Edição Especial - Faap

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27.08.2013 Views

problemas circunscritos a algumas regiões – caso do Nordeste e da demanda de áreas metropolitanas – e aos cuidados com os usos que degradem a qualidade da água, não se justifica projetar sobre o país o mesmo nível de insuficiências que ocorrem em nível mundial. Pelo contrário, a análise da questão da água no Brasil só se completa se for considerada a sua potencialidade no quadro da grave crise da transição energética com que se defronta a humanidade. Sem menosprezar os problemas ambientais e sociais decorrentes da implantação dos reservatórios, convém lembrar, também, os indiscutíveis benefícios das barragens energéticas em termos de aproveitamento múltiplo e os importantes aspectos estratégicos do uso energético da água. Primeiro, examinemos alguns dos benefícios: a) Sem as hidrelétricas teríamos de produzir, a um custo superior, energia em usinas nucleares ou térmicas, estas poluidoras, dependentes da importação de combustíveis e provocadoras do aquecimento global pelo efeito estufa. b) Os reservatórios regularizam as vazões, reservando água para períodos secos e evitando ou diminuindo os picos de eventuais crescidas, evitando enchentes danosas. c) Viabilizam, em certos casos, a navegação a um custo marginalmente baixo, favorecendo o transporte das colheitas, barateando os alimentos e a competitividade de nossos produtos. d) Geralmente, as barragens facultam ou facilitam a irrigação e o abastecimento de água. Assim, por exemplo, as represas de Guarapiranga e Billings, construídas para fins energéticos, vieram a servir, sem ônus, ao abastecimento da região metropolitana de São Paulo. e) O assoreamento dos rios é apontado como sendo uma desvantagem das hidrelétricas. É um equívoco, pois o assoreamento que ocorre é apenas nos reservatórios. A água liberada pelos reservatórios sai decantada, sem os sólidos provenientes de montante, o que favorece o desassoreamento do rio à jusante da barragem. Uma desvantagem das barragens é a redução da carga de solos que, a cada inundação, se depositariam nas várzeas de jusante, fertilizando-as. No plano estratégico é indispensável considerar as questões fundamentais apresentadas no item 1 (O Desafio Energético) sobre a essencialidade da energia na manutenção dos padrões da sociedade moderna, o inexorável esgotamento dos recursos que respondem por 80% do suprimento energético atual, o petróleo, o gás e o carvão, e as incertezas que cercam a substituição destes, tanto nos aspectos técnicos como de suficiência volumétrica. Por isso, a melhor estratégia do país seria a de acelerar e maximizar o desenvolvimento de todos os potenciais hidroelétricos possíveis, concebidos e executados na melhor técnica e ambientalmente aceitáveis, o que resultaria numa extraordinária vantagem para nosso desenvolvimento econômico diante da dispendiosa e provavelmente conturbada transição energética futura. Quanto maior a geração hidrelétrica, menor será nossa exposição às incertezas e custos das crises cíclicas na transição dos sistemas de suprimento energético, ganhando tempo e espaço para os ajustes que virão. Caberia, mesmo, antecipar o quanto possível tais projetos para evitar que, com o tempo, eles se inviabilizem, pela 54 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(edição especial), 2006

gradual ocupação das áreas dos respectivos reservatórios. Os seguintes aspectos reforçam tal opção estratégica: 1. Uma vez implantada uma hidrelétrica, sua produção se faz com baixo custo de manutenção e reduzido quadro de pessoal e sem o uso de combustíveis que podem pesar sobre a balança comercial ou antecipar o esgotamento de nossas reservas energéticas. 2. É sabido que qualquer tipo de geração de energia elétrica requer um investimento expressivo antes do início da produção. Como dispomos de toda a cadeia tecnológica, um programa hidrelétrico resulta em reduzida importação de tecnologia e de equipamentos, menor pagamento de “royalties” e, sobretudo, cria empregos no próprio país. 3. Finalmente, tendo uma vida útil de pelo menos 100 anos, as hidrelétricas dispensam re-investimentos futuros, pois a vida útil das instalações de geração elétrica a partir de outras fontes é limitada a cerca de 35 anos. Isto significa, por exemplo, que, ao longo do tempo, uma hidrelétrica valha por três usinas térmicas. Perspectiva de cooperação no mundo da energia, Peter Greiner, p. 45-55 55

problemas circunscritos a algumas regiões – caso do Nordeste e da demanda de<br />

áreas metropolitanas – e aos cuidados com os usos que degradem a qualidade da<br />

água, não se justifica projetar sobre o país o mesmo nível de insuficiências que<br />

ocorrem em nível mundial. Pelo contrário, a análise da questão da água no Brasil<br />

só se completa se for considerada a sua potencialidade no quadro da grave crise da<br />

transição energética com que se defronta a humanidade.<br />

Sem menosprezar os problemas ambientais e sociais decorrentes da<br />

implantação dos reservatórios, convém lembrar, também, os indiscutíveis<br />

benefícios das barragens energéticas em termos de aproveitamento múltiplo e<br />

os importantes aspectos estratégicos do uso energético da água. Primeiro,<br />

examinemos alguns dos benefícios:<br />

a) Sem as hidrelétricas teríamos de produzir, a um custo superior, energia<br />

em usinas nucleares ou térmicas, estas poluidoras, dependentes da importação<br />

de combustíveis e provocadoras do aquecimento global pelo efeito estufa.<br />

b) Os reservatórios regularizam as vazões, reservando água para períodos<br />

secos e evitando ou diminuindo os picos de eventuais crescidas, evitando<br />

enchentes danosas.<br />

c) Viabilizam, em certos casos, a navegação a um custo marginalmente<br />

baixo, favorecendo o transporte das colheitas, barateando os alimentos e a<br />

competitividade de nossos produtos.<br />

d) Geralmente, as barragens facultam ou facilitam a irrigação e o<br />

abastecimento de água. Assim, por exemplo, as represas de Guarapiranga e<br />

Billings, construídas para fins energéticos, vieram a servir, sem ônus, ao<br />

abastecimento da região metropolitana de São Paulo.<br />

e) O assoreamento dos rios é apontado como sendo uma desvantagem das<br />

hidrelétricas. É um equívoco, pois o assoreamento que ocorre é apenas nos<br />

reservatórios. A água liberada pelos reservatórios sai decantada, sem os sólidos<br />

provenientes de montante, o que favorece o desassoreamento do rio à jusante<br />

da barragem. Uma desvantagem das barragens é a redução da carga de solos<br />

que, a cada inundação, se depositariam nas várzeas de jusante, fertilizando-as.<br />

No plano estratégico é indispensável considerar as questões fundamentais<br />

apresentadas no item 1 (O Desafio Energético) sobre a essencialidade da<br />

energia na manutenção dos padrões da sociedade moderna, o inexorável<br />

esgotamento dos recursos que respondem por 80% do suprimento energético<br />

atual, o petróleo, o gás e o carvão, e as incertezas que cercam a substituição<br />

destes, tanto nos aspectos técnicos como de suficiência volumétrica.<br />

Por isso, a melhor estratégia do país seria a de acelerar e maximizar o<br />

desenvolvimento de todos os potenciais hidroelétricos possíveis, concebidos e<br />

executados na melhor técnica e ambientalmente aceitáveis, o que resultaria numa<br />

extraordinária vantagem para nosso desenvolvimento econômico diante da<br />

dispendiosa e provavelmente conturbada transição energética futura. Quanto<br />

maior a geração hidrelétrica, menor será nossa exposição às incertezas e custos<br />

das crises cíclicas na transição dos sistemas de suprimento energético, ganhando<br />

tempo e espaço para os ajustes que virão. Caberia, mesmo, antecipar o quanto<br />

possível tais projetos para evitar que, com o tempo, eles se inviabilizem, pela<br />

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