22.06.2013 Views

DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES

DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES

DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

<strong>DISCÍPULOS</strong> <strong>INVOLUNTÁRIOS</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>SCARTES<br />

críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções<br />

Achilles Delari Junior *<br />

Este é um material para fins didáticos, no apoio ao trabalho de nosso grupo de estudos em teoria históricocultural<br />

de Umuarama, como uma primeira aproximação à teoria das emoções de Vigotski (1931-33/2004)<br />

e todo o quadro de referências que este autor submete à crítica, ainda que, como lhe é habitual, sem ao<br />

final apresentar exatamente uma proposta completa de superação do que é criticado. De qualquer<br />

maneira, no próprio movimento de negação da psicologia tradicional realizado por Vigotski, podemos<br />

perceber o contorno das suas próprias posições, daquilo que ele afirma no próprio ato de negar. O capítulo<br />

18 da obra “Teoria das emoções”, de 1931-33, é particularmente interessante nesse sentido, por seu<br />

caráter sintético. Critica tanto a teoria das emoções de Descartes 1 , quanto algumas de suas supostas<br />

oposições posteriores, que ao final das contas não podem fazer mais do que manter-se no quadro do<br />

mesmo dualismo daquele pensador – seja pelo reducionismo ao fisiológico (James 2 /Lange 3 ), seja pela<br />

abstração a um psiquismo independente com relação aos processos neuro-funcionais (Freud 4 e<br />

Scheler 5 /Lotze 6 ). Desse modo, Vigotski aponta, ao mesmo tempo, os limites fundamentais da teoria das<br />

emoções de Descartes e os de seus “discípulos involuntários” (VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 211). Aspectos<br />

afirmativos quanto a uma postura com a qual Vigotski atina são também indicados no texto, sobretudo por<br />

menções à visão de Chabrier 7 . Sem seguir a exata ordem de exposição do texto, mas procurando manter a<br />

lógica interna de sua organização conceitual, partirei aqui da comparação entre aspectos da teoria de<br />

Descartes com proposições de James/Lange, para em seguida falar de duas tentativas mal sucedidas de<br />

superar as lacunas deixadas por tal confronto: a de Freud e a de Scheler/Lotze. Por último, apresentarei<br />

algumas anotações sobre as alusões a Chabrier, relacionando emoções com ideologia e propondo a<br />

impossibilidade de separação substancial entre emoções inferiores e superiores. Um caminho apenas<br />

esboçado por Vigotski, cujo desenvolvimento atual talvez venha a ser de interesse para o leitor.<br />

1 Distinção e semelhanças entre Descartes e James/Lange<br />

Descartes James/Lange<br />

Postula uma diferença absoluta entre os animais e o<br />

homem:<br />

Animais Homem<br />

Os animais são<br />

completamente carentes<br />

de emoções<br />

Não têm paixões da alma<br />

= já que não têm alma.<br />

Só o organismo humano<br />

experimenta emoções<br />

Paixão = vantagem<br />

distintiva do homem<br />

= Toda teoria das paixões concerne só ao homem<br />

Teoria das paixões concerne ao homem, mas na<br />

medida em que o homem é um animal superior<br />

Trata-se de uma teoria “zoopsicológica” das<br />

emoções. E isso se apresenta nos seguintes princípios:<br />

a) origem animal das paixões humanas<br />

b) caráter comum das emoções dos animais e do<br />

homem<br />

c) natureza inata, reflexa e animal das emoções<br />

= ainda permanecerá o dualismo, na forma de<br />

“emoções inferiores” X “emoções superiores”<br />

* Psicólogo e pesquisador, mestre em Educação pela Unicamp, na área “Educação, conhecimento, linguagem e arte”. E-mail: delari@uol.com.br<br />

1 René Descartes (1596-1650), filósofo, físico e matemático francês.<br />

2 William James (1842-1910), filósofo e psicólogo norte-ameriano.<br />

3 Carl Georg Lange (1834-1900), anatomista dinamarquês.<br />

4 Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista judeu-austríaco.<br />

5 Max Scheler (1874-1928), filósofo alemão.<br />

6 Rudolf Hermann Lotze (1817-1881), filósofo e lógico alemão, formado em medicina, versado em biologia, precursor da psicologia.<br />

7 Provavelmente, Joseph François Chabrier (? - ?), autor de “Les emotions et les etats organiques” - obra publicada em Paris, pela Alcan em 1911.<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 1 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

2 Distinção e semelhanças entre as teorias explicativa/organicista e descritiva/teleológica<br />

Teoria explicativa (organicista) 8 Teoria descritiva (teleológica)<br />

Representada por James e Lange<br />

Postula uma explicação fisiológica das emoções<br />

Como explicar os “valores”, por exemplo?<br />

Mantém um dualismo na oposição:<br />

Eles são inacessíveis ao estudo psicofísico e<br />

“emoções superiores” X “emoções inferiores”<br />

psicofisiológico<br />

Exige uma complementação/correção por outra teoria<br />

Mantém-se o dualismo<br />

Nessa vertente está a chamada “psicologia teleológica”<br />

Busca descrever<br />

Não pretende explicar<br />

Rompe com a psicologia naturalista (causal)<br />

Trata-se da “Grande psicologia” 9<br />

3 Semelhança e distinções entre as teorias “teleológicas” de Freud e Scheler/Lotze<br />

Freud Scheler<br />

A “grande psicologia” impõe um enfoque distinto ao<br />

da “psicologia didática” oficial e ao da “psicologia<br />

médica”. Sendo assim seguem-se duas orientações:<br />

1) é desnecessário conhecer as vias nervosas, para<br />

entender, por exemplo, “o medo”.<br />

2) O afeto inclui:<br />

2.1) inervações motoras, sejam:<br />

a) reflexos, ou<br />

b) energias<br />

2.2) sensação de dupla natureza:<br />

a) percepção de atividades<br />

motrizes realizadas<br />

b) sensação direta de<br />

prazer-desprazer<br />

os quais dão tônus<br />

fundamental ao afeto<br />

Mas não se deduz que isso seja a “SUBSTÂNCIA” do<br />

afeto {= o afeto pertence a outra substância}<br />

Também representa uma reação à inconsistência da<br />

teoria reflexa das emoções.<br />

Diferente de Freud, rechaça [totalmente] a análise<br />

causal.<br />

Desenvolve uma fenomenologia (descrição) da vida<br />

emocional.<br />

Fala em dois tipos de lei:<br />

a) Leis causais, relativas a dependências<br />

psicofísicas – servem para os processos<br />

corporais<br />

b) leis lógicas (até então “esquecidas”), são<br />

independentes do psicofísico – servem para os<br />

atos emocionais superiores<br />

8 Os termos entre parênteses não são sinônimos dos que os antecedem. Contudo, são categorias que acrescentam às primeiras. A teoria explicativa<br />

tenta explicar as emoções pela via organicista. A teoria descritiva, não pretende explicar, nesse sentido não busca determinações, não é<br />

determinista. Segundo Vigotski, Espinosa “era um determinista” (1930/1991 – p. 87), no sentido de buscar as causas, portanto, a explicação dos<br />

fatos por sua gênese. A categoria tradicionalmente oposta à do “determinismo”, em filosofia, é a da “teleologia” (nesse contexto, ela significa<br />

ocuparmo-nos dos fins, não das origens; das manifestações, não das causas). Portanto, o “teleológico” aparece aqui como adjetivo complementar<br />

ao “descritivo”, o qual Vigotski também costuma denominar “fenomenológico”. “Teleológico”, é claro, não é uma categoria totalmente apropriada<br />

para Freud, pois em alguns momentos de sua trajetória buscou abertamente o determinismo, seja no campo biológico, seja depois o determinismo<br />

psíquico como tal – entretanto, como se verá nas anotações que virão em seguida, Vigotski relaciona Freud ao teleológico justamente por ele vir a<br />

relegar a um segundo plano as determinações materiais, caindo assim numa modalidade particular de dualismo, oposto, mas complementar àquele<br />

mantido por James/Lange. Estando todos estes, nesse sentido, sob a mesma categoria de “discípulos involuntários de Descartes”.<br />

9 Vigotski não explicita o conceito de “Grande psicologia” à qual adere Freud. Talvez fosse uma psicologia voltada ao que é “grandioso” na vida<br />

humana, o mais elevado, como os valores, a cultura, as artes. Contudo, em Freud, estes são tomados só como objeto de estudo, não como princípio<br />

explicativo. Também talvez “grande” por pretender-se superior àquela que se presta apenas a fins didáticos, acadêmicos, o que parece mais cabível.<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 2 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

[ter o afeto “substância” própria, está relacionado, para<br />

Vigotski, à necessidade do nascimento de uma:]<br />

Psicologia profunda dos afetos. 10<br />

Ela tenta preservar-se causal e determinista.<br />

Mas sua causalidade é puramente psíquica [a<br />

substância própria dos afetos é a mente, o neurofuncional<br />

(corpo) não é a substância dos afetos].<br />

Opõe-se ao superficialismo da “psicologia acadêmica”.<br />

Não encontra linguagem comum com a psicologia<br />

fisiológica.<br />

Freud diz não haver como debater com James/Lange<br />

{ver p. 215}.<br />

“Assim, o intento de preservar um exame<br />

puramente causal dos fatos psicológicos e, ao<br />

mesmo tempo, de não levar à ruína a psicologia<br />

considerada como uma ciência autônoma e de<br />

não por seus problemas nas mãos da fisiologia,<br />

obriga a psicologia profunda a reconhecer a<br />

absoluta independência substancial dos processos<br />

psíquicos e a autonomia da causalidade psíquica”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 - p. 215 – grifo<br />

meu)<br />

Scheler possui uma ética fundamentada em Pascal 11 =<br />

. ordem do coração<br />

. lógica do coração<br />

. razão do coração<br />

Tal ética encontra justificação rigorosa na análise de<br />

Scheler dos seguintes sentimentos<br />

. sentimentos éticos<br />

. sentimentos sociais<br />

. sentimentos religiosos<br />

Devem também ser submetidos à análise<br />

fenomenológica os seguintes sentimentos:<br />

. sentimento de vergonha<br />

. sentimento de medo<br />

. sentimento de pavor<br />

. sentimento de honra<br />

Há lugar para o problema da OR<strong>DE</strong>M de<br />

desenvolvimento desses sentimentos nos planos 12 :<br />

a) individual; e<br />

b) genérico.<br />

Trata-se de uma teoria puramente descritiva dos<br />

sentimentos superiores = oposta à teoria fisiológica<br />

Unida à metafísica e a um sistema metafísico<br />

determinado = baseado na impossibilidade de<br />

dedução genética dos sentimentos<br />

Retorna à divisão cartesiana:<br />

paixões espirituais x paixões sensíveis<br />

Lotze<br />

Próximo a Scheler estava [anteriormente] Lotze, autor<br />

que afirmou (mas sem desenvolver em detalhe) que:<br />

1) A vida dos sentimentos superiores tem:<br />

. natureza intencional<br />

. natureza cognitivo-avaliativa<br />

2) Há uma “lógica do coração”<br />

2.1 No sentimento de valor das coisas (e de<br />

suas relações) => nossa razão tem um meio,<br />

sério e importante, de revelar a verdade.<br />

10 Em notas sobre intervenções de Vigotski em apresentações internas de seu grupo, entre 1931-1934, ele alude à “psicologia dos cumes (não<br />

determina a “profundidade”, mas o “cume” da personalidade)” (1934/1991 – p. 130). Critica a “psicologia superficial” (fenomenológica) e a<br />

“psicologia profunda” (psicanalítica), que quer explicar o homem por suas “profundezas”, sua natureza subterrânea. A psicologia dos “cumes”,<br />

“elevações”, visa a compreender o ser humano a partir dele mesmo. Como em Marx: “ser radical é tomar as coisas pela raiz, mas a raiz para o<br />

homem é o próprio homem”. Assinalemos que o “próprio homem” define-se como ser social, simbólico e histórico. Em oposição à tônica da<br />

“psicologia profunda”, com seu ser humano individual, biológico e a-histórico. Sete anos antes, discutindo a “Crise da psicologia”, Vigotski já notava<br />

que “a psicanálise mostra suas tendências profundamente estáticas e não dinâmicas, conservadoras, antidialéticas e antihistóricas.” (1927/1991, p.<br />

299), o que é reiterado em 1934: “a psicologia profunda afirma que as coisas são o que eram” (VIGOTSKI, 1934/1991 – p. 130).<br />

11 Blaise Pascal (1623-1662), físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês.<br />

12 Aqui Vigotski dá a entender que haja algum lugar para o problema da gênese das emoções nesse sistema, mas logo abaixo sugere não haver tal<br />

possibilidade. Conferindo com a tradução inglesa (VIGOTSKI, 1931-33/1999), nota-se que não há uma omissão da negativa, e a tradução espanhola<br />

parece correta, não demandando confrontar com o russo, em princípio. Pode-se interpretar que o lugar para a “ordem” esteja “posto”, mas não<br />

esteja necessariamente desenvolvida a explicação sobre como algum sentimento derivado pode emergir com relação ao originário.<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 3 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

São estas as 2 respostas da psicologia contemporânea [tempo de Vigotski]<br />

à questão que era insolúvel para a “teoria reflexa”<br />

Freud busca elucidar o enigma: Scheler busca elucidar o enigma:<br />

Nas profundidades metafísicas do psiquismo humano<br />

– na vontade de Schopenhauer 13<br />

Busca a base das paixões nas esferas subterrâneas,<br />

subterrestres.<br />

Utiliza de bom grado as imagens do reino subterrâneo<br />

ou inferno, das profundidades extremas do espírito<br />

humano.<br />

Nas alturas metafísicas onde a paixão se revela<br />

separada das funções vitais<br />

Busca a base das paixões nas esferas supraterrestres.<br />

Dirige a atenção à música estrelar da esfera celestial.<br />

Trata-se da metafísica em sua forma pandemoníaca. Trata-se da metafísica em sua forma teísta.<br />

Ambas as respostas são [acabam sendo] um COMPLEMENTO inevitável de uma psicologia superficial das emoções<br />

que as reduz à “sensação de reações viscerais e motrizes”<br />

4 Anotações sobre as contribuições de Chabrier/Vigotski<br />

No início do capítulo 18, Vigotski ao polemizar com a teoria de James/Lange faz algumas menções pontuais<br />

a Chabrier. No curso da exposição, em alguns momentos não fica claramente diferenciado até que ponto<br />

está expondo as idéias deste autor e onde passa a expor sua própria posição. Buscarei apenas resgatar o<br />

contexto das citações e algo dos comentários de Vigotski que as seguem.<br />

4.1 Da crítica à hipótese visceral sobre as emoções<br />

Segundo Vigotski, a teoria de James/Lange supõe uma natureza “inata, reflexa e animal das emoções”<br />

(1931-33/2004 – p. 211). Isso se aplicaria também às emoções humanas. Sendo assim, os aspectos<br />

emocionais da vida humana, poderiam ser tratados como um vestígio de nossa herança animal no processo<br />

evolutivo, sendo o homem mais evoluído aquele no qual os processos racionais prevalecem (ver também<br />

VIGOTSKI, 1932/1998). Nesse ponto se explicita a posição de Chabrier:<br />

“(...) os críticos da teoria [de James/Lange] compreenderam que, de<br />

fato, na hipótese visceral se trata da natureza animal das emoções<br />

humanas. Referimo-nos a Chabrier, que expôs esta idéia da maneira<br />

mais brilhante. Propondo esta questão, disse Chabrier, penetramos<br />

no coração mesmo do problema e tocamos uma objeção capital<br />

formulada ante um mecanismo estabelecido de maneira absoluta e<br />

imutável, que é posto em ação de maneira automática em quanto<br />

se manifesta a excitação correspondente. É possível que isso seja<br />

certo para as emoções primitivas da criança, mas não pode sê-lo<br />

para as emoções habituais dos adultos”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212)<br />

13 Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão da corrente irracionalista. Segundo Vigotski, em trabalho anterior: “É um fato (...) que a<br />

doutrina de Freud sobre o papel primário das paixões cegas, papel que se reflete de forma inconsciente e desvirtuado na consciência, remonta<br />

diretamente à metafísica idealista da vontade e às representações de Schopenhauer. Em suas conclusões mais extremas, o próprio Freud assinala<br />

que se acha perto de Schopenhauer. Mas também em suas premissas fundamentais, assim como nas linhas determinantes de seu sistema, está<br />

ligado à filosofia do grande pessimista, como pode por de manifesto a análise mais simples” (1927/1991, p. 299).<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 4 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

4.2 Da crítica à distinção dualista entre emoções superiores e inferiores<br />

Vigotski está preocupado em compreender as emoções propriamente humanas. E diz que o próprio James<br />

nota esse problema, embora o termine por resolver de modo dualista, ficando as emoções básicas<br />

reduzidas à “hipótese periférica” 14 e os “sentimentos mais finos” assumidos como existentes, mas ainda<br />

inexplicáveis de um ponto de vista materialista. Vigotski faz algumas afirmações gerais como ponto de<br />

partida, que serão depois reiteradas junto a elaborações de Chabrier. Dentre elas podemos destacar as<br />

seguintes:<br />

“(...) até o indivíduo mais limitado sempre possui algum ideal<br />

mais ou menos vago, uma certa consciência mais ou menos<br />

perceptível”<br />

“[Mesmo] os sentimentos mais baixos apareceram a partir de<br />

tradições, crenças ou preconceitos religiosos”<br />

“Sua natureza [dos sentimentos] não permite considerá-los<br />

reações instintivas a excitações que não dependem de um<br />

sistema ideolologicamente estabelecido”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212 – grifos meus)<br />

Nota-se nessas três afirmações a relação das emoções com aspectos exclusivos do ser humano: (a) uma<br />

“consciência mais ou menos perceptível”; (b) uma série de práticas e/ou linguagens culturais como<br />

“tradições, crenças ou preconceitos”; e (c) “um sistema ideologicamente estabelecido”, do qual os<br />

sentimentos não são independentes 15 . James também teria conhecimento disso, da existência de<br />

sentimentos propriamente humanos, e assim buscou estabelecer diferenciações, por exemplo:<br />

Medo de um homem<br />

ante um urso<br />

Emoção grosseira<br />

Para William James:<br />

O compadecimento de uma mãe<br />

que passou<br />

pela morte do filho<br />

Sensibilidade fina<br />

Contudo, ao tentar explicar a diferença entre tais modalidades de processos afetivos e/ou emocionais,<br />

James, segundo Vigotski, acabaria por colocar as “sensibilidades morais superiores” como originárias “de<br />

uma atividade puramente espiritual” (VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212). Enquanto as “sensibilidades<br />

físicas inferiores”, teriam uma “explicação fisiológica” (idem). Nesse momento da discussão, Vigotski volta a<br />

recorrer a Chabrier, para defender a concepção de que não pode haver distinção absoluta entre emoção<br />

inferior e superior. Com exemplos etnocêntricos, próprios da época, contudo proporcionando ao mesmo<br />

tempo uma pista interessante, para ultrapassar o dualismo de James. Vejamos:<br />

14<br />

Isto é: à fisiologia dos sistemas orgânicos “periféricos” (vasomotores ou viscerais), independente dos processos “centrais” – aqueles relativos aos<br />

sistemas neuro-funcionais mais avançados, próprios do ser humano.<br />

15<br />

A relação das emoções com a ideologia e aspectos sócio-antropológicos já aparece no texto de Vigotski sobre os sistemas psicológicos no qual fala<br />

da diferença do ciúme do ocidental com relação ao do muçulmano (ver VIGOTSKI, 1930/1991 – p. 87).<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 5 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

“Com toda razão, Chabrier se refere a que o sentimento de fome,<br />

o qual habitualmente se considera dentro do grupo de<br />

sensibilidades corporais inferiores, é já no homem civilizado um<br />

sentimento que, desde o ponto de vista da nomenclatura de<br />

James, pode-se considerar fino, e que a simples necessidade de<br />

alimentar-se pode adquirir um sentido religioso quando conduz<br />

ao rito simbólico da comunhão mística entre o homem e a<br />

divindade. E, inversamente, o sentimento religioso, que por regra<br />

geral se considera uma emoção puramente espiritual,<br />

provavelmente não deve ser referido ao grupo de emoções<br />

superiores em piedosos canibais que sacrificam seres humanos à<br />

divindade. Por conseguinte, não existe emoção que seja por<br />

natureza superior ou inferior, como não existe emoção que seja<br />

por natureza independente do corpo, que não esteja unida a<br />

este”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213)<br />

Se o ato canibal de sacrificar um outro à divindade, alimentando-se dele, deve ou não também ser<br />

considerado emoção superior, não vem ao caso discutir aqui. Contudo, a lógica do argumento pode ser<br />

atual, no sentido da conclusão mais geral e progressista a que o autor chega: “não existe emoção que seja<br />

por natureza superior ou inferior, como não existe emoção que seja por natureza independente do corpo,<br />

que não seja unida a este”. Apenas nisso reside, ao menos em termos programáticos, já toda a distinção<br />

entre a concepção de Chabrier/Vigotski e a oposição dualista entre emoções superiores e inferiores tanto<br />

em Descartes como em seus “discípulos involuntários”, cujas idéias principais são apontadas no capítulo<br />

fichado aqui. Esta postura mais afirmativa de Vigotski, quanto à teoria das emoções, é reiterada no<br />

parágrafo seguinte, com ênfase no desenvolvimento das emoções como um processo integral, indivisível:<br />

“Por isso não há porque dividir o enorme âmbito das emoções<br />

em duas partes, a uma das quais se poderia aplicar a hipótese<br />

periférica, coisa que seria impossível para a outra. Não existem<br />

sentimentos que por direito de nascimento pertençam à<br />

categoria superior, enquanto que outros estariam vinculados,<br />

por natureza, à categoria inferior. A única diferença radica em<br />

sua riqueza e complexidade, e todas nossas emoções são<br />

capazes de ir adquirindo todos os graus de evolução dos<br />

sentimentos. Cada emoção só pode qualificar-se desde o ponto<br />

de vista de seu grau de evolução, razão pela qual a única teoria<br />

das emoções que se pode qualificar como satisfatória é a que se<br />

pode aplicar a todos os graus de desenvolvimento”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213)<br />

4.3 Do caráter histórico das emoções humanas e de sua relação com o conjunto da personalidade<br />

A teoria de James acabaria, ao fim das contas, tornando-se fatalista, por separar as emoções do “sistema<br />

das representações” (aqui Vigotski deve estar se referindo aos aspectos culturais, ideológicos, constitutivos<br />

das emoções) e relegar, assim, sua explicação a fenômenos animais e/ou por deixar seus aspectos<br />

históricos e culturais sem explicação alguma, pertencentes ao campo do insondável. Mais uma vez a<br />

contribuição de Chabrier é lembrada, mesmo que de passagem:<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 6 de 7


Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />

“As diferenças profundas que revelam as emoções do homem<br />

segundo a época e o grau de civilização – como, por exemplo, a<br />

diferença entre a adoração mística do cavaleiro [medieval?] a<br />

sua dama e a galanteria dos nobres do século XVII – não podem<br />

explicar-se a partir desta teoria. Se imaginamos, diz Chabrier, a<br />

natureza infinitamente rica da emoção mais pobre, se prestamos<br />

menos atenção à suposta psicologia dos organismos unicelulares<br />

que aos destacados novelistas e escritores, se simplesmente<br />

utilizamos a preciosa informação que nos proporciona a<br />

observação das pessoas que nos rodeiam, nos vemos obrigados<br />

a reconhecer a absoluta inconsistência da teoria periférica. Em<br />

efeito, é inadmissível que a mera percepção de uma silhueta<br />

feminina provoque automaticamente um sem fim de reações<br />

orgânicas das que poderia nascer um amor como o de Dante por<br />

Beatriz, se não se pressupõe o conjunto das idéias teológicas,<br />

políticas, estéticas e científicas que conformavam a consciência<br />

do genial Alighieri”<br />

(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213-214)<br />

Diante destas constatações, Vigotski segue argumentando que os adeptos de uma teoria periférica<br />

esqueceram-se de que “toda emoção é uma função da personalidade” (1931-33/2004 – p. 214). O que fez<br />

com que tal tentativa de avanço científico viesse a requerer como complemento “uma verdadeira teoria<br />

dos sentimentos humanos”, a qual pela via das abordagens descritivas, teleológicas, e/ou metafísicas<br />

(como as descritas sinteticamente acima), permaneceu herdeira involuntária de Descartes. Ficando ainda<br />

por se construir uma teoria dos sentimentos humanos que tenha como algumas de suas categorias<br />

principais: a consciência, a cultura, a ideologia, a história e a personalidade humana, em suas relações<br />

inter-constitutivas. Como um convite às gerações futuras e às que hoje com elas já se comprometem.<br />

Achilles Delari Junior<br />

Umuarama, PR, 14 de novembro de 2009<br />

Material para fins didáticos.<br />

Produção voluntária e independente.<br />

Passará por revisões posteriores<br />

5 Referências<br />

* * * * *<br />

VIGOTSKI, L. S. (1927/1991) El significado histórico de la crisis de la psicología: una investigación<br />

metodológica. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />

VIGOTSKI, L. S. (1930/1991) Sobre los sistemas psicológicos. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid:<br />

Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />

VIGOTSKI, L. S. (1932/1998) As emoções e seu desenvolvimento na infância. In: ______. O<br />

desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes.<br />

VIGOTSKI, L. S. (1931-33/1999) The teaching about emotions: historical-psychological studies. In: ______<br />

(1999) The collected works of L. S. Vygotsky. Vol. 6. Scientific legacy. New York, Boston, Dordrecht,<br />

London, Moscow: Kluwer Academic/Plenum Publishers<br />

VIGOTSKI, L. S. (1931-33/2004) Teoría de las emociones: studio histórico-psicológico. Madrid: Akal<br />

Universitaria.<br />

VIGOTSKI, L. S. (1934/1991) El problema de la consciencia. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid:<br />

Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />

GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 7 de 7


Reservados lodos los derechos. De acuerdo a 10 dispueslo en<br />

el an. 270 del C6digo Penal, podnin ser casligados con penas<br />

de l1Iulla y privaci6n de libenad quienes reproduzcan<br />

sin la precepliva aUIorizaci6n 0 plagien, en lodo 0<br />

en pane, una obra lilaaria, anislica 0 cienlitica tijada<br />

en cualquier lipo de sopone.<br />

© Ediciones Aka!. S. A., 2004<br />

2R7()O '1'n:s Cantos<br />

Madrid - Espaiia<br />

Tel.: 91 806 19 96<br />

Fax: 91 804 40 28<br />

ISBN: 84-460-1299-5<br />

Deposilo legal: M-770-2004<br />

Impreso en Materoffsel, S.L.<br />

Colmenar Viejo (Madrid)<br />

TEORIA <strong>DE</strong> LAS EMOCIONES<br />

Estudio hist6rico-psico16gico<br />

Traduccion:<br />

Judith Viaplana<br />

,,\Itill/,r<br />

4:.~<br />

...-.~<br />

-,,,,


mecanismo reflejo. En los experimentos de Pavlov, el perro secreta saliva<br />

en LInaclerta cantldad y de una cierta calidad en el momenta en que<br />

se Ie da de comer. ~uego, cuando se ha establecido el reflejo condicionaclo,<br />

el perro empleza a responder mediante la reacci6n a un estflllulo<br />

nuevo, hasta entonces neutro e indiferente, por ejemplo la luz azul.<br />

Pero.' e~lese caso, la reacci6n sal ivai es absolutamente identica. EI perro<br />

contInua sec.retando saliva en cantidad y calidad similares, pero s610<br />

por otro.m.olIvo. Ese mismo analisis puecle aplicarse a tad os los deIll~1s<br />

actos ref ICJos, en particular, alas reacciones emocionales .<br />

. Inicialmente, Ia reacci6n emocional cle miedo la provoca el efecto<br />

dlrecto de una c.ausa terrorffica. Posteriormente, esta puede ser provoca?a<br />

por cualqUler otro estfmulo, que se asocia algunas veces a la causa<br />

pnmera. EI nino reacciona de entrada mecliante el grito y el miedocuando<br />

toma un meclicamento amargo. Mas tarde, el mere hecho de ver la<br />

cuchara es cap~z de provocar en clla misma reacci6n. No hay duda de<br />

q~e la raz6n dlrecta de la reacci6n ha cambiado, pero la reaccion de<br />

mledo como tal se ha mantenido constante.<br />

En su~a, ha?rfamos podido expresar la misma idea de la siguiente<br />

~anera: Sl, segun James, la esencia de la emoci6n esta compuesta de<br />

ll1n,umerables actos reflejos, la (Inica modificaci6n posible es que Ios<br />

eSlImulos que p~ovoca~ la~ ~mociones puedan cambiar sustituyendose<br />

unos a.ot~os segun el. pnnclplO de Ios irritantes, pero la propia emoci6n,<br />

el.sentlmlen~o e.xpenmentado pOl' el ser humano siempre son identicos<br />

e.lguales a Sl mlsmos, aunque en la historia del desarrollo de las emo-<br />

Cl?neS Ias razones concretas de su manifestaci6n pueden modificar~e.<br />

mlentras que las propias emociones no pueden hacerlo.<br />

Por eso Lange esta completamente capacitado para afirmar: « ... en<br />

~area.1idacl, la di f~rencia entre el furor de los man faeos 0 de Ias personas<br />

lIl(OXIcauas con lalsas oronjas, y la c61era de quienes han recibido una<br />

afrenta sangrienta reside unicamente en Ias causas. asf como en la toma<br />

de cOllsciellcia de las GIUS~I.'correspolldiclltcs 0 Cll la ~\lIscllcia de Jicha<br />

cOllsciencia» (1896).<br />

Dc mallera que, tanto ell su creador, Desc~lI'lcs, como en Ios continuadores<br />

illvoluntarios de esle ultimo, la teorfa visceral no s610 dcscuida<br />

el problema del desarrollo, sino que, de hecho, 10 resuelve en el sentido<br />

d~, una ne~aci6n total y absoluta de cualquier posibilidad de<br />

evoluclOn emoclOnal del hombre. Es la conclusi6n inevitable que se<br />

sac a de la teorfa de las pasiones innatas.<br />

La cuesti6n de la originalidad de Ias emociones del hombre en relaci6n<br />

con las de Ios animales es la cuesti6n central de nuestro estudio y<br />

esta directamente unida al problema de desaITollo de Ias emociones.<br />

Dicha cuesti6n consiste en saber en que medida la teorfa de las emociones<br />

puede lIegar a_ser un capftulo de la psicologfa del hombre. En la<br />

soluci6n de esta cuestion, los discfpulos in oluntarios de Descartes se<br />

alejan aparentemente de ur.a manera clara de la posiCion del maestro.<br />

Descartes establece unaU,ferencia absolut,~, insalvable, entre los animales<br />

y el hombre. Abre un abism-;;entre el organismo humano, capaz<br />

de experimentar emociones, y Ios organismos ani males carentes por<br />

complelo de rasiones. Toda rasi6n es ya la ventaja distintiva del hombre.<br />

En general, en la naturaleza animal no existe naua p~lI'ccido alas<br />

pasiones del alma, puesto que precisamente no hay alma. Asf, la te2rfa<br />

c;lrlcsi:111:\dc las p~lsi(J1ICScOllcicl'I1c flllcgr:llllclllt: :!L!ll)lllhrc, y S(ll0.il<br />

/'..../'-. ./""-,~~-=<br />

cl. De entrada, estamos antc una tcorfa de las pasiuncs claborada dcsde<br />

el pUlllo de vista de la psicologfa del hombrc.<br />

En Jamcs y ell Llnge, pur el contrario, la tcorfa de las Clllociones<br />

s610 concierne al hombre en Ia medida en que es un animal superior. En<br />

el fondo, su teorfa es una teorfa zoopsicol6gica de las cmociones que<br />

s610 se refiere al hombre en tanto este mismo es un ser biol6gico. Ello<br />

aparece de manera includable en Ia teorfa del origen animal de las pasiones<br />

humanas, en la alirmacion del caracter comun de las principales<br />

emociones de los ani males y del hombre, y por ultimo en la presentaei6n<br />

fundamental de toda Ia teorfa de la naturaleza innata, relkja y animal<br />

de las emociones.<br />

No se Ie ha prestado demasiada atenci6n a ese aspecto de la cuesti6n,<br />

porque, general mente, el problema del hombre no se Ie planteaba


a la psicologfa contemponlnea. Pero, ya desde el principio, lanto Ios<br />

aut~re,s c~mo los crflicos de la leorfa comprendieron que, de hecho, en<br />

la hlpotesls visceral se lrata de Ia naturaleza animal de las emociones<br />

F / P ~manas. os re erimos a Chab(ier, qUIen a expuesto esta I en e a<br />

J...,t rf' ~er~te. PJanteando esta cuestion, dice Chabrier, penetramos<br />

en eI corazon mismo del problema y tocamos una objecion capital<br />

formulada contra la leorfa peliferica. Cuando se trata de los instintos<br />

nos hallamos ante un mecanismo establecido de manera absoluta ~<br />

inmutable, que es puesto en accion de manera automatica en cuanto se<br />

manifiesta la excitacion correspondiente. Es posible que ello sea eierto<br />

para las emociones primitivas del nino, pero no puede serlo para las<br />

emociones habituales de los adultos.<br />

No se trata unicamente de que, debido a su naturaleza los estados<br />

organicos que provocan una determinada emocion depenctan directan:~nte<br />

de I~ organizacion de la consciencia, del numero y sistematiza-<br />

CIOn de Ias Ideas con cuya ayuda se elaboran Ias impresiones extern as.<br />

No se tra:a unicam~nte de que nuestras emociones expresen eSlados del<br />

cuerpo, SInO que dIchos estados son Ia expresion del orden de nuestras<br />

percepcioncs. En primer lugar, y ante todo, se trata del problema de las<br />

emociones especfficas del hombre. EI propio James era proclive a Iimitar<br />

su hipotesis al ambito de las emociones groseras y a no extenderla a<br />

los sentimicntos mas finos y a los sentimientos superiores. Sin embargo,<br />

al parecer, todas las emociones humanas deben incluirse en la categorfa<br />

dc Ias cmocioncs rinas, pucslo Cjuc,(lcjancfo dc Iat 0 a os luiolas<br />

, r .!A~a cl inclividuo mas limitado siem re posec aloun ideal m.ls 0 meno<br />

ft va 0, una cle ·te co sciencla mas 0 menos crceptl Ie. Los senllmvcn-<br />

) t~s mas. b.ajos han aparecido a partIr e tradiciones, creencias 0 prcjui-<br />

CIOSrelIgIOsOS. Su naturaleza no permite considerarlos reacciones ins-J<br />

~' '


. I''i>~~<br />

'. --t--<br />

)' t" t ..<br />

Illera p~rcepci6n d~ una siluela I"cmcnina provoque automaticamente<br />

un slnlIn de reaCClOnes org,inicas de las que podrfa nacer un amor<br />

~omo el de ~ante por Beatriz. si no se~presupone el conjunlo de Ins<br />

Ideas teol?glcas. p~lflicas, esteticas y cicntf1Jcas que coni'ormaban la<br />

conSClenCla del genl,iTAlighieri.<br />

En su hip6tesis. los ;ldeptos de la teorfa or!!anicista olvidaron nada<br />

meno.s que eJ espfritu humano. ~6 ~s una funci6n de la er- I<br />

s.S!l9..lldtld.y eso es precisamente 10 que pierde de vista a teorfa perire- (<br />

nca. Asf, la teoria puramente naturalista de las ernociones requiere a'"<br />

m?do de complemento una verdadera y adecuada teorfa de los sentil1:lentos<br />

~um.anos. Asi se impone ell2..\0blema de una s'c Jogfa fisiol6g~ca<br />

~xpl~catlva ~e las ernociones. 'Est· sicologia descri tiv busca una<br />

Via clentdica onentada a los pro[)l"(mas del espfritu humano que los<br />

grandes mtt~res resuelven en las novelas y tragedias. En el plano de los<br />

* {<br />

con~eptos, esta pretende hacer accesible a Ia investigaci6n 10 que los<br />

escntores tomaron como objeto de su trabajo artfstico.<br />

POl'reg~a gcneral, el problema d~ las sensibilidades superiores, ~cia-<br />

-+do al estudlo ~e los va!ores, se consldera un ambito completamente inac-<br />

, C~SI~l~ a la pSleologfa que se interesa pOl'el estudio psicoffsico y psicofi-<br />

~I slolog~,co d:, Ios proces~s elementales de la consciencia y de su sustrato<br />

ij COrp.Old!.ASI es como, dlrectamente engendrada poria absoluta inconsistencw<br />

de 1£1actual psicologia expJicativa de Jas emoci.ones nace una sic<br />

I~fa teleoI6oica que describe las sensibilidades superi~res. Si, co'in(;<br />

afirm~ uno de los mas e~nentes investigadores contemponineos en psicologla<br />

comparada, es clerto que las emociones alcanzan en el hombre el<br />

-m,ayo: grado d~ compJejidad, fineza y variabilidad de formas, aunque su<br />

gene,'-;-p,odeis aprender sobre los afectos en psic~logfa. pOI' ejemplo en Ia teo-<br />

. I fla James-Lange, es para nosotros, los pSlcoanahstas, algo verd~dera-<br />

mente incOInRrensible ue no puede ser objeto de debate». SI,e II1ten-<br />

I to e preservar un examen puramenle causal de los hechos psicol6gicos<br />

y, al mismo tiempo, de no !levar a la ruina la psic.ologfa considerada<br />

como una ciencia au~ma y de no poneI' sus problemas en manos de<br />

la fisiologfa,oblrga a la p~icologfa profunda a j.econocer la absoluta<br />

independencia sustancial de los proceso.s psfquicos y la autonomfa de la<br />

'* I<br />

I I causalid~ld psfq.uica. ~ '\' ~ , I .<br />

,oV'-Otra sorriente de la psicologfa de Ias emociones contel11por~nea,<br />

q~e ha nacido cOmO ~acci6n ala inconsistencia de la teorfa reflejU de<br />

las emociones, encuenlra una soIucion a ese mismo problema del conocimiento<br />

psico16gico adecuado de los afectos recurriendo a 011'0medio.<br />

En el plano de los principios, esta rechaza un anaJisis causal de 10s sentimientos<br />

y se desarro!la como una fenomenoIogfa puramente descnptiva<br />

de 1£1vida emocional. Segun M. Scheler (M. Scheler, 1923), uno de<br />

los mas eminentes representantes de dicha corriente, hace mucho tiempo<br />

que hemo~tjue, paralelamente alas leyes causales y alas<br />

dependencias psicoffsicas de la vida emocjonal frente a 10s procesos<br />

corporaJe-s;-extsten tambien leyes I6glc as_independientes para las funciones<br />

y los actos emocionafesllamados s-uperiores, diferentes de las<br />

sensaciones del sentimiento. La naturaleza intencional y cognitivo-evaluativa<br />

de Ia vida de nuestros[sentil11ientos superiores [ue restablecida<br />

par primera vez pOl' Lotze, sin embargo, este no la desarro1l6, ya que


50.'0 conlirmo de manera muy general eSl{~6 'ica dS-.-c 0-(6n sin cxa-<br />

Illinaria ClldClalle.!\ cl penelll'l'l'llia ilka y !:IIUI'IllUla dc quc, cn el scntimiento<br />

del valor de las cosas)' de sus relacioncs, nucstra razon posee<br />

~ (un medio ae revelar la vcrdad Ian serio c illlportantc que, si nos basamos<br />

en una investigacion racional, el instrumento'constituido por la experimentacion<br />

es irreemplazable.<br />

En sus primcros trabajos, Scheler en persona ya habfa asimilado,<br />

desarrollado y transformado en fundamento de su etica el antiouo<br />

Rran pensamiento de B. Pascal obre el orden del corazon, Ia ogi~a e "''''<br />

corazon, la razon del corazon. esde ese punto de vista, sometio a ana-<br />

Jisis los sentimientos eticoS: sociales y religiosos, en los que, segun su<br />

opinion, el pensamiento certero y profundo de Pascal encontro una justificacion<br />

rigurosa. Yendo mas lejos en esta direccion, considera necesario<br />

someter ~I mismo QnaIisis fenomenologico la esencia y las formas<br />

del sentimiento de ~ergiienza, de)nie"'"<br />

como su pr'OI'Qngacion y su desarrollo bajo una apariencia cientffica. I ~~ ""<<br />

Poco importa que haya recafdo en James y en Lange la tarea de desarro j<br />

liar unicamente uno de los dos principios de esta teorfa y que su teorla se<br />

haya limitado a la aplicacion de un punto de vista naturalista para explicar<br />

las emociones. Exactamente de la misma manera ue, en el sistema<br />

.del ropio Des:arte a e~RITCacion natu:a ~s~de .las pasiones del aln;a /<br />

lIeva a unaJ~orJ:l espmTillrf!s a e los Sentlmlentos mtelectuales, Ia teona r I ' ()"<br />

de las emociones mas logica y mas naturalista de la psi:ologfa ~o~tem-~<br />

poranea crea en otro polo, a modo de contrapeso, l~o;:ta teleologlea de<br />

la logica~de la revelacion de 10s sentimientos supe~es.<br />

El equilibrio sobre el que deseansa el sistema cartcsiano se restablece<br />

de nuevo en la psicologfa de las emociones contemporanea, donde<br />

los principios naturalista y teleologico se contrarrestan mutuamente. Si<br />

3!nadimos que .Gm§no solo po era,b~til a ese se~ medio?e ex aminar<br />

los sentimientos humanos, sino que se acerco mucho a el en su<br />

teorfa de las emociones independientes del cuerpo y en su estudio de las<br />

formas multiples de la experieneia religiosa, es fucil convencerse de<br />

que, en realidad el r Rio autor de la teorfa fisiologiea de las emoeiones<br />

aceptaba la teorfa e,;;'t~iana n su totalidad, incluso si solo desarrollo<br />

de manera prioritaria llil un1co aspccto. Dc manera que, si se habla<br />

AJlwd]<br />

~Ib ~)<br />

tZ.<br />

, I


del aspecto principial de la cuestion, cst


ACH, N., Uber die Begriffsbildung; eine experimentelle Unersucllllng, Bamberg.<br />

192!.<br />

BARD, P. A., «A diencephalic mechanism for the expression of rage with special<br />

reference to the sympathetic nervous system«, Amu Physiol. g4<br />

(1928).<br />

BENTLEY, 1. M., «Is emotion more than a chapter heading?», en Feeling and<br />

Emotions, Norcester, 1928, pp. 17-23.<br />

BRENTANO, E, Psychologie von empirischen Swndpunkten, Leipzig, 1874.<br />

BREH, G. S., «Historical development of the history of emotions», en Feeling<br />

and Emotions, Norcester, 1928, pp. 388-396.<br />

CANNON, W. B., «The James-Lange theory of emotions. A critical examination<br />

and alternative theory». Amer. 1. Psycho!. 39 (1927).<br />

-, Bodaly changes in Pain, FeQ/;Hunger and Rage, 2-d ed., Boston, 1929.<br />

-, Y BRln'ON, S. W., «Pseudaffective medulliadrena! secretiol1», Arner.<br />

J. Physiol. 3 (1925).<br />

CLAI'ARE<strong>DE</strong>, E., «Feelings and emotions», en Feeling und Emotions, Norcester,<br />

1928, pp. 150- I 60.<br />

DANA. CH .. «The anatomic scat or the emotions. A discussion or the James-<br />

Lange tlll;ory», llreh. Neuml. I'sychiul. 6 (1921).<br />

DUNLAP, K., «Emotion as a dynamic background», en Feeling and Emotions,<br />

Nnrcestcr. 192R. rp. I:'i()-I 00.<br />

JII;I\I), II.y 11()I,r-..lI;S, li .."ScIIsllry Jislllr!l;lllccs "mill ccrcbral !csillllsn, Itmill<br />

34 (1911).<br />

IRONS, D., «Descartes and modern theories of emotiom>, Philos. Review 4<br />

( 1895).<br />

JANET. P., De l'angoise cll'extase, Parfs, 1928.<br />

JERKES, R., The Mental Life oIthe Monkeys and Apes, Nueva York, 1916.<br />

KAFKA, G., Handbllch der vergleichenden Psychologie, MUnchen, 1922.<br />

KIRILCEV, S., «Cases of affections of the optic thalamus», Reviewed in Neurologischen<br />

Zentralhlall 10 (1891).<br />

LEIIMANN, A., Die Hall[Jtgesetze des mensschlichen CeJi'iIzlslebens, Leipzig,<br />

1892.


LOlLE, G., Mediziniche Psychologie der Seele, leipzig, 1852.<br />

MARAi\'6N. G., "Contribution a l'etude de l'action emotive de l'adrenaline»,<br />

Rev. Frall~·.d'endocrinologie 2 (1924).<br />

MORGAN,C. L., Animal hehaviour. L., 1900.<br />

MULLER.J., Halldbllch de,. Physiologie des Menschen, L., 1842.<br />

MUNSTERIJERG, 1-1.,Grundlage der Physiologie, leipzig, 1918.<br />

NAIILOWSKY, J., Da.l· Geji'ihlslehell, Leipzig, 1862.<br />

NEWMAN,E. B., PERKINS, F. T. Y WHEELER, K. N., «Cannon's<br />

tion. A critique», Psycho I. Rev. 37 (1930).<br />

theory of emo-<br />

PERRY,R., General Theory o/Vaille, 1926.<br />

PI<strong>DE</strong>RIT,T., Mimik und Physiogllomik, Detmold, 1896.<br />

PIERON, A.,<br />

(J 920).<br />

«La dynamogenie emotionelle», Journal de Psychologie J 7<br />

PRINCE,M., "Can emotion be regarded<br />

Norcester, 1928, pp. 161-169.<br />

as energy?» en Feeling and Emotions,<br />

SCHELER,M., Die Sinnegesetze des emotionalen Leben, Leipzig, 1923.<br />

SPEARMAN,C. E., «A new method for investigating. The springs of action», en<br />

Feeling and Emotions, Norcester, 1928.<br />

TILNEY,F. y MORRISONJ. F., «Pseudobulbar palsy clinically and pathologically<br />

considered», J. Mental and Nerv. Diseases 39 (1912).<br />

WILSON,S. A., «Pathological<br />

(1924).<br />

laughing and crying», J. Neurol. Psychopathol. 4<br />

WOODWORTH,R. Y SHERRINGTON,C. S" «A Pseudaffective<br />

path», J. PhY.l'iol. 3 I (1904).<br />

reflex and its spinal<br />

YERKES, R. M. Y LERANED, E. W., Chimpan.l'ee<br />

Expression, Baltimore, 1925.<br />

Intelligence and its Vocal

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!