Tungíase: doença negligenciada causando patologia grave

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11.02.2013 Views

assim como de lesões manipuladas (lesões decorrentes da remoção da pulga) (WILCKE et al., 2002; MUEHLEN et al., 2003). De acordo com os autores, isto indicaria que as meninas e mulheres teriam menor prevalência de tungíase, principalmente por se exporem menos do que os homens ao circularem menos pela área endêmica, e não porque elas tiravam as pulgas embutidas de maneira mais cuidadosa que os homens. Entretanto, no caso destas duas comunidades nigerianas não se pode excluir por completo um maior cuidado das mulheres quanto a remoção das pulgas penetradas quando comparadas aos homens, uma vez que estas parecem estar mais tempo na área endêmica, mesmo que circulando menos que os homens. Nestas comunidades e em áreas do Brasil, o hábito de cuidados higiênicos/estéticos em limpar e pintar as unhas dos pés, pode ser um fator para a remoção das pulgas nos pés em estágios iniciais (ARIZA, dados não publicados). Tal hábito poderia favorecer com que as mulheres observassem mais rapidamente lesões novas. Conseqüentemente seriam retiradas tão inicialmente que nenhuma cicatriz na pele fosse vista, e não provocariam inflamação aguda por remoção indevida em estágios de desenvolvimento mais avançados da pulga (FELDMEIER et al., 2004). Embora não se possa afirmar o real impacto das diferenças de exposição na área e de hábitos de higiene na prevalência da tungíase entre homens e mulheres nas comunidades deste estudo, possivelmente, as diferenças por sexo em geral estão mais relacionadas aos aspectos comportamentais e culturais (CHADEE, 1998; HEUKELBACH et al., 2001; WILCKE et al., 2002; MUEHLEN et al., 2003; UGBOMOIKO et al., 2007b; COLLINS et al., 2009). Além disto, como em Yovoyan e Okunilage as diferenças por sexo não foram significativas, isto poderia indicar que independente das diferenças comportamentais por sexo que podem ter induzido a uma pequena diferença entre eles, homens e mulheres foram em certa medida igualmente afetados pela T. penetrans nas duas áreas endêmicas. Nas áreas de estudo, a distribuição topográfica das lesões por T. penetrans nos pés foi semelhante a outros estudos previamente publicados (HEUKELBACH et al., 2002b; MUEHLEN et al., 2003; HEUKELBACH et al., 2007; UGBOMOIKO et al., 2007b): aproximadamente 75% de indivíduos infestados apresentaram lesões na área periungueal. Este dado confirma a afirmativa feita por MUEHLEN et al. de que a área periungueal nos pés é a área de predileção das pulgas T. penetrans quando comparada a outras áreas anatômicas no próprio pé. 81

As cargas parasitárias por indivíduos das comunidade de Yovoyan e Okunilage foram elevadas e significativamente diferentes (médias = 13,1 e 7,7; medianas = 6 e 3; respectivamente). Dentre os estudos epidemiológicos até então realizados, as médias das cargas parasitárias foram diferentes entre as distintas áreas endêmicas do Brasil, Caribe e África, variando entre 3,0 e 12,3 lesões por indivíduo infestado (CHADEE, 1994; 1998; WILCKE et al., 2002; CARVALHO et al., 2003; MUEHLEN et al., 2003; HEUKELBACH et al., 2005; HEUKELBACH et al., 2007; UGBOMOIKO et al., 2007b; COLLINS et al., 2009). Em geral, as cargas parasitárias parecem estar associadas com suas prevalências de forma positiva, conforme observado em estudo longitudinal na favela urbana de Fortaleza (HEUKELBACH et al., 2005), no qual as cargas mais elevadas foram identificadas nos períodos de elevadas prevalências também. Embora esta associação seja mais claramente vista dentro de uma mesma comunidade, em Yovoyan e Okunilaje foi possível observar que aquela, com a mais alta prevalência, a que também apresentou a carga parasitária mais elevada. A carga parasitária em Yovoyan chama a atenção por ter apresentado a mais alta carga até então identificada em uma área endêmica. Esta foi semelhante apenas à outra área endêmica também na Nigéria (Erekiti). Nesta comunidade rural localizada há 40 km de Yovoyan, a média de lesões por indivíduo infestado foi 12,3, mediana de 6 lesões e número máximo de lesões relativamente baixo (75) (prevalência 42,5%) (UGBOMOIKO et al., 2007b). Yovoyan apresentou mediana elevada (6 lesões) e o número máximo foi relativamente baixo quando comparado com outras comunidades cujas prevalências eram semelhantes. Por exemplo, na comunidade pesqueira do Ceará (prevalência: 51,3%; carga parasitária média: 9 lesões), o número máximo de lesões foi 145 (MUEHLEN et al., 2003); na favela urbana de Fortaleza (prevalência: 54,8%; carga parasitária média: 7,4 lesões), foi 115 (HEUKELBACH et al., 2005), e nas comunidades de Camarões (prevalência: 53%; carga parasitária média: 5,1 lesões), 102 (COLLINS et al., 2009). No Brasil tinham poucas pessoas com cargas altas que estavam em risco, enquanto na Nigéria a distribuição era mais uniforme. Diferentemente de Yovoyan, Okunilage apresentou um padrão médio de carga parasitária semelhante às demais comunidades com cargas elevadas independente da prevalência, tais como: na favela urbana em Fortaleza (CE), média de 7,4 durante estação chuvosa e 7,8, na estação seca (prevalências, 54,8 e 33,6%) 82

assim como de lesões manipuladas (lesões decorrentes da remoção da pulga)<br />

(WILCKE et al., 2002; MUEHLEN et al., 2003). De acordo com os autores, isto<br />

indicaria que as meninas e mulheres teriam menor prevalência de tungíase,<br />

principalmente por se exporem menos do que os homens ao circularem menos pela<br />

área endêmica, e não porque elas tiravam as pulgas embutidas de maneira mais<br />

cuidadosa que os homens.<br />

Entretanto, no caso destas duas comunidades nigerianas não se pode<br />

excluir por completo um maior cuidado das mulheres quanto a remoção das pulgas<br />

penetradas quando comparadas aos homens, uma vez que estas parecem estar mais<br />

tempo na área endêmica, mesmo que circulando menos que os homens. Nestas<br />

comunidades e em áreas do Brasil, o hábito de cuidados higiênicos/estéticos em<br />

limpar e pintar as unhas dos pés, pode ser um fator para a remoção das pulgas nos pés<br />

em estágios iniciais (ARIZA, dados não publicados). Tal hábito poderia favorecer<br />

com que as mulheres observassem mais rapidamente lesões novas. Conseqüentemente<br />

seriam retiradas tão inicialmente que nenhuma cicatriz na pele fosse vista, e não<br />

provocariam inflamação aguda por remoção indevida em estágios de desenvolvimento<br />

mais avançados da pulga (FELDMEIER et al., 2004).<br />

Embora não se possa afirmar o real impacto das diferenças de exposição<br />

na área e de hábitos de higiene na prevalência da tungíase entre homens e mulheres<br />

nas comunidades deste estudo, possivelmente, as diferenças por sexo em geral estão<br />

mais relacionadas aos aspectos comportamentais e culturais (CHADEE, 1998;<br />

HEUKELBACH et al., 2001; WILCKE et al., 2002; MUEHLEN et al., 2003;<br />

UGBOMOIKO et al., 2007b; COLLINS et al., 2009). Além disto, como em Yovoyan<br />

e Okunilage as diferenças por sexo não foram significativas, isto poderia indicar que<br />

independente das diferenças comportamentais por sexo que podem ter induzido a uma<br />

pequena diferença entre eles, homens e mulheres foram em certa medida igualmente<br />

afetados pela T. penetrans nas duas áreas endêmicas.<br />

Nas áreas de estudo, a distribuição topográfica das lesões por T. penetrans<br />

nos pés foi semelhante a outros estudos previamente publicados (HEUKELBACH et<br />

al., 2002b; MUEHLEN et al., 2003; HEUKELBACH et al., 2007; UGBOMOIKO et<br />

al., 2007b): aproximadamente 75% de indivíduos infestados apresentaram lesões na<br />

área periungueal. Este dado confirma a afirmativa feita por MUEHLEN et al. de que a<br />

área periungueal nos pés é a área de predileção das pulgas T. penetrans quando<br />

comparada a outras áreas anatômicas no próprio pé.<br />

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