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Edição Especial - Faap

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Brasil e Visão do Paraíso); a Raymundo Faoro (Os Donos do Poder) mais tarde e,<br />

mais recentemente, a antropólogos como Darcy Ribeiro e Roberto da Matta, que<br />

também deram contribuição fundamental para que evoluíssemos nessa tentativa de<br />

explicar o Brasil para, como aconselha Darcy Ribeiro, talvez reinventá-lo.<br />

Mas, como disse, ensinar o que é o Brasil, cultural e estruturalmente, é<br />

apenas uma de minhas tarefas. Cientista político, procuro entender e explicar<br />

também a cena política contemporânea conjuntural para investidores nacionais<br />

e estrangeiros. Devo confessar que nos últimos meses essa tarefa tem sido mais<br />

difícil porque se a política e a história são mesmo dinâmicas, no Brasil atual elas<br />

têm sido supersônicas. Se olharmos com perspectiva histórica, veremos que nas<br />

últimas duas décadas o Brasil conheceu transformações fantásticas, fortalecendo<br />

as suas instituições tradicionalmente fragilizadas. O ambiente institucional geral<br />

do país é muito melhor do que no fim da década de 80. Mas ainda assim,<br />

parece-me um erro afirmar que chegamos à solidez institucional e à plenitude<br />

democrática. Os partidos, instituições políticas por excelência, por exemplo,<br />

encontram-se fragilizados e nosso sistema representativo tem sido<br />

profundamente questionado. Mesmo a democracia, que politicamente tem se<br />

consolidado, ainda terá de trilhar longo caminho para atingir patamar mais<br />

digno de igualdade social.<br />

Os jornais e revistas têm apontado problemas gravíssimos e denunciado<br />

práticas tradicionais que nos levam a perguntar se e o quanto evoluímos<br />

realmente. Há escândalos a acompanhar e reclamos a fazer nas mais distintas<br />

áreas de abrangência do Estado, e isto não me parece um problema exclusivo<br />

do atual governo e de nenhum governo em particular. Estruturalmente, nosso<br />

Estado tem sérios entraves. Não conseguimos demonstrar eficiência no<br />

tratamento da coisa pública e no gasto dos (muitos) impostos arrecadados. Por<br />

isso, tanto a idéia de res pública quanto a de política ficaram enfraquecidas.<br />

É claro, pode-se explicar a cena conjuntural brasileira por ela mesma;<br />

compreender os interesses e os conflitos em jogo; a racionalidade dos atores diante<br />

de seus objetivos mais imediatos e das disputas eleitorais que no Brasil estão sempre<br />

no foco de médio e curto prazos. Ainda assim, hoje tenho clareza de que a<br />

explicação conjuntural não basta; assim como não me parece ser suficiente uma<br />

tentativa de explicação puramente econômica, pois, como disse acima, nossa<br />

racionalidade é diferenciada em relação àquela presente nos livros-texto.<br />

Uma análise estrutural, que considere as características de nossa formação<br />

cultural, forjada no processo histórico se faz necessária. Parece-me imprescindível<br />

que voltemos aos clássicos; que retomemos a tentativa de explicar o Brasil pelas<br />

suas raízes culturais; pelo espírito que se implantou e que séculos de prática<br />

consolidaram. É neste ponto que o professor de sociologia e o analista político se<br />

encontram. E, para ser sincero, se fundem e se confundem num ambiente apenas<br />

aparentemente confuso, porque é fusão da cultura de três raças tristes, como disse<br />

Paulo Prado, mais tarde enriquecida de outras tantas e tão complexas raças e<br />

culturas que fizeram do Brasil uma espécie de “mundo todo”.<br />

Digo apenas aparentemente confuso porque a história e as relações sociais<br />

forjadas desde o Descobrimento nos ajudam a compreender o Brasil e as suas<br />

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Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(edição especial), 2006

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