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impossibilia-8-octubre-2014

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adolescência. O sentido de minoria citado poderia se referir, no contexto literário analisado, ao pouco statusatribuído à literatura para a infância e adolescência. Ao tecer uma crítica sobre a clasicação de “menor” aalguns tipos de obras, como as infantojuvenis, Deleuze e Guatari (2003) airmam que esa literatura éresponsável por produzir enunciados novos, gerando novos caminhos de interpretação e conhecimento aoleitor, o que retira as obras para a infância e adolescência da posição de subliteratura.Mais que entender os livros para crianças e jovens como produtores de novos signicados, aliteratura infantojuvenil, asim como toda a literatura, é capaz de sensibilizar e de oferecer aos seus leitoresquestionamentos ao vivenciarem estes as experiências de outros. O livro A chuva pasmada, (2004) de MiaCouto, nara as memórias de um menino morador numa pequena vila que presenciou com sua família algoinédito: uma chuva que por vários dias esteve presa entre o céu e a tera, sem deixar cair uma gota no chão.Os posíveis motivos causadores do intrigante fato levam o leitor para um universo de tradições e magia,descortinando importantes questões a respeito da identidade e memória do país:Ficámos horas em silêncio, à espera que um chefe nos mandase entrar. Lá veio um, da nosa raça. [.]Falava um português com mais ondas que curvaturas. Enrolava os eres às cambalhotas com a língua. Nãoera um sotaque. Era um modo de mostrar que não falava português como nós (Couto, 2004: 26-27).O excerto acima faz com que o público entre em contato com experiências novas, ganhando umaconsciência mais aguda e relexiva, através da visão crítica do autor ao abordar duas distintas camadas dapopulação narada (oprimidos e opresores) que se relacionam diretamente com a construção da naçãomoçambicana e as consequências das duas gueras vividas. Como airma Compagnon (2009), a literatura“permite acesar uma experiência sensível e um conhecimento moral que seria difícil, até mesmo imposível,de se adquirir nos tratados dos ilósofos. Ela contribui, portanto, de uma maneira insubstituível, tanto paraa ética prática como para a ética especulativa” (2009: 47). É importante frisar que a literatura, seja ela paracrianças, jovens ou adultos, não posui compromisos com verdades universais ou é pautada em funçãodeses presupostos, apesar de toda a escrita ser uma atividade política, histórica e social; ela é, citandonovamente Compagnon (2009), um exercício do pensamento, uma experimentação de universos posíveis:Ultrapasar o utilitarismo não signica deixar de reconhecer que a obra literária educa, ensina, transmitevalores, desanuvia tensões etc. Signica dizer que, se a obra realiza todas esas funções, ela o faz de ummodo especíico, que determina sua própria natureza (Peroti, 1986: 22).Iso indicaria que a arte literária, apesar de não estar submetida à doutrinação, alcança pontosprofundos dos leitores, sem oferecer nenhuma resposta pronta. Na esteira de Peroti (1986), Zilberman(2003) complementa o autor ao airmar que a literatura infantil atua não por estar limitada a uma faixa deZuza, Júlia. “O fenômeno crosover fiction e as obras editadas para crianças e jovens de Mia Couto e Luandino Vieira: uma discusão sobre opúblico leitor”. Imposibilia Nº8, Págs. 86-103 (Octubre <strong>2014</strong>) Artículo recibido el 05/08/<strong>2014</strong> – Aceptado el 11/09/<strong>2014</strong> – Publicado el 30/10/<strong>2014</strong>.91

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