impossibilia-8-octubre-2014

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10.07.2015 Views

signicações do texto verbal. Elas, inclusive, estimulam o leitor a um retorno ao texto verbal na tentativa dedescobrir a que cena narada se referem.Um exemplo desa interação com o leitor aparece ao término da biograia do Mestre Valentim, nacena em que, supostamente, ele conversa com os representantes do governo sobre a construção do PaseioPúblico. Nesa ilustração, nota-se o Mestre sentado ao fundo, sobre um sofá e com as mãos entrelaçadas,dirigindo seu olhar fatigado para o leitor, como se lhe disese que espera a aprovação dos dirigentes dogoverno de seus projetos para começar a obra, já que sua opinião ali não é solicitada. Nota-se, também, quea maioria deses dirigentes olha para o projeto e discute sobre ele, contudo, um deles dirige seu olhar aoleitor, de forma desconiada, conotando que ele sabe que está sendo julgado por este olhar que vem doexterior (Oliveira, 2011: 34-35):Figura 2 – Mestre Valentim e os representantes do governoPode-se observar, ainda, nesa cena, a discrepância existente entre as vestimentas dos dirigentes, queconotam pompa e riqueza, e as do Mestre, que conotam privação. Vale destacar que esas ilustraçõesasumem estatuto de cena, pois são apresentadas em folha dupla. Como capturam o instante, asumemfunção narativa. Como cada cena vem emoldurada, há o emprego da função metalinguística, a qual leva oleitor a comprender a intenção do ilustrador de iliar-se ao real, à relexão acerca da própria criação, maisespecicamente, aos quadros que compõem a nosa história artística e cultural.Atsuko Matsuda, Alice y Galvão Ribeiro Fereira, Eliane Aparecida. “A cultura afro-brasileira na sala de aula: uma proposta de trabalho pedagógicocom obras que dialogam com o livro Três anjos mulatos do Brasil, de Rui de Oliveira”. Imposibilia Nº8, Págs. 179-193 (Octubre 2014)Artículo recibido el 31/07/2014 – Aceptado el 13/09/2014 – Publicado el 30/10/2014.184

O prefácio, intitulado “A imagem histórica e cultural de um país”, elucida a abordagem biográica deOliveira, bem como seu método de criação, realizado por estudos iconográicos de diversas fontes, com oobjetivo de projetar “cenas que provavelmente ocoreram, mas que até então não haviam sido representadas”(2011: 8). Por sua vez, a biograia do autor confere-lhe discurso de autoridade pela sua formação em BelasArtes, pela enumeração de seus trabalhos e dos prêmios recebidos por estes. Escrita em primeira pesoa,aproxima o autor de seu público-leitor: “Nasci no Rio de Janeiro, no bairo de São Cristóvão” (2011: 55).Sua dedicatória para o avô português e para a avó brasileira, “ilha de escravos oriundos de Angola” (2011:6), elucida sua simpatia pelos “anjos” mulatos que biografa, ao mesmo tempo que gera empatia com o leitor.O penúltimo paratexto, intitulado “Asim nascem as ilustrações” (2011: 52-53), é atraente para o jovemleitor, pois neste se vem esboços em graite que saciam sua curiosidade por descobrir como se realiza otrabalho criativo de um artista, a partir de traços, linhas e cores no livro. O último paratexto, denominado“Personagens” (2011: 54-55), o qual apresenta três ilustrações em miniatura de cenas retiradas de cadacapítulo, também sacia a curiosidade dese leitor, pois reforça suas hipóteses construídas durante a leituraquanto às personagens representadas nas ilustrações. Como esas ilustrações estão numeradas, por meiodelas pode-se ver na legenda cada personagem representado.Justamente, esas qualidades e a presença ao término do livro de referências bibliográicas utilizadaspelo autor (2011:56) indicam a necesidade de um bom mediador para o leitor iniciante ou com poucocontato com o universo da arte do livro. Asim, se seu desconhecimento do Baroco, a princípio, o impedede reconhecer, na capa da obra, as remisões a esta Escola, igurativizadas no anjo, na moldura, no supostoentalhe na madeira, o trabalho em âmbito escolar, pode facultar-lhe ese conhecimento e levá-lo à percepçãodo conteúdo crítico do texto, bem como da qualidade das imagens que com ele dialogam.Três anjos mulatos do Brasil explora com consistência as posibilidades estruturais do gênero dabiograia e o amplia com a inclusão de ilustrações dotadas de trabalho estético. Além diso, como Oliveiraescreve suas frases de forma sucinta, utilizando-se de imagens instauradas no tempo presente, produz efeitode velocidade no relato. Sua estratégia de abertura dos capítulos, em plena ação e em tempo avançado dorelato (médias rés), aguça a curiosidade do jovem leitor que precisa ler todo capítulo para entender a cenarepresentada. Um exemplo pode ser visto logo na abertura do texto sobre Aleijadinho que desperta o desejode saber dese leitor, levando-o a proseguir com a leitura, a im de prencher os vazios instaurados: “Omestre arasta-se de joelhos. A face contrai-se, a dor é muita. A doença destruiu seus dentes. Inchou-lhe aspálpebras” (2011: 12).Seu tema sobre a criação artística afro-brasileira e sua linguagem simples são adequados ao jovemleitor. Asim, pelo diálogo entre texto verbal e não verbal, e pela abordagem crítica do autor, a obra propiciapara ese leitor uma experiência signicativa de leitura autônoma ou mediada pelo profesor. Além diso, elaAtsuko Matsuda, Alice y Galvão Ribeiro Fereira, Eliane Aparecida. “A cultura afro-brasileira na sala de aula: uma proposta de trabalho pedagógicocom obras que dialogam com o livro Três anjos mulatos do Brasil, de Rui de Oliveira”. Imposibilia Nº8, Págs. 179-193 (Octubre 2014)Artículo recibido el 31/07/2014 – Aceptado el 13/09/2014 – Publicado el 30/10/2014.185

signicações do texto verbal. Elas, inclusive, estimulam o leitor a um retorno ao texto verbal na tentativa dedescobrir a que cena narada se referem.Um exemplo desa interação com o leitor aparece ao término da biograia do Mestre Valentim, nacena em que, supostamente, ele conversa com os representantes do governo sobre a construção do PaseioPúblico. Nesa ilustração, nota-se o Mestre sentado ao fundo, sobre um sofá e com as mãos entrelaçadas,dirigindo seu olhar fatigado para o leitor, como se lhe disese que espera a aprovação dos dirigentes dogoverno de seus projetos para começar a obra, já que sua opinião ali não é solicitada. Nota-se, também, quea maioria deses dirigentes olha para o projeto e discute sobre ele, contudo, um deles dirige seu olhar aoleitor, de forma desconiada, conotando que ele sabe que está sendo julgado por este olhar que vem doexterior (Oliveira, 2011: 34-35):Figura 2 – Mestre Valentim e os representantes do governoPode-se observar, ainda, nesa cena, a discrepância existente entre as vestimentas dos dirigentes, queconotam pompa e riqueza, e as do Mestre, que conotam privação. Vale destacar que esas ilustraçõesasumem estatuto de cena, pois são apresentadas em folha dupla. Como capturam o instante, asumemfunção narativa. Como cada cena vem emoldurada, há o emprego da função metalinguística, a qual leva oleitor a comprender a intenção do ilustrador de iliar-se ao real, à relexão acerca da própria criação, maisespecicamente, aos quadros que compõem a nosa história artística e cultural.Atsuko Matsuda, Alice y Galvão Ribeiro Fereira, Eliane Aparecida. “A cultura afro-brasileira na sala de aula: uma proposta de trabalho pedagógicocom obras que dialogam com o livro Três anjos mulatos do Brasil, de Rui de Oliveira”. Imposibilia Nº8, Págs. 179-193 (Octubre <strong>2014</strong>)Artículo recibido el 31/07/<strong>2014</strong> – Aceptado el 13/09/<strong>2014</strong> – Publicado el 30/10/<strong>2014</strong>.184

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