Universidad Alberto Hurtado
Universidad Alberto Hurtado
Universidad Alberto Hurtado
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
R: Estamos falando ahi dos anoooos... ... (pensa) pode se colocar... “pera ahi”<br />
deixa eu pensar um pouquinho...<br />
L: Você nasceu 75<br />
R: Nasci 1974... nos anos oitenta. A fase mais ruim foi nos anos noventa, a<br />
pior.<br />
L: Ao princípio foi o mais ruim... ...<br />
R: Foi porque minha filha nasceu, já estava mais tranquilo, já estava<br />
terminando. Noventa e seis já estava amenizando a situação. Mas<br />
necessariamente no ano 2000... (pensa) ... estamos no 2007 agora... 2003...<br />
2002... 2001!! melhorou muito, começou a ser implantados os projetos na<br />
comunidade.<br />
M: Projetos, você fala ONGs?...<br />
R: Ea!, as ONGs.<br />
M: Ou da prefeitura?<br />
R: Não o primeiro que veio à comunidade que eu lembre foi o GPAE, o<br />
policiamento, eles vieram para a comunidade... aí para eles interarem, se<br />
integrarem a comunidade, ser aceito pela comunidade tinham que fazer<br />
alguma coisa ne? Porque nós éramos receosos, porque nós vivíamos num... em<br />
um ambiente totalmente criminalizado. Aí vieram os policiais, não... não era<br />
aquele medo do ... dos traficantes conosco era dos policiais, da violência,<br />
porque nós como morávamos numa favela, toda a comunidade era vista como<br />
traficantes. Eles não queriam saber se você era chefe de família, uma moça<br />
decente, um rapaz decente, os rapazes então eles sofreram muito preconceito<br />
eles iam... eles eram revistados pelos policiais, eles eram espancados pelos<br />
policiais levavam tapa na cara, essas coisas que eu acho muito ruins,<br />
simplesmente pelo fato de morar na favela, principalmente se fosse negro. É<br />
negro, tá sem camisa, tá suado, é bandido. Era visto dessa forma,<br />
infelizmente. Hoje não, hoje já melhorou... bastante, ainda não 100% mas...<br />
com a esperança de melhorar para o 100%<br />
L: Renata, os traficantes eram pessoas da comunidade ou eram pessoas de<br />
fora?<br />
R: Não, infelizmente eram pessoas da própria comunidade.<br />
L: Filhos da comunidade de 15 anos 20 anos? Que idade mais ou menos?<br />
R: Bom, o tráfico já eram não ... não tão crianças, já eram de adolescentes, a<br />
partir dos quinze. Claro tinha se desatado por que? Ahi que tá! As pessoas<br />
falam assim: o tráfico, ah entra! ... ... o tráfico aceita às crianças, mas aqui no<br />
Cavalão é muito contrário eles não aceitavam os garotos. Vá estudar! Os<br />
próprios bandidos falavam: vá estudar! Não te quero aqui na boca de fumo,<br />
não te quero aqui me vendo fumar um cigarro de maconha ou usando uma<br />
cocaína. Eles não permitiam isso. Entendeu?<br />
M: Por que?<br />
R: Porque não, aí que tá. Como eles já era já os bandidos eles já estavam<br />
pensando na carne, toda aquela violência, toda aquela insegurança eles não<br />
queria que as crianças 10, 11, 12, 13 anos ficassem naquilo. Hoje eu não vejo<br />
isso mais dessa forma, embora hoje tenha tudo mais tranquilo, a gente já<br />
pode... a gente não tem arma, só por conta dos pelos policiais. A gente não vê<br />
armamento não vê drogas escancarado, ainda existe obvio, mas não<br />
escancarado. Mas hoje a gente vê que as ... os menores de doze, treze anos<br />
têm uma língua já de traficante! Que não era para estar acontecendo. Mas<br />
tem. E na minha época de infância não tinha, muito ao contrário os próprios<br />
bandidos botavam eles para casa, “não quero vendo isso daqui, você não tem<br />
que estar assistindo isso daqui, vai pra escola!” Então era isso.<br />
M: Ma isso que você fala é uma maioria?<br />
R: Não, a minoria<br />
171