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Universidad Alberto Hurtado

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R: Eu acho, eu acho... tenho quase certeza que em outra comunidade não<br />

aconteceu isso, mas é porque é um morro da Zona Sul, nó fazemos parte aqui<br />

ad Zona Sul, nós estamos cercados de elite, então eles mesmo fizeram as<br />

queixas, que nem eles suportavam. Nós na comunidade, a gente suportava<br />

mas... eu acho que agente vai... a gente vai “empurrando com a barriga”,<br />

agente vai vivendo porque são pessoas da nossa comunidade do nosso<br />

convívio então a gente é incapaz de fazer isso, porque também bate sentimento<br />

ne? Porque a pessoa não se meteu aí exatamente porque quis, é falta de<br />

oportunidade tal vez, entendeu? Mas eu acho que por ser localizado na Zona<br />

Sul de Niterói, a elite, nós estamos cercados por ela... São Francisco... aqui<br />

encima mora muita gente da elite, eu acho que foi por conta deles também,<br />

acho que o peso foi por conta disso, porque nem eles suportavam mais.<br />

L: Renata, pensa nesta possibilidade: a policia chega, possivelmente por uma<br />

idéia política, de segurança de Niterói, e vocês de alguma maneira, por essa<br />

segregação pequena que têm de ricos-pobres, se vêem beneficiados. A policia<br />

fica aqui, troca muito intensa de tiros, ela mora dois anos na comunidade<br />

criando território, com os traficantes. Onde vão esses traficantes? Moram na<br />

rua? Vão para onde? Fora do morro? Na rua? Eles eram filho de aqui, são<br />

pessoas que você conhece ou conheceu...<br />

R: Algumas, a maioria começou como que... ... que nós conhecemos ne? Que<br />

nós conhecíamos... então são pessoas da comunidade que moram aqui perto,<br />

não vou te falar que não conhecia, seria ignorante da minha parte, senão eu<br />

não aceitasse dar a entrevista para vocês. Não, a gente conhecia, como eu<br />

falei, são pessoas boas, não são pessoas... não pode ter aquela idéia na cabeça<br />

“você é traficante, como vai fazer isso...” não gente! Foi falta de oportunidade.<br />

E isso acontece dentro da sua própria família, porque seus pais não tiveram o<br />

incentivo dos pais deles... de estudar, de seguir um caminho legal, porque<br />

cada um tem sua índole, cada um tem sua formação, cada um cria o mundo<br />

em que você quer viver. Então, foi da minha infância para cá, para mim trinta<br />

e dois anos de vivência... hoje melhorou muito, porque hoje os pais estão mais<br />

informados, hoje as pessoas estão voltando para sala de aula, estão se<br />

conscientizando da diferencia de você viver... ganha pouco, ganha! mas é<br />

muito melhor ter liberdade de você ir e vir, de levantar sua cabeça sem<br />

precisar de você ser humilhado, porque se você for humilhado hoje, se alguém<br />

da comunidade for humilhado por um policial desses, ele vai ter resposta que<br />

dar para esse policia, ele vai poder falar com ele de igualdade, embora eles não<br />

dão atenção. Eles chamam a gente de burro, de ignorante. O pessoal de favela<br />

tem que falar, não... agente questiona assim: não! Eu tenho o direito, eu sou<br />

cidadão, eu tenho o direito de ir para uma delegacia e denunciar. Isso que a<br />

comunidade está fazendo. Que quando o GPAE não age corretamente, o<br />

pessoal vai lá e denuncia. Então, eu acho que até por isso que eles continuam<br />

na comunidade, porque até eles passaram a gostar da comunidade. Como eles<br />

já estão trabalhando em outros morros, em outras favelas, mas eles... eles<br />

próprios, eles falam que o melhor local para trabalhar é o Cavalão. Porque<br />

aqui é uma alegria! Não sei se vocês tiveram oportunidade de vir aqui no final<br />

de semana, é uma alegria aqui só. E dia de semana é a própria comunidade,<br />

são crianças que vêem da escola... famílias que estão trabalhando.<br />

Então, eram da comunidade sim!, foram da comunidade... vieram algum que<br />

outros, mas não ficaram... porque acho que eles não suportaram, até vieram<br />

que era diferente... acho que para a concepção deles esto aqui é muito<br />

“parado”. Porque os que aqui já estavam eles tinham uma vivência, por<br />

exemplo era uma mãe que morava no morro, era um tio que mandava a<br />

comida ne? Mesmo vivendo erradamente ne? Por colocar dessa forma, mas<br />

eles não morriam de fome. Tem um tio, tem um vizinho que vai negar comida?<br />

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