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impossibilia-8-octubre-2014

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um texto postula o próprio destinatário como condição indispensável não só da sua própria capacidadecomunicativa concreta, como também da própria potencialidade signicativa. Por outras palavras, um textoé emitido para que alguém o actualize – mesmo quando não se espera (ou não se deseja) que ese alguémexista concreta e empiricamente. (Eco, 1979: 56)A citação acima pode ser aplicada às obras da presente relexão. Ao escrever “como o rio aredondoua pedra: asim eu queria suavizar a palavra” (Couto, 2004: 56), é bastante razoável que o escritor tenhaconstruído seu texto com base em certo leitor modelo. Mas determinar que a narativa posui o públicoinfantil como receptor direto parece limitado, uma vez que cria generalizações e certa redução criativa.Neste mesmo sentido, airma Cunha: “Parece-nos fundamental alertar para a relatividade desasinformações. Os limites apresentados são teóricos. Na realidade, cada criança tem seus próprios limites,num desenvolvimento peculiar deinido por muitos e diferentes fatores” (1999: 99). Talvez, mais do queimaginar um leitor deinido por sua faixa etária, os autores esperariam encontrar um receptor que tambémconstrua a obra, como defende Eco (1979), segundo suas vivências e competências literárias. A tentativa decercear o destinatário em estanques clasicações de idade parece contradizer a característica inerente aqualquer obra de arte enquanto proceso estético de criação e de ruptura, haja em vista as obras analisadas.Outro ponto que merece relevo sobre as características da literatura infantojuvenil diz respeito àlinguagem utilizada pelos escritores. No livro A guera dos fazedores de chuva com os caçadores de nuvens, doangolano Luandino Vieira, que conta a história da guera travada entre os angolanos nacionalistas (fazedoresde chuva) e o poder imperial (caçadores de nuvens), não é posível vericar uma clara adaptação de estilo doautor para o público infantil, como se pode notar no excerto:6. Então Mbumba iá Kibaia, o Grande Kibaia, bateu com a lança no Dialó; e Dialó icou mais preto; ebateu com a lança no Mon’a Ngundu; e ele virou branco;7. Dise Kibaia Kinene: Os dois são prisioneiros; os dois são inimigos; mas só um é traidor! [.]9. E Dialó voltou a ser Amador Lopes; e entrou em Malanje com os braços, mãos e pernas amaradas dechocalhos de quisaca e quisango e sinos e campainhas; e ninguém podia desamarar, saía sangue e elemoria; então o povo riram muito. (Vieira, 2006: 16)A formulação sintática escolhida pelo autor não sugeriria que a obra tenha sido elaborada paracrianças em uma primeira leitura, uma vez que não coresponde a certos presupostos criados para aliteratura infantojuvenil, como os elencados por Engelen, citados por Zilberman (2003): “preferência pelavoz ativa, em vez da pasiva; pelo discurso direto, em vez do indireto; frases curtas, em vez de longas; oraçãorelativa, em vez de atributo complexo” (142). A construção de Luandino Vieira extrapola as regrasZuza, Júlia. “O fenômeno crosover fiction e as obras editadas para crianças e jovens de Mia Couto e Luandino Vieira: uma discusão sobre opúblico leitor”. Imposibilia Nº8, Págs. 86-103 (Octubre <strong>2014</strong>) Artículo recibido el 05/08/<strong>2014</strong> – Aceptado el 11/09/<strong>2014</strong> – Publicado el 30/10/<strong>2014</strong>.94

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