Edição Especial - Faap
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No Ensino Médio, os estados do Sul do país exibem taxas de escolarização líquida acima dos 50%, com Taxas de Atendimento acima dos 80%. Isto significa que, de cada dez jovens de 15 a 17 anos, oito estão na escola e cinco estudam no nível de ensino correto. O estado de São Paulo e o Distrito Federal acompanham esta tendência, seguidos de perto pelos demais estados do Sudeste. Os estados do Nordeste, embora apresentem altas taxas de atendimento dessa população jovem, mostram que apenas dois ou três alunos, entre os oito que estão na escola, encontram-se no nível correto. Os demais ainda tentam concluir seus estudos no nível de ensino Fundamental (Gráfico 3). Ainda assim, as taxas de atendimento próximas de 80%, tanto nos estados do Nordeste como nas regiões Norte e Centro-Oeste, indicam o grande avanço alcançado com a volta à escola de jovens que não tinham a perspectiva de terminar seus estudos, ou mesmo concluir o processo de alfabetização. No início da década de 90, essas mesmas taxas de atendimento variavam de 50% a 63%, entre os estados do Nordeste. 2.2. O déficit da qualidade na educação básica Nota-se que o desafio atual do ensino fundamental não se situa mais em termos de democratização do acesso e sim na oferta de um ensino que atenda 170 Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(edição especial), 2006
a padrões mínimos de qualidade. O monitoramento sistemático do sistema educacional – realizado anualmente por meio do Censo Escolar e a cada dois anos pelo Saeb – tem mostrado que a capacidade de atendimento das redes de ensino já é suficiente para assegurar vaga a todas as crianças de 7 a 14 anos, embora ainda existam déficits localizados em determinadas regiões do país. Dessa forma, o principal objetivo passa a ser a promoção da permanência e da aprendizagem dos alunos, ou seja, assegurar-lhes as condições de sucesso escolar. Para isso, torna-se indispensável um conjunto de ações, que vai desde a melhoria das instalações físicas da rede escolar até a completa superação da arraigada cultura da repetência. A garantia de um padrão satisfatório de qualidade exige ainda a implantação de jornada escolar de, no mínimo, cinco horas e a adoção de políticas de formação e valorização do magistério. A falsa premissa de que seria benéfico para o aluno com baixo rendimento escolar repetir a mesma série para reforçar a aprendizagem dos conteúdos correspondentes contribuiu para gerar uma das principais anomalias do sistema educacional brasileiro, que é a incidência de elevadas taxas de distorção idade/série. Isso ocorre porque os alunos levam em média cerca de 10,5 anos para concluir as oito séries da escolarização obrigatória. Somente no ensino fundamental estão retidos 6,8 milhões de alunos com 15 anos ou mais e que já deveriam estar freqüentando o ensino médio. Este excedente de matrículas, que resulta numa taxa de escolarização bruta de 130%, aumenta em cerca de 30% os gastos dos sistemas de ensino. A conseqüência mais drástica, porém, recai sobre os próprios alunos com distorção idade/série, pois já se comprovou que essa situação afeta a sua auto-estima e prejudica o seu rendimento, resultando freqüentemente no abandono definitivo da escola 9. A identificação das causas – repetência e abandono – e o reconhecimento das conseqüências drásticas da distorção idade/série – aumento dos custos, queda dos níveis de desempenho e fracasso escolar – estão levando os sistemas de ensino a criar programas de aceleração da aprendizagem e a promover outras iniciativas com vistas à correção do fluxo escolar. A distorção idade/série, que era de 64% em 1991, caiu para 34% em 2003. Apesar da redução, são cerca de 11,6 milhões de alunos, de um total de 34,4 milhões matriculados neste nível de ensino em 2003, que apresentam no mínimo um ano de atraso no seu percurso escolar. A queda da taxa de distorção idade/série foi mais pronunciada nas quatro séries iniciais, tendência que certamente está associada à implantação do ciclo básico, eliminando dessa forma o problema da reprovação. Esta política vem produzindo efeitos sobre as séries finais, que exibem historicamente taxas de distorção mais elevadas. Especialmente na 5.ª série a redução merece destaque, passando de 70% em 1991 para 43% em 2003 (Tabela 3). 9 Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Avaliação dos Concluintes do Ensino Médio (Acem) demonstraram que o nível de desempenho dos alunos cai à medida que aumenta a distorção idade/série. O mesmo resultado se verificou nas avaliações do Enem (1998-2003) e nas avaliações do Pisa 2000 e 2003. A educação no Brasil..., Maria Helena Guimarães de Castro, p. 162-189 171
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educacional – realizado anualmente por meio do Censo Escolar e a cada dois<br />
anos pelo Saeb – tem mostrado que a capacidade de atendimento das redes de<br />
ensino já é suficiente para assegurar vaga a todas as crianças de 7 a 14 anos,<br />
embora ainda existam déficits localizados em determinadas regiões do país.<br />
Dessa forma, o principal objetivo passa a ser a promoção da permanência e da<br />
aprendizagem dos alunos, ou seja, assegurar-lhes as condições de sucesso<br />
escolar. Para isso, torna-se indispensável um conjunto de ações, que vai desde a<br />
melhoria das instalações físicas da rede escolar até a completa superação da<br />
arraigada cultura da repetência. A garantia de um padrão satisfatório de<br />
qualidade exige ainda a implantação de jornada escolar de, no mínimo, cinco<br />
horas e a adoção de políticas de formação e valorização do magistério.<br />
A falsa premissa de que seria benéfico para o aluno com baixo rendimento<br />
escolar repetir a mesma série para reforçar a aprendizagem dos conteúdos<br />
correspondentes contribuiu para gerar uma das principais anomalias do sistema<br />
educacional brasileiro, que é a incidência de elevadas taxas de distorção<br />
idade/série. Isso ocorre porque os alunos levam em média cerca de 10,5 anos<br />
para concluir as oito séries da escolarização obrigatória. Somente no ensino<br />
fundamental estão retidos 6,8 milhões de alunos com 15 anos ou mais e que já<br />
deveriam estar freqüentando o ensino médio. Este excedente de matrículas, que<br />
resulta numa taxa de escolarização bruta de 130%, aumenta em cerca de 30% os<br />
gastos dos sistemas de ensino. A conseqüência mais drástica, porém, recai sobre<br />
os próprios alunos com distorção idade/série, pois já se comprovou que essa<br />
situação afeta a sua auto-estima e prejudica o seu rendimento, resultando<br />
freqüentemente no abandono definitivo da escola 9.<br />
A identificação das causas – repetência e abandono – e o reconhecimento<br />
das conseqüências drásticas da distorção idade/série – aumento dos custos,<br />
queda dos níveis de desempenho e fracasso escolar – estão levando os sistemas<br />
de ensino a criar programas de aceleração da aprendizagem e a promover outras<br />
iniciativas com vistas à correção do fluxo escolar. A distorção idade/série, que<br />
era de 64% em 1991, caiu para 34% em 2003. Apesar da redução, são cerca de<br />
11,6 milhões de alunos, de um total de 34,4 milhões matriculados neste nível<br />
de ensino em 2003, que apresentam no mínimo um ano de atraso no seu<br />
percurso escolar. A queda da taxa de distorção idade/série foi mais pronunciada<br />
nas quatro séries iniciais, tendência que certamente está associada à implantação<br />
do ciclo básico, eliminando dessa forma o problema da reprovação. Esta política<br />
vem produzindo efeitos sobre as séries finais, que exibem historicamente taxas<br />
de distorção mais elevadas. <strong>Especial</strong>mente na 5.ª série a redução merece<br />
destaque, passando de 70% em 1991 para 43% em 2003 (Tabela 3).<br />
9 Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Avaliação dos Concluintes<br />
do Ensino Médio (Acem) demonstraram que o nível de desempenho dos alunos cai à medida que aumenta<br />
a distorção idade/série. O mesmo resultado se verificou nas avaliações do Enem (1998-2003) e nas<br />
avaliações do Pisa 2000 e 2003.<br />
A educação no Brasil..., Maria Helena Guimarães de Castro, p. 162-189<br />
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