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impossibilia-8-octubre-2014

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O riso atinge igualmente as camadas mais altas do pensamento, por iso as “obras cômicas verbais”parodiavam elementos do culto e do religioso. Havia a “paródia sacra” das leituras evangélicas, das orações,inclusive as mais sagradas, ecos da comicidade dos carnavais públicos que repercutiam dentro dos mosteiros,universidades e colégios. Os festejos carnavalescos, portanto, ocupavam um lugar importante na vivência dohomem medieval.Outra forma de expresão da cultura cômica popular apresentava-se como fenômeno e “gênero novocabulário familiar” e público da Idade Média. Durante o carnaval, nas praças públicas, eram abolidasprovisoriamente as diferenças e bareiras hierárquicas entre pesoas, eliminando-se regras e tabus vigentes.Consequentemente, havia mudança na linguagem empregada. O uso desa linguagem na praça públicacaracterizava-se pelo uso frequente dos atos de groseria, de expresões e palavras injuriosas.Bakhtin traz ao leitor uma breve historiograia sobre o riso e a visão de pensadores da Antiguidadecomo Aristóteles e Plínio; o encontro da linguagem cômica com a Idade Média, com a religião e a suautilização na posteridade. Segundo o pesquisador, “o riso tem um profundo valor de concepção do mundosendo uma das formas capitais pelas quais se exprime a verdade” (1987: 57). No capítulo seguinte, “Ovocabulário da praça pública na obra de Rabelais”, o estudioso esclarece que o vocabulário rabelaisiano deixaembaraçados a todos os leitores que têm diculdade em integrar eses elementos na trama literária (1987:125).Durante o carnaval, o vocabulário e as groserias mudavam consideravelmente de sentido. Ospalavrões contribuíam para a criação de uma atmosfera de liberdade:A im de ter uma comprensão justa dos gestos e imagens populares carnavalescos, tais como a projeção deexcrementos ou a rega com urina é importante levar em consideração o seguinte fato: todas as imagensverbais e gesticulações dese tipo faziam parte do todo carnavalesco impregnado por uma lógica única. Esetodo é o drama cômico que engloba ao mesmo tempo a morte do mundo antigo e o nascimento do novo.[.] cada uma desas imagens é profundamente ambivalente [.] (Bakhtin, 1987: 128).As festas oiciais da Idade Média, tanto as da Igreja, como as do Estado feudal, contribuíam paraconsagrar o regime em vigor. Entretanto, em algumas delas, como o carnaval, permitia-se uma eliminaçãotemporária das relações hierárquicas entre os indivíduos, criava-se na praça pública um tipo particular decomunicação, inconcebível em situações normais. Iso produziu o aparecimento de uma linguagemcarnavalesca típica.No texto rabelaisiano, são predominantes imagens do corpo, da bebida, da comida, da satisfaçãodas necesidades naturais, da vida sexual. Elas representam o grotesco e, conforme Bakhtin, não se separa oriso do realismo grotesco: “O grotesco amara num mesmo nó indisolúvel a vida, a morte, o nascimento, asArlindo, Caroline y Alves Valente, Tiago. “François Rabelais e João Carlos Marinho: um gordo, dois gordos”.Imposibilia Nº8, Págs. 29-45 (Octubre <strong>2014</strong>) Artículo recibido el 31/07/<strong>2014</strong> – Aceptado el 11/09/<strong>2014</strong> – Publicado el 30/10/<strong>2014</strong>.37

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