />
no seu ADN. Dentro do grupo, a Nickel<br />
é a solução mais simples de todas e convive<br />
com o melhor de dois mundos: mantém a<br />
sua agilidade pela sua independência orçamental<br />
e estratégica, ao mesmo tempo que<br />
beneficia das funções exemplares do BNP<br />
Paribas em termos de segurança (TI em<br />
particular), compliance e gestão do risco.<br />
Qual a importância das fintech para<br />
o mercado financeiro?<br />
Há, por vezes, a ideia incorrecta de que<br />
a banca tradicional não consegue coexistir<br />
com novas soluções financeiras, e que uns<br />
serviços acabam por anular outros. Consideramos<br />
que esta não é a realidade, e que<br />
as fintechs existem de forma complementar<br />
às entidades financeiras tradicionais<br />
já estabelecidas, diversificando a oferta<br />
do sector financeiro em si. Pela natureza<br />
dos negócios mais concentrados que as<br />
fintech desenvolvem, estas têm também<br />
mais abertura para apostar na inovação<br />
das soluções, que depois podem ser incorporadas<br />
e aproveitadas por players mais<br />
tradicionais. O cenário ideal seria fomentar<br />
a entrada destes novos players e uma<br />
maior concorrência e interacção entre os<br />
vários agentes do sector, que permitisse<br />
conjugar visões de negócio, sempre em<br />
prol do benefício do consumidor final.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 39
PAGAMENTOS<br />
ADOPÇÃO DE NOVOS MÉTODOS<br />
DE PAGAMENTO<br />
GANHA PESO EM PORTUGAL<br />
Cartões e dinheiro dominam pagamentos, mas<br />
carteiras digitais e soluções móveis estão a crescer.<br />
agar e receber digitalmente é agora uma realidade para<br />
uma fatia crescente da população, não obstante o cartão<br />
P<br />
de débito continuar a ser a preferência dos portugueses<br />
para efectuar pagamentos presenciais (40,6%), seguido dos<br />
pagamentos em dinheiro (22,9%), e as transferências imediatas<br />
são as preferidas para pagamentos online (36,7%),<br />
revela o XII Relatório de Tendências de Meios de Pagamento<br />
da Minsait Payments.<br />
Em Portugal, a percentagem de população adulta bancarizada<br />
é de 93% e, dada a aceitação em praticamente todos os estabelecimentos,<br />
o cartão bancário continua no topo da lista de métodos de<br />
pagamento. Em 2022, 96% dos portugueses tinha cartão de débito,<br />
53% tinha cartão de crédito e apenas 23%<br />
da população tinha cartões pré-pagos, o<br />
valor mais baixo dos países analisados da<br />
Europa, a seguir ao Reino Unido. Entre<br />
os portugueses inquiridos, 30% tem dois<br />
ou mais cartões de crédito, 29% dois ou<br />
mais cartões de débito, e 18% dois ou<br />
mais cartões pré-pagos. A digitalização<br />
dos cartões está a impulsionar o aumento<br />
das carteiras digitais: 28% dos cartões<br />
são virtuais, um valor que supera a média<br />
europeia (24%).<br />
40 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
PAGAMENTOS<br />
Apesar da preponderância do cartão,<br />
as carteiras digitais e as soluções de pagamento<br />
móvel estão a ganhar força, à medida<br />
que o pagamento contactless ou através<br />
de aplicações se torna mais generalizado<br />
no comércio físico. Uma das razões que<br />
pode explicar esta situação é o sucesso do<br />
MB Way, uma solução de pagamentos móveis<br />
para pagamentos presenciais e entre<br />
particulares. De acordo com o relatório,<br />
37% dos portugueses já pagaram através<br />
da leitura de código QR. O pagamento<br />
com dispositivos móveis em terminais<br />
de pagamento (30%), via aplicação (26%)<br />
e por SMS (18%), está também entre os<br />
principais métodos digitais.<br />
De acordo com o estudo da Minsait<br />
Payments, e apesar da diversificação de<br />
meios de pagamento existentes, 46% dos<br />
portugueses encontraram dificuldades<br />
para utilizar os seus meios de pagamento<br />
preferidos, por não se encontrarem disponíveis<br />
no momento de efectuar o pagamento.<br />
Estes resultados corroboram a<br />
visão de mais de metade dos executivos do<br />
sector, entrevistados para o relatório, que<br />
acreditam que o pagamento móvel vai ser<br />
PORTUGAL É O MAIS PREDISPOSTO A ADOPTAR<br />
MEDIDAS PARA MELHORAR A SUSTENTABILIDADE<br />
DOS MEIOS DE PAGAMENTO<br />
80,6%<br />
QUATRO EM CADA 10<br />
PORTUGUESES JÁ PAGARAM<br />
ATRAVÉS DA LEITURA<br />
DO CÓDIGO QR.<br />
30% JÁ O FIZERAM<br />
COM DISPOSITIVOS<br />
MÓVEIS NO TERMINAL<br />
DE PAGAMENTO,<br />
26% VIA APLICAÇÃO<br />
E 18% VIA SMS<br />
PREFERIA UTILIZAR CARTÕES DE PAGAMENTO<br />
FEITOS COM MATERIAIS MAIS SUSTENTÁVEIS<br />
a forma preferida dos consumidores para<br />
efectuarem os seus pagamentos diários<br />
daqui a cinco anos.<br />
O estudo salienta igualmente a popularidade<br />
das transferências imediatas junto<br />
dos portugueses mais jovens, tanto para<br />
enviar ou receber dinheiro, como para pagamentos.<br />
Entre os inquiridos com menos<br />
de 35 anos, a percentagem dos que preferem<br />
pagar por transferência imediata é<br />
quase três vezes superior à dos maiores de<br />
55 anos. No total, 55% dos portugueses inquiridos<br />
efectuaram transferências imediatas<br />
na semana anterior ao inquérito.<br />
Fintechs e paytechs<br />
A banca tradicional mantém-se como<br />
a entidade financeira principal em todos<br />
os países. De acordo com o relatório, 86%<br />
dos portugueses recorreriam a um banco<br />
tradicional para solicitar um serviço<br />
financeiro, por oposição aos 4% que recorreria<br />
a um neobanco. Além disso, 91%<br />
consideram os bancos como a entidade<br />
principal de serviços financeiros e de<br />
pagamento. A proporção da população<br />
bancarizada com pelo menos um serviço<br />
financeiro contratado a mais do que um<br />
prestador de serviços de pagamento é de<br />
96%. Porém, a percentagem de inquiridos<br />
com serviços em dois ou mais bancos<br />
desceu de 53%, em 2020, para 41%, em<br />
2022. Em Portugal, o estudo refere ainda<br />
que, em 2022, 61,5% dos portugueses<br />
tinha apenas uma conta bancária e 38,5%<br />
tinha mais de uma conta.<br />
Seis em cada dez executivos entrevistados<br />
para o estudo acreditam que a<br />
oportunidade de crescimento dos pagamentos<br />
com cartões digitais será impulsionada<br />
pelos neobancos e pela banca<br />
digital, que procuram fornecer soluções<br />
para problemas específicos do utilizador<br />
com o objectivo de melhorar a experiência<br />
do utilizador. Este crescimento será<br />
reforçado por plataformas e mercados<br />
de comércio electrónico, com casos de<br />
utilização como a emissão instantânea e<br />
escalável de cartões virtuais, para pagamento<br />
a partir de múltiplos fornecedores<br />
e comerciantes parceiros.<br />
Por outro lado, os cartões virtuais<br />
de utilização única Buy Now, Pay Later<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 41
PAGAMENTOS<br />
(BNPL), que permitem que as compras sejam<br />
adiadas ou pagas em prestações também<br />
deverão crescer. Embora em Portugal<br />
esta modalidade ainda não tenha muita<br />
adesão, 48% dos especialistas acreditam<br />
que as soluções BNPL serão susceptíveis<br />
de nova regulamentação num futuro próximo,<br />
motivado por um possível risco de sobreendividamento,<br />
que já está a começar a<br />
ser observado noutros países. No entanto,<br />
66% dos executivos inquiridos acreditam<br />
que as fintechs e paytechs são os agentes<br />
mais bem posicionados para capturar a<br />
oportunidade de mercado BNPL.<br />
Num contexto da multiplicidade de<br />
soluções financeiras e de pagamentos<br />
digitais, o estudo destaca a ascensão das<br />
fintechs. Quarenta por cento dos portugueses<br />
inquiridos operam frequentemente<br />
com alguma delas e 19% fazem-no ocasionalmente,<br />
em contraste com a média<br />
europeia: 26% opera frequentemente e<br />
22% utiliza-as de forma ocasional.<br />
Quanto ao pagamento em prestações<br />
no comércio electrónico, mais de metade<br />
dos portugueses inquiridos (53%), que<br />
diferiu um pagamento de comércio electrónico,<br />
acabou por liquidá-lo no mesmo<br />
mês, sem juros. Uma tendência que não é<br />
seguida nos outros mercados analisados<br />
no relatório.<br />
«Após um crescimento devido à pandemia,<br />
a adopção de meios de pagamentos<br />
digitais está a estabilizar em Portugal<br />
e na Europa. A utilização dos novos<br />
meios de pagamento já é generalizada, e o<br />
comércio e as empresas têm de se adaptar<br />
rapidamente para dar resposta aos novos<br />
hábitos de compra, que vieram para ficar,<br />
especialmente entre as gerações mais<br />
jovens», refere Enrique Alvarez, head of<br />
Business Development da Minsait Payments<br />
na Europa.<br />
O fenómeno das criptomoedas, embora<br />
ainda uma minoria, já não pode ser<br />
considerado de nicho porque em alguns<br />
países na América Latina a percentagem<br />
de pessoas que compraram criptomoedas<br />
já atinge um quarto da população bancarizada.<br />
Na Europa, a percentagem de<br />
pessoas que afirmam ter comprado criptomoedas<br />
é mais baixa, 11,6%, dos quais<br />
25,9% já utilizaram um criptocartão.<br />
O CARTÃO DE DÉBITO<br />
CONTINUA A LIDERAR<br />
A PREFERÊNCIA DOS<br />
PORTUGUESES PARA<br />
PAGAMENTOS PRESENCIAIS<br />
(40,6%) E PARA AS<br />
COMPRAS ONLINE<br />
NAS TRANSFERÊNCIAS<br />
IMEDIATAS (36,7%)<br />
Em Portugal, 16,2% da população<br />
bancarizada já comprou criptomoedas<br />
e 5,6% dos portugueses entrevistados já<br />
as utilizaram como forma de pagamento<br />
presencial, colocando Portugal como o<br />
país europeu, deste estudo, que mais utilizou<br />
esta modalidade de pagamento.<br />
Pagamentos sustentáveis<br />
O potencial impacto ambiental dos<br />
meios de pagamento pode ser um elemento<br />
que influencie uma maior digitalização,<br />
no intuito de um comportamento mais<br />
responsável e sustentável. Os pagamentos<br />
digitais são vistos como mais sustentáveis<br />
do que os efectuados com dinheiro ou cartões<br />
de plástico.<br />
No entanto, quando se trata de adoptar<br />
comportamentos que promovam a<br />
sustentabilidade ambiental, a medida que<br />
reúne maior consenso da população é a<br />
de utilização de cartões, embora feitos de<br />
um material sustentável e não de plástico,<br />
e neste caso Portugal é o país mais predisposto<br />
a adoptar esta medida – 80,6%<br />
dos portugueses preferia utilizar cartões<br />
de pagamento feitos com materiais mais<br />
sustentáveis e 65,7% estariam dispostos a<br />
efectuar apenas pagamentos digitais (sem<br />
plástico ou papel).<br />
De acordo com o relatório da Minsait<br />
Payments, a próxima vaga de digitalização<br />
terá impacto em novos fluxos de pagamento,<br />
permitindo que o acesso a produtos e<br />
serviços financeiros seja alargado entre<br />
empresas, consumidores e a administração<br />
pública. O foco da inovação passará dos<br />
consumidores para as empresas durante a<br />
próxima década. Os especialistas concordam<br />
que em todas as áreas onde se realizam<br />
transacções de pagamento, especialmente<br />
em novos fluxos de pagamento em<br />
ambientes B2B (business-to-business) ou<br />
estatais, há um caminho grande a percorrer,<br />
e em ambas as direcções: novas formas<br />
de pagar e de receber.<br />
42 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
OPINIÃO<br />
CIBERSEGURANÇA PARA PME<br />
NAVEGAR ENTRE CERTIFICAÇÕES<br />
E A REALIDADE DE MERCADO<br />
POR PAULO NUNES,<br />
IT HEAD DA ABREU ADVOGADOS<br />
Numa era dominada pela<br />
digitalização e tokenização,<br />
a cibersegurança emerge como<br />
o alicerce da confiança digital.<br />
P<br />
ara as PME, operar<br />
com segurança no<br />
vasto universo digital<br />
não é apenas desejável,<br />
mas também<br />
essencial. Normas como ISO 27001, NIST, PCI DSS<br />
(estas últimas aplicadas a pagamentos) actuam<br />
como bússolas neste trajecto. Segundo um<br />
estudo sobre ataques a PME, 95% dos incidentes<br />
de segurança cibernética em pequenas e médias<br />
empresas custam entre 820 e 650 mil euros,<br />
e, da experiência própria ao embarcar nesta<br />
jornada, é imperativo avaliar meticulosamente os<br />
benefícios e desafios de cada uma destas opções.<br />
PRÓS:<br />
1. Credibilidade no mercado: Estar certificado<br />
sinaliza ao mercado que os processos seguem<br />
padrões internacionais, e aumenta a confiança<br />
dos clientes e parceiros;<br />
2. Melhorias internas: O processo de preparação<br />
para a certificação exige uma análise<br />
minuciosa dos processos internos, e leva muitas<br />
vezes a melhorias operacionais, identificando<br />
riscos organizacionais.<br />
3. Mitigação de riscos: Estar alinhado com<br />
padrões reconhecidos ajuda as empresas a<br />
protegerem-se contra ameaças cibernéticas,<br />
reduzindo possíveis prejuízos.<br />
CONTRAS:<br />
1. Custos associados: O processo de certificação<br />
envolve custos, considerando auditorias,<br />
consultorias e adaptações internas necessárias,<br />
podendo a organização estar preparada para se<br />
alinhar com esta cultura de processos.<br />
2. Adaptação de processos: Cada PME deve<br />
adaptar-se a normas e à realidade específica da<br />
segurança de informação.<br />
3. Sentimento de segurança: Uma certificação<br />
não garante imunidade a ataques. Nas PME existe<br />
muitas vezes a sensação errada de achar que,<br />
por possuir um certificado, todos os riscos estão<br />
devidamente mitigados.<br />
E no epicentro deste debate tem estado a<br />
desconexão entre normas e a necessidade de<br />
responder de forma ágil ao mercado. A cibersegurança<br />
não é estática; novas ameaças surgem<br />
a cada dia, e a flexibilidade para uma PME se<br />
adaptar é vital.<br />
Então, como lidar com esta desconexão?<br />
1. Entendimento profundo: Antes de encetar o<br />
caminho da certificação, é fundamental entender<br />
a relevância para o negócio e para os clientes.<br />
2. Actualização constante: Possuir uma certificação<br />
não é o fim, mas o início. Formações e<br />
actualizações constantes são essenciais.<br />
3. Olhar crítico: As normas são guias, não são<br />
regras inquebráveis. Cada empresa deve adaptá-<br />
-las à sua realidade, sem perder de vista<br />
o objectivo principal: segurança e confiabilidade.<br />
É essencial colaborar com parceiros confiáveis<br />
que possuam expertise em negócios, e não apenas<br />
em segurança.<br />
Em conclusão, apesar das certificações em<br />
cibersegurança oferecerem muitos benefícios,<br />
as PME devem abordá-las de forma equilibrada<br />
e crítica, garantindo que as normas escolhidas<br />
amplifiquem a segurança sem comprometer a<br />
capacidade de resposta ao mercado. O apoio<br />
de uma consultora que garanta a adaptação da<br />
norma à realidade da PME é também um factor<br />
de sucesso para uma garantia de certificação.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 43
ENTREVISTA<br />
«PORTUGAL ESTÁ<br />
A PRECISAR DE UMA<br />
PROPOSTA SÓLIDA<br />
NO QUE DIZ RESPEITO<br />
À BANCA COMO UM<br />
SERVIÇO»<br />
A<br />
presença<br />
O mercado fintech tem assistido a um crescimento<br />
exponencial em todo o mundo, e Portugal não<br />
é excepção à regra. Este tem vindo a redefinir<br />
paradigmas e a desempenhar um papel crucial na<br />
transformação do cenário financeiro do país.<br />
POR ANDRÉ MANUEL MENDES<br />
de diversas fintechs no país está a contribuir para a modernização<br />
do sistema financeiro, estimulando a concorrência,<br />
inspirando a adopção de práticas mais inovadoras, e assumindo<br />
um papel vital no impulso da economia portuguesa para o futuro.<br />
Jon Fath, co-fundador e CEO da fintech portuguesa Rauva, falou<br />
com a Risco sobre o panorama das fintechs a nível nacional, os<br />
projectos em desenvolvimento e perspectivas para o futuro.<br />
Como descreveria o actual cenário das fintechs em Portugal?<br />
Quais os principais desafios e oportunidades?<br />
O sector fintech tem vindo a crescer rapidamente em Portugal nos últimos<br />
anos. Várias startups e empresas têm surgido<br />
em diversas áreas financeiras. Um<br />
dos exemplos desse crescimento é a The<br />
Fintech House, que, no espaço de um ano,<br />
mais do que duplicou o número de empresas<br />
residentes.<br />
Depois, é um sector que se tem destacado<br />
pela sua abordagem inovadora e pelo<br />
uso de tecnologia de ponta. As fintechs<br />
não só têm o potencial de melhorar a inclusão<br />
financeira em Portugal, chegando a<br />
áreas ou segmentos da população que poderão<br />
ter sido negligenciados pelos bancos<br />
tradicionais, como, além disso, também<br />
oferecem soluções que facilitam o acesso a<br />
serviços financeiros.<br />
44 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
Jon Fath,<br />
co-fundador<br />
e CEO da fintech<br />
portuguesa Rauva<br />
ENTREVISTA<br />
do para garantir a estabilidade financeira e<br />
a protecção dos activos dos clientes. Assim<br />
sendo, várias fintechs precisam de obter<br />
licenças ou autorizações de reguladores<br />
financeiros, como o Banco de Portugal e a<br />
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários<br />
(CMVM). Em termos legais, as fintechs<br />
são obrigadas a cumprir regulamentos que<br />
vão desde a prevenção do branqueamento<br />
de capitais, a protecção dos consumidores<br />
e a privacidade de dados. Estas regras,<br />
apesar de muito importantes, exigem um<br />
investimento significativo em tecnologia e<br />
recursos humanos.<br />
Na Rauva, estamos a construir uma<br />
banktech. Os requisitos de licenciamento<br />
enquanto banco exigem a criação de processos<br />
robustos alimentados por soluções<br />
digitais sofisticadas e uma equipa experiente.<br />
Estamos totalmente empenhados neste<br />
esforço e estamos a construir um banco em<br />
total conformidade com o ambiente regulamentar<br />
português. Lidar com o ambiente<br />
regulamentar é uma exigência constante,<br />
mas o cumprimento dos regulamentos<br />
é fundamental para ganhar e manter a<br />
confiança dos nossos clientes.<br />
«O SECTOR FINTECH<br />
EM PORTUGAL<br />
TEM VINDO<br />
A CRESCER<br />
RAPIDAMENTE NOS<br />
ÚLTIMOS ANOS»<br />
No que respeita às oportunidades, o<br />
crescimento das fintechs em Portugal pode<br />
contribuir para o desenvolvimento de um<br />
ecossistema mais rico em inovação e tecnologia,<br />
atraindo investidores e talento<br />
para o país, assim como expandir-se para<br />
mercados internacionais, exportando tecnologia<br />
e conhecimento. Já os principais<br />
desafios prendem-se com o investimento<br />
em medidas de segurança que protejam os<br />
dados dos clientes, e a regulação no sector<br />
financeiro ser rigorosa e intrincada.<br />
Quais os desafios e como lidam as<br />
fintechs com o ambiente regulatório?<br />
O sector financeiro é altamente regula-<br />
Existe uma colaboração significativa<br />
entre as fintechs e as instituições<br />
financeiras tradicionais no país?<br />
Sim, pois são parcerias vantajosas para<br />
ambas as partes. As fintechs trazem inovação<br />
tecnológica e os bancos tradicionais<br />
oferecem experiência regulatória, reputação<br />
e uma base de clientes estabelecida. Alguns<br />
bancos optam inclusive por adquirir<br />
fintechs ou investir nelas, o que lhes permite<br />
obter tecnologias e conhecimento, assim<br />
como lhes dá a oportunidade de modernizar<br />
as suas ofertas de serviços e permanecer<br />
competitivos.<br />
Já os clientes acabam por beneficiar da<br />
variedade de serviços inovadores resultantes<br />
dessas colaborações. No caso da Rauva,<br />
fizemos exactamente o inverso e estamos<br />
a trilhar caminho no sector: enquanto fintech,<br />
assinámos um acordo para adquirir<br />
100% das acções do Banco Empresas Montepio,<br />
porque estamos a construir com tecnologia<br />
de ponta e queremos operá-la com<br />
uma licença bancária para servir o utilizador<br />
final da forma mais completa.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 45
ENTREVISTA<br />
De que forma as fintechs têm<br />
impactado positivamente as<br />
empresas em Portugal?<br />
As fintechs trouxeram benefícios significativos,<br />
tanto para as empresas como<br />
para a economia nacional. Muitas oferecem<br />
ferramentas de gestão financeira como softwares<br />
de contabilidade e soluções de pagamento,<br />
permitindo que as empresas<br />
optimizem as suas finanças e controlem<br />
despesas de forma mais eficiente. Outras<br />
disponibilizam soluções de financiamento<br />
alternativo que podem ser mais vantajosas<br />
que as tradicionais. Já as fintechs de pagamento<br />
oferecem soluções de pagamento<br />
rápidas e convenientes, o que beneficia<br />
empresas que dependem de transacções<br />
financeiras.<br />
Em termos de custos, as fintechs podem<br />
oferecer taxas mais baixas e/ou transparentes<br />
comparativamente a instituições<br />
financeiras tradicionais, algo que os clientes<br />
procuram para as suas operações diárias.<br />
No fundo, a agilidade e a capacidade<br />
de adaptação das fintechs são especialmente<br />
benéficas para as organizações que<br />
necessitam de soluções financeiras ágeis<br />
e personalizadas.<br />
Quais as principais dificuldades das<br />
empresas na gestão das suas finanças?<br />
Até agora, o processo de criação e gestão<br />
de uma empresa tem sido altamente<br />
complexo, fragmentado e offline. O panorama<br />
actual em Portugal não permite a<br />
abertura de uma conta comercial de forma<br />
exclusivamente digital. Este processo<br />
demora normalmente entre uma a quatro<br />
semanas e é necessária a deslocação a agências<br />
físicas, o que é moroso e inconveniente,<br />
com a maioria (73%) dos empreendedores<br />
a afirmar que não é fácil abrir uma<br />
conta na Europa.<br />
Depois, a conta da empresa só pode ser<br />
registada e utilizada através de uma determinada<br />
aplicação, as facturas são emitidas<br />
num software específico e o seu acompanhamento<br />
e reconciliação com o extracto<br />
tem de ser feito manualmente. Esta dispersão<br />
torna a actividade de empresário muito<br />
exigente e demorada.<br />
Além disso, no caso das PME, não existem<br />
soluções de gestão financeira desenhadas<br />
para elas. Num contexto empresarial<br />
onde os recursos são escassos, os gestores<br />
acabam por dedicar mais de 10 horas semanais<br />
a tarefas administrativas, impedindo-os<br />
de dedicar tempo ao crescimento das<br />
suas empresas. Depois, é também exigido<br />
aos empresários que conheçam e garantam<br />
a regulamentação fiscal, algo que pode ser<br />
desafiante e complexo.<br />
A Rauva é uma one-stop shop que está<br />
a combater todos estes constrangimentos,<br />
ao integrar vários serviços e funcionalidades<br />
de gestão empresarial numa só plataforma<br />
digital, facilmente acessível a todos,<br />
com o objectivo de impactar mais de 99,9%<br />
das empresas em Portugal e ajudá-las a<br />
manter o seu foco no crescimento e não em<br />
questões administrativas e burocráticas.<br />
Como é que a automação e a<br />
digitalização financeira estão a ser<br />
incorporadas para optimizar os<br />
processos empresariais?<br />
A incorporação de automação e digitalização<br />
na optimização dos processos<br />
empresariais está a desempenhar um papel<br />
cada vez mais importante, pois permite<br />
«A CRESCENTE PRESENÇA DE FINTECHS NO PAÍS<br />
OFERECE ÀS EMPRESAS OPORTUNIDADES<br />
DE ACESSO A SOLUÇÕES<br />
FINANCEIRAS INOVADORAS»<br />
que as empresas aumentem a eficiência,<br />
economizem tempo e dinheiro, reduzam<br />
erros e melhorem o acesso a informações<br />
financeiras cruciais. Alguns exemplos dessas<br />
práticas são a facturação e os pagamentos<br />
electrónicos, as ferramentas de gestão<br />
de despesas digitais e os relatórios financeiros<br />
automatizados.<br />
Quais as estratégias adoptadas para<br />
ajudar as empresas a mitigar riscos em<br />
ambientes financeiros voláteis?<br />
Nos últimos anos, os clientes do sector<br />
financeiro mundial têm vindo a adaptar-se<br />
a choques económicos atrás uns dos outros<br />
– desde a pandemia de Covid-19 à guerra<br />
na Ucrânia, passando pela subida das taxas<br />
de juro para níveis que não se viam há mais<br />
de uma década. Todos estes acontecimentos<br />
se repercutem nos mercados financeiros<br />
e afectam as finanças das empresas. A<br />
oferta de produtos financeiros simples e de<br />
fácil acesso é essencial para apoiar as empresas<br />
nestes tempos difíceis. Isto inclui a<br />
concessão de crédito, um domínio em que<br />
existe uma lacuna significativa no mercado,<br />
especialmente para as PME. Há mais a fazer<br />
neste espaço e a Rauva está aqui para<br />
preencher este vazio, uma vez que esperamos<br />
lançar uma variedade de produtos de<br />
crédito para as PME no futuro.<br />
46 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
Como analisa a literacia financeira<br />
das empresas e dos empresários<br />
portugueses?<br />
Existem programas de formação e<br />
educação em finanças disponíveis para<br />
empresários e gestores de empresas em<br />
Portugal e a verdade é que a crescente presença<br />
de fintechs no país oferece às empresas<br />
oportunidades de acesso a soluções<br />
financeiras inovadoras que melhoram a<br />
gestão financeira. Na verdade, segundo o<br />
primeiro relatório sobre a literacia financeira<br />
de empresários de micro e pequenas<br />
empresas – Portugal 2021, os empreendedores<br />
portugueses apresentam dos maiores<br />
níveis de literacia financeira entre 14<br />
países da Rede Internacional de Educação<br />
Financeira da OCDE. No caso das pequenas<br />
empresas, Portugal ocupa mesmo o<br />
2.º lugar no indicador global de literacia<br />
financeira nas empresas.<br />
Contudo, a conformidade com regulamentações<br />
fiscais e financeiras pode ser<br />
complexa e desafiadora. Neste campo, é<br />
essencial o investimento em formação a<br />
empresários de modo a tomarem decisões<br />
financeiras mais informadas.<br />
A melhoria da literacia financeira só irá<br />
contribuir para o sucesso e estabilidade do<br />
sector empresarial em Portugal e algumas<br />
fintechs já estão a trabalhar nesse sentido,<br />
Sam Mizrahi<br />
e Jon Fath,<br />
co-fundadores<br />
da Rauva<br />
ao fornecerem informações financeiras<br />
acessíveis, simplificarem alguns serviços<br />
complexos, incorporarem recursos de educação<br />
financeira, e ao oferecerem ferramentas<br />
de gestão financeira, entre outros.<br />
É este o caso da Rauva, que apoia os<br />
empresários ao longo de todo o seu percurso,<br />
com conteúdos educativos e transparência,<br />
bem como com um acesso fácil a<br />
uma equipa de apoio receptiva.<br />
ENTREVISTA<br />
Como é que a Rauva está a ajudar os<br />
clientes a compreender e maximizar os<br />
benefícios das suas soluções?<br />
A Rauva integra vários serviços e funcionalidades<br />
de gestão empresarial numa<br />
one-stop shop. Temos um processo de<br />
onboarding simples e 100% digital, que<br />
permite a qualquer empresa registar a sua<br />
nova conta empresarial em apenas alguns<br />
minutos. É a única solução integrada em<br />
Portugal que permite fazer pagamentos,<br />
emitir cartões de débito, enviar facturas em<br />
conformidade com a Autoridade Tributária,<br />
gerir despesas e ter o negócio monitorizado<br />
por contabilistas para garantir o total<br />
cumprimento dos regulamentos.<br />
Além disso, a Rauva oferece o serviço<br />
de criação de empresas com o apoio de advogados<br />
e contabilistas certificados, quando<br />
o negócio ainda não está materializado,<br />
ajudando portugueses e estrangeiros a<br />
prosperar em território nacional.<br />
Estamos também a apoiar os empresários<br />
ao longo do seu percurso e trabalhamos<br />
continuamente para fornecer mais soluções<br />
com base no feedback dos nossos clientes.<br />
Para tal, estamos sempre em contacto com<br />
os nossos utilizadores para compreender as<br />
suas necessidades e melhorar a aplicação,<br />
que é actualizada duas vezes por semana.<br />
A optimização e simplificação dos processos<br />
burocráticos, bem como a promoção<br />
da literacia para o empreendedorismo e<br />
a gestão empresarial, promovem um maior<br />
estímulo em inovação e ao crescimento.<br />
Por isso, podemos dizer que a Rauva tem<br />
um impacto directo e positivo no quotidiano<br />
dos empresários de PME e freelancers<br />
– que representam 99,9% do tecido empresarial<br />
português e, consequentemente, na<br />
economia nacional.<br />
Que tendências prevê para o sector de<br />
fintech em Portugal nos próximos anos?<br />
Portugal está a precisar de uma proposta<br />
sólida no que diz respeito à banca<br />
como um serviço, tendo o potencial de<br />
impulsionar a inovação, não só no espaço<br />
dos neobancos, mas também no financiamento<br />
integrado.<br />
No ano passado, tivemos a honra de<br />
participar no programa Portugal FinLab,<br />
organizado pelo Banco de Portugal, pela<br />
CMVM e pela Autoridade de Supervisão<br />
de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), e<br />
agora gostaria de ajudar o ecossistema,<br />
criando inovação e compreendendo melhor<br />
as possibilidades do mercado, para<br />
que a tecnologia e a banca trabalhem em<br />
conjunto. Isto será possível graças aos reguladores<br />
e a estes programas.<br />
Outras tendências incluem a contínua<br />
emergência dos bancos digitais e o papel<br />
da Inteligência Artificial no mercado das<br />
fintech, que certamente será cada vez mais<br />
significativo, melhorando a personalização<br />
e eficiência dos serviços financeiros.<br />
O tema da sustentabilidade financeira<br />
também deve ser levado para cima da<br />
mesa, pois o foco nas questões de sustentabilidade<br />
e nos investimentos éticos poderá<br />
reflectir-se em soluções mais verdes<br />
e responsáveis.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 47
TECNOLOGIA<br />
O QUE SE SEGUE<br />
PARA OS<br />
SUPERCOMPUTADORES<br />
MAIS RÁPIDOS<br />
DO MUNDO<br />
O supercomputador em questão chama-se Frontier.<br />
Ocupa o espaço de dois campos de ténis no Laboratório<br />
Nacional de Oak Ridge, nas colinas do leste do Tennessee,<br />
onde foi apresentado em Maio de 2022.<br />
POR SOPHIA CHEN, MIT TECHNOLOGY REVIEW<br />
P<br />
ode ser difícil compreender a capacidade de processamento<br />
de números do supercomputador mais rápido do<br />
mundo. Mas Jack Dongarra, cientista informático da Universidade<br />
do Tennessee, explica-o da seguinte forma: «Se<br />
todos na Terra fizessem um cálculo por segundo, seriam<br />
necessários quatro anos para igualar o que este computador<br />
consegue fazer num segundo.»<br />
Eis mais algumas especificações: o Frontier utiliza cerca de 50 mil<br />
processadores, em comparação com os 16 ou 24 dos computadores portáteis<br />
mais potentes. Consome 20 milhões de watts, em comparação<br />
com os cerca de 65 watts de um computador portátil. A sua construção<br />
custou 570 milhões de euros.<br />
Quando o Frontier entrou em funcionamento, marcou o início<br />
da chamada computação “exascale”, com máquinas que podem executar<br />
um “exaflop” — ou um trilião (1018) de operações de vírgula<br />
flutuante por segundo. Desde então, os cientistas têm-se preparado<br />
para fabricar mais destes computadores incrivelmente rápidos: várias<br />
máquinas exascale deverão entrar em funcionamento nos EUA e na<br />
Europa em 2024.<br />
Mas a velocidade em si não é o objectivo<br />
final. Os investigadores estão a criar<br />
computadores exascale para explorarem<br />
questões científicas e de engenharia anteriormente<br />
inacessíveis nos domínios da<br />
biologia, clima, astronomia e outros. Nos<br />
próximos anos, os cientistas utilizarão o<br />
Frontier para efectuar as simulações informáticas<br />
mais complicadas que o ser<br />
humano alguma vez concebeu. Esperam<br />
assim responder a perguntas ainda sem<br />
resposta sobre a natureza e conceber<br />
novas tecnologias em áreas que vão dos<br />
transportes à medicina.<br />
Evan Schneider, da Universidade de<br />
Pittsburgh, por exemplo, utiliza o Frontier<br />
para fazer simulações da evolução da nossa<br />
galáxia ao longo do tempo. Em particular,<br />
está interessada no fluxo de gás que entra<br />
48 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
TECNOLOGIA<br />
e sai da Via Láctea. Uma galáxia respira, de<br />
certa forma: o gás entra nela, fundindo-se<br />
em estrelas através da gravidade, mas o<br />
gás também sai – por exemplo, quando as<br />
estrelas explodem e libertam matéria. Schneider<br />
estuda os mecanismos pelos quais<br />
as galáxias exalam. «Podemos comparar as<br />
simulações com o universo real observado,<br />
e isso dá-nos uma ideia se estamos a fazer<br />
bem a física», explica.<br />
Schneider usa o Frontier para construir<br />
um modelo informático da Via Láctea com<br />
uma resolução suficientemente alta para<br />
fazer zoom em estrelas individuais em explosão.<br />
Isto significa que o modelo tem de<br />
captar as propriedades em grande escala da<br />
nossa galáxia a 100 mil anos-luz, bem como<br />
as propriedades das supernovas a cerca de<br />
10 anos-luz de distância. «Isso ainda não<br />
COMO OAK RIDGE TEM CRIADO SUPERCOMPUTADORES CADA<br />
VEZ MAIORES, OS ENGENHEIROS TÊM TRABALHADO PARA<br />
MELHORAR A EFICIÊNCIA DAS MÁQUINAS COM INOVAÇÕES<br />
QUE INCLUEM UM NOVO MÉTODO DE ARREFECIMENTO<br />
foi feito», afirma. Para se ter uma ideia do<br />
significado dessa resolução, seria análogo a<br />
criar um modelo fisicamente exacto de uma<br />
lata de cerveja, juntamente com as células<br />
de levedura individuais que a compõem e<br />
as interacções em cada escala intermédia.<br />
Stephan Priebe, engenheiro sénior da<br />
GE, utiliza o Frontier para simular a aerodi-<br />
nâmica da próxima geração de aviões. Para<br />
aumentar a eficiência do combustível, a GE<br />
está a investigar uma concepção de motor<br />
conhecida como “arquitectura de ventilador<br />
aberto”. Os motores a jacto usam ventoinhas<br />
para gerar impulso, e ventoinhas<br />
maiores significam maior eficiência. Para<br />
as tornar ainda maiores, os engenheiros<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 49
TECNOLOGIA<br />
O FRONTIER UTILIZA CERCA DE 50 MIL PROCESSADORES, EM<br />
COMPARAÇÃO COM OS 16 OU 24 DOS COMPUTADORES PORTÁTEIS<br />
MAIS POTENTES. CONSOME 20 MILHÕES DE WATTS,<br />
EM COMPARAÇÃO COM OS CERCA DE 65 WATTS<br />
DE UM COMPUTADOR PORTÁTIL<br />
propuseram a remoção da estrutura exterior,<br />
conhecida como “nacelle”, para as pás<br />
ficarem expostas como num cata-vento.<br />
«As simulações permitem-nos obter uma<br />
visão pormenorizada do desempenho aerodinâmico<br />
no início da fase de projecto»,<br />
refere Priebe. Dão aos engenheiros uma<br />
ideia do formato das pás da ventoinha para<br />
melhorar a aerodinâmica, por exemplo, ou<br />
para as tornar mais silenciosas.<br />
O Frontier beneficiará particularmente<br />
os estudos de Priebe sobre turbulência, o<br />
movimento caótico de um fluido perturbado<br />
– neste caso, o ar – à volta da ventoinha.<br />
A turbulência é um fenómeno comum.<br />
Vemo-lo no bater das ondas do mar e no<br />
fumo enrolado que sai de uma vela apagada.<br />
Mas os cientistas ainda têm dificuldade<br />
em prever como um fluido turbulento flui<br />
exactamente. Isto porque se move em resposta<br />
a influências macroscópicas, como as<br />
alterações de pressão e temperatura, e a influências<br />
microscópicas, como a fricção de<br />
moléculas individuais de azoto no ar umas<br />
contra as outras. A interacção de forças em<br />
múltiplas escalas complica o movimento.<br />
«Na pós-graduação, [um professor]<br />
disse-me uma vez: “Bronson, se alguém<br />
lhe disser que compreende a turbulência,<br />
deve pôr uma mão na carteira e sair da<br />
sala, porque estão a tentar vender-lhe alguma<br />
coisa”», observa o astrofísico Bronson<br />
Messer, director de ciência da Oak Ridge<br />
Leadership Computing Facility, que alberga<br />
o Frontier. «Ninguém compreende a turbulência.<br />
É de facto o último grande problema<br />
da física clássica.»<br />
Estes estudos científicos ilustram o<br />
ponto forte dos supercomputadores: a simulação<br />
simultânea de objectos físicos a<br />
várias escalas. Outras aplicações reflectem<br />
este tema. O Frontier permite modelos climáticos<br />
mais precisos, que têm de simular<br />
o clima a diferentes escalas espaciais em<br />
todo o planeta e também a escalas de tempo<br />
longas e curtas. Os físicos podem também<br />
simular a fusão nuclear, o processo<br />
turbulento pelo qual o Sol gera energia ao<br />
juntar átomos para formar elementos diferentes.<br />
Pretendem compreender melhor<br />
o processo para desenvolver a fusão como<br />
uma tecnologia de energia limpa. Embora<br />
este tipo de simulações multiescala tenha<br />
sido um elemento básico da supercomputação<br />
durante muitos anos, o Frontier pode<br />
incorporar uma gama mais vasta de escalas<br />
diferentes do que nunca.<br />
Para utilizar o Frontier, cientistas aprovados<br />
ligam-se remotamente ao supercomputador,<br />
submetendo os seus trabalhos<br />
através da internet. Para tirar o máximo<br />
partido da máquina, Oak Ridge pretende<br />
que cerca de 90% dos processadores do supercomputador<br />
efectuem cálculos 24 horas<br />
por dia, sete dias por semana. «Entramos<br />
numa espécie de estado estacionário em<br />
que fazemos constantemente simulações<br />
científicas durante alguns anos», nota Messer.<br />
Os utilizadores guardam os seus dados<br />
em Oak Ridge numa instalação de armaze-<br />
50 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
TECNOLOGIA<br />
namento de dados que pode armazenar até<br />
700 petabytes, o equivalente a cerca de 700<br />
mil discos rígidos portáteis.<br />
Embora o Frontier seja o primeiro supercomputador<br />
exascale, outros estão a<br />
caminho. Nos EUA, os investigadores estão<br />
actualmente a instalar duas máquinas<br />
que terão capacidade para mais de dois<br />
exaflops: o Aurora, no Laboratório Nacional<br />
de Argonne, em Illinois, e o El Capitan,<br />
no Laboratório Nacional Lawrence Livermore,<br />
na Califórnia. A partir do início de<br />
2024, os cientistas tencionam utilizar o Aurora<br />
para criar mapas de neurónios no cérebro<br />
e procurar catalisadores que possam<br />
tornar mais eficientes processos industriais,<br />
como a produção de fertilizantes. O El Capitan,<br />
também previsto para 2024, simulará<br />
armas nucleares para ajudar o governo a<br />
manter as suas reservas sem efectuar testes<br />
de armas. Entretanto, a Europa planeia<br />
instalar o seu primeiro supercomputador<br />
exascale, o Jupiter, no final de 2024.<br />
A China supostamente também tem<br />
supercomputadores exascale, mas não divulgou<br />
os resultados dos testes de referência<br />
padrão do seu desempenho, pelo que<br />
os computadores não aparecem no Top<br />
500, uma lista semestral dos supercomputadores<br />
mais rápidos. «Os chineses estão<br />
preocupados com o facto de os EUA imporem<br />
mais limites na tecnologia que vai<br />
para a China e estão relutantes em revelar<br />
quantas destas máquinas de alto desempenho<br />
estão disponíveis», diz Dongarra,<br />
que concebeu o teste de referência que os<br />
QUANDO O FRONTIER ENTROU EM FUNCIONAMENTO, MARCOU<br />
O INÍCIO DA COMPUTAÇÃO “EXASCALE”, COM MÁQUINAS QUE<br />
PODEM EXECUTAR UM “EXAFLOP” – OU UM TRILIÃO (1018) DE<br />
OPERAÇÕES DE VÍRGULA FLUTUANTE POR SEGUNDO<br />
supercomputadores têm de executar para<br />
o Top 500.<br />
A fome de mais poder de computação<br />
não pára com o exascale. Oak Ridge já está<br />
a pensar na próxima geração de computadores,<br />
indica Messer. Estes teriam três a<br />
cinco vezes mais capacidade de computação<br />
do que o Frontier. Mas há um grande<br />
desafio: o enorme consumo de energia. A<br />
energia que o Frontier consome, mesmo<br />
quando funciona em vazio, é suficiente<br />
para dar energia a milhares de casas. «É<br />
provável que não seja sustentável criarmos<br />
máquinas cada vez maiores», assinala.<br />
Como Oak Ridge tem criado supercomputadores<br />
cada vez maiores, os engenheiros<br />
têm trabalhado para melhorar a<br />
eficiência das máquinas com inovações que<br />
incluem um novo método de arrefecimento.<br />
O Summit, o antecessor do Frontier que<br />
ainda funciona em Oak Ridge, gasta cerca<br />
de 10% do seu consumo total de energia<br />
para se arrefecer. Em comparação, 3% a 4%<br />
do consumo de energia do Frontier é para<br />
arrefecimento. Esta melhoria resulta da<br />
utilização de água à temperatura ambiente<br />
para arrefecer o supercomputador, em vez<br />
de água refrigerada.<br />
Os supercomputadores da próxima geração<br />
conseguirão simular ainda mais escalas<br />
em simultâneo. Por exemplo, com o<br />
Frontier, a simulação da galáxia de Schneider<br />
tem uma resolução de dezenas de anos-<br />
-luz. Mas isso ainda não é suficiente para<br />
chegar à escala das supernovas individuais,<br />
pelo que os investigadores têm de simular<br />
as explosões individuais separadamente.<br />
Um futuro supercomputador poderá conseguir<br />
unir todas estas escalas.<br />
Ao simularem a complexidade da natureza<br />
e da tecnologia de forma mais realista,<br />
estes supercomputadores alargam os limites<br />
da ciência. Uma simulação mais realista<br />
de uma galáxia coloca a vastidão do universo<br />
na ponta dos dedos dos cientistas. Um<br />
modelo exacto da turbulência do ar em torno<br />
da ventoinha de um avião evita a necessidade<br />
de construir um túnel de vento de<br />
custo proibitivo. Melhores modelos climáticos<br />
permitem aos cientistas prever o destino<br />
do nosso planeta. Por outras palavras,<br />
dão-nos uma nova ferramenta para nos<br />
prepararmos para um futuro incerto.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 51
TRABALHO<br />
INTELIGÊNCIA DO<br />
PARA AS ORGANIZAÇÕES<br />
TOTALMENTE REMOTAS,<br />
A INTEGRAÇÃO DE DEBATES SOBRE<br />
BEM-ESTAR NAS AVALIAÇÕES<br />
ANUAIS E O INÍCIO<br />
DE REUNIÕES DE EQUIPA REMOTAS,<br />
COM UMA RÁPIDA RONDA DE<br />
RELATÓRIOS DE BEM-ESTAR,<br />
PODEM SER UMA FORMA<br />
SIMPLES DE DEMONSTRAR QUE<br />
O BEM-ESTAR<br />
DOS COLABORADORES<br />
É IMPORTANTE<br />
52 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
TRABALHO<br />
UM CONJUNTO DE<br />
COMPETÊNCIAS PARA<br />
O NOVO MUNDO DO<br />
TRABALHO<br />
BEM-ESTAR<br />
O aumento do número de dias de baixa por doença dos<br />
trabalhadores está a tornar-se uma preocupação em<br />
muitos países desenvolvidos.<br />
POR THOMAS ROULET E KIRAN BHATTI MIT SLOAN MANAGEMENT REVIEW<br />
a Suécia, o número de dias de baixa por trabalhador aumentou<br />
um dia inteiro por ano de 2021 a 2022. Nos EUA, a taxa<br />
N<br />
de absentismo é a mais elevada há uma década; só em Dezembro<br />
de 2022, estima-se que 1,5 milhões de norte-americanos<br />
tenham faltado ao trabalho.<br />
Embora as vagas contínuas de infecções por Covid-19 tenham<br />
desempenhado um papel no absentismo, há também<br />
provas de um aumento dos problemas de saúde mental, que<br />
foram responsáveis por 20% dos dias de baixa utilizados em França em 2022<br />
– um aumento de 17% em 2021 e 15% em 2020. Para o Serviço Nacional de<br />
Saúde do Reino Unido, o custo dos dias de baixa por doença relacionados<br />
com problemas de saúde mental duplicou desde o início da pandemia, totalizando<br />
quase 500 milhões por ano.<br />
Há muitas explicações que se sobrepõem para esta aparente diminuição<br />
do bem-estar no trabalho. O mais óbvio é que estamos a emergir de uma<br />
pandemia global que exigiu que, tanto organizações como trabalhadores, fossem<br />
resilientes face a condições de trabalho stressantes, para além das preocupações<br />
com a saúde e a família. Se acrescentarmos uma crise de custo de<br />
vida, é evidente que a ansiedade começa a<br />
dominar a nossa experiência de trabalho.<br />
Além disso, quando os colegas se ausentam<br />
devido a doenças ou problemas de saúde<br />
mental, isso pode criar um efeito dominó,<br />
uma vez que os que ficam para trás têm de<br />
assumir responsabilidades adicionais a curto<br />
prazo.<br />
Muitas organizações, como a Vitality, a<br />
Salesforce e a Infosys, conceberam aquilo<br />
a que chamamos estratégias organizacionais<br />
para o bem-estar, mediante iniciativas<br />
como a reformulação da sua cultura e a<br />
oferta de benefícios directos de bem-estar.<br />
Estas mudanças podem envolver a formação<br />
de líderes em bem-estar, a oferta de benefícios,<br />
como meditação ou aplicações de<br />
bem-estar, ou o acesso a aconselhamento.<br />
A tendência para o aumento dos dias<br />
de baixa por doença e dos problemas de<br />
saúde mental exige que se concentre a<br />
atenção nestas iniciativas de bem-estar no<br />
local de trabalho. Propomos o conceito de<br />
inteligência do bem-estar para os gestores<br />
como um conjunto de competências e uma<br />
ferramenta para compreender e melhorar o<br />
seu próprio bem-estar e o dos seus trabalhadores.<br />
À medida que os desafios no local<br />
de trabalho aumentam, a inteligência do<br />
bem-estar torna-se uma competência de liderança<br />
essencial. Os gestores eficazes devem<br />
conseguir detectar quando os outros<br />
têm dificuldades no seu bem-estar, e saber<br />
quando e como oferecer apoio.<br />
Muitas pessoas estão familiarizadas<br />
com o conceito de inteligência emocional<br />
– a maneira como as pessoas compreendem<br />
as suas próprias emoções, as regulam<br />
e abordam as emoções dos outros – popularizado<br />
por Dan Goleman no seu livro.<br />
Embora as emoções e o bem-estar estejam<br />
interligados, diferem na sua definição e no<br />
seu impacto no trabalho. As emoções são<br />
mais difusas e o seu efeito no trabalho é<br />
menos directo do que o do bem-estar. Podemos<br />
experimentar uma grande variedade<br />
de emoções durante um curto período,<br />
com o nosso humor a mudar consoante<br />
o contexto, as pessoas à nossa volta ou os<br />
nossos próprios pensamentos. O bem-estar,<br />
no entanto, é um estado a longo prazo,<br />
que influencia o comportamento e as interacções<br />
no local de trabalho e fora dele.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 53
TRABALHO<br />
Círculos da inteligência do bem-estar<br />
Quando os líderes reconhecem que<br />
existem problemas de saúde mental no local<br />
de trabalho, podem mudar a cultura e aumentar<br />
a consciencialização para esta preocupação<br />
premente. Líderes de todos os níveis<br />
podem sentir-se deprimidos, ansiosos e<br />
stressados no trabalho, mas, ao reconhecer<br />
e abordarem as causas profundas, podem<br />
demonstrar o seu empenho em apoiar o seu<br />
próprio bem-estar e o dos outros.<br />
O modelo abaixo resume os conjuntos<br />
de competências essenciais da inteligência<br />
do bem-estar: identificar os principais<br />
desafios da saúde mental, como o stress<br />
e a ansiedade; reconhecer as suas causas<br />
profundas; e conceber abordagens para os<br />
resolver a nível individual, da equipa e da<br />
organização. O primeiro passo é desenvolver<br />
a autoconsciência do próprio bem-estar.<br />
Esta permite que os indivíduos compreendam<br />
os seus pensamentos, sentimentos e<br />
comportamentos, e ajustem as práticas de<br />
trabalho individuais em conformidade para<br />
o autocuidado.<br />
Compreender o nosso próprio bem-estar<br />
ajuda-nos a perceber e a explicar como o<br />
dos outros também pode ser afectado, a detectar<br />
os desafios que enfrentam e a agir relativamente<br />
a esses problemas e aos nossos<br />
(que podem ser os mesmos). Por sua vez,<br />
observar e agir sobre o bem-estar permitirá<br />
aprender com a experiência, ajudando,<br />
em última análise, os gestores a implementarem<br />
mudanças ao nível da equipa. Isto,<br />
por sua vez, alargará o apoio ao bem-estar<br />
e encorajará o desenvolvimento de normas<br />
positivas em toda a organização.<br />
dos outros é limitado. Para serem atentos,<br />
ponderados, resilientes e colaborativos, os<br />
gestores devem começar por se concentrar<br />
no seu próprio bem-estar e adoptar as seguintes<br />
medidas:<br />
Auto-avaliar continuamente a sua própria<br />
saúde mental – nesta primeira etapa,<br />
reflectimos sobre as nossas experiências no<br />
trabalho e identificamos como estas afectam<br />
o nosso bem-estar, positiva ou negativamente.<br />
O stress é actualmente provocado<br />
por interacções específicas no trabalho ou<br />
por períodos específicos, como prazos orçamentais?<br />
Ou é a experiência de um sentimento<br />
persistente de pavor – típico da<br />
ansiedade – quando vamos para o trabalho?<br />
A inteligência do bem-estar requer uma auto-reflexão<br />
contínua, em vez de se ignorar<br />
as necessidades até que estas se tornem demasiado<br />
graves para o serem.<br />
Fazer mudanças concretas na sua própria<br />
abordagem ao trabalho – a auto-análise<br />
permite que os líderes façam alterações<br />
nas práticas ou estruturas de trabalho<br />
Inteligência do bem-estar na prática<br />
A aplicação da inteligência do bem-estar<br />
exige um esforço dedicado e uma mudança<br />
de comportamento a três níveis.<br />
1. Dar prioridade ao bem-estar individual.<br />
O primeiro passo de um gestor para<br />
aumentar a sua inteligência de bem-estar é<br />
olhar para dentro de si próprio para reconhecer<br />
os seus próprios desafios de saúde<br />
mental no trabalho e identificar as suas<br />
fontes. Sem a capacidade de compreender<br />
o que afecta a nossa própria saúde mental<br />
e quais os desafios que enfrentamos, o<br />
nosso potencial para resolver os problemas<br />
54 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
TRABALHO<br />
MUITAS ORGANIZAÇÕES, COMO<br />
A VITALITY, A SALESFORCE<br />
E A INFOSYS, CONCEBERAM AQUILO<br />
A QUE CHAMAMOS ESTRATÉGIAS<br />
ORGANIZACIONAIS PARA O BEM-ESTAR,<br />
MEDIANTE INICIATIVAS COMO<br />
A REFORMULAÇÃO<br />
DA SUA CULTURA E A OFERTA<br />
DE BENEFÍCIOS DIRECTOS<br />
DE BEM-ESTAR<br />
que respondam aos desafios. Por exemplo,<br />
descobrimos que, no contexto do trabalho<br />
híbrido, quando a abundância de reuniões<br />
provocava um aumento dos níveis de stress,<br />
o bem-estar dos executivos seniores beneficiava<br />
mais com as horas de enfoque. Na<br />
sequência do stress, os gestores podem rever<br />
a sua gestão do tempo no trabalho e reafectar<br />
tarefas para protegerem o seu próprio<br />
tempo de enfoque. Os gestores inteligentes<br />
em termos de bem-estar também têm mais<br />
probabilidade de proteger o seu tempo livre,<br />
prevenindo o burnout.<br />
2. Melhorar o bem-estar da equipa.<br />
Embora a auto-avaliação seja essencial para<br />
a inteligência de bem-estar, é provável que<br />
os problemas enfrentados por um indivíduo<br />
sejam sentidos por outros membros da<br />
equipa. Por conseguinte, o conhecimento e<br />
a compreensão pessoais destas questões podem<br />
ajudar a resolvê-las colectivamente ao<br />
tomar as medidas seguintes:<br />
Avaliar o bem-estar dos membros da<br />
equipa – a realização de breves inquéritos<br />
de opinião é uma boa forma de obter dados<br />
anónimos sobre a saúde mental dos<br />
colaboradores, uma vez que permite que as<br />
pessoas comuniquem os problemas discre-<br />
tamente. A um nível mais pessoal, quando<br />
a confiança tiver sido estabelecida, reuniões<br />
anuais de avaliação ou mesmo conversas<br />
informais podem ser ferramentas úteis para<br />
avaliar os desafios de bem-estar que os colaboradores<br />
enfrentam. As informações<br />
recolhidas através destes esforços podem<br />
ser avaliadas e tratadas pelos gestores que<br />
compreendem como e porquê desafios semelhantes<br />
aos seus podem afectar os trabalhadores.<br />
Se os gestores observarem desafios<br />
de bem-estar entre os seus colegas<br />
que diferem dos seus, a experiência de terem<br />
aprendido e abordado os seus próprios<br />
problemas tê-los-á provavelmente ensinado<br />
a desenvolver uma abordagem sistemática<br />
para separar os problemas de bem-estar das<br />
suas causas profundas.<br />
Melhorar as práticas de trabalho – as informações<br />
recolhidas através das avaliações<br />
podem fornecer provas e criar ímpeto para<br />
se mudar as práticas organizacionais, e o<br />
próprio processo cria uma consciencialização<br />
e aceitação das questões de saúde mental<br />
em geral. Ao nível da gestão, as pequenas<br />
mudanças são importantes; impor horários<br />
de trabalho limitados, encorajar um equilíbrio<br />
saudável entre a vida profissional e<br />
a vida privada, ou estabelecer pausas dedicadas<br />
e dias sem reuniões pode fazer uma<br />
diferença significativa nos membros da<br />
equipa. Convidar os trabalhadores com dificuldades<br />
a pedir apoio à sua equipa ou aos<br />
seus gestores melhorará o bem-estar, tanto<br />
directa como indirectamente, reduzindo a<br />
vergonha e o estigma frequentemente associados<br />
aos problemas de saúde mental.<br />
3. Promover a mudança sistémica.<br />
Compreender e dar prioridade ao bem-estar<br />
individual e da equipa pode desencadear<br />
uma mudança mais ampla e inspirar novas<br />
abordagens nas organizações.<br />
Alargar o apoio organizacional ao bem-<br />
-estar – algumas questões de bem-estar exigem<br />
um apoio a um nível mais elevado do<br />
que aquele que um gestor individual pode<br />
dar. As políticas organizacionais relativas a<br />
acordos de trabalho flexíveis ou tempo livre<br />
são cruciais para garantir que os colaboradores<br />
preservem limites fortes entre o seu<br />
lado profissional e pessoal. Se a carga de<br />
trabalho for um problema importante, pode<br />
ser útil melhorar a concepção das funções,<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 55
TRABALHO<br />
redistribuir as tarefas, ou considerar formas<br />
de aumentar o pessoal ou o apoio em áreas<br />
específicas da organização.<br />
Alterar as normas organizacionais – algumas<br />
normas organizacionais – a maneira<br />
como o feedback é fornecido, os estilos de<br />
comunicação da gestão (principalmente se<br />
os gestores comunicam depois do horário<br />
de trabalho), ou as atitudes em relação a faltas<br />
por doença – podem desencadear problemas<br />
de bem-estar. Identificar e abordar<br />
estas normas a nível individual e de equipa<br />
podem ajudar a mudar essas práticas bem<br />
enraizadas. Destacar as consequências dessas<br />
normas negativas e incentivar boas práticas<br />
em torno do feedback, da comunicação<br />
e das interacções no local de trabalho<br />
podem levar a uma mudança duradoura.<br />
Desenvolver a inteligência<br />
do bem-estar<br />
A inteligência do bem-estar não é uma<br />
competência inata, e aprender, explorar e<br />
avaliar potenciais soluções para questões<br />
relacionadas com a saúde mental implica<br />
um esforço consciente. Avaliar se as mudanças<br />
melhoraram com sucesso o bem-estar<br />
pode ajudar os gestores a determinarem<br />
se o diagnóstico inicial era exacto, ou se<br />
uma abordagem alternativa seria mais eficaz.<br />
Esta baseia-se na recolha contínua de<br />
feedback dos colaboradores, mediante inquéritos<br />
formais e anónimos ou conversas<br />
informais individuais. Variáveis mais tangíveis,<br />
como a rotatividade ou o aumento do<br />
número de dias de baixa, são também indicadores<br />
óbvios de problemas actuais.<br />
Os problemas de bem-estar podem levar<br />
algum tempo a surgir e a ser resolvidos<br />
à medida que os gestores ajustam as mudanças.<br />
A inteligência do bem-estar implica<br />
descobrir como as mudanças afectam<br />
o bem-estar, e modificar essas abordagens<br />
MUITAS PESSOAS ESTÃO FAMILIARIZADAS COM O CONCEITO<br />
DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – A MANEIRA COMO COMPREENDEM<br />
AS SUAS PRÓPRIAS EMOÇÕES, AS REGULAM E ABORDAM<br />
AS EMOÇÕES DOS OUTROS<br />
para garantir a sua eficácia. Além disso, a<br />
sensibilização para estas questões e a criação<br />
de uma coligação na organização são<br />
cruciais para liderar a mudança.<br />
As empresas podem também considerar<br />
a possibilidade de dar formação adaptada<br />
aos colaboradores sobre a detecção<br />
de problemas de saúde mental, incluindo<br />
o reconhecimento de sinais e sintomas de<br />
stress, ansiedade ou depressão. O stress e<br />
a ansiedade são muitas vezes confundidos<br />
– porque aparecem frequentemente em simultâneo<br />
–, mas a ansiedade é vista como<br />
uma apreensão persistente e uma preocupação<br />
avassaladora. O stress é um estado de<br />
curto prazo, normalmente causado por um<br />
factor externo, como um prazo apertado<br />
ou uma reunião com um colega particularmente<br />
intimidante. O burnout é frequentemente<br />
o resultado de stress prolongado<br />
e não tratado; identificar os problemas à<br />
medida que surgem pode ajudar os gestores<br />
a detectar o burnout e a resolverem o problema<br />
antes que se torne crítico.<br />
Um desafio permanente à aprendizagem<br />
e ao desenvolvimento da inteligência<br />
do bem-estar é a mudança para o trabalho<br />
híbrido. Detectar problemas de bem-estar<br />
em interacções mediadas por ecrã ou áudio<br />
é mais difícil. Os sinais de stress ou ansiedade<br />
visíveis nas interacções frente a frente<br />
podem ser muito mais difíceis de discernir<br />
num contexto remoto. Os gestores podem<br />
ter de se basear no tom de voz, nos silêncios<br />
das conversas ou na velocidade do discurso,<br />
em vez de recorrerem a sinais não verbais<br />
típicos, para detectar o stress ou a ansiedade<br />
dos colegas. Os sinais comportamentais,<br />
como dificuldade em manter o volume de<br />
trabalho, isolamento dos membros da equipa<br />
durante as reuniões, atrasos frequentes,<br />
ou incumprimento de prazos, também podem<br />
indicar uma quebra no bem-estar.<br />
A inteligência do bem-estar exigirá,<br />
portanto, a capacidade de conduzir discussões<br />
delicadas sobre saúde mental no contexto<br />
da comunicação online. Desenvolver<br />
confiança durante as interacções presenciais<br />
pode facilitar as partilhas online. Para<br />
as organizações totalmente remotas, a integração<br />
de debates sobre bem-estar nas<br />
avaliações anuais e o início de reuniões de<br />
equipa remotas, com uma rápida ronda de<br />
relatórios de bem-estar, podem ser uma forma<br />
simples de demonstrar que o bem-estar<br />
dos colaboradores é importante.<br />
A pandemia tornou claro que o investimento<br />
em inteligência do bem-estar já não<br />
é opcional; é essencial tanto para o bem-estar<br />
dos trabalhadores como para o sucesso<br />
das organizações. Não é rebuscado imaginar<br />
um futuro em que os gestores são regularmente<br />
questionados sobre as próprias<br />
práticas de saúde mental e as medidas que<br />
tomaram para promover o bem-estar dos<br />
membros da equipa. As organizações que<br />
promovem a inteligência do bem-estar não<br />
se limitam a criar uma força de trabalho<br />
mais saudável e produtiva; constroem uma<br />
vantagem competitiva para o futuro.<br />
56 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
TRABALHO<br />
COMO APROVEITAR OS ERROS<br />
PARA CRIAR UMA CULTURA<br />
DE APRENDIZAGEM<br />
Erros e incidentes<br />
importantes acontecem<br />
inevitavelmente:<br />
websites vão abaixo,<br />
produtos partem-se,<br />
clientes ficam zangados.<br />
POR BEN LAKER MIT SLOAN<br />
MANAGEMENT REVIEW<br />
A<br />
maneira como os líderes reagem e respondem pode revelar a cultura de<br />
uma organização – para o melhor ou para o pior. A culpa leva a apontar<br />
o dedo, ressentimentos, desconfiança e comportamentos pouco produtivos.<br />
Pode causar a estagnação de uma organização, com as pessoas a sentirem<br />
que os seus esforços não são valorizados. Em contraste, responder<br />
sem atribuir culpas cria um ambiente de aprendizagem e crescimento em<br />
que os colaboradores reconhecem que os erros fazem parte do processo e os seus esforços<br />
são apreciados – uma cultura sem culpas.<br />
Numa cultura sem culpas, os líderes responsabilizam os processos, não as pessoas. Eles<br />
concentram-se em compreender por que é que algo aconteceu, e não quem é culpado. Ao<br />
esforçarem-se por identificar a causa de um problema, criam sistemas que impedem que ele<br />
volte a acontecer. Os líderes de culturas sem culpas também reconhecem que fazem parte<br />
do sistema, portanto assumem a responsabilidade pelos seus próprios erros – tais como<br />
comunicar insuficientemente sobre uma questão importante ou tomar uma má decisão – e<br />
58 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
Ben Laker (@drbenlaker)<br />
É professor de Liderança na Henley Business<br />
School da Universidade de Reading e co-autor<br />
de “Too Proud to Lead”.<br />
não esperam a perfeição de si próprios ou<br />
dos outros. Isto encoraja os colaboradores<br />
a serem abertos sobre os seus erros e<br />
a usá-los como oportunidades de aprendizagem,<br />
em vez de os esconderem com<br />
medo de represálias.<br />
Como sugere a teoria de segurança psicológica<br />
de Amy C. Edmondson, ao reconhecerem<br />
que os erros são inevitáveis, as<br />
organizações permitem aos trabalhadores<br />
experimentar e correr riscos sem medo<br />
de sanções ou constrangimentos. Isto encoraja<br />
a resolução criativa de problemas,<br />
a colaboração e a inovação – componentes<br />
essenciais de empresas de sucesso. A<br />
criação de espaços onde os colaboradores<br />
se sintam seguros para experimentar algo<br />
novo e, crucialmente, para cometerem erros<br />
sem medo de repercussões ou juízos de<br />
valor, ajuda a encorajá-los a sair das suas<br />
zonas de conforto, a aprender com as suas<br />
experiências e a desenvolver soluções inovadoras<br />
que impulsionam a organização.<br />
CULTURALMENTE,<br />
É MELHOR ENCORAJAR OS<br />
COLABORADORES A TENTAR,<br />
MESMO QUE POSSAM FALHAR,<br />
DO QUE TENTAR EVITAR<br />
O FRACASSO A TODO O<br />
CUSTO; AFINAL, A MELHOR<br />
MANEIRA DE APRENDER É<br />
ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA<br />
TRABALHO<br />
Em última análise, o objectivo deve ser<br />
criar um ambiente onde todos se sintam<br />
confortáveis a cometer erros e a aprender<br />
com eles para se tornarem melhores<br />
– uma cultura de melhoria contínua. Isto<br />
não significa que os erros devam ser negligenciados;<br />
pelo contrário, devem ser<br />
tratados de forma construtiva. Eis três formas<br />
de usar os erros para evoluir.<br />
1. Ver os incidentes como oportunidades.<br />
Há um velho ditado: se transformar<br />
algo numa métrica, tornar-se-á o objectivo.<br />
Em teoria, faz sentido que um líder<br />
queira ver o número de incidentes diminuir<br />
ao longo do tempo. Mas quando isto<br />
se torna a métrica, os engenheiros que são<br />
avaliados por ela podem adiar o reconhecimento<br />
dos incidentes, ou considerá-los<br />
encerrados antes de estarem totalmente<br />
resolvidos, o que pode levar a uma cultura<br />
que evita incidentes e tem equipas a trabalhar<br />
24 horas para evitar cometer erros.<br />
Culturalmente, é melhor encorajar os<br />
colaboradores a tentar, mesmo que possam<br />
falhar, do que tentar evitar o fracasso<br />
a todo o custo; afinal, a melhor maneira de<br />
aprender é através da experiência. Em vez<br />
de se basear a métrica de desempenho na<br />
prevenção de incidentes, é essencial incentivar<br />
os colaboradores a aprenderem.<br />
Concentre as suas métricas na consciência<br />
da rapidez com que os incidentes são<br />
resolvidos e como as equipas estão preparadas<br />
para lidar com eles – e não apenas<br />
em evitá-los. Isto pode fomentar uma cultura<br />
onde o fracasso é aceite como parte<br />
do processo, encorajando a inovação e a<br />
criatividade. Promover um ambiente de<br />
crescimento e aprendizagem desta forma<br />
pode estimular os colaboradores a experimentarem<br />
coisas novas, a aprenderem novas<br />
competências, e a envolverem-se mais<br />
no seu trabalho à medida que evoluem, o<br />
que ajuda a estimular um melhor desempenho<br />
e produtividade a longo prazo.<br />
Simultaneamente, é essencial assegurar<br />
que os colaboradores se sentem apoiados e<br />
têm acesso aos recursos de que necessitam<br />
para serem bem-sucedidos. Por exemplo,<br />
as equipas podem necessitar de software<br />
de gestão de projectos, ou de uma base de<br />
dados de melhores práticas para os ajudar<br />
a trabalhar mais eficazmente, ou podem<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 59
TRABALHO<br />
beneficiar de programas de mentoria. A<br />
garantia de que os trabalhadores estão<br />
equipados com as ferramentas e a formação<br />
certas pode contribuir em muito para<br />
os ajudar a aprender com os seus erros.<br />
2. Recompensar as pessoas pela partilha<br />
de conhecimentos. Todos ouvimos a<br />
história do “herói de serviço” – o colaborador<br />
que recebeu uma chamada a meio da<br />
noite porque o website estava em baixo,<br />
saltou para a frente do seu computador e<br />
salvou o dia. Porque é que recebeu a chamada?<br />
Por ser o único que sabia como funciona<br />
um determinado serviço. Embora<br />
esta pessoa mereça certamente ser elogiada<br />
por esses esforços, a verdade é esta: depender<br />
de um único colaborador para resolver<br />
um problema pode tornar-se um perigoso<br />
ponto único de fracasso. E se ele estiver<br />
doente quando surgir a próxima questão<br />
urgente? E se ele sair da empresa?<br />
Os líderes devem incentivar e felicitar<br />
aqueles que partilham os seus conhecimentos<br />
institucionais com o mesmo entusiasmo<br />
com que celebram os momentos de herói<br />
de serviço (se não mais). Por exemplo,<br />
os líderes podem criar recompensas para<br />
os membros da equipa que documentam<br />
processos e partilham informações com os<br />
colegas, ou criar um orçamento para formação<br />
externa ou oportunidades internas.<br />
Os líderes também precisam de assegurar<br />
que os membros da equipa têm as<br />
ferramentas, modelos e processos adequados<br />
para partilhar facilmente informações<br />
com os seus colegas de equipa. Isto ajudará<br />
a criar uma cultura onde todos, e não apenas<br />
os heróis solitários, podem contribuir<br />
– e, claro, evita futuros incidentes através<br />
da concentração de conhecimentos especializados<br />
dos colaboradores. Isto pode<br />
implicar o estabelecimento de uma página<br />
wiki para documentos da equipa, a criação<br />
de gravações em vídeo de passagens de<br />
pastas, ou a utilização de software que encoraja<br />
a colaboração.<br />
3. Rever o que correu mal para seguir<br />
em frente. Para que uma empresa aprenda<br />
verdadeiramente com um incidente, os<br />
membros da equipa devem estar à vontade<br />
NÃO TENHA MEDO<br />
DE COMETER ERROS;<br />
ABRACE-OS COMO<br />
OPORTUNIDADES PARA<br />
COLABORADORES E<br />
ORGANIZAÇÃO ATINGIREM O<br />
SEU PLENO POTENCIAL<br />
para discutir o fracasso ou levantar potenciais<br />
problemas, sem medo de punição ou<br />
represálias. Uma forma de criar este tipo<br />
de cultura é utilizar as reuniões pós-incidente<br />
como momentos de aprendizagem, e<br />
não como inquisições. Ao fazê-lo, as organizações<br />
podem melhorar continuamente,<br />
crescer e alcançar as suas metas e objectivos,<br />
através destas lições aprendidas.<br />
Ao dedicarem tempo a documentar,<br />
reflectir e discutir incidentes críticos, as<br />
organizações estarão mais bem equipadas<br />
para compreender como problemas particulares<br />
afectam as operações, identificar<br />
áreas que necessitam de melhoria, e usar<br />
essas ideias para fazer mudanças e desenvolver<br />
estratégias mais eficazes. Isto também<br />
ajuda a criar um ambiente onde todos<br />
se sentem capacitados para assumir riscos e<br />
falar quando vêem que algo está errado – e<br />
ajuda a criar a noção de responsabilidade<br />
dos colaboradores dentro da organização.<br />
Para criar uma cultura de interrogação<br />
aberta, desenvolva um processo de comunicação<br />
de erros sem repercussão e encoraje<br />
os membros da equipa a pronunciarem-se<br />
se notarem algo que possa causar um problema<br />
no futuro. Esta abordagem cria confiança<br />
dentro da equipa e pode levar a uma<br />
melhor comunicação na identificação de riscos<br />
e na sua rápida abordagem. Em última<br />
análise, o objectivo é que as equipas trabalhem<br />
em conjunto para identificar e abordarem<br />
potenciais riscos antes que estes criem<br />
questões ou crises mais significativas.<br />
Os incidentes críticos criam excelentes<br />
oportunidades de aprendizagem, e as organizações<br />
mais bem-sucedidas reconhecem<br />
a importância de aprender com os erros.<br />
Ao procurarem activamente áreas onde<br />
podem ser feitas melhorias, avaliarem o<br />
impacto das mudanças, e investirem numa<br />
cultura de crescimento e melhoria contínua,<br />
as organizações podem criar um ambiente<br />
onde todos trabalham em conjunto<br />
para alcançar o sucesso. Aprender com os<br />
erros fomenta uma cultura de crescimento<br />
e colaboração que ajudará a sua organização<br />
a prosperar nos anos vindouros. Não<br />
tenha medo de cometer erros; em vez disso,<br />
abrace-os como oportunidades para ajudar<br />
os seus colaboradores e a sua organização a<br />
atingir o seu pleno potencial.<br />
60 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
1 ANO<br />
ASSINATURA<br />
4 EDIÇÕES *<br />
€9 ,00<br />
2 ANOS<br />
ASSINATURA<br />
8 EDIÇÕES *<br />
€16 ,00 VALORES<br />
RECEBA A SUA ASSINATURA EM CASA OU NO ESCRITÓRIO!<br />
Para mais informações ligue 210 123 400 ou email assinaturas@multipublicacoes.pt<br />
Assine já em: https://assinaturas.multipublicacoes.pt/<br />
VÁLIDOS PARA<br />
CONTINENTE<br />
E ILHAS
SUSTENTABILIDADE<br />
A IMPORTÂNCIA DA<br />
RESPONSABILIDADE<br />
POLÍTICA EMPRESARIAL<br />
O mundo empresarial sente-se cada vez mais<br />
inspirado, genuinamente, pela ideia de criar negócios<br />
mais sustentáveis.<br />
POR ANDREW WINSTON, ELIZABETH DOTY E THOMAS LYON<br />
MIT SLOAN MANAGEMENT REVIEW<br />
A<br />
s organizações são motivadas pela pressão dos seus colaboradores,<br />
clientes, investidores, outros stakeholders, e dos seus próprios valores<br />
– bem como pela crescente clareza sobre as oportunidades<br />
(e requisitos) das grandes transições económicas e tecnológicas já<br />
em curso (como, por exemplo, descarbonizar o mundo inteiro).<br />
Os verdadeiros líderes olham para além do exercício reactivo de atingir os<br />
objectivos de uma iniciativa ambiental, social e de governance (ESG) e procuram<br />
criar algo melhor – um negócio que prospera enquanto ajuda o mundo. Estas<br />
empresas têm um impacto positivo líquido no planeta e na sua população ao<br />
assumirem, entre outras coisas, a responsabilidade por todos os seus impactos,<br />
intencionais ou não; servirem todos os stakeholders, e não apenas os accionistas;<br />
ajudarem a resolver os maiores desafios da sociedade; e permitirem a mudança<br />
para uma economia próspera e regenerativa. No entanto, muitas vezes estes mesmos<br />
líderes não vêem algo fundamental para a criação de um negócio melhor e<br />
mais positivo: a questão de saber o que defendem e o que apoiam quando entram<br />
na esfera pública.<br />
A maior parte das empresas depende de um modelo antigo de envolvimento<br />
político com governos e sociedade civil, compartimentando as suas actividades<br />
de influência política num silo organizacional, tal como costumavam fazer com<br />
as suas cadeias de abastecimento. (Por “influência política”, entendemos acções<br />
destinadas a influenciar processos eleitorais, governamentais ou cívicos de uma<br />
nação, estado ou município, directamente ou por terceiros, incluindo despesas<br />
políticas, lobby e advocacia, comunicação com os colaboradores, comunicação<br />
externa e outras influências no discurso cívico.) As associações profissionais – e<br />
muitas vezes os seus próprios departamentos de relações governamentais – lutam<br />
por defeito contra todos os regulamentos, incluindo os que realinhariam os<br />
interesses privados com o bem público.<br />
62 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
SUSTENTABILIDADE<br />
OS VERDADEIROS LÍDERES OLHAM PARA ALÉM DO EXERCÍCIO<br />
REACTIVO DE ATINGIR OS OBJECTIVOS DE UMA INICIATIVA<br />
AMBIENTAL, SOCIAL E DE GOVERNANCE (ESG)<br />
E PROCURAM CRIAR ALGO MELHOR – UM NEGÓCIO<br />
QUE PROSPERA ENQUANTO AJUDA O MUNDO<br />
Isso pode colocá-las no lado errado das<br />
mudanças políticas necessárias para criar o<br />
mundo mais sustentável que muitas vezes se<br />
comprometeram publicamente a construir.<br />
Esta inconsistência coloca-as na mira de<br />
muitos stakeholders e torna-as vulneráveis a<br />
ataques, seja por não apoiarem os seus compromissos<br />
sociais e ambientais com acções<br />
políticas ou, no outro extremo do espectro,<br />
por ousarem assumir esses compromissos<br />
sociais. As empresas gerem visões contraditórias<br />
sobre quando e como devem utilizar<br />
as suas vozes e a sua influência política.<br />
Um exemplo recente é a montanha-<br />
-russa que tem sido o envolvimento da BP<br />
em matéria de política climática no estado<br />
de Washington. Há alguns anos, a empresa<br />
gastou quase 12 milhões de euros com o<br />
objectivo de derrotar uma votação estatal<br />
para impor um preço no carbono. É fácil<br />
interpretar a acção como algo que dá prioridade<br />
aos interesses limitados e de curto<br />
prazo da BP. Mas, mais recentemente, a BP<br />
apoiou uma lei do estado de Washington<br />
que colocaria um limite global às emissões<br />
de carbono do estado. Podemos debater os<br />
méritos de um limite ou de um imposto,<br />
mas pelo menos a BP apoiou as novas regras<br />
do jogo, conciliando os incentivos de<br />
mercado com o bem público mais abrangente,<br />
de fazer algo sobre as alterações climáticas,<br />
alinhando assim melhor a empresa<br />
com os seus próprios compromissos de<br />
sustentabilidade, que visam ajudar o mundo<br />
a chegar à neutralidade carbónica.<br />
Agir com responsabilidade no envolvimento<br />
político pode exigir coragem se for<br />
contra o dogma do sector, ou se for contra<br />
questões sociais importantes, onde as empresas<br />
enfrentam a ameaça crescente de<br />
retaliação política. A experiência da Disney<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 63
SUSTENTABILIDADE<br />
nos seus esforços na Florida para apoiar colaboradores<br />
e clientes LGBTQ – e os subsequentes<br />
ataques do governador do estado<br />
– oferece um exemplo de aviso sobre os<br />
desafios de fazer o que está certo.<br />
No ambiente político litigioso de hoje,<br />
as despesas políticas de qualquer empresa<br />
podem colocá-la em situações complicadas,<br />
em que os seus valores ou prioridades<br />
declaradas (e o que os seus colaboradores<br />
mais expressivos podem querer) estão em<br />
desacordo com as pessoas a quem doou.<br />
No conjunto, estas práticas de despesas podem<br />
também contribuir para um ambiente<br />
político em que a retaliação governamental<br />
contra os críticos – uma marca de autoritarismo<br />
– se torna rotineira. É precisamente<br />
por esta razão que os executivos devem reconhecer<br />
o que está em jogo e pesar as suas<br />
responsabilidades de forma ponderada.<br />
COMO PONTO DE PARTIDA, OS LÍDERES DA EMPRESA PODEM<br />
ENVOLVER-SE COM OS SEUS PARES E STAKEHOLDERS<br />
INTERNOS E EXTERNOS PARA CONSIDERAREM AS SUAS<br />
RESPONSABILIDADES A CADA NÍVEL<br />
Gerir num mundo novo<br />
de envolvimento político<br />
Compreensivelmente, os líderes empresariais<br />
preocupam-se com o impasse político<br />
e se os seus países se alinham com as estruturas<br />
políticas e regulamentares estáveis de<br />
que necessitam para prosperar e cumprirem<br />
os seus compromissos de sustentabilidade.<br />
Mas é desonesto fingir que as empresas<br />
são apenas observadoras passivas de regulamentos,<br />
leis, ou do clima político. Muitas<br />
contribuíram propositadamente para o impasse,<br />
que lamentam através de mensagens<br />
contraditórias, doações e filiações de terceiros.<br />
As despesas políticas ajudam as empresas<br />
a eleger líderes que representam os seus<br />
interesses e a obter acesso quando precisam<br />
dele. As redes sociais, a publicidade, a filantropia<br />
e as relações públicas podem moldar<br />
o discurso cívico e as crenças culturais, influenciando<br />
votos e comportamentos. E<br />
com o lobby directo, as empresas não jogam<br />
apenas segundo as regras do jogo, elas moldam<br />
essas regras e como são aplicadas.<br />
Claramente, as empresas precisam de<br />
princípios e orientações gerais para gerir<br />
nestes terrenos políticos complicados e<br />
aplicar mais coerência e responsabilidade<br />
na sua influência. No mínimo, as organizações<br />
devem reconhecer a necessidade de<br />
uma gestão e enquadramentos mais consistentes,<br />
proactivos e integrados em termos<br />
de princípios para guiar as suas decisões<br />
sobre quando e como se devem envolver<br />
em assuntos políticos. Grande parte desta<br />
discussão insere-se na parte aparentemente<br />
menos interessante do ESG – a componente<br />
de governance, que pode moldar como<br />
uma empresa gere o resto.<br />
Até agora, a generalidade da atenção<br />
dada à acção política das empresas concentra-se<br />
na transparência. Nos EUA, a grande<br />
maioria dos cidadãos (incluindo a maior<br />
parte dos executivos e investidores) apoia a<br />
divulgação de despesas políticas, e dois terços<br />
das S&P 500 divulgam voluntariamente<br />
as suas despesas relacionadas com eleições.<br />
Recentemente, assistimos a uma expansão<br />
gradual da atenção, passando da transparência<br />
para a responsabilização. Colaboradores,<br />
investidores, clientes e peritos<br />
externos examinam agora regularmente se<br />
as influências políticas de uma empresa se<br />
alinham com os seus compromissos declarados<br />
de propósito, valores, sustentabilidade,<br />
stakeholders e objectivos empresariais.<br />
As empresas que se esforçam por prestar<br />
contas encaram compromissos cada vez<br />
mais complexos à medida que enfrentam<br />
as realidades do actual sistema político dos<br />
EUA e as armadilhas de hipocrisia que este<br />
cria. Perguntam: “Como alinhar as nossas<br />
despesas com os valores da nossa empresa?<br />
Quais os valores a que dou prioridade?<br />
Como promover políticas que permitam<br />
os nossos compromissos de neutralidade<br />
carbónica enquanto gerimos o risco de os<br />
legisladores prejudicarem as nossas empresas<br />
com uma assinatura?”<br />
Felizmente, o reconhecimento destes<br />
desafios começa a sugerir uma saída.<br />
As empresas precisam de uma visão mais<br />
ampla dos seus interesses e de passar da<br />
procura constante de questões individuais<br />
para a concentração na saúde dos sistemas<br />
maiores, dos quais as empresas e a humanidade<br />
dependem. Isto ainda significa reagir<br />
e enfrentar as crises à medida que estas<br />
ocorrem, mas também tomar uma posição<br />
proactiva e ajudar a reforçar os sistemas<br />
fundacionais que geram confiança cívica,<br />
coesão social e prosperidade generalizada.<br />
Significa também enfrentar as rupturas que<br />
geram desconfiança. Ao longo do último<br />
ano, à medida que falámos com decisores<br />
sobre estes desafios, encontrámos cada vez<br />
mais líderes convencidos da necessidade<br />
de ir além da transparência, e da responsabilidade<br />
de explorar a responsabilidade<br />
política empresarial, ou RPE. Esta é uma<br />
ideia desenvolvida por Tom e ampliada por<br />
Elizabeth no seu trabalho na Taskforce de<br />
Responsabilidade Política Empresarial da<br />
Universidade de Michigan.<br />
64 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024
SUSTENTABILIDADE<br />
UM EXEMPLO RECENTE É O QUE<br />
TEM SIDO O ENVOLVIMENTO<br />
DA BP EM MATÉRIA<br />
DE POLÍTICA CLIMÁTICA NO<br />
ESTADO DE WASHINGTON<br />
Trabalhar em prol da responsabilidade<br />
política empresarial<br />
A RPE é um aproveitamento da responsabilidade<br />
social das empresas da velha<br />
guarda, ou RSE. Centra-se na maneira<br />
como as empresas influenciam quatro sistemas-chave:<br />
as regras do jogo (mercados,<br />
leis e regulamentos), instituições cívicas e<br />
de representação (por exemplo, protecção<br />
da democracia), sociedade civil e discurso<br />
público, e sistemas naturais e recursos partilhados.<br />
Estes quatro sistemas podem ajudar<br />
os líderes a pensar nos seus impactos e<br />
na forma de defender e desenvolverem capacidades<br />
nestas bases sociais críticas.<br />
Acreditamos que, ao empenharem-se<br />
na RPE e concentrarem-se nestes quatro<br />
níveis, as empresas podem melhorar a sua<br />
própria reputação de marca, tornar as estratégias<br />
sustentáveis e de neutralidade viáveis<br />
e mais rentáveis, e ter uma base sólida<br />
de suporte, com o apoio de uma série de<br />
stakeholders perante um revés político.<br />
Como ponto de partida, os líderes da<br />
empresa podem envolver-se com os seus<br />
pares e stakeholders internos e externos<br />
para considerarem as suas responsabilidades<br />
a cada nível, explorando as questões<br />
de reflexão sobre a RPE incluídas na tabela<br />
ou nas suas próprias perguntas. Com<br />
base nestas reflexões, as empresas podem<br />
dar prioridade a acções que se concentrem<br />
numa espécie de juramento hipocrático<br />
de RPE – no mínimo, não prejudicar. Esse<br />
procedimento também ajuda a assegurar<br />
que as empresas respeitam a sociedade<br />
civil e o autogoverno, levando os líderes a<br />
identificar uma base legítima para qualquer<br />
compromisso político.<br />
Para além dos benefícios para as empresas<br />
que adoptam a RPE por si próprias, os<br />
benefícios totais desta abordagem virão de<br />
ajudar a estabelecer ou reforçar a RPE como<br />
norma. Uma abordagem mais orientada<br />
para os sistemas é o que um de nós (Andrew,<br />
com Paul Polman, co-autor do livro “Net Positive”)<br />
chama ao activismo positivo. Implica<br />
uma visão mais sistémica das políticas e<br />
investimentos de que a sociedade necessita<br />
para resolver grandes desafios comuns. E<br />
significa abordar o governo não como um<br />
adversário ou um interveniente a ser contido<br />
e minimizado, mas como um verdadeiro<br />
parceiro, porque as empresas não podem ser<br />
empresas positivas (ou abraçar mais eficazmente<br />
a RPE) apenas por si próprias.<br />
Se um amplo segmento transversal de<br />
empresas adoptar um conjunto de princípios<br />
para a RPE, e se estes forem aceites<br />
como significativos e legítimos, isto pode<br />
representar um ponto de viragem que levaria<br />
as empresas a sair do pântano actual.<br />
Estas podem mobilizar parcerias dentro<br />
das suas cadeias de fornecimento ou sector<br />
para adoptarem novos princípios para<br />
a RPE. Fazê-lo oferece a esperança de um<br />
cenário novo e nivelado – um cenário em<br />
que as empresas jurem, de forma credível,<br />
não usar as contribuições políticas e o lobbying<br />
indirecto para obterem uma pequena<br />
vantagem à custa de um maior bem-estar<br />
público (e, portanto, da sua própria<br />
prosperidade ao longo do tempo).<br />
Os críticos e vigilantes podem reconhecer<br />
as empresas que promovem a RPE de<br />
boa-fé, e os investidores podem apelar-lhes<br />
para utilizarem a sua influência política<br />
construtivamente para objectivos amplos<br />
e a longo prazo. Os parceiros transversais<br />
podem apoiar e desafiar os legisladores a<br />
respeitarem práticas semelhantes, abordando-os<br />
conjuntamente para regras que<br />
façam sentido, e resistindo no apoio fundamental<br />
à democracia representativa. Neste<br />
mundo, os líderes empresariais serão vistos<br />
como parceiros de boa-fé, construindo um<br />
mundo que funcione para todos.<br />
Andrew Winston (@andrewwinston)<br />
é um especialista mundialmente reconhecido<br />
em criar empresas resilientes e rentáveis<br />
que ajudam as pessoas e o planeta a prosperar.<br />
É co-autor de “Net Positive”.<br />
Elizabeth Doty (@elizdo) é directora do<br />
Grupo de Trabalho de Responsabilidade Política<br />
Empresarial do Instituto Erb da Universidade de<br />
Michigan, e fundadora da Leadership Momentum,<br />
uma consultoria de estratégia.<br />
Thomas Lyon é professor de Ciência,<br />
Tecnologia e Comércio Sustentável no<br />
Instituto Erb.<br />
RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024 65
AS RESPOSTAS PARA<br />
ENTENDER OS MISTÉRIOS<br />
FINANCEIROS<br />
Nuno Crespo e Nádia Simões<br />
empenharam-se em trazer clareza<br />
e conhecimento para o mercado<br />
financeiro, simplificando e tornando<br />
mais acessíveis alguns mistérios<br />
da economia.<br />
A obra - “Uma Viagem ao Mundo das<br />
Ideias Económicas: 100 questões para<br />
entender a economia” - oferece respostas<br />
claras a perguntas fundamentais<br />
sobre a área da economia.<br />
Os autores, que são especialistas em<br />
economia, perceberam a necessidade<br />
de tornar esse campo do conhecimento<br />
mais acessível ao público em<br />
geral. Nesse sentido, responderam<br />
a 100 perguntas essenciais sobre<br />
economia, desde “O que é o PIB?” e<br />
“O que explica o desemprego?” até “O<br />
que são criptomoedas?” ou “O que é a<br />
economia circular?”.<br />
Nuno Crespo e Nádia Simões fizeram-no<br />
dando exemplos práticos da<br />
economia portuguesa, tornando a<br />
obra mais interessante para os leitores<br />
interessados no cenário económico do<br />
nosso País.<br />
O livro promete desmistificar a economia<br />
e capacitar os leitores a participar<br />
em discussões económicas com mais<br />
confiança e conhecimento da área.<br />
UMA VIAGEM AO MUNDO DAS IDEIAS<br />
ECONÓMICAS: 100 QUESTÕES PARA<br />
ENTENDER A ECONOMIA<br />
Nuno Crespo e Nádia Simões<br />
Editora: Actual Editora<br />
Género: Economia, Finanças e<br />
Contabilidade; Mercados Financeiros<br />
N.º de páginas: 200<br />
O livro de Nassim Nicholas Taleb está<br />
a abalar Wall Street e promete desafiar<br />
as convenções do mundo dos negócios.<br />
N<br />
o mundo da literatura financeira, Nassim Nicholas<br />
Taleb, autor e pensador, lançou uma bomba<br />
literária que está a abalar o mercado económico<br />
e a redefinir a forma como as pessoas estão a<br />
encarar o acaso nas suas vidas. Com a intenção<br />
de ser um livro provocativo e de reflexão, a obra - “Iludidos<br />
pelo Acaso: o papel oculto do acaso na vida e nos mercados”<br />
- oferece uma visão ímpar sobre o papel da sorte e do acaso<br />
na experiência pessoal e profissional das pessoas.<br />
Conhecido pelo seu estilo irreverente e inovador, o autor<br />
desafia a visão convencional de Wall Street e outros sectores,<br />
propondo uma análise profunda sobre a importância do<br />
acaso. Nassim Nicholas Taleb argumenta que, muitas vezes,<br />
as pessoas confundem a sorte com a habilidade e que a<br />
aleatoriedade desempenha um papel significativo na vida e<br />
nos mercados financeiros. No sector financeiro, a sorte é frequentemente<br />
confundida com perícia e o escritor revela uma<br />
perspectiva nova e radical sobre um dos elementos menos<br />
compreendidos da existência humana.<br />
Fernando Braga de Matos montou um manual prático para<br />
investidores em início de carreira, abrindo as portas para o<br />
universo da bolsa.<br />
O PAPEL DO ACASO<br />
NA VIDA E NOS MERCADOS<br />
ILUDIDOS PELO ACASO: O PAPEL OCULTO<br />
DO ACASO NA VIDA E NOS MERCADOS<br />
Nassim Nicholas Taleb<br />
Editora: Temas e Debates<br />
Género: Economia, Finanças e Contabilidade<br />
N.º de páginas: 352<br />
DESVENDAR SEGREDOS DA BOLSA<br />
FINANCEIRA<br />
Para os leitores que sempre<br />
desejaram investir na bolsa,<br />
mas que sempre tiveram receio,<br />
o novo livro de Fernando Braga<br />
de Matos promete ser um guia<br />
indispensável.<br />
O autor aponta as formas e as<br />
fontes de informação a que os<br />
iniciantes podem recorrer para<br />
analisar o mercado. Com uma<br />
abordagem didáctica, guia os<br />
leitores através dos primeiros<br />
passos necessários para<br />
entender e entrar no mundo da<br />
bolsa. Posteriormente, enfatiza<br />
a importância de aprender<br />
tácticas e estratégias antes de<br />
mergulhar neste universo.<br />
Tal como em qualquer jogo,<br />
destaca que é necessário adquirir<br />
conhecimento para evitar<br />
perdas e optimizar lucros.<br />
“A Bolsa para Iniciados” não<br />
oferece apenas informações<br />
essenciais, dado que também<br />
partilha insights valiosos sobre<br />
como navegar com segurança<br />
no mercado das acções.<br />
A BOLSA PARA INICIADOS<br />
Fernando Braga de Matos<br />
Editora: Editorial Presença<br />
Género: Economia, Finanças<br />
e Contabilidade; Bolsa;<br />
Mercados Financeiros<br />
N.º de páginas: 224<br />
66 RISCO NOVEMBRO 2023 / JANEIRO 2024