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Edição Especial - Faap

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longos períodos de maturação, e grandes riscos de exploração em se tratando<br />

de petróleo e gás, fatores que, no seu conjunto, compõem o que se<br />

convencionou designar por “up-front investments and risks”. A isto se acresce<br />

a tendência de governos influírem na formulação de preços, manipulando-os<br />

devido à sua visibilidade e importância política, quando não se vêem tentados a<br />

assumir e estatizar segmentos de setor que, muitas vezes, constituem<br />

monopólios naturais, como no caso típico dos sistemas de dutos de gás,<br />

transmissão e distribuição de energia elétrica.<br />

Os setores, anteriormente estatais, de energia elétrica e de hidrocarbonetos da<br />

Argentina e do Brasil passaram por profunda crise (exceção feita à Petrobrás), o<br />

que levou a processos de “desregulamentação” e privatização que, embora<br />

semelhantes, apresentaram diferenças importantes, com destaque para as seguintes:<br />

Na Argentina a deterioração dos serviços públicos era dramática e a<br />

Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) não tinha boa imagem, o que facilitou<br />

a abertura do setor naquele país. No Brasil era boa a percepção do desempenho<br />

da área energética, não chegando ao consumidor a consciência sobre a falta de<br />

investimentos e a crise financeira do setor elétrico. Entretanto, em ambos os<br />

casos, o Estado não mais conseguia responder pelos investimentos necessários<br />

para manter a expansão da oferta e dos serviços.<br />

A abertura do setor na Argentina começou 5 anos antes que no Brasil, e<br />

envolveu a privatização total do setor, inclusive a YPF. O governo tinha pronto<br />

um projeto claro, elaborado pelo Instituto Mediteranée. No Brasil, o governo<br />

começou a privatização da distribuição de energia elétrica apenas em 1995, sem<br />

contar, de início, com um projeto bem definido para o setor elétrico. No lado<br />

dos hidrocarbonetos a mudança limitou-se à abertura do setor ao ingresso de<br />

empresas privadas, retirando-se o monopólio legal da Petrobrás, que<br />

permaneceu intacta.<br />

Na Argentina tudo foi privatizado, com reflexos imediatos e positivos<br />

permitindo a superação dos então severos “apagones” devido a dois fatores<br />

principais: (i) a agressividade dos produtores de gás natural querendo<br />

maximizar, num regime competitivo, suas vendas, o que proporcionou um<br />

rápido investimento em térmicas de ciclo combinado, e (ii) os investidores que<br />

compraram o parque termoelétrico, ciosos em aumentar suas receitas,<br />

empenharam-se na reforma das instalações obsoletas, dobrando em curto prazo<br />

o índice de disponibilidade de 40% para 80%, o que significou, na prática, um<br />

aumento da oferta de 25%, acabando com a crise de energia elétrica, mantendo<br />

baixos os preços aos consumidores devido à competição.<br />

Já no Brasil, manteve-se o monopólio de fato, não mais determinado por lei,<br />

da Petrobrás, esta dominando, também, todo o segmento de gás até os “citygates”,<br />

ao que se acrescenta sua participação minoritária em quase todas as<br />

distribuidoras de gás. Privatizou-se cerca de 60% das distribuidoras de energia<br />

elétrica, ficando de fora a Cemig, Copel e Celesc, e apenas 20% da geração –<br />

Eletrosul e parte da Cesp. O processo de privatização e o projeto de reestruturação<br />

foram paralisados a partir de 1999, em razão das dificuldades políticas que o<br />

governo de Fernando Henrique encontrou no seu segundo mandato.<br />

48<br />

Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(edição especial), 2006

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