Universidad Alberto Hurtado
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Não vai! Ele vai dar, então a solidariedade da comunidade é muito grande,<br />
esse é um fator muito importante que ainda existe até hoje.<br />
M: Você como visualiza antes de vir o GPAE, e todos esses programa sociais, e<br />
o depois?. O que você acha que você antes não podia fazer, ou fazia e agora<br />
não pode mais ou agora sim pode. Diferenças de antes para agora na sua vida.<br />
R: Eu acho que não tem que ter diferença, tem melhoria. Eu vejo dessa forma,<br />
que ante como eu falei, o pessoal vivia aqui... aqui encima... ... O pessoal lá de<br />
baixo quando olha para o morro: “Você mora lá?” Ou então: “Que morro feio!!”<br />
Porque quem olhar... o morro é feio, realmente ele é muito feinho. Mas quando<br />
chega nesse topo aqui, vai para lá ou vai pra lá encima: que coisa linda!!<br />
Porque olha a vista maravilhosa que nós temos. Eu vejo como melhoria, eu<br />
não vejo como antes e depois. Vejo como melhoria, como crescimento, hoje<br />
pessoas de outro mundo, outro universo sobem aqui como vocês. Vocês são de<br />
outro lugar, outro mundo! Vocês tiveram coragem de subir no morro, vocês<br />
podem ter ouvido, não sei... coisas absurdas da comunidade, porque é isso<br />
que acontece lá embaixo, não só do Cavalão... de qualquer outra favela. Mas<br />
eu digo especificamente no Cavalhão... que eu conheço.... “ahhh você mora no<br />
Cavalhão!!” na minha faculdade, que é uma faculdade privaaada... quando eu<br />
falei que eu morava aqui, algumas me falaram assim: “Por que você não disse<br />
que morava em São Francisco?” Porque não... eu moro em São Francisco que<br />
é o meu bairro, mas a minha localização é o morro de Cavalão sim. Eu não<br />
tenho vergonha de falar. Eu não vou dizer que eu não sofri preconceito,<br />
porque eu não deixei o preconceito entrar. Eu cortei logo ali. Eu falei: “Gente,<br />
eu sou tão digna quanto vocês que moram num prédio, numa casa bonita, que<br />
mora na rua! Eu tenho tanto direito quanto, entendeu?” Então acho que é isso<br />
foi uma melhoria, não teve essa questão de que eu podia fazer antes, que não<br />
podia .... ... Porque o que eu não podia fazer antes, como eu já falei, era sair<br />
tarde na rua... chegou a esse patamar... sair tarde... se eu saia com meu<br />
namorado, eu tinha que dormir lá na casa dele, porque voltar era perigoso por<br />
medo a uma bala perdida. Não era tiro do traficante, era bala perdida! É isso...<br />
hoje não, hoje a gente pode ir ou vir... eu venho, às vezes que saio da<br />
faculdade às onze e meia e pouco da noite, tranquilo! Se eu fosse sair para um<br />
show, eu e outros colegas aí... pessoal da comunidade, a gente vem sem medo.<br />
M: Entre agente venho a seguinte hipótese: o que aconteceria, como você<br />
visualizaria, o morro caso o GPAE fosse embora?<br />
R: Olha, aí sim! Aí sim é uma boa pergunta. Aí é complicado!. Por que? Porque<br />
se o GPAE sai por ser um morro da Zona Sul, ser um morro que traficantes de<br />
outras comunidades têm uma cobiça aqui, porque como atinge a Zona Sul,<br />
sabem que o maior usuário das drogas são pessoas da elite. Eles sobem aqui,<br />
a droga só existe... e eles têm esse crescimento de venda, porque eles vêem<br />
procurar aqui!. Não é o pessoal daqui que vai lá embaixo vender, eles vêm no<br />
morro procurar. Então... hoje não tem isso... essa é a diferença, a resposta da<br />
pergunta anterior... que antes esse morro era muito carro, era muita conta de<br />
carro lindo! Tudo para comprar droga! Só para comprar droga, nunca<br />
ninguém veio aqui encima para perguntar se queria implantar um projeto<br />
bacano na comunidade, não tinha essa preocupação com a comunidade, não!<br />
Era comprar droga... comprar drogas e drogas e drogas. Hoje já não vivemos<br />
mais isso. Então se o GPAE sair, eu acredito que a droga vai entrar aqui como<br />
antes sim! Não vou ser hipócrita e te falar que não, porque é um morro.. o que<br />
que é um morro para vender, que mexe com essas coisas, e vai voltar toda<br />
essa bagunça. Entendeu, nossas crianças não vão poder ficar tão livres na<br />
rua. Porque pelo menos na minha não vou deixar, porque não quero que ela<br />
fique assistindo isso... vai ficar trancada lá em casa. Vai ficar presa! Eu acho<br />
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