DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES
DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES
DISCÍPULOS INVOLUNTÁRIOS DE DESCARTES
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
<strong>DISCÍPULOS</strong> <strong>INVOLUNTÁRIOS</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>SCARTES<br />
críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções<br />
Achilles Delari Junior *<br />
Este é um material para fins didáticos, no apoio ao trabalho de nosso grupo de estudos em teoria históricocultural<br />
de Umuarama, como uma primeira aproximação à teoria das emoções de Vigotski (1931-33/2004)<br />
e todo o quadro de referências que este autor submete à crítica, ainda que, como lhe é habitual, sem ao<br />
final apresentar exatamente uma proposta completa de superação do que é criticado. De qualquer<br />
maneira, no próprio movimento de negação da psicologia tradicional realizado por Vigotski, podemos<br />
perceber o contorno das suas próprias posições, daquilo que ele afirma no próprio ato de negar. O capítulo<br />
18 da obra “Teoria das emoções”, de 1931-33, é particularmente interessante nesse sentido, por seu<br />
caráter sintético. Critica tanto a teoria das emoções de Descartes 1 , quanto algumas de suas supostas<br />
oposições posteriores, que ao final das contas não podem fazer mais do que manter-se no quadro do<br />
mesmo dualismo daquele pensador – seja pelo reducionismo ao fisiológico (James 2 /Lange 3 ), seja pela<br />
abstração a um psiquismo independente com relação aos processos neuro-funcionais (Freud 4 e<br />
Scheler 5 /Lotze 6 ). Desse modo, Vigotski aponta, ao mesmo tempo, os limites fundamentais da teoria das<br />
emoções de Descartes e os de seus “discípulos involuntários” (VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 211). Aspectos<br />
afirmativos quanto a uma postura com a qual Vigotski atina são também indicados no texto, sobretudo por<br />
menções à visão de Chabrier 7 . Sem seguir a exata ordem de exposição do texto, mas procurando manter a<br />
lógica interna de sua organização conceitual, partirei aqui da comparação entre aspectos da teoria de<br />
Descartes com proposições de James/Lange, para em seguida falar de duas tentativas mal sucedidas de<br />
superar as lacunas deixadas por tal confronto: a de Freud e a de Scheler/Lotze. Por último, apresentarei<br />
algumas anotações sobre as alusões a Chabrier, relacionando emoções com ideologia e propondo a<br />
impossibilidade de separação substancial entre emoções inferiores e superiores. Um caminho apenas<br />
esboçado por Vigotski, cujo desenvolvimento atual talvez venha a ser de interesse para o leitor.<br />
1 Distinção e semelhanças entre Descartes e James/Lange<br />
Descartes James/Lange<br />
Postula uma diferença absoluta entre os animais e o<br />
homem:<br />
Animais Homem<br />
Os animais são<br />
completamente carentes<br />
de emoções<br />
Não têm paixões da alma<br />
= já que não têm alma.<br />
Só o organismo humano<br />
experimenta emoções<br />
Paixão = vantagem<br />
distintiva do homem<br />
= Toda teoria das paixões concerne só ao homem<br />
Teoria das paixões concerne ao homem, mas na<br />
medida em que o homem é um animal superior<br />
Trata-se de uma teoria “zoopsicológica” das<br />
emoções. E isso se apresenta nos seguintes princípios:<br />
a) origem animal das paixões humanas<br />
b) caráter comum das emoções dos animais e do<br />
homem<br />
c) natureza inata, reflexa e animal das emoções<br />
= ainda permanecerá o dualismo, na forma de<br />
“emoções inferiores” X “emoções superiores”<br />
* Psicólogo e pesquisador, mestre em Educação pela Unicamp, na área “Educação, conhecimento, linguagem e arte”. E-mail: delari@uol.com.br<br />
1 René Descartes (1596-1650), filósofo, físico e matemático francês.<br />
2 William James (1842-1910), filósofo e psicólogo norte-ameriano.<br />
3 Carl Georg Lange (1834-1900), anatomista dinamarquês.<br />
4 Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista judeu-austríaco.<br />
5 Max Scheler (1874-1928), filósofo alemão.<br />
6 Rudolf Hermann Lotze (1817-1881), filósofo e lógico alemão, formado em medicina, versado em biologia, precursor da psicologia.<br />
7 Provavelmente, Joseph François Chabrier (? - ?), autor de “Les emotions et les etats organiques” - obra publicada em Paris, pela Alcan em 1911.<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 1 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
2 Distinção e semelhanças entre as teorias explicativa/organicista e descritiva/teleológica<br />
Teoria explicativa (organicista) 8 Teoria descritiva (teleológica)<br />
Representada por James e Lange<br />
Postula uma explicação fisiológica das emoções<br />
Como explicar os “valores”, por exemplo?<br />
Mantém um dualismo na oposição:<br />
Eles são inacessíveis ao estudo psicofísico e<br />
“emoções superiores” X “emoções inferiores”<br />
psicofisiológico<br />
Exige uma complementação/correção por outra teoria<br />
Mantém-se o dualismo<br />
Nessa vertente está a chamada “psicologia teleológica”<br />
Busca descrever<br />
Não pretende explicar<br />
Rompe com a psicologia naturalista (causal)<br />
Trata-se da “Grande psicologia” 9<br />
3 Semelhança e distinções entre as teorias “teleológicas” de Freud e Scheler/Lotze<br />
Freud Scheler<br />
A “grande psicologia” impõe um enfoque distinto ao<br />
da “psicologia didática” oficial e ao da “psicologia<br />
médica”. Sendo assim seguem-se duas orientações:<br />
1) é desnecessário conhecer as vias nervosas, para<br />
entender, por exemplo, “o medo”.<br />
2) O afeto inclui:<br />
2.1) inervações motoras, sejam:<br />
a) reflexos, ou<br />
b) energias<br />
2.2) sensação de dupla natureza:<br />
a) percepção de atividades<br />
motrizes realizadas<br />
b) sensação direta de<br />
prazer-desprazer<br />
os quais dão tônus<br />
fundamental ao afeto<br />
Mas não se deduz que isso seja a “SUBSTÂNCIA” do<br />
afeto {= o afeto pertence a outra substância}<br />
Também representa uma reação à inconsistência da<br />
teoria reflexa das emoções.<br />
Diferente de Freud, rechaça [totalmente] a análise<br />
causal.<br />
Desenvolve uma fenomenologia (descrição) da vida<br />
emocional.<br />
Fala em dois tipos de lei:<br />
a) Leis causais, relativas a dependências<br />
psicofísicas – servem para os processos<br />
corporais<br />
b) leis lógicas (até então “esquecidas”), são<br />
independentes do psicofísico – servem para os<br />
atos emocionais superiores<br />
8 Os termos entre parênteses não são sinônimos dos que os antecedem. Contudo, são categorias que acrescentam às primeiras. A teoria explicativa<br />
tenta explicar as emoções pela via organicista. A teoria descritiva, não pretende explicar, nesse sentido não busca determinações, não é<br />
determinista. Segundo Vigotski, Espinosa “era um determinista” (1930/1991 – p. 87), no sentido de buscar as causas, portanto, a explicação dos<br />
fatos por sua gênese. A categoria tradicionalmente oposta à do “determinismo”, em filosofia, é a da “teleologia” (nesse contexto, ela significa<br />
ocuparmo-nos dos fins, não das origens; das manifestações, não das causas). Portanto, o “teleológico” aparece aqui como adjetivo complementar<br />
ao “descritivo”, o qual Vigotski também costuma denominar “fenomenológico”. “Teleológico”, é claro, não é uma categoria totalmente apropriada<br />
para Freud, pois em alguns momentos de sua trajetória buscou abertamente o determinismo, seja no campo biológico, seja depois o determinismo<br />
psíquico como tal – entretanto, como se verá nas anotações que virão em seguida, Vigotski relaciona Freud ao teleológico justamente por ele vir a<br />
relegar a um segundo plano as determinações materiais, caindo assim numa modalidade particular de dualismo, oposto, mas complementar àquele<br />
mantido por James/Lange. Estando todos estes, nesse sentido, sob a mesma categoria de “discípulos involuntários de Descartes”.<br />
9 Vigotski não explicita o conceito de “Grande psicologia” à qual adere Freud. Talvez fosse uma psicologia voltada ao que é “grandioso” na vida<br />
humana, o mais elevado, como os valores, a cultura, as artes. Contudo, em Freud, estes são tomados só como objeto de estudo, não como princípio<br />
explicativo. Também talvez “grande” por pretender-se superior àquela que se presta apenas a fins didáticos, acadêmicos, o que parece mais cabível.<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 2 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
[ter o afeto “substância” própria, está relacionado, para<br />
Vigotski, à necessidade do nascimento de uma:]<br />
Psicologia profunda dos afetos. 10<br />
Ela tenta preservar-se causal e determinista.<br />
Mas sua causalidade é puramente psíquica [a<br />
substância própria dos afetos é a mente, o neurofuncional<br />
(corpo) não é a substância dos afetos].<br />
Opõe-se ao superficialismo da “psicologia acadêmica”.<br />
Não encontra linguagem comum com a psicologia<br />
fisiológica.<br />
Freud diz não haver como debater com James/Lange<br />
{ver p. 215}.<br />
“Assim, o intento de preservar um exame<br />
puramente causal dos fatos psicológicos e, ao<br />
mesmo tempo, de não levar à ruína a psicologia<br />
considerada como uma ciência autônoma e de<br />
não por seus problemas nas mãos da fisiologia,<br />
obriga a psicologia profunda a reconhecer a<br />
absoluta independência substancial dos processos<br />
psíquicos e a autonomia da causalidade psíquica”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 - p. 215 – grifo<br />
meu)<br />
Scheler possui uma ética fundamentada em Pascal 11 =<br />
. ordem do coração<br />
. lógica do coração<br />
. razão do coração<br />
Tal ética encontra justificação rigorosa na análise de<br />
Scheler dos seguintes sentimentos<br />
. sentimentos éticos<br />
. sentimentos sociais<br />
. sentimentos religiosos<br />
Devem também ser submetidos à análise<br />
fenomenológica os seguintes sentimentos:<br />
. sentimento de vergonha<br />
. sentimento de medo<br />
. sentimento de pavor<br />
. sentimento de honra<br />
Há lugar para o problema da OR<strong>DE</strong>M de<br />
desenvolvimento desses sentimentos nos planos 12 :<br />
a) individual; e<br />
b) genérico.<br />
Trata-se de uma teoria puramente descritiva dos<br />
sentimentos superiores = oposta à teoria fisiológica<br />
Unida à metafísica e a um sistema metafísico<br />
determinado = baseado na impossibilidade de<br />
dedução genética dos sentimentos<br />
Retorna à divisão cartesiana:<br />
paixões espirituais x paixões sensíveis<br />
Lotze<br />
Próximo a Scheler estava [anteriormente] Lotze, autor<br />
que afirmou (mas sem desenvolver em detalhe) que:<br />
1) A vida dos sentimentos superiores tem:<br />
. natureza intencional<br />
. natureza cognitivo-avaliativa<br />
2) Há uma “lógica do coração”<br />
2.1 No sentimento de valor das coisas (e de<br />
suas relações) => nossa razão tem um meio,<br />
sério e importante, de revelar a verdade.<br />
10 Em notas sobre intervenções de Vigotski em apresentações internas de seu grupo, entre 1931-1934, ele alude à “psicologia dos cumes (não<br />
determina a “profundidade”, mas o “cume” da personalidade)” (1934/1991 – p. 130). Critica a “psicologia superficial” (fenomenológica) e a<br />
“psicologia profunda” (psicanalítica), que quer explicar o homem por suas “profundezas”, sua natureza subterrânea. A psicologia dos “cumes”,<br />
“elevações”, visa a compreender o ser humano a partir dele mesmo. Como em Marx: “ser radical é tomar as coisas pela raiz, mas a raiz para o<br />
homem é o próprio homem”. Assinalemos que o “próprio homem” define-se como ser social, simbólico e histórico. Em oposição à tônica da<br />
“psicologia profunda”, com seu ser humano individual, biológico e a-histórico. Sete anos antes, discutindo a “Crise da psicologia”, Vigotski já notava<br />
que “a psicanálise mostra suas tendências profundamente estáticas e não dinâmicas, conservadoras, antidialéticas e antihistóricas.” (1927/1991, p.<br />
299), o que é reiterado em 1934: “a psicologia profunda afirma que as coisas são o que eram” (VIGOTSKI, 1934/1991 – p. 130).<br />
11 Blaise Pascal (1623-1662), físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês.<br />
12 Aqui Vigotski dá a entender que haja algum lugar para o problema da gênese das emoções nesse sistema, mas logo abaixo sugere não haver tal<br />
possibilidade. Conferindo com a tradução inglesa (VIGOTSKI, 1931-33/1999), nota-se que não há uma omissão da negativa, e a tradução espanhola<br />
parece correta, não demandando confrontar com o russo, em princípio. Pode-se interpretar que o lugar para a “ordem” esteja “posto”, mas não<br />
esteja necessariamente desenvolvida a explicação sobre como algum sentimento derivado pode emergir com relação ao originário.<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 3 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
São estas as 2 respostas da psicologia contemporânea [tempo de Vigotski]<br />
à questão que era insolúvel para a “teoria reflexa”<br />
Freud busca elucidar o enigma: Scheler busca elucidar o enigma:<br />
Nas profundidades metafísicas do psiquismo humano<br />
– na vontade de Schopenhauer 13<br />
Busca a base das paixões nas esferas subterrâneas,<br />
subterrestres.<br />
Utiliza de bom grado as imagens do reino subterrâneo<br />
ou inferno, das profundidades extremas do espírito<br />
humano.<br />
Nas alturas metafísicas onde a paixão se revela<br />
separada das funções vitais<br />
Busca a base das paixões nas esferas supraterrestres.<br />
Dirige a atenção à música estrelar da esfera celestial.<br />
Trata-se da metafísica em sua forma pandemoníaca. Trata-se da metafísica em sua forma teísta.<br />
Ambas as respostas são [acabam sendo] um COMPLEMENTO inevitável de uma psicologia superficial das emoções<br />
que as reduz à “sensação de reações viscerais e motrizes”<br />
4 Anotações sobre as contribuições de Chabrier/Vigotski<br />
No início do capítulo 18, Vigotski ao polemizar com a teoria de James/Lange faz algumas menções pontuais<br />
a Chabrier. No curso da exposição, em alguns momentos não fica claramente diferenciado até que ponto<br />
está expondo as idéias deste autor e onde passa a expor sua própria posição. Buscarei apenas resgatar o<br />
contexto das citações e algo dos comentários de Vigotski que as seguem.<br />
4.1 Da crítica à hipótese visceral sobre as emoções<br />
Segundo Vigotski, a teoria de James/Lange supõe uma natureza “inata, reflexa e animal das emoções”<br />
(1931-33/2004 – p. 211). Isso se aplicaria também às emoções humanas. Sendo assim, os aspectos<br />
emocionais da vida humana, poderiam ser tratados como um vestígio de nossa herança animal no processo<br />
evolutivo, sendo o homem mais evoluído aquele no qual os processos racionais prevalecem (ver também<br />
VIGOTSKI, 1932/1998). Nesse ponto se explicita a posição de Chabrier:<br />
“(...) os críticos da teoria [de James/Lange] compreenderam que, de<br />
fato, na hipótese visceral se trata da natureza animal das emoções<br />
humanas. Referimo-nos a Chabrier, que expôs esta idéia da maneira<br />
mais brilhante. Propondo esta questão, disse Chabrier, penetramos<br />
no coração mesmo do problema e tocamos uma objeção capital<br />
formulada ante um mecanismo estabelecido de maneira absoluta e<br />
imutável, que é posto em ação de maneira automática em quanto<br />
se manifesta a excitação correspondente. É possível que isso seja<br />
certo para as emoções primitivas da criança, mas não pode sê-lo<br />
para as emoções habituais dos adultos”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212)<br />
13 Arthur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão da corrente irracionalista. Segundo Vigotski, em trabalho anterior: “É um fato (...) que a<br />
doutrina de Freud sobre o papel primário das paixões cegas, papel que se reflete de forma inconsciente e desvirtuado na consciência, remonta<br />
diretamente à metafísica idealista da vontade e às representações de Schopenhauer. Em suas conclusões mais extremas, o próprio Freud assinala<br />
que se acha perto de Schopenhauer. Mas também em suas premissas fundamentais, assim como nas linhas determinantes de seu sistema, está<br />
ligado à filosofia do grande pessimista, como pode por de manifesto a análise mais simples” (1927/1991, p. 299).<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 4 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
4.2 Da crítica à distinção dualista entre emoções superiores e inferiores<br />
Vigotski está preocupado em compreender as emoções propriamente humanas. E diz que o próprio James<br />
nota esse problema, embora o termine por resolver de modo dualista, ficando as emoções básicas<br />
reduzidas à “hipótese periférica” 14 e os “sentimentos mais finos” assumidos como existentes, mas ainda<br />
inexplicáveis de um ponto de vista materialista. Vigotski faz algumas afirmações gerais como ponto de<br />
partida, que serão depois reiteradas junto a elaborações de Chabrier. Dentre elas podemos destacar as<br />
seguintes:<br />
“(...) até o indivíduo mais limitado sempre possui algum ideal<br />
mais ou menos vago, uma certa consciência mais ou menos<br />
perceptível”<br />
“[Mesmo] os sentimentos mais baixos apareceram a partir de<br />
tradições, crenças ou preconceitos religiosos”<br />
“Sua natureza [dos sentimentos] não permite considerá-los<br />
reações instintivas a excitações que não dependem de um<br />
sistema ideolologicamente estabelecido”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212 – grifos meus)<br />
Nota-se nessas três afirmações a relação das emoções com aspectos exclusivos do ser humano: (a) uma<br />
“consciência mais ou menos perceptível”; (b) uma série de práticas e/ou linguagens culturais como<br />
“tradições, crenças ou preconceitos”; e (c) “um sistema ideologicamente estabelecido”, do qual os<br />
sentimentos não são independentes 15 . James também teria conhecimento disso, da existência de<br />
sentimentos propriamente humanos, e assim buscou estabelecer diferenciações, por exemplo:<br />
Medo de um homem<br />
ante um urso<br />
Emoção grosseira<br />
Para William James:<br />
O compadecimento de uma mãe<br />
que passou<br />
pela morte do filho<br />
Sensibilidade fina<br />
Contudo, ao tentar explicar a diferença entre tais modalidades de processos afetivos e/ou emocionais,<br />
James, segundo Vigotski, acabaria por colocar as “sensibilidades morais superiores” como originárias “de<br />
uma atividade puramente espiritual” (VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 212). Enquanto as “sensibilidades<br />
físicas inferiores”, teriam uma “explicação fisiológica” (idem). Nesse momento da discussão, Vigotski volta a<br />
recorrer a Chabrier, para defender a concepção de que não pode haver distinção absoluta entre emoção<br />
inferior e superior. Com exemplos etnocêntricos, próprios da época, contudo proporcionando ao mesmo<br />
tempo uma pista interessante, para ultrapassar o dualismo de James. Vejamos:<br />
14<br />
Isto é: à fisiologia dos sistemas orgânicos “periféricos” (vasomotores ou viscerais), independente dos processos “centrais” – aqueles relativos aos<br />
sistemas neuro-funcionais mais avançados, próprios do ser humano.<br />
15<br />
A relação das emoções com a ideologia e aspectos sócio-antropológicos já aparece no texto de Vigotski sobre os sistemas psicológicos no qual fala<br />
da diferença do ciúme do ocidental com relação ao do muçulmano (ver VIGOTSKI, 1930/1991 – p. 87).<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 5 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
“Com toda razão, Chabrier se refere a que o sentimento de fome,<br />
o qual habitualmente se considera dentro do grupo de<br />
sensibilidades corporais inferiores, é já no homem civilizado um<br />
sentimento que, desde o ponto de vista da nomenclatura de<br />
James, pode-se considerar fino, e que a simples necessidade de<br />
alimentar-se pode adquirir um sentido religioso quando conduz<br />
ao rito simbólico da comunhão mística entre o homem e a<br />
divindade. E, inversamente, o sentimento religioso, que por regra<br />
geral se considera uma emoção puramente espiritual,<br />
provavelmente não deve ser referido ao grupo de emoções<br />
superiores em piedosos canibais que sacrificam seres humanos à<br />
divindade. Por conseguinte, não existe emoção que seja por<br />
natureza superior ou inferior, como não existe emoção que seja<br />
por natureza independente do corpo, que não esteja unida a<br />
este”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213)<br />
Se o ato canibal de sacrificar um outro à divindade, alimentando-se dele, deve ou não também ser<br />
considerado emoção superior, não vem ao caso discutir aqui. Contudo, a lógica do argumento pode ser<br />
atual, no sentido da conclusão mais geral e progressista a que o autor chega: “não existe emoção que seja<br />
por natureza superior ou inferior, como não existe emoção que seja por natureza independente do corpo,<br />
que não seja unida a este”. Apenas nisso reside, ao menos em termos programáticos, já toda a distinção<br />
entre a concepção de Chabrier/Vigotski e a oposição dualista entre emoções superiores e inferiores tanto<br />
em Descartes como em seus “discípulos involuntários”, cujas idéias principais são apontadas no capítulo<br />
fichado aqui. Esta postura mais afirmativa de Vigotski, quanto à teoria das emoções, é reiterada no<br />
parágrafo seguinte, com ênfase no desenvolvimento das emoções como um processo integral, indivisível:<br />
“Por isso não há porque dividir o enorme âmbito das emoções<br />
em duas partes, a uma das quais se poderia aplicar a hipótese<br />
periférica, coisa que seria impossível para a outra. Não existem<br />
sentimentos que por direito de nascimento pertençam à<br />
categoria superior, enquanto que outros estariam vinculados,<br />
por natureza, à categoria inferior. A única diferença radica em<br />
sua riqueza e complexidade, e todas nossas emoções são<br />
capazes de ir adquirindo todos os graus de evolução dos<br />
sentimentos. Cada emoção só pode qualificar-se desde o ponto<br />
de vista de seu grau de evolução, razão pela qual a única teoria<br />
das emoções que se pode qualificar como satisfatória é a que se<br />
pode aplicar a todos os graus de desenvolvimento”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213)<br />
4.3 Do caráter histórico das emoções humanas e de sua relação com o conjunto da personalidade<br />
A teoria de James acabaria, ao fim das contas, tornando-se fatalista, por separar as emoções do “sistema<br />
das representações” (aqui Vigotski deve estar se referindo aos aspectos culturais, ideológicos, constitutivos<br />
das emoções) e relegar, assim, sua explicação a fenômenos animais e/ou por deixar seus aspectos<br />
históricos e culturais sem explicação alguma, pertencentes ao campo do insondável. Mais uma vez a<br />
contribuição de Chabrier é lembrada, mesmo que de passagem:<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 6 de 7
Discípulos involuntários de Descartes – críticas de Vigotski a teorias dualistas das emoções — Achilles Delari Junior<br />
“As diferenças profundas que revelam as emoções do homem<br />
segundo a época e o grau de civilização – como, por exemplo, a<br />
diferença entre a adoração mística do cavaleiro [medieval?] a<br />
sua dama e a galanteria dos nobres do século XVII – não podem<br />
explicar-se a partir desta teoria. Se imaginamos, diz Chabrier, a<br />
natureza infinitamente rica da emoção mais pobre, se prestamos<br />
menos atenção à suposta psicologia dos organismos unicelulares<br />
que aos destacados novelistas e escritores, se simplesmente<br />
utilizamos a preciosa informação que nos proporciona a<br />
observação das pessoas que nos rodeiam, nos vemos obrigados<br />
a reconhecer a absoluta inconsistência da teoria periférica. Em<br />
efeito, é inadmissível que a mera percepção de uma silhueta<br />
feminina provoque automaticamente um sem fim de reações<br />
orgânicas das que poderia nascer um amor como o de Dante por<br />
Beatriz, se não se pressupõe o conjunto das idéias teológicas,<br />
políticas, estéticas e científicas que conformavam a consciência<br />
do genial Alighieri”<br />
(VIGOTSKI, 1931-33/2004 – p. 213-214)<br />
Diante destas constatações, Vigotski segue argumentando que os adeptos de uma teoria periférica<br />
esqueceram-se de que “toda emoção é uma função da personalidade” (1931-33/2004 – p. 214). O que fez<br />
com que tal tentativa de avanço científico viesse a requerer como complemento “uma verdadeira teoria<br />
dos sentimentos humanos”, a qual pela via das abordagens descritivas, teleológicas, e/ou metafísicas<br />
(como as descritas sinteticamente acima), permaneceu herdeira involuntária de Descartes. Ficando ainda<br />
por se construir uma teoria dos sentimentos humanos que tenha como algumas de suas categorias<br />
principais: a consciência, a cultura, a ideologia, a história e a personalidade humana, em suas relações<br />
inter-constitutivas. Como um convite às gerações futuras e às que hoje com elas já se comprometem.<br />
Achilles Delari Junior<br />
Umuarama, PR, 14 de novembro de 2009<br />
Material para fins didáticos.<br />
Produção voluntária e independente.<br />
Passará por revisões posteriores<br />
5 Referências<br />
* * * * *<br />
VIGOTSKI, L. S. (1927/1991) El significado histórico de la crisis de la psicología: una investigación<br />
metodológica. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />
VIGOTSKI, L. S. (1930/1991) Sobre los sistemas psicológicos. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid:<br />
Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />
VIGOTSKI, L. S. (1932/1998) As emoções e seu desenvolvimento na infância. In: ______. O<br />
desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes.<br />
VIGOTSKI, L. S. (1931-33/1999) The teaching about emotions: historical-psychological studies. In: ______<br />
(1999) The collected works of L. S. Vygotsky. Vol. 6. Scientific legacy. New York, Boston, Dordrecht,<br />
London, Moscow: Kluwer Academic/Plenum Publishers<br />
VIGOTSKI, L. S. (1931-33/2004) Teoría de las emociones: studio histórico-psicológico. Madrid: Akal<br />
Universitaria.<br />
VIGOTSKI, L. S. (1934/1991) El problema de la consciencia. In: ______. Obras Escogidas. Tomo I. Madrid:<br />
Visor y Ministerio de Educación y Ciencia.<br />
GETHC – Grupo de estudos em teoria histórico-cultural Umuarama-PR, 14-11-2009 7 de 7
Reservados lodos los derechos. De acuerdo a 10 dispueslo en<br />
el an. 270 del C6digo Penal, podnin ser casligados con penas<br />
de l1Iulla y privaci6n de libenad quienes reproduzcan<br />
sin la precepliva aUIorizaci6n 0 plagien, en lodo 0<br />
en pane, una obra lilaaria, anislica 0 cienlitica tijada<br />
en cualquier lipo de sopone.<br />
© Ediciones Aka!. S. A., 2004<br />
2R7()O '1'n:s Cantos<br />
Madrid - Espaiia<br />
Tel.: 91 806 19 96<br />
Fax: 91 804 40 28<br />
ISBN: 84-460-1299-5<br />
Deposilo legal: M-770-2004<br />
Impreso en Materoffsel, S.L.<br />
Colmenar Viejo (Madrid)<br />
TEORIA <strong>DE</strong> LAS EMOCIONES<br />
Estudio hist6rico-psico16gico<br />
Traduccion:<br />
Judith Viaplana<br />
,,\Itill/,r<br />
4:.~<br />
...-.~<br />
-,,,,
mecanismo reflejo. En los experimentos de Pavlov, el perro secreta saliva<br />
en LInaclerta cantldad y de una cierta calidad en el momenta en que<br />
se Ie da de comer. ~uego, cuando se ha establecido el reflejo condicionaclo,<br />
el perro empleza a responder mediante la reacci6n a un estflllulo<br />
nuevo, hasta entonces neutro e indiferente, por ejemplo la luz azul.<br />
Pero.' e~lese caso, la reacci6n sal ivai es absolutamente identica. EI perro<br />
contInua sec.retando saliva en cantidad y calidad similares, pero s610<br />
por otro.m.olIvo. Ese mismo analisis puecle aplicarse a tad os los deIll~1s<br />
actos ref ICJos, en particular, alas reacciones emocionales .<br />
. Inicialmente, Ia reacci6n emocional cle miedo la provoca el efecto<br />
dlrecto de una c.ausa terrorffica. Posteriormente, esta puede ser provoca?a<br />
por cualqUler otro estfmulo, que se asocia algunas veces a la causa<br />
pnmera. EI nino reacciona de entrada mecliante el grito y el miedocuando<br />
toma un meclicamento amargo. Mas tarde, el mere hecho de ver la<br />
cuchara es cap~z de provocar en clla misma reacci6n. No hay duda de<br />
q~e la raz6n dlrecta de la reacci6n ha cambiado, pero la reaccion de<br />
mledo como tal se ha mantenido constante.<br />
En su~a, ha?rfamos podido expresar la misma idea de la siguiente<br />
~anera: Sl, segun James, la esencia de la emoci6n esta compuesta de<br />
ll1n,umerables actos reflejos, la (Inica modificaci6n posible es que Ios<br />
eSlImulos que p~ovoca~ la~ ~mociones puedan cambiar sustituyendose<br />
unos a.ot~os segun el. pnnclplO de Ios irritantes, pero la propia emoci6n,<br />
el.sentlmlen~o e.xpenmentado pOl' el ser humano siempre son identicos<br />
e.lguales a Sl mlsmos, aunque en la historia del desarrollo de las emo-<br />
Cl?neS Ias razones concretas de su manifestaci6n pueden modificar~e.<br />
mlentras que las propias emociones no pueden hacerlo.<br />
Por eso Lange esta completamente capacitado para afirmar: « ... en<br />
~area.1idacl, la di f~rencia entre el furor de los man faeos 0 de Ias personas<br />
lIl(OXIcauas con lalsas oronjas, y la c61era de quienes han recibido una<br />
afrenta sangrienta reside unicamente en Ias causas. asf como en la toma<br />
de cOllsciellcia de las GIUS~I.'correspolldiclltcs 0 Cll la ~\lIscllcia de Jicha<br />
cOllsciencia» (1896).<br />
Dc mallera que, tanto ell su creador, Desc~lI'lcs, como en Ios continuadores<br />
illvoluntarios de esle ultimo, la teorfa visceral no s610 dcscuida<br />
el problema del desarrollo, sino que, de hecho, 10 resuelve en el sentido<br />
d~, una ne~aci6n total y absoluta de cualquier posibilidad de<br />
evoluclOn emoclOnal del hombre. Es la conclusi6n inevitable que se<br />
sac a de la teorfa de las pasiones innatas.<br />
La cuesti6n de la originalidad de Ias emociones del hombre en relaci6n<br />
con las de Ios animales es la cuesti6n central de nuestro estudio y<br />
esta directamente unida al problema de desaITollo de Ias emociones.<br />
Dicha cuesti6n consiste en saber en que medida la teorfa de las emociones<br />
puede lIegar a_ser un capftulo de la psicologfa del hombre. En la<br />
soluci6n de esta cuestion, los discfpulos in oluntarios de Descartes se<br />
alejan aparentemente de ur.a manera clara de la posiCion del maestro.<br />
Descartes establece unaU,ferencia absolut,~, insalvable, entre los animales<br />
y el hombre. Abre un abism-;;entre el organismo humano, capaz<br />
de experimentar emociones, y Ios organismos ani males carentes por<br />
complelo de rasiones. Toda rasi6n es ya la ventaja distintiva del hombre.<br />
En general, en la naturaleza animal no existe naua p~lI'ccido alas<br />
pasiones del alma, puesto que precisamente no hay alma. Asf, la te2rfa<br />
c;lrlcsi:111:\dc las p~lsi(J1ICScOllcicl'I1c flllcgr:llllclllt: :!L!ll)lllhrc, y S(ll0.il<br />
/'..../'-. ./""-,~~-=<br />
cl. De entrada, estamos antc una tcorfa de las pasiuncs claborada dcsde<br />
el pUlllo de vista de la psicologfa del hombrc.<br />
En Jamcs y ell Llnge, pur el contrario, la tcorfa de las Clllociones<br />
s610 concierne al hombre en Ia medida en que es un animal superior. En<br />
el fondo, su teorfa es una teorfa zoopsicol6gica de las cmociones que<br />
s610 se refiere al hombre en tanto este mismo es un ser biol6gico. Ello<br />
aparece de manera includable en Ia teorfa del origen animal de las pasiones<br />
humanas, en la alirmacion del caracter comun de las principales<br />
emociones de los ani males y del hombre, y por ultimo en la presentaei6n<br />
fundamental de toda Ia teorfa de la naturaleza innata, relkja y animal<br />
de las emociones.<br />
No se Ie ha prestado demasiada atenci6n a ese aspecto de la cuesti6n,<br />
porque, general mente, el problema del hombre no se Ie planteaba
a la psicologfa contemponlnea. Pero, ya desde el principio, lanto Ios<br />
aut~re,s c~mo los crflicos de la leorfa comprendieron que, de hecho, en<br />
la hlpotesls visceral se lrata de Ia naturaleza animal de las emociones<br />
F / P ~manas. os re erimos a Chab(ier, qUIen a expuesto esta I en e a<br />
J...,t rf' ~er~te. PJanteando esta cuestion, dice Chabrier, penetramos<br />
en eI corazon mismo del problema y tocamos una objecion capital<br />
formulada contra la leorfa peliferica. Cuando se trata de los instintos<br />
nos hallamos ante un mecanismo establecido de manera absoluta ~<br />
inmutable, que es puesto en accion de manera automatica en cuanto se<br />
manifiesta la excitacion correspondiente. Es posible que ello sea eierto<br />
para las emociones primitivas del nino, pero no puede serlo para las<br />
emociones habituales de los adultos.<br />
No se trata unicamente de que, debido a su naturaleza los estados<br />
organicos que provocan una determinada emocion depenctan directan:~nte<br />
de I~ organizacion de la consciencia, del numero y sistematiza-<br />
CIOn de Ias Ideas con cuya ayuda se elaboran Ias impresiones extern as.<br />
No se tra:a unicam~nte de que nuestras emociones expresen eSlados del<br />
cuerpo, SInO que dIchos estados son Ia expresion del orden de nuestras<br />
percepcioncs. En primer lugar, y ante todo, se trata del problema de las<br />
emociones especfficas del hombre. EI propio James era proclive a Iimitar<br />
su hipotesis al ambito de las emociones groseras y a no extenderla a<br />
los sentimicntos mas finos y a los sentimientos superiores. Sin embargo,<br />
al parecer, todas las emociones humanas deben incluirse en la categorfa<br />
dc Ias cmocioncs rinas, pucslo Cjuc,(lcjancfo dc Iat 0 a os luiolas<br />
, r .!A~a cl inclividuo mas limitado siem re posec aloun ideal m.ls 0 meno<br />
ft va 0, una cle ·te co sciencla mas 0 menos crceptl Ie. Los senllmvcn-<br />
) t~s mas. b.ajos han aparecido a partIr e tradiciones, creencias 0 prcjui-<br />
CIOSrelIgIOsOS. Su naturaleza no permite considerarlos reacciones ins-J<br />
~' '
. I''i>~~<br />
'. --t--<br />
)' t" t ..<br />
Illera p~rcepci6n d~ una siluela I"cmcnina provoque automaticamente<br />
un slnlIn de reaCClOnes org,inicas de las que podrfa nacer un amor<br />
~omo el de ~ante por Beatriz. si no se~presupone el conjunlo de Ins<br />
Ideas teol?glcas. p~lflicas, esteticas y cicntf1Jcas que coni'ormaban la<br />
conSClenCla del genl,iTAlighieri.<br />
En su hip6tesis. los ;ldeptos de la teorfa or!!anicista olvidaron nada<br />
meno.s que eJ espfritu humano. ~6 ~s una funci6n de la er- I<br />
s.S!l9..lldtld.y eso es precisamente 10 que pierde de vista a teorfa perire- (<br />
nca. Asf, la teoria puramente naturalista de las ernociones requiere a'"<br />
m?do de complemento una verdadera y adecuada teorfa de los sentil1:lentos<br />
~um.anos. Asi se impone ell2..\0blema de una s'c Jogfa fisiol6g~ca<br />
~xpl~catlva ~e las ernociones. 'Est· sicologia descri tiv busca una<br />
Via clentdica onentada a los pro[)l"(mas del espfritu humano que los<br />
grandes mtt~res resuelven en las novelas y tragedias. En el plano de los<br />
* {<br />
con~eptos, esta pretende hacer accesible a Ia investigaci6n 10 que los<br />
escntores tomaron como objeto de su trabajo artfstico.<br />
POl'reg~a gcneral, el problema d~ las sensibilidades superiores, ~cia-<br />
-+do al estudlo ~e los va!ores, se consldera un ambito completamente inac-<br />
, C~SI~l~ a la pSleologfa que se interesa pOl'el estudio psicoffsico y psicofi-<br />
~I slolog~,co d:, Ios proces~s elementales de la consciencia y de su sustrato<br />
ij COrp.Old!.ASI es como, dlrectamente engendrada poria absoluta inconsistencw<br />
de 1£1actual psicologia expJicativa de Jas emoci.ones nace una sic<br />
I~fa teleoI6oica que describe las sensibilidades superi~res. Si, co'in(;<br />
afirm~ uno de los mas e~nentes investigadores contemponineos en psicologla<br />
comparada, es clerto que las emociones alcanzan en el hombre el<br />
-m,ayo: grado d~ compJejidad, fineza y variabilidad de formas, aunque su<br />
gene,'-;-p,odeis aprender sobre los afectos en psic~logfa. pOI' ejemplo en Ia teo-<br />
. I fla James-Lange, es para nosotros, los pSlcoanahstas, algo verd~dera-<br />
mente incOInRrensible ue no puede ser objeto de debate». SI,e II1ten-<br />
I to e preservar un examen puramenle causal de los hechos psicol6gicos<br />
y, al mismo tiempo, de no !levar a la ruina la psic.ologfa considerada<br />
como una ciencia au~ma y de no poneI' sus problemas en manos de<br />
la fisiologfa,oblrga a la p~icologfa profunda a j.econocer la absoluta<br />
independencia sustancial de los proceso.s psfquicos y la autonomfa de la<br />
'* I<br />
I I causalid~ld psfq.uica. ~ '\' ~ , I .<br />
,oV'-Otra sorriente de la psicologfa de Ias emociones contel11por~nea,<br />
q~e ha nacido cOmO ~acci6n ala inconsistencia de la teorfa reflejU de<br />
las emociones, encuenlra una soIucion a ese mismo problema del conocimiento<br />
psico16gico adecuado de los afectos recurriendo a 011'0medio.<br />
En el plano de los principios, esta rechaza un anaJisis causal de 10s sentimientos<br />
y se desarro!la como una fenomenoIogfa puramente descnptiva<br />
de 1£1vida emocional. Segun M. Scheler (M. Scheler, 1923), uno de<br />
los mas eminentes representantes de dicha corriente, hace mucho tiempo<br />
que hemo~tjue, paralelamente alas leyes causales y alas<br />
dependencias psicoffsicas de la vida emocjonal frente a 10s procesos<br />
corporaJe-s;-extsten tambien leyes I6glc as_independientes para las funciones<br />
y los actos emocionafesllamados s-uperiores, diferentes de las<br />
sensaciones del sentimiento. La naturaleza intencional y cognitivo-evaluativa<br />
de Ia vida de nuestros[sentil11ientos superiores [ue restablecida<br />
par primera vez pOl' Lotze, sin embargo, este no la desarro1l6, ya que
50.'0 conlirmo de manera muy general eSl{~6 'ica dS-.-c 0-(6n sin cxa-<br />
Illinaria ClldClalle.!\ cl penelll'l'l'llia ilka y !:IIUI'IllUla dc quc, cn el scntimiento<br />
del valor de las cosas)' de sus relacioncs, nucstra razon posee<br />
~ (un medio ae revelar la vcrdad Ian serio c illlportantc que, si nos basamos<br />
en una investigacion racional, el instrumento'constituido por la experimentacion<br />
es irreemplazable.<br />
En sus primcros trabajos, Scheler en persona ya habfa asimilado,<br />
desarrollado y transformado en fundamento de su etica el antiouo<br />
Rran pensamiento de B. Pascal obre el orden del corazon, Ia ogi~a e "''''<br />
corazon, la razon del corazon. esde ese punto de vista, sometio a ana-<br />
Jisis los sentimientos eticoS: sociales y religiosos, en los que, segun su<br />
opinion, el pensamiento certero y profundo de Pascal encontro una justificacion<br />
rigurosa. Yendo mas lejos en esta direccion, considera necesario<br />
someter ~I mismo QnaIisis fenomenologico la esencia y las formas<br />
del sentimiento de ~ergiienza, de)nie"'"<br />
como su pr'OI'Qngacion y su desarrollo bajo una apariencia cientffica. I ~~ ""<<br />
Poco importa que haya recafdo en James y en Lange la tarea de desarro j<br />
liar unicamente uno de los dos principios de esta teorfa y que su teorla se<br />
haya limitado a la aplicacion de un punto de vista naturalista para explicar<br />
las emociones. Exactamente de la misma manera ue, en el sistema<br />
.del ropio Des:arte a e~RITCacion natu:a ~s~de .las pasiones del aln;a /<br />
lIeva a unaJ~orJ:l espmTillrf!s a e los Sentlmlentos mtelectuales, Ia teona r I ' ()"<br />
de las emociones mas logica y mas naturalista de la psi:ologfa ~o~tem-~<br />
poranea crea en otro polo, a modo de contrapeso, l~o;:ta teleologlea de<br />
la logica~de la revelacion de 10s sentimientos supe~es.<br />
El equilibrio sobre el que deseansa el sistema cartcsiano se restablece<br />
de nuevo en la psicologfa de las emociones contemporanea, donde<br />
los principios naturalista y teleologico se contrarrestan mutuamente. Si<br />
3!nadimos que .Gm§no solo po era,b~til a ese se~ medio?e ex aminar<br />
los sentimientos humanos, sino que se acerco mucho a el en su<br />
teorfa de las emociones independientes del cuerpo y en su estudio de las<br />
formas multiples de la experieneia religiosa, es fucil convencerse de<br />
que, en realidad el r Rio autor de la teorfa fisiologiea de las emoeiones<br />
aceptaba la teorfa e,;;'t~iana n su totalidad, incluso si solo desarrollo<br />
de manera prioritaria llil un1co aspccto. Dc manera que, si se habla<br />
AJlwd]<br />
~Ib ~)<br />
tZ.<br />
, I
del aspecto principial de la cuestion, cst
ACH, N., Uber die Begriffsbildung; eine experimentelle Unersucllllng, Bamberg.<br />
192!.<br />
BARD, P. A., «A diencephalic mechanism for the expression of rage with special<br />
reference to the sympathetic nervous system«, Amu Physiol. g4<br />
(1928).<br />
BENTLEY, 1. M., «Is emotion more than a chapter heading?», en Feeling and<br />
Emotions, Norcester, 1928, pp. 17-23.<br />
BRENTANO, E, Psychologie von empirischen Swndpunkten, Leipzig, 1874.<br />
BREH, G. S., «Historical development of the history of emotions», en Feeling<br />
and Emotions, Norcester, 1928, pp. 388-396.<br />
CANNON, W. B., «The James-Lange theory of emotions. A critical examination<br />
and alternative theory». Amer. 1. Psycho!. 39 (1927).<br />
-, Bodaly changes in Pain, FeQ/;Hunger and Rage, 2-d ed., Boston, 1929.<br />
-, Y BRln'ON, S. W., «Pseudaffective medulliadrena! secretiol1», Arner.<br />
J. Physiol. 3 (1925).<br />
CLAI'ARE<strong>DE</strong>, E., «Feelings and emotions», en Feeling und Emotions, Norcester,<br />
1928, pp. 150- I 60.<br />
DANA. CH .. «The anatomic scat or the emotions. A discussion or the James-<br />
Lange tlll;ory», llreh. Neuml. I'sychiul. 6 (1921).<br />
DUNLAP, K., «Emotion as a dynamic background», en Feeling and Emotions,<br />
Nnrcestcr. 192R. rp. I:'i()-I 00.<br />
JII;I\I), II.y 11()I,r-..lI;S, li .."ScIIsllry Jislllr!l;lllccs "mill ccrcbral !csillllsn, Itmill<br />
34 (1911).<br />
IRONS, D., «Descartes and modern theories of emotiom>, Philos. Review 4<br />
( 1895).<br />
JANET. P., De l'angoise cll'extase, Parfs, 1928.<br />
JERKES, R., The Mental Life oIthe Monkeys and Apes, Nueva York, 1916.<br />
KAFKA, G., Handbllch der vergleichenden Psychologie, MUnchen, 1922.<br />
KIRILCEV, S., «Cases of affections of the optic thalamus», Reviewed in Neurologischen<br />
Zentralhlall 10 (1891).<br />
LEIIMANN, A., Die Hall[Jtgesetze des mensschlichen CeJi'iIzlslebens, Leipzig,<br />
1892.
LOlLE, G., Mediziniche Psychologie der Seele, leipzig, 1852.<br />
MARAi\'6N. G., "Contribution a l'etude de l'action emotive de l'adrenaline»,<br />
Rev. Frall~·.d'endocrinologie 2 (1924).<br />
MORGAN,C. L., Animal hehaviour. L., 1900.<br />
MULLER.J., Halldbllch de,. Physiologie des Menschen, L., 1842.<br />
MUNSTERIJERG, 1-1.,Grundlage der Physiologie, leipzig, 1918.<br />
NAIILOWSKY, J., Da.l· Geji'ihlslehell, Leipzig, 1862.<br />
NEWMAN,E. B., PERKINS, F. T. Y WHEELER, K. N., «Cannon's<br />
tion. A critique», Psycho I. Rev. 37 (1930).<br />
theory of emo-<br />
PERRY,R., General Theory o/Vaille, 1926.<br />
PI<strong>DE</strong>RIT,T., Mimik und Physiogllomik, Detmold, 1896.<br />
PIERON, A.,<br />
(J 920).<br />
«La dynamogenie emotionelle», Journal de Psychologie J 7<br />
PRINCE,M., "Can emotion be regarded<br />
Norcester, 1928, pp. 161-169.<br />
as energy?» en Feeling and Emotions,<br />
SCHELER,M., Die Sinnegesetze des emotionalen Leben, Leipzig, 1923.<br />
SPEARMAN,C. E., «A new method for investigating. The springs of action», en<br />
Feeling and Emotions, Norcester, 1928.<br />
TILNEY,F. y MORRISONJ. F., «Pseudobulbar palsy clinically and pathologically<br />
considered», J. Mental and Nerv. Diseases 39 (1912).<br />
WILSON,S. A., «Pathological<br />
(1924).<br />
laughing and crying», J. Neurol. Psychopathol. 4<br />
WOODWORTH,R. Y SHERRINGTON,C. S" «A Pseudaffective<br />
path», J. PhY.l'iol. 3 I (1904).<br />
reflex and its spinal<br />
YERKES, R. M. Y LERANED, E. W., Chimpan.l'ee<br />
Expression, Baltimore, 1925.<br />
Intelligence and its Vocal