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Universidad Alberto Hurtado

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M: E você lembra desse primeiro dia quando vocês chegaram?<br />

R: Lembro<br />

M: Com foi?<br />

R: Bem as pessoas não... a gente... (duvida) as pessoas ficavam meio<br />

desconfiadas da nossa presença, porque a policia antigamente vinha aqui,<br />

fazia incursão, a maioria das vezes os policiais já eram truculentos com os<br />

moradores, e de repente a gente estava aqui dizendo que nós vamos ser<br />

amigos, vamos viver felizes para sempre.... Aí eles desconfiaram dessa relação.<br />

Então foi com o tempo que eles foram vendo que o trabalho... foi tendo... foi<br />

gerando... a gente foi gerando confiança neles, através das prisões que a gente<br />

efetuava, das denuncias que alguns moradores faziam... Porque olha só, os<br />

moradores não se contentam com o tráfico, eles não gostam de marginais.<br />

Eles ligam e denunciam. Olha, tem marginal armado aqui na minha rua, no<br />

meu beco, onde eu moro... a gente ia lá e prendia, aí o morador passou a<br />

acreditar mais. E a gente passou a passar a estar aqui 24 horas, a gente não<br />

passou só a vir aqui, fazer incursão e voltar, a gente passou a ficar aqui<br />

permanentemente. O que facilitou bastante. Hoje a gente está aqui<br />

diariamente, o policial que está aqui o morador já sabe, quem é... o nome dele.<br />

Antigamente subia, todo mundo no escuro, ele não sabe quem é.... ele tomou<br />

um tapão de um.. e aí?...ele vai reclamar? Ele não viu nem o nome, não deu<br />

nem tempo de ver. Não sabe se é do batalhão da área, já aqui a gente não pode<br />

fazer isso. A gente tá aqui todo dia. Entendeu? Então a gente acabou criando a<br />

confiança com o tempo. Hoje são 5 anos... não vou dizer: “aaahh acabou o<br />

tráfico!!” Não acabou, porque tem procura, o pessoal lá embaixo quer cheirar,<br />

quer fumar, porque o próprio morador também quer. Então também tem o da<br />

oferta e da procura... tem procura...os garotos desempregados... eles vão se<br />

render e vão vender. Aí a gente vai e prende.<br />

M: E essas pessoas que eram do tráfico, era aqui mesmo do morro?<br />

R: Eram moradores daqui.<br />

M: O que que aconteceu com eles?<br />

R: Quem ficou, a gente prendeu. Quem não quis ficar foi para outro morro,<br />

mesma facção, para trabalhar na boca de fumo, em outro morro. Aqui era<br />

comando vermelho, então ele procurou um morro aqui próximo ao Comando<br />

vermelho, e falou “quero trabalhar aqui com vocês, que ali não dá mais, lá está<br />

ruim” Aí foi embora. E aqui quem foi ficando, a gente foi prendendo... algum<br />

aí.... o garotinho foi crescendo, alguns querem estudar, outros dizem,...<br />

eehhh... meu sonho é ser da boca... então ele vai entra para a boca de fumo...<br />

a gente vai prende... Ontem mesmo, nós prendemos um ali embaixo... 16<br />

anos... (espera)... com 67... petecas de maconha, vendendo ali.<br />

L: Quando?<br />

R: Anteontem... anteontem... segunda-feira. Frente ao primeiro posto de<br />

saúde.<br />

L: E ele era um morador também?<br />

R: Ele era um morador. 16 anos, quer dizer 16 anos... vai renovando. Os<br />

adultos, da minha idade, da nossa idade... eles já dificilmente tem. Ou tá<br />

muito preso, ou já morreu.<br />

L: Romeu, os moradores lembraram que quando vocês chegaram aqui, foi<br />

muito violento, entraram com carro, tiros, mortes... essa é a percepção do<br />

morador mas os moradores amam vocês. A policia... a policia tem que ficar<br />

aqui... a policia não pode ir embora, mas lembram esse momento como muito<br />

violento, muito forte. Você, como policia, que percepção tem desse momento,<br />

quando a policia decide intervir no morro?<br />

R: Para aí... não entendi<br />

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